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Vai Se Food

Author: Vai Se Food

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Podcast sobre comida e sustentabilidade, gastronomia e consciência socioambiental, idealizado e apresentado por Ailin Aleixo. 
Ailin é jornalista e escreve sobre gastronomia há 20 anos. Também atua como pesquisadora dos impactos sócio-climáticos-ambientais da cadeia de produção de alimentos e palestrante.  

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Se você já foi internado ou acompanhou alguém que foi, deve ter reparado que comida de hospital (público ou privado) é REPLETA de ultraprocessados. Chega a hora da refeição e é aquele mar de biscoitos salgados e doces, bolos de pacotinho, margarina, gelatina rosa, suco de caixinha, pão de forma… Isso é, no mínimo, um contrassenso, visto que não faltam estudos apontando os problemas dos ultraprocessados na alimentação, como este da USP, publicado em dezembro de 2022: Ingestão diária superior a 20% de alimentos ultraprocessados por idosos e adultos de meia-idade foi associada ao aumento do risco de declínio cognitivo acentuado.Hospitais, locais nos quais se deve cuidar da saúde e aprender a fazê-lo, tratam a alimentação com certo desdém e dão MUITO mais importância aos medicamentos do que à dieta do paciente. Mas não existe cura ou melhora que não passe pelo que comemos.Para entender melhor como normalizamos a comida de hospital não-saudável, os processos de preparo e maneiras de melhorá-la ao valorizar agricultores familiares e agroecológicos, minha convidada é a nutricionista  Weruska Davi Barrios. Nutricionista Doutoranda em Nutrição e Saúde Pública pela USP, Weruska atuou em Nutrição Hospitalar nos últimos 17 anos, passando pelo Hospital do Coração (Hcor), Samaritano e Beneficência Portuguesa de SP. É consultora em Nutrição Hospitalar e Sustentabilidade e pesquisadora da equipe ECCCO - Equipe Ciência Cultura e Comida da Faculdade de Saúde Pública da USP.Support the show
Se fosse um país, a carne bovina brasileira seria a sétima maior emissora de gases de efeito estufa do planeta, à frente do Japão. O desmatamento responde por 70,6% das emissões da carne, seguido pelas emissões diretas do rebanho (29,2%), o metano liberado pelo sistema digestivo do animal. Esse é um dados importantíssimos trazidos pelo estudo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima.Enquanto a média mundial de emissões de gases de efeito estufa relativas aos sistemas alimentares -  produção de comida - gira em torno de 37%, no Brasil, esse número é 74%: e 78% delas vem da cadeia da carne bovina. A razão? O desmatamento realizado para abrir pastagens e/ou novas áreas para monoculturas extensivas de grãos voltados a alimentação animal (70,6% das emissões da carne). O grande agro segue dizendo que nossa produção é a mais "verde" e sustentável do mundo, mas a ciência aponto o contrário - e em tempos de colapso climático, isso não é nada, nada bom.Para conversar sobre o tema, meu convidado David Shiling Tsai, um dos autores do estudo. David é engenheiro químico, atual coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima e gerente de projetos no Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), onde atua desde 2007.Support the show
Colapso climático fazendo rios caudalosos na Amazônia se transformarem em desertos, enquanto o Sul do Brasil fica debaixo de água e o Centro-Oeste vira um forno, com termômetros batendo 44 graus em diversas cidades, por dias consecutivos.Cerrado se tornando uma maciça monocultura extensiva de soja,  o que compromete todo o abastecimento de água do país, produção de energia e a sobrevivência do Pantanal e da Bacia do Rio São Francisco, entre outras.Agrotóxicos contaminando a água "potável" da população.Oceano batendo recordes de temperatura, desestabilizando o clima e causando de tufões à mortandade em massa da vida marinha.Aquecimento global derretendo geleiras e permafrost mais rápido do que qualquer cientista previu e "revivendo" vírus desconhecidos que estavam dormentes há mais de 40 mil anos.Enquanto tudo isso acontece, a humanidade começa mais uma guerra.Há pouquíssimo tempo para salvar o planeta (nossa única casa) do que nós próprios estamos causando, e o que fazemos? Matamos uns aos outros.Nossa espécie deu errado? Support the show
"O  Chão  é  uma  associação  de  trabalhadores,  sem  fins lucrativos,  que  se  movimenta  para  o  aprofundamento  da  consciência  crítica,  da  democracia  e  da igualdade  de  direitos. Buscamos  uma  democracia  real:  tudo  é  decidido  em  assembléias  semanais,  divide-se  as  funções  de  forma  conjunta,  recebe-se igualmente  e  apenas  pelo  trabalho,  não  remunera-se capital. Não há relação de exploração. Seguimos  os  princípios  da  Economia  Solidária,  tendo as pessoas como sujeito e finalidade da atividade econômica. Articulamos  e integramos  redes  que  fomentam  a  autonomia,  o  cooperativismo,  a  autogestão,  o  antirracismo,  o  feminismo,  o  antifascismo,  o  anti  capacitismo  e  a  redistribuição radical de renda. Visando  a  equidade  e  a  horizontalidade,  o  Chão  não  tem  dono,  nem  hierarquia.Aliando-se  a  movimentos  sociais,  comunidades  tradicionais  e  outras  instituições, lutamos  pela  reforma  agrária  e  urbana,  agroecologia,  educação  pública,  saúde  pública,  combate  à  fome,  biodiversidade  e  preservação  ambiental  e soberania alimentar. Em  busca  do  fortalecimento  de  todos  os  componentes  da  cadeia  produtiva,  valorizamos  economicamente  produtores,  trabalhadores  e  tornamos  o  preço  mais  acessível  dos  alimentos  agroecológicos  para  todos.  Os  produtos  são  vendidos  pelo  preço de custo (preço de nota, frete e perdas).  Todo  mês  fazemos  uma  previsão  de  custos  e  uma  previsão  de  vendas  e,  a  partir  disso,  sugerimos  aos  frequentadores,  a  cada  compra,  um   percentual  de  contribuição  para  que  possamos  manter  o  espaço  funcionando.  Ao longo  dos  anos  esses  valores  foram  se  estabilizando  e,  hoje,  nossa  necessidade  mínima  é  de  25%  e  a  sugestão  de  30%  sobre o valor dos produtos.O  Chão  é   um lugar  de  construção  cotidiana  de  um  outro  mundo  necessário.  Uma  associação  autogestionária  que  funciona  como  grupo  de  consumo  aberto,  financiado  coletivamente.  Temos  um  sítio,  uma livraria,  uma  feira  e  uma  mercearia com produtos agroecológicos, orgânicos e artesanais"O texto acima, parte da apresentação do Chão, deixa claro o modelo nada convencional do Instituto, que funciona desde 2015 na Vila Madalena, em SP - começou em um pequeno depósito e hoje já abrange mais 6 imóveis, com muitas centenas de itens. Sou cliente do Chão e admiradora confessa do trabalho deles.O episódio dessa semana, claro, é sobre o Chão. Support the show
O atual modelo de produção de alimentos - monoculturas extensivas, agrotóxicos, desmatamento, degradação do solo, uso excessivo de água, extermínio de polinizadores - não é o único possível para alimentar 8 bilhões de pessoas (e mais de 70 bilhões de animais terrestres voltados ao consumo humano por ano).  A agricultura regenerativa prova que é possível produzir alimentos enquanto se recupera a terra e se preserva o meio ambiente, restaurando solos degradados, conservando espécies polinizadoras (especialmente abelhas), aumentando a captura de carbono e a retenção de água. A ideia é manter o solo produtivo pelo maior tempo possível, evitando as expansões para novas áreas. Na agricultura regenerativa, se objetiva:1. Frear práticas que promovam o revolvimento do solo, eliminando o tratamento mecânico, químico e físico do campo.2. Investir em culturas de cobertura, palhada, durante o ano todo para reduzir ou eliminar a chance de ocorrência de erosão.3. Dedicar-se à construção da biodiversidade por meio de técnicas, como a rotação de culturas 4. Preservar raízes vivas no solo para a retenção de água e nutrientes e a realização da fotossíntese durante todo o ano.5. Diminuir ou restringir o uso de pesticidas na lavoura.6. Garantir ganho justo para os trabalhadores do campo.Mas dá mesmo pra ter um negócio no setor de alimentos baseado na Agricultura Regenerativa?Há volume e constância? O preço final é competitivo?  Opa, se dá. E minha entrevistada de hoje é prova disso: Romanna Remor dedicou uma década de sua atuação profissional como pesquisadora, professora universitária e consultora nas áreas de políticas públicas, gestão estratégica e inovação.Empreendedora desde 2015 no segmento de alimentos saudáveis, Romanna é sócia-fundadora da Regenera Ventures, onde atua como Head de Conceito e Inovação. A Regenera é a controladora das marcas Viva REGENERA e Plantopia e do ecommerce Viva FLORESTA, todas baseadas na Agricultura Regenerativa, na Agroecologia e no Extrativismo Sustentável.Support the show
 Um dos maiores problemas para o enfrentamento do colapso climático é o modelo atual de agricultura. Alguns dados recentes?O Brasil tem 100 milhões de hectares de pastagens degradadas (fonte: Projeto Pasto Forte). Nessa condição, o solo passa a não sequestrar gases do efeito estufa e colabora para o colapso climático.Mesmo se todas as emissões de combustíveis fósseis fossem imediatamente zeradas, seria impossível cumprir a meta por conta das emissões geradas pelo sistema alimentar global sozinho. (Fonte: Global food system emissions could preclude achieving the 1.5° and 2°C climate change targets)A carne bovina já é um dos principais motores do desmatamento hoje. Isso leva à destruição dos meios de subsistência de comunidades indígenas e de pequenos agricultores. Na Amazônia, o gado pasta em 63% de todas as terras desmatadas (Fonte: Meat Atlas 2021)A agropecuária brasileira é o segundo setor que mais emite gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, respondendo diretamente por aproximadamente 27% de todas as emissões no País. Dentro do setor, quase 70% dessas emissões em 2020 vieram da pecuária, seja pela chamada fermentação entérica - o ruminar do gado - ou pelo manejo de dejetos de animais (Fonte:  Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa)Como, ao olhar essa situação, um casal de ativistas veganos agiu? Criando uma marca de lácteos vegetais cuja matéria prima tenha o mínimo possível de impacto e ajude na renda de dezenas de produtores sustentáveis e agroflorestais, possa ter ganho de escala enquanto ajuda a melhorar a condição do solo, tenha preço competitivo e seja nutricionalmente rico. Mas isso não bastava: também era preciso provar que os pastos degradados pela atividade de pecuária leiteira poderiam se tornar áreas de extrema abundância alimentar, gerar muito mais ganho a médio prazo para os "homens do leite" (e tornar a prática obsoleta para a região) e, ainda, recuperar as nascentes de água e trazer de volta a biodiversidade.  Então, compraram 220 hectares do pasto mais degradado possível bem no meio da área mais tradicional de pecuária de leite de Minas Gerais e estão transformando uma parte da propriedade em agrofloresta e recuperando a vegetação nativa da outra.A história inspiradora é real e vivida pelo casal  Felipe Ufo e Alexandra Soderberg, minha convidada de hoje. Alexandra é sócia-fundadora de marca de lácteos vegetais Naveia. Formada em Gestão de Recursos Naturais com foco em ciências do solo, Alex tem vasta  experiência com agricultura sustentável e indústria de alimentos.Support the show
Colapso climático, poluição, desperdício, desmatamento, mais de 800 milhões de pessoas em situação de fome no planeta (dados da ONU), perda de biodiversidade: "parece" que a forma que a humanidade estruturou a economia não deu muito certo… O que vemos hoje, e que começou logo após a Revolução Industrial, se chama Economia Linear e funciona assim: extrair a matéria-prima, fabricar, consumir e jogar fora.Mas esta não é a única maneira: a Economia Circular está aí pra provar que, sim, é possível movimentar a roda do capitalismo AO MESMO TEMPO em que cuidamos da saúde do planeta (e, por consequência, da nossa existência aqui). E  é aqui que entra outro conceito, o de Design Circular de Alimentos: produzir comida limpa, que regenere o solo e sequestre carbono da atmosfera, colabore e promova a diversidade alimentar local, garanta vida digna aos trabalhadores do campo, alimente os grandes centros de forma nutritiva e gere zero desperdício. Para falar sobre o tema, minha entrevistada é Luísa Santiago, líder da Ellen MacArthur Foundation na América Latina. Luísa colabora com líderes, empresas, governos e academia para expandir o conhecimento e a ação na economia circular na região. Possui mestrado em Práticas em Desenvolvimento Sustentável, pós-graduação em Gestão Ambiental e Bacharelado em Comunicação Social.Support the show
Quanto vale a saúde, a capacidade de aprendizagem e o desenvolvimento de uma criança? Se pegarmos os valores que o governo federal repassa para municípios, vale R$ 0,50: sim, esse é o montante de dinheiro alocado, por dia, por criança, para alimentação escolar do ensino fundamental e médio (e isso porque, neste ano, teve aumento, o que não acontecia desde 2017!).No papel, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é um exemplo: "O PNAE oferece alimentação escolar e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação básica pública". A realidade, porém, é bem diferente: desvio de verbas por falta de fiscalização, compra de itens saudáveis que simplesmente não são servidos, uso e abuso de ultraprocessados, entre outros "acontecimentos".Mas existem pessoas e organizações que nadam contra a corrente e implementam treinamento das cozinheiras, ensinam o uso total dos alimentos e lutam, na prática, por uma alimentação escolar de qualidade. Uma dessas pessoas é minha convidada de hoje, Lidi Barbosa. Lidi é chef de cozinha com especializações na área da gastronomia voltada para saúde (Le Cordon Bleu, em Paris e Natural Gourmet Institute, entre outras) e Presidente do Instituto Crescer que executa o Projeto Crescer e Semear, que tem como intuito levar informação, educação para promover a transformação para as cozinheiras da alimentação escolar, além de levar educação nutricional e alimentar para as crianças e pais, em escolas públicas de todo país. E em 2021 o Instituto deu início ao Projeto Crescer e Acolher que trabalha a gastronomia como forma de empreendimento social. A Chef e outros voluntários da área da gastronomia, nutrição e administração, ensinam mulheres em situação de violência doméstica e vulnerabilidade social a empreenderem no mundo da culinária saudável.Support the show
Por que você come o que come? O que o move a escolher o que comer, quando comer, quanto comer?Qual o papel da comida na sua vida?Você conhece mesmo os efeitos dela em seu corpo e mente? Sabe que sua digestão é um grande regulador da qualidade do seu sono, da presença ou não de ansiedade/depressão e até do seu desempenho no trabalho?Para conversar sobre o tema, meu convidado é Matheus Macêdo.Matheus é idealizador do Vida Veda, o maior portal de Ayurveda do Brasil, e o primeiro brasileiro a concluir o bacharelado de Ayurveda, Medicina e Cirurgia (BAMS) na Índia, país em que viveu por 7 anos, É membro da Ayurveda Academy da Bangalore e fez residência clínica no hospital Vaidyagrama, em Coimbatore, e em diversas universidades na Índia e nos EUA. Acaba de lançar, pela Editora Academia, seu primeiro livro, Os 4 Pilares da Saúde.Support the show
O mundo é dos fungos.Eles estão em centenas de de alimentos e bebidas - leveduras, que são tipos de fungos, são indispensáveis para a produção de cerveja , vinho , saquê , uísque , cachaça,  pão, queijo roquefort e camembert, ácido cítrico...  Aquele shimeji na manteiga ou portobello recheado e outros cogumelos, são fungos.A existência de liquens - associação de algas e fungos - permite a colonização de novos ambientes, já que estes organismos degradam rochas e auxiliam na formação do solo, propiciando o estabelecimento de novas espécies ao longo do tempo. Liquens, ainda, têm capacidade antibacteriana, e são utilizados como matéria prima na fabricação de corantes, perfumes finos, geleias.E de micélio, você já ouviu falar? Micélio, o “corpo” ou a “raiz” dos fungos, é formado por milhares de pequenos fios, as hifas. As hifas são redes que os fungos formam debaixo da terra e não apenas ajudam as árvores a buscar água, como também cria conexão entre elas, tornando possível, literalmente, alertarem umas as outras sobre possíveis perigos. Além de tudo isso, o micélio vem se tornando uma opção mega saudável de alimento análogo a carne - sim, análogo a carne!Para conversar sobre a carne de micélio (ou, em inglês, mush based meat), nosso convidado é Eduardo Sydney. Engenheiro de formação e com dupla diplomação de doutorado (Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia pela Universidade Federal do Paraná e Engenharia de Processos pela Université Blaise Pascal - Clermont-Ferrand, França), Eduardo trabalha com desenvolvimento de biotecnologias para valorização de resíduos agroindustriais e, desde 2021, é diretor de tecnologia da Typcal, atuando no desenvolvimento de produtos alimentícios a base de micélio.Support the show
Em um mundo com mais de 8 bilhões de habitantes, enfrentando os efeitos da mudança climática causada pela humanidade, com volume e modelo de produção de animais para consumo humano completamente insustentáveis - desmata mais do que qualquer outra atividade, utiliza 70% da água doce do planeta, polui com agrotóxicos e gera resistência bacteriana por conta da administração desmedida de antibióticos, entre outros fatos -, é urgente rumarmos rapidamente em direção a uma matriz alimentar que supra nossas necessidades nutricionais, tenha mínimo impacto nos recursos naturais, seja regenerativa e saborosa. Em suma: falar sobre o protagonismo do universo vegetal na alimentação é uma demanda urgente do nosso tempo. Mas dá pra fazer isso sem perder o prazer de comer? Sem deixar de lado tradições alimentares? Sem ser elitista? Para conversar comigo sobre o tema, meu convidado é o chef especializado em gastronomia vegetal, Thiago Medeiros. Thiago é formado em gastronomia pela Universidade Anhembi Morumbi, vegetariano e amante da agricultura brasileira. Atualmente, seu foco está voltado ao seu projeto de experiências gastronômicas - Respiro ™ - e também às consultorias e desenvolvimento de produtos baseado em vegetais.Support the show
De 20 anos pra cá, pensar em gastronomia é pensar em elitização. Em listas de "melhores". Em documentários cinematográficos sobre chefs tatuados dissertando sobre sua trajetória tocante.É pensar em técnicas francesas, ingredientes italianos, vinhos espanhóis, tradição japonesa.É o raro, caro, o que quase ninguém pode ter.Com a proliferação dos reality shows culinários, a exaltação midiática aos chefs (em sua maioria, homens e brancos) e premiações de todos os tipos o tempo todo, a gastronomia tornou-se algo nocivamente desejável e imensamente distante, como se fazer e servir comida de qualidade estivesse diretamente associado a cozinhas com equipamentos de centenas de milhares de dólares, jantares de 12 etapas, filas de espera de meses e jornadas de trabalho insalubres.Mas gastronomia não é isso.Gastronomia é cultura. É  o hoje, é a tradição.É conversa cotidiana com as raízes de um povo, é conexão com a sazonalidade, é solo, é clima.É gente. Para conversar sobre a gastronomia como ferramenta de conscientização socioambiental, nossa convidada é Adélia Rodrigues. Adélia é cofundadora e gestora da Gastronomia Periférica, negócio social que busca transformar a vida das pessoas das periferias por meio da gastronomia. Motivados por formar profissionais de cozinha aptos a realizar suas funções de acordo com as necessidades do mercado e no âmbito social, o curso da Gastronomia Periférica oferece alternativas de mudanças efetivas de suas realidades pessoais e coletivas, permitindo minimizar aspectos de violência, criminalidade e exclusão.A escola da Gastronomia Periférica  profissionaliza moradores das periferias - em especial, as mulheres pretas-, é 100% gratuita e engloba auxílio-internet, ajuda de custo para compra de insumos e mentoria/tutoria durante todo o curso.Support the show
Comecei minha carreira no jornalismo no ano 2000 e, desde então, escrevo sobre gastronomia - porém, apenas muito mais recentemente passei a escrever sobre comida.A diferença? Enquanto a crítica gastronômica é superficial e trata o alimento, muitas vezes, como coadjuvante (o principal são os chefs e os prêmios), fazer jornalismo focado em comida exige dedicação e estômago para encarar os imensos problemas socioambientais causados pelo atual modelo de produção de alimentos, especialmente aqueles de origem animal, e compreender a gigantesca cadeia de impacto do que está em nossos pratos: monoculturas extensivas mantidas a base de agrotóxicos, desmatamento de Cerrado e Amazônia, supressão da biodiversidade, uso massivo de antibióticos, aquecimento global, surgimento de pandemias, entre outros. Neste episódio, conto um pouco sobre como, no momento em que notei não saber nada sobre o que acontecia antes do restaurante para que aquela comida que avaliava chegasse até mim, passei a visitar matadouros, aviários, cafezais, criação de peixes, fazendas de cacau… passei a entrevistar agrônomos, biólogos, climatologistas, historiadores, zoólogos, cientistas, virologistas…  e isso me fez mudar o rumo da minha vida profissional e a forma de me alimentar. Support the show
Sobrepesca, poluição, contaminação por microplásticos, aquicultura, aquecimento global: o cenário atual dos pescados, de água doce e salgada, não é nada bom. Alguns dados:Já perdemos metade dos nossos recifes de corais e manguezais – alguns dos habitats mais produtivos da Terra. E levamos muitos estoques de peixes cruciais ao ponto de colapso, ameaçando os meios de subsistência e a segurança alimentar das pessoas – e prejudicando outras espécies, incluindo aves marinhas, tartarugas e golfinhos. (fonte: WWF)O consumo global de alimentos aquáticos aumentou a uma taxa média anual de 3,0%, desde 1961 – quase o dobro da taxa de crescimento anual da população mundial – e atingiu 20,2 kg per capita, mais que o dobro do consumo na década de 1960. (Fonte: Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação)O número de estoques sobrepescados em todo o mundo triplicou em meio século e hoje um terço das pescarias avaliadas no mundo estão sendo empurradas além de seus limites biológicos. (Fonte: Our World in Data)  Globalmente, jogamos cerca de 10% dos peixes e animais marinhos que capturamos de volta ao oceano (em sua maioria, mortos). Somado a isso, as perdas e desperdícios na cadeia chegam a 35% do volume pescado. (Fonte: A 20-year retrospective review of global aquaculture)Brasil está entre os 20 países no mundo que mais contribuem para a poluição plástica nos oceanos. Um estudo inédito, disponibilizado pelo projeto, aponta que cada brasileiro pode ser responsável por 16 quilogramas de resíduos no mar por ano. A ingestão de alimentos e água contaminados com microplásticos é a principal via de exposição humana. Os produtos da pesca são uma importante fonte de microplásticos na dieta humana.(Fonte: Rede Blue Keepers)Minha entrevistada é  Cintia Miyaji, bióloga, mestre e doutora em Oceanografia Biológica pela Universidade de São Paulo, idealizadora do primeiro Guia de Consumo Responsável de Pescado do Brasil e fundadora da Aliança Brasileira pela Pesca Sustentável. Também é fundadora da Paiche Consultoria e Treinamento e membro da Conservation Alliance for Seafood Solutions.Support the show
Turismo de massa é uma atividade com grande valor econômico para diversas cidades e regiões no mundo, porém possui efeitos destruidores, com grandes impactos ambientais e sociais. Alguns efeitos do overtourism (turismo em excesso):  moradores são “expulsos” porque os aluguéis por temporada dominaram a área ou elevaram os preços de forma insustentável; negócios locais (como padeiros e floriculturas) fecham as portas por não conseguirem competir com lojas de cadeias internacionais; a construção de resorts e condomínios de casas causam desmatamento e uso indevido dos recursos naturais, como a água.Mas há outras formas de turismo, como o Regenerativo. O turismo regenerativo analisa o ecossistema local e cria benefícios tais como gerar emprego e condições de trabalho decentes para a comunidade em questão; desenvolve relações com a população do lugar e favorece a conexão do turista consigo mesmo e com a região em que está visitando; incentiva práticas ligadas à agricultura local, que melhoram a fertilidade do solo e garantem o acesso à alimentação para a comunidade; cultiva condições para que todos os integrantes desse ecossistema desenvolvam seu potencial. Ou seja: além de possuir a natureza como eixo central, o turismo regenerativo leva em consideração os pilares social, econômico, político e espiritual. Para conversar sobre turismo regenerativo, meu convidado é  Pedro Treacher. Pedro é turismólogo e trabalha na área desde 2004. Já foi representante de vendas de resorts nacionais, teve uma pequena agência de ecoturismo e cuidou de operações de enormes grupos para Europa. Atualmente, dirige hotelaria do grupo  que administra as Pousadas Trijunção, no Cerrado; Pousada Tutabel, em Trancoso; a Pousada Literária e a Fazenda Bananal em Paraty (além de outros empreendimentos com foco em conservação e sustentabilidade) e é Vice-presidente de sustentabilidade da BLTA (Brazilian Luxury Travel Association).Support the show
"Neste ano, a produção gaúcha de arroz deverá ser 100 mil hectares menor do que a do ano passado, justamente pela maior atratividade de culturas destinadas à exportação. Enquanto a produção de arroz e de feijão caiu, a da soja cresceu 159% e a do milho 138%". (Fonte: Folha de São Paulo)Não é à toa que os preços de alimentos como arroz, feijão e mandioca tem aumentado vertiginosamente nos últimos anos: tanto as políticas públicas quanto o mercado financeiro jogam bilhões de reais na produção de commodities - como soja e milho voltados à exportação, cujo objetivo é alimentar porcos, galinhas e outros animais de criação - em detrimento dos plantios de grãos, legumes, verduras e frutas voltados a alimentação humana. Mesmo com o efeito devastador do avanço das monoculturas (desmatamento, desertificação, expulsão de povos originários e quilombolas de seus territórios, uso massivo de agrotóxicos, uso desmedido dos lençóis freáticos para irrigação, entre outros), isso não importa para o mercado financeiro, que comemora as 'safras recorde' de soja enquanto ignora os 33 milhões de famintos no Brasil.Como o mercado financeiro molda o sistema alimentar atual? Qual a participação dele na desigualdade social e no caos climático? É sobre isso meu papo com João Paulo Pacífico, CEO de Investimentos de Impacto do Grupo Gaia.João Paulo atua exclusivamente com investimentos de impacto socioambiental e realizou operações financeiras inovadoras, como o investimento em Cooperativas MST. Também é Cofundador da Gaia+, ONG de educação socioemocional que atua com professores e alunos de todo o país,  Conselheiro do Greenpeace Brasil e autor dos livros Onda Azul e Seja Líder como o Mundo Precisa.Support the show
Há tempos queria fazer um episódio do @vaisefood sobre as mentiras que nos contam sobre o vinho, a tal bebida dos deuses: é saudável, faz bem pro coração, carrega todo o terroir de onde veio, blá-blá-blá. Só “esquecem” de dizer COMO a maior parte dos vinhos industriais é produzido, desde o campo até a garrafa. “Esquecem” porque o negócio não tem NADA de sublime.São centenas de pesticidas, acaricidas, fungicidas e herbicidas autorizados no cultivo da uva - e não só no Brasil, não.Na vinificação, a lei brasileira permite usar albumina de ovo, leite desnatado, gelatina e até bexiga natatória de peixe pro vinho ficar “limpo” e transparente. Detalhe: NADA disso precisa vir descrito na lista de ingredientes. * Para acessar o documento do MAPA sobre aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia, clique aqui* Para acessar o documento da EMBRAPA Agrotóxicos registrados para a cultura da Videira - Safra 2021/22, clique aquiSupport the show
O Brasil é o maior produtor de café do planeta - seguido por Vietnã, Colômbia, Indonésia e Etiópia - mas isso não significa que a bebida que tomamos seja de boa qualidade. Na verdade, grande parte do café vendido no país é de qualidade, no mínimo, questionável. Por séculos, o Brasil exportou seus melhores grãos e deixou por aqui o que "sobrava". Com isso, nosso paladar se acostumou a um café feito com grãos ruins, torrado excessivamente (para homogeneizar o sabor) e vendido, em sua maioria, já moído, o que impede o consumidor de saber exatamente o que existe ali. Exemplo? A lei da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que regula sujidades toleradas em alimentos,  permite que cada 25 gramas de café torrado e moído possa conter até 60 fragmentos de insetos e que até 1% do volume do pacote seja "casca, pau e detritos provenientes do cafeeiro";  tem produtor que aproveita para elevar esse índice para até 3% e dar uma 'reforçada' com milho, cevada, triguilho, açúcar mascavo e soja.Esse cenário começou a mudar há cerca de 20 anos, quando surgiu por aqui o conceito de "café especial". O café especial tem valores de saca bem maiores do que os do café commodity, é sensorialmente muito mais complexo, tem cadeia de produção rastreável e segue parâmetros sócio-ambientais (nada de trabalho análogo a escravidão, uso intensivo de agrotóxicos ou desmatamento). Com a valorização desse produto tão importante - Segundo a Organização Mundial do Comércio, o café é a segunda mercadoria mais valiosa exportada pelos países em desenvolvimento, depois do petróleo -houve um boom de boas cafeterias e torrefadores pelo país, centenas de lojas online especializadas em cafés especiais surgiram e a valorização dos produtores de grãos de excelência veio para ficar. Para aprendermos mais sobre o que separa um café padrão de um especial, minha convidada é um ícone do setor, Isabela Raposeiras. Barista, mestre de torra e proprietária do Coffee Lab (cafeteria multipremiada e a maior escola de baristas do mundo), em São Paulo, Isabela foi pioneira ao pagar o valor merecido (até cinco vezes mais que a média) aos produtores de cafés de qualidade e criou métodos de torra adaptados aos cafés especiais que garimpava pelo Brasil. Foi ela também quem, pela primeira vez, colocou os produtores como protagonistas, estampando nas embalagens seus nomes, a variedade de café e o tipo de torra. Support the show
Apiaká, Baniwa, Guajajara, Jiripancó, Krenak, Miranha, Kanindé, Pataxó, Xukuru, Yanomami: esses são apenas alguns dos 266 povos indígenas que vivem hoje no Brasil (Fonte: Instituto Socioambiental), em um território de mais de oito milhões de quilômetros quadrados. Portanto, falar de cultura alimentar indígena significa falar de pluralidade de rios, mares, chapadas, florestas, caças, peixes, tubérculos, frutas, raízes… Significa falar de milhares de anos de tradição, de aprendizado, de relação equilibrada com a natureza, de saberes ancestrais. Se você aprendeu que a "comida básica de índio" era a mandioca, bom, taí um erro comum: apesar de mandioca e seus derivados serem a base da alimentação de diversos povos da Amazônia - e com eles, os povos não-indígenas terem aprendido a comer farinha, a usar tucupi e a preparar tapioca -, há povos em outras partes do Brasil que tinham sua principal fonte alimentar no milho e na batata-doce, por exemplo. Fato: sabemos pouco demais sobre os povos originários do Brasil e sua relação com o alimento e, como colonizados, damos muito  mais crédito aos imigrantes europeus e japoneses pela construção do que chamamos hoje de culinária brasileira do que aos africanos escravizados e aos indígenas, as bases da nossa cultura alimentar.  Indígenas sabem plantar ou são só coletores-caçadores?Produzem alguma coisa? Para abordar esses e outros temas, minha convidada é Deborah Martins. Inndígena do povo Pataxó, Deborah é chef de cozinha, formada em Direito, graduanda em Gastronomia, ativista pela soberania alimentar dos povos indígenas, pelo Direito Humano à Alimentação Adequada e por uma gastronomia política.Support the show
Em fevereiro de 2023, uma operação resgatou de condições análogas às de escravo 207 pessoas que atuavam na colheita e carga e descarga de uvas em Bento Gonçalves (RS): os trabalhadores denunciaram que foram vítimas de ameaças e maus tratos, incluindo o uso de choques elétricos e spray de pimenta. O caso ganhou atenção da mídia e ampla repercussão pública. Contudo, também em 2023:-  fiscalização resgata 16 trabalhadores após cinco meses em situação análoga à escravidão em fazenda de soja no Sul do Piauí: quinze homens adultos e um adolescente viviam em barracas de lona, sem acesso a banheiros.- operação resgata 56 pessoas (entre elas, adolescentes com idades de 14 a 17 anos) em condição análoga à escravidão em fazendas de arroz em Uruguaiana, RS Em 2022:- operação resgatou 27 vítimas de trabalho análogo a escravidão nas Fazendas Olhos D’Água e Klem, ambas com selos de boas práticas socioambientais na produção de café.- trabalho análogo à escravidão em pomar em Bom Jesus, Rio Grande do Sul, que abastecia ‘líder em maçãs’ , acende alerta sobre condições na colheita do fruto.O fato é que  trabalho análogo a escravidão no setor de produção de alimentos não é, infelizmente, um caso isolado no Brasil: ao todo, 2.575 trabalhadores foram encontrados nessa situação em 2022. Mas como, em pleno 2023, essa prática vil ainda é comumente utilizada no Brasil? Qual a punição prevista em lei para quem comete esse crime? Como saber se os produtos que colocamos em nossas mesas tem envolvimento com trabalho escravo? Para conversar sobre o tema, nossa convidada é Simone Henrique, advogada especialista em Compliance pelo IBCCRIM e Universidade de Coimbra e Mestra em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.PARA ACESSAR A LISTA DAS EMPRESAS QUE FORAM FLAGRADAS UTILIZANDO TRABALHO ANÁloGO A ESCRAVO, CLIQUE AQUISupport the show
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Comments (4)

Miguel Camelo

uma importante reflexão sobre esse consumo desenfreado de carne animal e os impactos desse consumo no mundo todo...bicho tá pegando, literalmente e impressionante o povo que não se toca com as mudanças no clima e no cotidiano.

Sep 21st
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Miguel Camelo

adorei essa conversa! tudo a ver com os dias atuais e com esse deixar nossa vida na mão dos outros, temos tempo pra ficar horas nas redes sociais, mas não pra cuidar da nossa saúde e de nossa alimentação. Colocamos nossa saúde nas mãos de n produtos ultraprocessados, remédios e mais, mas parar pra entender o que nos faz bem...cadê o tempo?

Sep 11th
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Miguel Camelo

somos tão acostumados a lutar por nossos corpos individualmente, que esquecemos que essa batalha, dos agrotóxicos acontece pra todos, é uma globalização das doenças, independente de sua identidade, todos vamos adoecer por igual...me preocupa demais essa pauta agora em ano de eleição.

Jun 29th
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Flávia Tavares

O podcast tá incrível, simples de entender, conciso, e com um assunto urgente demais.

Apr 10th
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