Bengala dos 20

É o sentido de humor em pessoa e casado com a representação. Só a morte os separa. Em pequenino havia também o desejo de se tornar um sereio. Sim, cauda e ondas. Fiz questão de esclarecer isto. Já se tinha cruzado com as minhas irmãs e agora chegou a minha vez. Quem é o Vasco Pereira Coutinho?

Com quantos amigos realmente contamos nesta fase? Ainda se fazem amigos aos 20s? Os de infância ainda cá estão? Temos muitos amigos ou conhecidos? Quem é para a vida toda? 

Como responder ao clássico: "Então, e namorados?" das tias, ali pela sobremesa num almoço de família? Porque é que não passam a perguntar "Como vai essa vida de solteiro?" - é assim tão urgente encontrar o parceiro aos 20´s?

Enquanto temos recém-nascidos a dar "skip" ao anúncio no YouTube, de um vídeo qualquer que os entretém durante o jantar no restaurante, eu demorava cerca de 8 meses para escrever uma mensagem no Skype e jogava às escondidas enquanto os adultos terminavam os seus pratos e gargalhadas na mesa. Nunca mais se cresceu assim.

O que será que os mais velhos diriam às suas pessoas de 20 anos? Como é que olharemos para esta fase, daqui a uns tempos? Vamos lá refletir sobre estes conselhos e tão importantes avisos, dos que já vão mais à frente. Do velhotes.

Um bocado mais alto, um bocado mais baixo, cabelo muito curto ou demasiado comprido. Extrema timidez ou não conseguir parar quieto, uma atenção mais virada para um recreio tranquilo e acompanhado por um livro, ou a ser líder na organização dos jogos? Algum sinal de coisas que evoluíram e descobrimos hoje? Que características tínhamos, vistas como "fora do normal"?

Na adolescência, entramos num campo de batalha, onde quem ganha, são os loiros surfistas com boas piadas. Cumpriam com os sapatos que estavam na moda e desafiavam a amorosa professora de história, que dava em doida com a postura desses Antónios ou Duartes. Também havia a versão besta feminina, das que, normalmente em grupo, avaliavam detalhadamente o cabelo de terceiros. Toda a amizade dependia do tipo de shampoo, calças ou nariz elegante. Hoje percebemos que queremos ao nosso lado quem ainda veja Disney e goste de pizza. Mesmo que o nariz seja uma aberração. 

Há quem gostasse de ter super poderes para voar, ficar invisível ou mais rápido - mas viajar no tempo deveria ser prioritário, para que em vez de nos enervarmos com as finanças ou debates políticos, o stress regressar aos TPC´S, onde o nível de exigência na tabuada e desenhos com um sol no canto da folha existisse. Isso ou perder a lancheira quando os pais nos iam buscar à escola. Queremos voltar a ser responsáveis pelo cartaz de ciências, não se pode dobrar nas pontas! Que chatice. Canseira de cargo. 

Medo é uma sensação muito comum na infância. Medo do escuro, da abelha, do polícia nos apanhar sem cinto (convém ainda ter medo disso), do monstro debaixo da cama... ah, esperem, infância? A Janico abraça-o todos os dias. Este conceito: o medo! 

Recordar a nossa relação com a vida, quando éramos umas formigas imaturas, pode trazer várias sensações. A começar pela vergonha alheia. O famoso termo "cringe" - que a geração TikTok adotou. É curioso reparar na nossa evolução, ainda que ainda estejamos nesse processo, e só lá pelos 50 é que temos juízo. Dizer cinquenta é mais credível. 

Uma rápida apresentação de quem está de frente para o microfone, durante uns bons minutos semanais, e com uma extraordinária alcunha. Sobre o que é o "Bengala dos 20"? Somos novos e com tudo pela frente, mas será fácil enfrentar o que aí vem? Há saudade dos primeiros aninhos de vida? Quem é que eu fui, e quem é que serei?