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Cosme Rímoli

Author: Cosme Rímoli

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Jornalista esportivo Cosme Rímoli entrevista grandes nomes do universo do esporte em um bate-papo sobre o que rola dentro e fora de campo.
120 Episodes
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Zico, Sócrates, Falcão? Não, o melhor jogador deste país, em 1980, se tinha nome. Zé Sérgio, do São Paulo. Escolhido por jornalistas de todo território nacional. Quem viveu aquela época é privilegiado. Acompanhou os dribles deste jogador ambidestro, que enlouquecia defesas adversárias. E não parado nem por pontapés. Ágil, corajoso, talentoso, devolvia os chutes que levava, humilhando seus marcadores, com dribles que terminavam em gols. Dele ou de companheiros de time. "Eu cansei de marcar gols por causa do Zé Sérgio. Era só tocar na esquerda e esperar. A bola chegava. Era só cabecear ou tocar para desviar do goleiro. Ele sabe o quanto foi importante para que eu me tornasse o maior artilheiro da história do São Paulo', elogia Serginho."Eu tinha muito prazer em driblar e cruzar para meu time fazer os gols. Eu era ambidestro, ou seja, driblava com a direita ou com a esquerda. Além disso, minha velocidade era alta. Sempre fui objetivo, queria ganhar os jogos, não driblava para trás. Queria o gol."Zé Sérgio surgiu como um cometa. Adaptou os dribles do futsal com os do futebol de campo. Seu parentesco distante com Rivellino foi útil no início da carreira. Aliás, não ficou no Corinthians porque era longe de sua casa. Preferiu o São Paulo. Foi a revelação de 1977. Estava na Copa do Mundo em 1978, na Argentina.E melhor jogador do Brasil em 1980. Foi também o grande destaque do Mundialito do Uruguai. Fez uma partida inesquecível contra a Alemanha, na vitória por 4 a 1. "Estava tudo certo. Eu era titular da Seleção. O Telê já havia dito que contava comigo para a Copa do Mundo de 1982. Eu quase fui para o Milan. Estava tudo ótimo. Mas vieram a fissura no meu braço por um soco de um zagueiro da Seleção do México. Era um amistoso em Los Angeles. O São Paulo me colocou em campo só 20 dias depois. Tomei um pontapé, cai sobre o braço, que quebrou. Fui operado, mas não ficou bom. Depois, enquanto treinava, com o braço imobilizado, torci o joelho. E rompi os ligamentos cruzados. A cirurgia não deu certo", relembra com tristeza. 'Meu futebol caiu pelo menos 30%. Não consegui ser eu mesmo. Foi horrível."Para piorar, teve uma gripe forte. O médico que o atendeu no São Paulo receitou Naldecon, remédio popular. Mas havia uma substância que era proibida. E Zé Sérgio foi acusado de doping. 'Foi terrível. Tomei o que o médico do São Paulo me passou. A imprensa da época fez um escândalo. Tanto que o presidente da Federação Paulista da época, Nabi Abi Chedid, resolveu arquivar o processo. Tanto era minha honestidade. Realmente não tomei nada além do que me foi receitado."Zé Sérgio perdeu a Copa do Mundo, deixou de ser convocado. Já não era o mesmo jogador. Foi trocado, junto com Humberto, por Pìtta, do Santos. Ficou deprimido. "Não gostei da maneira com que o São Paulo me trocou." Chora ao lembrar do sofrimento que enfrentou. 'Fiquei a ponto de fazer uma besteira comigo. Deus me salvou.'No Santos foi tricampeão paulista, já que tinha conquistado dois títulos com o São Paulo. As deficiências físicas por erros médicos o atrapalharam. Passou pelo Vasco, de Romário. Logo foi para o Japão, onde ficou oito anos.Depois trabalhou na base do São Paulo. Aprimorou Casemiro, por exemplo. Por disputa política saiu. Magoado. Passou pela Ponte Preta e Ituano. Se cansou da falta de reconhecimento, da interferência de dirigentes e do fraco salário."Em 2019, eu parei. Chega de pagar para trabalhar. Os times do Interior pagam muito pouco." Muito jovial, nem parece os 68 anos que tem. É dono de um dos times da Kings League. 'Longe do futebol eu não iria ficar', enfatiza.Quem teve a sorte de ver Zé Sérgio jogar, no São Paulo, não esquece jamais...
'O Palmeiras está interessado em Edu, da Portuguesa."Esta era a manchete do extinto jornal A Gazeta Esportiva, em 1969."Eu não tive dúvidas. Peguei o jornal e, em vez de ir treinar na Portuguesa, fui direto no Palmeiras. Todos estranharam quando me viram. O Dudu perguntou: 'o que você está fazendo aqui?' Respondi: já que o Palmeiras me quer, eu quero o Palmeiras. Vamos assinar. Eu sabia que era o jogador que faltava para a academia."Carlos Eduardo Da Silva sempre foi assim. Corria, literalmente, atrás do que queria. Era uma necessidade. "Éramos em 11 irmãos. Eu precisava ajudar em casa, de qualquer maneira. Ele não desejava que eu fosse jogador. Fiz um pacto. Se não der certo, logo eu desisto."Ele já era um mito nos bairros da Zona Norte. No Bairro do Limão, na Cachoeirinha, no Bairro do Limão. Até que passou em um teste na Portuguesa. Era meia, inteligente. "Mas vi que tinha muito jogador talentoso, como o Lorico. E outros. Todos queriam o meio-campo. Fui para a ponta. Sabia que era o meu lugar."Edu não tem o apelido de Bala, por acaso. Sua velocidade era incrível. 'Chegava a fazer 100 metros em 10 segundos." Poderia competir no atletismo. Tinha também o chute violentíssimo. 'Cansei de chutar a bola no Tietê, já que o Canindé não tinha proteção.'O argentino Filpo Nunes que o treinou na Portuguesa, o queria no Palmeiras. E ele foi para o clube, da maneira mais simples. Com o jornal debaixo do braço. A direção palmeirense aproveitou a oportunidade."A chegada do Edu foi um grande bem para o nosso time, que já era muito bom. Mas tinha atletas de toque de bola. Precisávamos de alguém que saísse do nosso perfil para surpreender os adversários. E o Edu 'voava' pela ponta. Se encaixou como uma luva", elogia Ademir da Guia.E foi assim que Edu Bala foi tricampeão brasileiro, tricampeão paulista, ganhou duas vezes o troféu Ramón de Carranza. Só não foi vendido pelo Español porque o Palmeiras o segurou. "Foi maravilhosa a minha passagem pelo Palmeiras. O time era fantástico. Ganhamos tudo. Só não a Libertadores porque não dávamos a mínima atenção."Edu tem uma passagem engraçada, folclórica. 'O Hector Silva me lançou. E eu corri tanto para a bola que acabei caindo no vestiário. Tanta era minha velocidade. Não consegui parar', relembra, com o sorriso largo, aos 76 anos."Dirigentes palmeirenses precisavam de dinheiro e desmancharam a academia", revela. E foi jogar no seu time do coração. Poucos sabem mas ele sempre foi são paulino. Também foi campeão paulista. Ganhou títulos no Sport e na Desportiva, do Espírito Santos. Jogou até os 39 anos.Mas marcou para sempre o futebol brasileiro. Deixou de ser uma pessoa. Para ser como um pedaço de uma poesia, que palmeirenses apaixonados declamam, de cor...Leão, Eurico, Luiz Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir, Edu, Leivinha, Cesar e Nei.
Ele é considerado um dos melhores zagueiros da história do futebol brasileiro. Se tivesse conseguido os dois títulos que esteve tão perto, teria virado lenda. A começar pela Copa do Mundo de 1982. Ele era um dos capitães do time. Telê Santana o nomeou ao lado de Sócrates. E Oscar sentia que o time estava ganhando jogos, seduzindo a torcida brasileira. A imprensa nacional foi a primeira a ceder. Depois, a Mundial. Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico eram as estrelas. Reuniam talento que tornavam encantadora a maneira da Seleção jogar. Mas havia um detalhe que passava despercebido. Contra a Rússia, Escócia e Argentina, o Brasil sofreu gols. O time atacava, mas dava espaço aos adversários. "Não era esse time que o Telê preparou. O Paulo Isidoro, que marcava muito, ficou de fora. Entrou o Cerezo. O Telê se empolgou com os elogios do mundo todo. E manteve o Brasil muito ofensivo. Além do meio-campo, nossos laterais atuavam no ataque, Leandro e Júnior. Era assim que ele queria ganhar a Copa do Mundo", resume Oscar. Mas chegou o dia 5 de julho de 1982. E a Itália, de Enzo Bearzot, ótimo time, mas que vinha massacrado e rompido com os jornalistas, entrou em campo com a obrigação de vencer. O empate era brasileiro."Nós começamos classificados, com o 0 a 0. Eles marcaram 1 a 0. Nós empatamos em 1 a 1. Eles fizeram 2 a 1. Empatamos de novo. 2 a 2. E o Telê pedindo para jogarmos da mesma maneira. Aberto, buscando vencer. Tomamos o 3 a 2. E fomos eliminados. Tivemos três vezes a classificação nas mãos e desperdiçamos. "Pensando agora, com calma, o Brasil deveria ter um outro plano. Colocar o Dirceu, que marcava muito, corria e era habilidoso, para marcar. O Batista, nosso melhor marcador, estava bem fisicamente. Mas nem no banco ficou. Talvez poupado para uma semifinal que não veio. O Telê se empolgou", resume Oscar.O zagueiro e capitão desabafa. "Os gols do Paulo Rossi foram muito fáceis. Ele teve todo espaço para correr por onde desejasse. A nossa defesa estava muito aberta. Ele era artilheiro, se aproveitou. Foi um trauma. Que até hoje ninguém esquece essa eliminação. A princípio não tem resposta. A princípio."Oscar passou também por outra derrota inesquecível. A final do Paulista de 1977, que o Corinthians ganhou da Ponte Preta, acabando com 23 anos de jejum."Nosso time era muito talentoso. E forte. Mas começamos a perder quando as três partidas finais foram para o Morumbi. O que facilitou para o Corinthians. Perdemos o primeiro jogo. Ganhamos o segundo. No terceiro, a expulsão do Rui Rey no começo da partida, por uma discussão com o juiz Dulcídio Vanderlei Boschilia, acabou com a gente."Não acho que tenha acontecido nada de errado com o Rui Rey. Ele era muito estourado e gesticulava muito. O Dulcídio estava longe. E pensou que ele o tivesse xingado. E expulsou. Mesmo assim, a Ponte Preta lutou, teve chance. Mas o Corinthians se aproveitou de ter um jogador a mais", lamenta. Oscar fez história no São Paulo. Tendo o uruguaio Dario Pereyra ao seu lado."Fizemos uma dupla perfeita na zaga. Ele tinha técnica e eu o vigor, a velocidade. Não é por acaso que as pessoas se lembram até hoje. Ficamos para sempre na memória do torcedor." Dario, que já deu exclusiva ao canal, relembra. "Nosso entrosamento era no olhar. Dois jogadores talentosos, de muita harmonia, amizade e vontade de ganhar. " Um Brasileiro e quatro Paulistas foram conquistados.O irônico é que Oscar deveria ter saído da Ponte para o Palmeiras. O clube da capital negociou por dois anos com a equipe campineira. "Vim algumas vezes para São Paulo para fechar contrato. Mas enrolaram e eu fui para o Cosmos." Nos Estados Unidos, Oscar se machucou e não pôde mostrar seu talento. E o São Paulo foi resgatá-lo.Telê Santana via enorme potencial em Oscar como treinador. Líder, sério, com excelente visão de jogo.
242 gols. O maior artilheiro da história do São Paulo.102 gols pelo Santos, o clube dono do seu coração. Ídolo dos dois rivais. Último jogador 'sem filtro' algum. De assumir tudo que faz. Espontâneo, sem medo de julgamentos.Sua vida não daria um filme, mas uma série que faria sucesso em qualquer lugar do mundo. "Se não fosse o futebol, eu estaria no mundo do crime. Como meus amigos. Eu fiz questão de fazer uma partida no Carandiru (antiga penitenciária). E lá reencontrei meus amigos de infância. Choramos muito. Eles fizeram coisas pesadas. Também faria com eles, se não fosse o futebol."Serginho Chulapa era uma das entrevistas mais aguardadas por mim. Depois de anos de desencontros, ela aconteceu. E foi marcante."Eu quis falar. Até para acabar com a aura da Seleção de 82. Nós tínhamos um time maravilhoso. Mas o ambiente era péssimo. Não merecia ganhar a Copa. Não havia união de verdade."Havia reservas que queriam entrar no time de qualquer jeito. O principal era o Edinho. Ele queria jogar no lugar do Luizinho. E sabotava o ambiente. Anos depois, eu dei um tapão nele. Tinha de dar, pelo que fez na Espanha.Ele foi acusado de ser o pior jogador do time que encantou o mundo. "Eu não pude ser eu mesmo. O Telê foi para o quarto que eu dividia com o Eder. Era o quarto dos malucos. E avisou. Quem aprontasse qualquer coisa em campo, sairia do time e não jogaria mais. Não pude ser eu mesmo. Se eu pudesse, teria voltado da Espanha a pé. E não teria aceito jogar aquela Copa.""Serginho vai além. "Os jogadores marcavam gols e fugiam da gente. Não queriam abraços. Buscavam as placas de publicidade, para aparecer na tevê. Tinham 10 segundos para chegar nas placas. Ganhavam 500 dólares por gol. Fique pu... quando soube. E também quis os meus dólares. Mas vi ali, que cada um pensava em si."Falcão explicou que Serginho foi o grande sacrificado no esquema de Telê Santana. "Ele prendia os zagueiros para que nós, do meio-campo, eu, o Zico, o Sócrates, o Cerezo, jogássemos. Foi injusta tanta cobrança que ele recebeu."Serginho é direto. "A minha Copa era a de 1978. Não fui convocado porque os cariocas queriam Roberto Dinamite. Eu peguei nove meses de suspensão por ter chutado um bandeira. Errei. Mas o julgamento no Rio de Janeiro foi para me tirar da Copa. E o Roberto ir.""Ele reconhece que sua carreira foi importante. Mas nunca abriu mão de viver como queria. "Ah, aprontei, sim. Treinava, me dedicava. Mas meu gênio sempre foi forte. Não fugia de provocação. O jogador tem de se impor."Chutou bola em cima do banco do Corinthians, deu um bico no rosto de Leão, que o provocou por ele estar com hemorroidas. Deu um pontapé no bandeira Vandevaldo Rangel, em 12 de fevereiro de 1978. Na partida entre o São Paulo e o Botafogo de Ribeirão Preto. Suspensão de nove meses e adeus Mundial da Argentina.Fora de campo, colecionou outros episódios marcantes. Como quando bateu em um padre, no batizado de uma das sobrinhas do seu amigo, Basílio, ex-jogador do Corinthians. Gravou um disco como cantor, que fracassou. E, revelou um segredo, desistiu em cima da hora de fazer um filme pornô. "Eu fui gravar. A menina estava pronta. Mas havia muita gente. E as câmeras me queimavam a bunda. Desisti. O filme iria se chamar 'Panteras Negras'. Serginho revela também outras situações surreais no Exterior.""Fui para o Marítimo. Em cinco jogos, fiz quatro gols. O técnico me tirou, sem mais nem menos. Não aguentei. Dei um soco no olho do Mister." Depois, Serginho foi comprado pelo Malatyaspor, da Turquia. "O presidente era do narcotráfico. Foi preso. E não recebi nada." Ele só tem um arrependimento. A cabeçada que deu no repórter Gilvan Ribeiro, quando trabalhava como técnico interino do Santos. "Eu estava uma pilha de nervos. E ele me provocou. Errei."
'Eu sempre soube o quanto é fundamental a liderança, a personalidade, o exemplo em um time vencedor. Foi o que eu fiz pelos times que passei. E o comando em campo, sem depender do treinador, faz a diferença em campo. Quando as coisas estavam ruins, eu chamava os jogadores no gramado, para não vazar a conversa. Longe de todos. Até dos técnicos. "E cobrava de todos e ouvia a versão de cada um. Essa cumplicidade se refletia em campo. Fui campeão na Inter de Limeira contra o Palmeiras assim. E no Corinthians saímos de situações ruins graças à cumplicidade."Ele começou sua carreira no Santos, dos Meninos da Vila. "Eu jogava na várzea, em Santos. Quando fui descoberto, estava servindo Exército. Não tive a formação de base. Não treinei fundamentos quando era menino. Compensava com meu chute forte, com a minha visão de jogo, mas principalmente com a minha vontade ganhar. Eu não desistia e não deixava ninguém desistir, não."Foi assim que Gilberto Costa fez história na Internacional de Limeira. "Eu quis sair do Santos porque não havia espaço, com o meio-campo formado por Clodoaldo, Ailton Lira e Pita. Fui para a Inter e ouvi que o nosso planejamento para o Paulista de 1986 era para não sermos rebaixados. Só que percebi a força do nosso time. E começamos a ganhar, ganhar. Até chegar à decisão do título com o Palmeiras, que estava dez anos sem ganhar um campeonato."Gilberto Costa revela que o segredo do título da Inter foram dois. "Primeiro, o nosso potencial, que foi desprezado. Fizemos melhor campanha que o Palmeiras. E a mídia não queria valorizar. Em segundo lugar, a nossa personalidade. Sentíamos o desespero nos jogadores do Palmeiras. Eles tinham de lidar com a pressão da própria torcida e da imprensa, que já os consideravam campeões."A Federação Paulista de Futebol ajudou o Palmeiras levando as duas partidas decisivas para o Morumbi. "Quando empatamos o primeiro jogo em 0 a 0, sentimos que o título era mais que possível. E veio segundo jogo. Vencemos com toda a justiça, por 2 a 1."O ex-volante faz questão de inocentar Denys, lateral que ficou marcado para sempre, na decisão. "O lance que ninguém esquece foi ele atrasando de peito, fraco, para o Martorelli e o Tato tomando a bola e fazendo o gol. Só que quem estava de frente para o lance era o Martorelli e ele não avisou o Denys. O erro foi do goleiro e nunca do Denys."Depois da Inter, Gilberto Costa passou pelo Internacional e marcou época no Corinthians. "Nós não ganhamos títulos no Corinthians porque não houve união. Havia divisão entre os jogadores. E a diretoria também não ajudava. Dei o meu máximo. Me desdobrava em campo. Lutava e cobrava meus companheiros. Tínhamos potencial e o apoio absurdo da torcida. Foi um desperdício."Aos 68 anos, trabalhando com o também ex-jogador Lê, ele mora em Santos. E não se conformou com o rebaixamento do clube. "Foi triste demais para mim. Eu vi que tinha muita coisa errada. A falta de liderança, de parceria entre os jogadores, pesou. Nunca pensei que o Santos seria rebaixado. Foi muito duro."Gilberto transpira liderança até hoje, aos 68 anos.E tem uma visão privilegiada do mundo do futebol. A entrevista foi uma aula.De quanto é fundamental qualquer equipe ter um líder. Jogador de personalidade. Não precisa ser líder técnico. Basta ter comando, dar exemplo para os companheiros.Por exemplo, hoje, o Santos não tem. Esse não é o perfil de Neymar.Por isso flerta com o rebaixamento de novo...
Saudade para o torcedor do Santos tem nome e sobrenome. Ailton Lira. "É incrível. Saí do Santos há 45 anos, mas onde vou sou tratado com enorme carinho, respeito, admiração. Os santistas me abraçam, pedem foto, autógrafos. Eu fico muito feliz por não ter sido esquecido. E até acho um pouco de exagero", confessa o ídolo. Ele segue sendo muito humilde. Foi um dos melhores e mais cerebrais meias do futebol brasileiro. "Era sacanagem jogar com o Ailton Lira. Ele tinha uma visão de jogo espetacular. E metia a bola onde queria. Era habilidade pura. Ele dominava a bola e eu já saía correndo no meio, o Nilton Batata e o João Paulo abriam pelas pontas. A defesa adversária ficava desesperada. Sabia que um de nós três iria receber a bola livre. O Lira era genial." A definição é de Juary. Lira, Batata, João Paulo, Juary. E mais o auxílio de luxo de Pita. O Santos de 1978, que ganhou o Campeonato Paulista, era uma equipe espetacular. Tinha tudo para fazer história. "Mas a direção do Santos se apressou e começou a desmanchar o time, por dinheiro. A nossa equipe era para durar uns 10 anos, trocando peças com calma. Iríamos ganhar muitos títulos", diz, com firmeza, Ailton.Ele chegou tarde para um grande time. Revelado pela Ponte Preta, teve pela frente, disputando posição, o maior jogador da história do clube de Campinas: Dicá. 'Uma pena que não pensaram em nos colocar juntos, como o Formiga, me colocou com Pita.' Cansado da reserva, foi para a Caldense. 'Era o terceiro clube de Minas Gerais. Acabei ficando quatro anos por lá.' Se tornou o melhor de todos os tempos da equipe de Poços de Caldas, mas era muito pouco mérito para tanto talento.Chegou no Santos com 25 anos e meio. Em 1976, quando o clube estava mergulhado em grande crise. Por falta de dinheiro, e pressionado pela despedida do clube, de Pelé. 'A diretoria ia contratando promessas e mais promessas. Chegamos a ter mais de 40 jogadores.'Mas logo sua maestria com o pé esquerdo foi notada. Assim como seu talento excepcional para bater na bola. Faltas e pênaltis eram motivo de empolgação para a torcida. Contra a Ponte Preta, ele chegou a ter seu nome gritado pela torcida, antes de bater na bola. Ele teve de cobrar a falta. E, lógico, para a cena ser histórica, marcou o gol.O Santos o desperdiçou logo. Após vencer o Paulista de 1978, quebrando o incômodo jejum de cinco anos sem título, Lira seguiu jogando muito bem. Por um triz não disputou a Copa do Mundo de 1978. Cláudio Coutinho também o desperdiçou, na época cedendo ao bairrismo, ao protecionismo aos clubes cariocas.Humilde, companheiro, ele decidiu passar a sua camisa 10 para Pita. 'Dei, falando: você é mais 10 que eu. Me dá a 8.' E essa dupla maravilhou os torcedores de todos os clubes de São Paulo. Dois canhotos habilidosos, tendo a proteção do espetacular Clodoaldo. É para chorar de saudade, mesmo. O São Paulo o comprou em 1980. Disputou apenas o primeiro turno do Paulista, que o clube venceria. O Al Nassr decidiu comprá-lo e foi fazer história no mundo árabe. Ganhou muito dinheiro. Mas ficou longe dos holofotes brasileiros. Voltou em 1982 para o Guarani. Mas contusões acabaram por atrapalhar seu final de carreira.Tentou ser treinador. 'Mas os esquemas de empresários não são para mim. Muita coisa pesada acontece. Já na base dos clubes. Com pais oferecendo dinheiro para os treinadores. Porque querem que seus filhos tenham vagas nos clubes. Sou uma pessoa honesta. Não quis seguir, não."Aos 74 anos, ele é o corintiano mais santista deste país. 'Virei corintiano por conta da minha mãe. Mas amo o Santos. E sofri muito com seu rebaixamento. Nunca imaginei que isso fosse acontecer. E torço muito para que não caia de novo. Mas eu entendo o porquê de o Santos estar nesse estágio. Muitas administrações ruins. Um dia iria refletir."Quanto ao Corinthians, Ailton Lira mostrava sua torcida de garoto de maneira especial. "Fazia gols. Era a minha homenagem", sorri. Mas sua grande 'rivalidade' era com Valdir Peres.
'Pô, Cosme... Não vou mudar nunca. Aquele garoto da Mooca, espontâneo, segue vivo dentro de mim.'Edu Marangon, um dos mais talentosos meias das décadas de 80 e 90, segue com a mesma energia e sotaque 'italianado', que lhe valeu o apelido de 'Boy da Mooca'. Não parece ter 62 anos. De jeito algum.Meia clássico, talentoso, driblador e dono de um dom único para bater na bola, para cobrar falta ou lançar. Foi o melhor camisa 10 da Portuguesa, em todos os tempos.Desde garoto, inúmeros clubes se interessaram. Inclusive a Seleção Brasileira. Por onde ganhou os títulos do Pré-Olímpico Sub-23, os jogos Panamericanos de 1987 e a taça Stanley Rous.O assédio ficou enorme a ponto de o presidente Oswaldo Teixeira Duarte prometer. 'Enquanto eu mandar no Canindé, você não vai embora.' O ditatorial OTD acabou segurando Edu por longos quatro anos. Mas seu futebol ficou maior do que a Portuguesa. Foi para o Torino. Teve uma passagem que não foi melhor por ter sido sabotado. Por quem menos esperava. "Mas não quero falar quem foi, não." De lá, foi 'a peso de ouro' para o Porto. 'Tinha tudo para me dar muito bem. Só que encontrei o treinador Arthur Jorge (homônimo do ex-técnico do Botafogo). Ele era brigado com o presidente Pinto da Costa. Fiquei no meio dos dois. Acabei perseguido pelo treinador. E um dia, ele me tirou com cinco minutos de jogo. O resultado. Acabei dando um soco no seu peito." Nunca mais jogaria no Porto.No entanto, o destino de Edu reservava o Flamengo. Ele foi escolhido como substituto de Zico. "Foi uma emoção incrível vestir aquela camisa 10." Mas entrei em conflito com a imprensa carioca que não aceitava um paulista substituindo o Zico. O bairrismo era demais." O Flamengo atrasou salários, não teve como pagar o que combinou com o meia.Surgiu em seguida, o Santos. "Aí foi demais. Receber a 10 do Pelé. Privilégio único. Formamos um bom time, mas faltava dinheiro." 'Fui para o Palmeiras, time sempre torci. Eu e a minha família. Meu pai era fanático. Não dei sorte porque o clube estava ainda fechando com a Parmalat. Era muito bagunçado. Houve um problema entre o Nelsinho Baptista que afastou o Evair, o Jorginho, o Andrey e o Ivan. Entrei para apaziguar. Não apaziguei e ainda não tive o contrato renovado. E olha que eu estava jogando bem e ajudando na chegada da Parmalat, já que eu falo italiano.'Muito talentoso, teve algumas convocações para a Seleção. Principalmente com Falcão. "Mas de novo a imprensa carioca. Ela sabotou o Falcão e me atrapalhou, por conta das discussões que tive quando estava no Flamengo."Edu foi para o Japão, atuar no Yokohama Flugels. Ganhou a Copa São Paulo, como treinador da Portuguesa. Mas largou a profissão. 'É muito difícil ser honesto neste meio. Principalmente para os técnicos iniciantes. Eu sou e resolvi parar.'Por falar em honestidade, até hoje ele não se conforma com o rebaixamento da Portuguesa, na Justiça, em 2013. 'Alguém teve interesse e saiu lucrando. Não sei onde e quem. Mas é uma vergonha!' Atualmente é empresário de produtos de divulgação."Mas, Cosme, morro de saudade da rotina do futebol. Até de xingar vocês, jornalistas..."
Juary sempre foi direto.Jogador de muito talento, velocidade, goleador.Atrevido, homem de personalidade forte, um líder.Com seu 1m62 não se amedrontava diante da violência dos zagueiros, que nas décadas de 70 e 80, tinham licença poética para entradas violentíssimas. Respondia com gols.Marcou história no futebol.É venerado no Porto. Deu assistência e marcou o gol decisivo, na final da Champions League, contra o Bayern, de Munique, em 1987. Vitória marcante que levou o clube ao título Mundial, diante do Peñarol.Jogou no Avellino, na Inter de Milão, no Ascoli, Cremonese, Portuguesa, Moto Clube, Vitória.Mas foi no Santos que encontrou o 'clube de sua vida'."Minha família dividia ovos para sobreviver. Se não fosse o futebol, tenho certeza que poderia acabar mal. O tráfico já era o caminho para os jovens da minha idade, onde eu morava, no Rio. "Por racismo, que sofri no Fluminense, quase não jogo futebol. Foi tão traumatizante para um garoto, que eu já tinha desistido. Até que meu pai me levou, sem avisar, para o Santos. E minha vida mudou. Como não vou amar esse clube?"Juary mostrou talento desde os primeiros treinos. 'Como o meu amigo João Paulo te falou, tudo era muito difícil na Vila Belmiro. Por conta do fantasma do Pelé. Todos tinham medo que o Santos não voltasse a vencer, depois que ele se despediu e foi para o Cosmos."Mas o Pelé amava o Santos. Vinha treinar quando estava no Brasil. Eu tive o privilégio de treinar com ele. O maior de todos os tempos. Me ensinou muito. Principalmente a disciplina, o segredo para desenvolver aquele talento especial que Deus deu para ele. Ele treinava mais do que todos. Era um atleta perfeito. Incrível."Juary sabe o quanto foi importante na história do Santos, o título paulista que conquistou em 1978. "O clube estava na fila desde 1973, quando dividiu o Paulista com a Portuguesa, por um erro do Armando Marques. O tempo não era longo. Mas ninguém acreditava no Santos sem o Pelé. E estava uma bagunça, por conta desse medo. Havia gente demais. Chegamos a ter quatro times treinando, para serem escolhidos 11 para jogar."O segredo, para Juary, foi a geração de atletas que se juntou. E sob o comando de Chico Formiga. 'Ele não era um estrategista. Mas soube, como ninguém, juntar o talento dos garotos que estavam no Santos. Eu, João Paulo, Nilton Batata, Pita. E o Aílton Lira, que não era jovem, mas tinha um potencial incrível. Daí surgiram os 'Meninos da Vila'. Formamos um time maravilhoso. Ofensivo, vibrante. Fomos campeões, empolgamos o país. Eu fiz 29 gols."Por necessidade financeira, o time durou pouco, com a direção vendendo suas principais peças. 'Jogador, antes da lei Pelé, era tratado como escravo. Fui vendido para o México, sem querer. Estava acertado com o Flamengo. Mas fui para o Universidade de Guadalajara, antes de ir jogar na Itália."No futebol italiano, reencontro com o racismo. "Fui um dos primeiros negros estrangeiros por lá. Me chamavam de macaco. Já era homem feito, não me afetava mais. No futebol era comum." Juary revela que teve um encontro com Telê Santana e soube que perdeu a Copa de 1982 por conta de uma contusão. "O Telê me disse que iria para a Itália para me ver. Eu fazia parte dos seus planos."Juary teve uma carreira importante. Mas, como muitos jogadores, foi enganado por assessores. Perdeu muito dinheiro. Não gosta de revelar quanto. Foi trabalhar na base do Santos. Atualmente está em um projeto com garotos, em Curitiba, de onde veio para São Paulo, só para esta entrevista.E, lógico, falou do atual momento do Santos. "Eu já sofri muito com o rebaixamento do Santos. Nunca pensei que fosse acontecer. E agora, a situação está bem ruim. Os jogadores precisam saber a importância do clube que estão. Respeitar a camisa que o Pelé vestiu. Se eu estivesse em campo, jamais aceitaria perder por 6 a 0 para o Vasco, da forma passiva que o time reagiu. Quando o Vasco fizesse 4 a 0, o jogo acabaria. De um jeito ou de outro. Essa passividade é inacreditável para mim.
A relação de Aloísio José da Silva com o São Paulo Futebol Clube é incomum.As lágrimas escorrem de verdade ao tentar explicar o que viveu com a camisa tricolor. E recorre a Deus, para explicar como um garoto que cortava cana no interior de Alagoas acabou sendo fundamental no Japão, para fazer o clube que ama ser tricampeão do mundo. Tricampeão brasileiro."Não consegui passar da quarta série primária. Não sei o que seria da minha vida. Aí o destino, a mão de Deus, me levou para o CRB, para o Flamengo, para o Goiás, para o Saint-Étienne, para o Paris Saint-Germain, para o Rubin Kazan, para o Athletico Paranaense. Até chegar finalmente ao seu lugar no mundo: o São Paulo Futebol Clube."Senti que minha vida iria mudar profundamente. Eu jogaria no clube que amava desde a infância. Passei pelas orientações do Romário, fui parceiro do Ronaldinho Gaúcho, meus amigos. Mas a pessoa mais importante na minha  carreira estava me esperando: era o 'patrão'. Rogério Ceni. Ele fez tudo por mim. Me orientou, foi meu amigo, parceiro de todas as horas. E despertou essa competitividade para ser tricampeão do mundo."Aloísio, relembra a decisão contra o Liverpool. "O 'patrão' teve a melhor atuação de um goleiro de todos os tempos. Eu tinha de fazer a minha parte. Quando a bola chegou forte no meu peito, eu a dominei e dei um passe de trivela, espetacular, para o Mineiro. Quando ele fez o gol, o mundo do futebol parou. Nós sabíamos. Ninguém iria tirar o título mundial do São Paulo. Foi a maior alegria da minha vida", diz, chorando.Aloísio é transparente. Mostra o quanto é feliz. "Eu nem ousava sonhar em ser campeão mundial com o meu time de infância, colhendo cana. A vida foi boa demais comigo. E retribui a quem mais me ajudou. Batizei meus filhos de Aloísio Romário e o outro de Rogério Ceni."Aos 50 anos, Aloísio segue muito grato à vida, à carreira espetacular que teve. E retribui, ajudando crianças carentes na sua cidade Atalaia. "Sei o quanto é difícil viver no interior de Alagoas, sem apoio. Vejo a tristeza da fome, de não ter onde morar. Faço tudo o que posso e ajudo centenas de pessoas, sem ajuda do governo. Se Deus me deu uma vida privilegiada, tenho a obrigação de repartir, ajudar quem precisa."Eu sou assim. Vou morrer assim. Grato a Deus e retribuindo tanta alegria que o futebol me deu."
"Eu quero e mereço um busto no Parque São Jorge. Por tudo que eu fiz."A idade não mudou Vaguinho, não. Pelo contrário. Ele consegue ter o olhar mais claro sobre tudo que viveu. Sua importância aos clubes que defendeu, principalmente o Atlético Mineiro, e, lógico, o Corinthians."Sei da minha relevância nos gols, nas assistências e, também no espírito, na personalidade dos títulos que conquistei.'A primeira grande história no futebol de Vaguinho demonstra a força de sua personalidade. Contratado pelo Corinthians, junto ao Atlético Mineiro, em 1971, encontrou o clube sob o domínio de Rivellino. Ele era o craque e tinha o apelido de Reizinho do Parque."Nunca baixei a minha cabeça para ninguém. Logo em um dos meus primeiros jogos eu dominei a bola, ele pediu, mas eu resolvi chutar e ela foi fora. Ele passou a gesticular, me jogar contra a torcida. Quando descemos para o vestiário, começamos a nos xingar. Não tive dúvida. Dei um tapa na cara do Rivellino, sim. A partir daquele disse, passou a me respeitar. Hoje somos amigos. Foi uma situação de jogo, mas importante para ganhar meu espaço no Corinthians."Outra foi a final do Paulista de 1974, contra o Palmeiras. O Brasil todo esperava que o Corinthians acabasse o jejum de 20 anos sem títulos. "Eu sempre achei uma maneira de ganhar dinheiro além do futebol. E criei uma agência de jogadores. E vendi o Ronaldo, ponta direita do Atlético Mineiro, para o Palmeiras. E foi justo ele que marcou o gol do título contra nós...."E ele viu o Rivellino ser massacrado pela mídia, pela torcia. Foi escolhido culpado pelo fracasso. "Ele chorou desesperado no vestiário. Sabia que o mundo cairia em cima dele. E caiu. Foi uma enorme covardia o que fizeram com ele. Eu o apoiei como pude. Tudo partiu do presidente Vicente Matheus. E o vendeu para o primeiro clube que apareceu, o Fluminense."Uma história singela com Zé Maria. O lateral, sinônimo de masculinidade, sempre foi sério na concentração. Um certo dia, Vaguinho, resolveu dar um tapa na sua bunda diante dos companheiros de time. Zé Maria não teve dúvida. Pegou um revólver e o colocou na cabeça de Vaguinho e dizendo que ele repetisse o tapa, iria tomar um tiro. "O que eu pensei? Que ele fosse atirar. Amo o Zé Maria, ele é meu irmão. Foi uma brincadeira boba. Que eu nunca mais repeti, lógico..."Até que chegou a inesquecível decisão do Paulista de 1977. Contra a Ponte Preta. A relação de Vaguinho e Brandão sempre foi instável. Embora artilheiro, jogador importantíssimo o treinador acreditou que depois da primeira vitória dos três jogos, na segunda partida, deveria atuar com Basílio. E deixar Vaguinho na reserva. "Eu fiquei louco. Como assim? Primeiro trancaram os portões da concentração e os auxiliares do Brandão passaram a me seguir. Eu queria fugir, ir embora. Quando vi que não iria começar o segundo jogo, que tinha tudo para ser o decisivo, apelei."Sabia que o Brandão acreditava em vida após a morte. E ele tinha perdido um filho. Falei que havia sonhado com o filho. E ele tinha me dito que o Corinthians perderia o título se eu não jogasse. O Brandão ficou com aquilo na cabeça, tenso."Veio a segunda partida. Vaguinho seguia irritadíssimo e decidiu entrar com os 11 titulares em campo. O Corinthians teve 12 atletas agradecendo a torcida, o que era absurdo, na época. "Eu não iria sair na foto histórica? De jeito algum." Veio o jogo. E a Ponte venceu. 2 a 1. Vaguinho procurou Brandão. "Seu filho não tinha falado?"Chegou a terceira partida. E lógico que Vaguinho foi titular. E o Corinthians conseguiu quebrar o tabu. Campeão Paulista de 1977, depois de 23 anos. "Fizemos história. Sempre com recursos limitados."
Ele é o melhor preparador físico da história do futebol brasileiro.Disputou seis Copas do Mundo. Quatro com a Seleção e uma pela Arábia Saudita e outra pelos Emirados Árabes.54 títulos na carreira.Se o Brasil ganhou a de 1994 foi porque ele recuperou Romário e Branco.Ganhou dois títulos mundiais com o São Paulo, além de duas Libertadores, Brasileiro.Dois técnicos, que mudaram o futebol deste país, e de formações completamente diferentes, disputavam o privilégio de trabalhar com ele: Telê Santana e Carlos Alberto Parreira.Moracy Sant'anna.40 anos de profissão. Muito mais profundo do que os números, Moracy revolucionou a preparação física no Brasil, individualizando o trabalho. Trazendo métodos científicos de outros esportes. Para desenvolver o futebol arrojado pensado pelo genial, e genioso, Telê Santana, na Copa de 1982 e nas conquistas das Libertadores e dos Mundiais do São Paulo, eram necessários atletas fortes, velozes, com explosão muscular, fôlego e com capacidade mental para as disputas.Com o pragmático, e estudioso, Carlos Alberto Parreira, vencer a Copa do Mundo dos Estados Unidos, acabando com o jejum de 24 anos, jogando no escaldante verão, ao meio-dia, só um trabalho meticuloso. E usando o que a Ciência tinha de mais moderno. Além do poder de convencimento para treinos fortíssimos, com temperaturas que beiravam os 40 graus.'Moracy é um dos segredos do sucesso do futebol brasileiro. Se o Brasil ganhou a Copa de 94, ele tem muito mérito. Seu trabalho foi espetacular", resumiu Parreira. "O Moracy fez do São Paulo uma máquina de jogar futebol. Foi fundamental para os títulos mundiais e as Libertadores do São Paulo", resumiu Telê Santana.Nos seus 40 anos de carreira como preparador, além de trabalho revolucionário, sério, muitas vezes ele foi psicólogo. E enfrentou a lógica, quando colocou Branco para jogar o Mundial de 1994, quando a maior parte da Comissão Técnica o queria cortado. E foi recuperado para decidir o jogo mais importante da Copa, contra a Holanda.Foi assim também com Romário, que chegou para a Copa dos Estados Unidos desgastado, com péssima condição física. E Moracy o recondicionou. A tal ponto que foi o melhor jogador do Mundial. E do Mundo.Mas também viveu momentos de tensão. 'O Ronaldo Fenômeno chegou com oito quilos acima para a Copa de 2006. O Adriano? Nove. O Emerson, seis. Ronaldinho Gaúcho, dois e meio. Estavam gordos, pesados. Como um atleta chega para uma Copa desse jeito? Caiu tudo nas minhas costas, como se eu tivesse sido responsável. Uma loucura."Moracy, nesta rara e preciosa entrevista, revela o verdadeiro motivo do corte de Renato Gaúcho da Copa de 1986. "Não foi porque ele e o Leandro fugiram da concentração. Aliás, quase os seguranças atiram neles, quando estavam pulando o muro para voltar. O Renato foi cortado porque o Telê havia avisado para ele, quando chegasse na linha de fundo, cruzasse. Falou várias vezes. Quando chegou um amistoso pouco antes da chamada final, Renato insistiu em driblar e driblar. Telê o tirou no intervalo e avisou. 'Teimoso aqui só eu.' E não o convocou.'Aos 74 anos, Moracy deixou um legado estupendo. E que merece ser valorizado.Ele é o melhor preparador físico da história deste país.Algumas de sua lições são divididas nesta fundamental entrevista.
'Um Assado Para' se tornou um dos maiores podcasts do Brasil.Mais de 112 milhões de acessos.De maneira muito inteligente, Duda Garbi resolveu o problema que considerava grave nos podcasts.'Faltava ação. Só a conversa, não. Pensei até em pingue-pongue. Mas não iria ficar parado de frente ao meu entrevistado e conversar."Foi então que decidiu apelar para a paixão dos gaúchos. Ele faz um churrasco, 'assado' para os argentinos. Munido de cerveja ou vinho, Duda faz a carne, serve, brinda enquanto entrevista. Inteligente, cria um clima descontraído, de conversas descontraídas em uma mesa de bar.A fórmula deu muito certo. Personagens importantes do futebol já experimentaram a sua 'carne crua', como gosta de brincar, sobre o ponto do churrasco. Suárez, Zico, Romário, Felipão, Dunga, Renato Gaúcho foram só alguns."Eu percebi que o jornalismo tradicional ficou para trás, com a chegada da Internet. As pessoas não querem mais a fórmula tradicional. Ofereci o projeto, que seria o meu canal, para a RBS (Rede Brasil Sul, braço da Rede Globo no Rio Grande do Sul) onde eu trabalhava, na rádio. Não quiseram. Hoje eu faço coisas que a RBS não consegue. Não sou mais um jornalista. Sou uma empresa."Eduardo Mancuso Garbi se formou na PUC, em Porto Alegre. Jornalista inquieto, gremista mais que assumido, queria trabalhar como jornalista esportivo. Comunicador nato foi abrindo espaço na mídia gaúcha, desde 2005. Principalmente na rádio. Seu poder de improviso e descontração quase o levaram para o programa CQC. Mas o destino o seguraria na RBS. Percebeu, depois da Copa do Mundo de 2018, que estava infeliz. Queria fazer algo além de programas descontraídos. Queria algo seu.Decidiu criar o seu canal na Internet, que é um enorme sucesso.O primeiro projeto foi 'Duda Vai a Campo'. Ele ficou treinando no time profissional do São José, equipe pequena gaúcha. 'Como estávamos na pandemia, não havia rebaixamento. E pude perceber o quanto é sofrida, difícil, sacrificante a carreira de um jogador. E o quanto somos injustos com os jogadores. Não entrei um minuto sequer em um jogo. O máximo que fazer coletivo, como reserva. Foi uma das maiores experiências da minha vida.'Duda é um comunicador nato. Consegue transformar em cúmplice quem o ouve falar ou assiste suas entrevistas.E não perde o foco do crescimento, sem volta, da sua carreira na Internet. "Não sou mais um jornalista. Virei uma empresa." Rompeu há tempos a fronteira do Rio Grande do Sul. O Brasil conhece e acompanha suas histórias, entrevistas.Virou mais um motivo de orgulho para os gaúchos.Se desafiando constantemente, sua nova missão é passar uma temporada na Europa. Buscando exclusivas com jogadores brasileiros, ou não, com suas armas. Carne boa, vinho, cerveja e um sedutor poder de comunicação."Achei meu lugar", resume.Achou mesmo, Duda...
A melhor comentarista de arbitragem do Brasil tem nome e sobrenome.Nadine Basttos.Uma guerreira.Filha da classe média alta de Itajaí, cidade de Santa Catarina, tinha traçado o caminho de sua vida.Ser dentista como pai.Só que, caçula, com dois irmãos homens, se apaixonou pelo futebol. Queria ser jogadora. Não conseguiu. Mas uma amiga, Maira, a convidou para fazer o curso de arbitragem e aí, sim, descobriu a verdadeira vocação. Seguiu com a Odontologia, mas o prazer estava em apitar.Árbitra severa começava a se empolgar, quando chegou o preconceito."Eu ouvi: melhor você ser bandeira do que árbitra. Terá mais espaço na carreira." E foi o que ela, a contragosto foi fazer. Mas outra surpresa. Se tornou a melhor auxiliar de Santa Catarina, por cinco anos seguido. Seu talento instintivo e muito trabalho a tornaram a melhor do Brasil.Loira, muito, trança com gel. Corpo atlético. Logo surgiram convites para posar para revista masculina. Negou. "Respeito quem fez. Mas pude seguir a minha vida sem esta exposição."De personalidade forte, enfrentou críticas de torcedores e jornalistas, pelo simples fato de ser mulher. Só que era impossível não se render à sua competência. Mas ninguém sabia os dramas pessoais. O pai jamais aceitou o fato dela trabalhar no futebol e não se focar na Odontologia. Nunca foi assistir a uma partida no estádio na qual ela trabalhasse. Ele não queria tocar no assunto.Ao mesmo tempo via seus relacionamentos amorosos falirem."Meus namorados não aceitavam as minhas viagens para trabalhar com outros homens, os árbitros."Não havia nem como pensar em filhos. "Não há uma árbitra que teve filho e voltou em alto nível. Mulheres árbitras da elite do futebol abrem mão de coisas fundamentais na vida pessoal. E que as pessoas nem imaginam."Depois de uma carreira importante, abrindo caminho para outras mulheres. Nadine foi convidada para ser a primeira comentarista de arbitragem. "Foi na Fox Sports. Estava no caminho para acabar a minha carreira. Tinha 34 anos, meu joelho já estava me incomodando. Pensei e decidi ir para a televisão." Com muita coragem, facilidade de comunicação, sinceridade, ganhou respeito dos telespectadores, dos jornalistas e dos próprios árbitros. "Perdi algumas amizades por ser sincera. Mas faço o meu trabalho. E da maneira mais honesta, como sou como pessoa."Nadine saiu da Fox, convidada pela Globo. Resolveu deixar a emissora carioca para ser a principal comentarista de arbitragem no SBT.Onde trabalha com muita competência. "Me falaram que eu era louca em sair da Globo. Mas foi uma escolha que me fez muito feliz. Aprendi muito na Fox e na Globo. Mas estou realizada no SBT."Nadine segue com metas na vida. 'Fui a primeira comentarista de arbitragem na final de uma Champions League. Meu sonho agora é comentar em uma Copa do Mundo. Este momento vai chegar..."A entrevista com Nadine Basttos é uma das mais importantes do canal...
Estudo, preparo psicológico, vivência não só como jogador, mas capitão, líder por onde passou, nos times brasileiros e portugueses.Como se tudo isso não bastasse, seis anos como auxiliar do rígido Luiz Felipe Scolari.Aos 51 anos, Paulo Turra transpira conhecimento tático. A ponto de escrever um livro, didático, abordando o que se despreza no 'país do futebol': a importância da estratégia.E com o simbólico nome 'O futebol que não se vê'. Ou seja, ensinando a movimentação dos times, a ocupação do espaço, os pontos básicos que fazem uma equipe ter intensidade, para derrotar a outra. Nada é por acaso no futebol moderno."Eu represento a nova geração de treinadores, que entende a movimentação, a necessidade de sincronia de um time. Aliada às forças física e psicológica. Tenho a vantagem de ir além da teoria, porque fui jogador. E aprendi muito também com um treinador mais do que especial, o Luiz Felipe, pentacampeão do mundo."Turra é muito corajoso. Sabe que no futebol, conhecimento é desprezado. Nem só por torcedores. Até por dirigentes, que não percebem a força do trabalho com base tática.O ex-jogador e campeão pelo Caxias, no histórico time de Tite, de 2000; Botafogo e Palmeiras. Descobriu o futebol europeu defendendo o Boavista e o Vitória de Guimarães. Aprendeu, na prática, a importância da liderança, a diferença de uma equipe montada estrategicamente para vencer. Comandou, se aprimorou em nove equipes menores. Aplicou o que aprendeu conquistando.Ao voltar para o Cianorte, o levou para a Primeira Divisão Paranaense. Usava métodos tão modernos que Felipão o levou para trabalhar como auxiliar na China, no Ghangzhou Evergrande .Depois de seis anos, a parceria acabou porque Luiz Felipe quis voltar a ser técnico no Atlético Mineiro. Deixou o comando do Athetico Paranaense como herança. Turra foi campeão do Paraná invicto, em 2023.Decidiu assumir o Santos, mais que encaminhado para a Segunda Divisão.'Nenhum ser humano diria 'não' ao Santos. Comigo o Santos não seria rebaixado. Mas não deixaram trabalhar. A direção estava assustada com tanta pressão. Quando assumi, estava uma bagunça. Mas repito: comigo o Santos não cairia.'A queda do Santos não manchou seu trabalho. Tanto que o Vitória de Guimarães o contratou como técnico. Mas, a licença que tirou como treinador na CBF não vale para Portugal. E o sindicato de técnicos portugueses pressionou para que deixasse o clube. "É por isso que não existem treinadores brasileiros na Europa. A nossa licença não vale. O curso que possibilitaria o trabalho é reservado pela Uefa, para os nascidos na Europa. Eu tenho nacionalidade italiana. E não fui aceito. Aqui, no nosso país, a CBF não exige licenças específicas para os treinadores estrangeiros. Não coloca dificuldades, ao contrário que nós sofremos no Exterior.'De volta ao Brasil, Paulo Turra entendeu o óbvio. Para comandar grandes clubes é necessário ter um empresário influente. Só assim jovens técnicos têm acesso, chance de mostrar seu trabalho."Estou com o André Cury. Tenho certeza que, com ele, assumirei uma equipe importante, competitiva. Estou mais do que preparado. O que eu quis mostrar com essa entrevista foi como os caminhos são complicados para os técnicos da nova geração. Mas nós estamos chegando com base, estudo, exigência física, estratégia, estudo inclusive psicológico. Acabou o improviso."
Decisão do segundo turno do Campeonato Carioca de 2005.O Fluminense enfrentaria o Flamengo.Leandro estava com os ligamentos do ombro direito rompidos.Ele jogava nas Laranjeiras e havia se contundido diante do Vasco.O departamento médico avisou que ele teria o braço imobilizado e que voltaria, em meses.Só que ele não aceitou, sabia o quanto o time precisava do seu futebol.Não teve dúvidas.Procurou Abel Braga e disse: "Vou jogar".O treinador não acreditou, o médico do Fluminense foi chamado para reunião. Ao chegar, entendeu o que acontecia. E foi claro: 'Não participo disso'.Leandro não só jogou, como foi peça fundamental na goleada histórica contra o Flamengo, por 4 a 1.Sentindo dores fortíssimas no ombro, que estava totalmente preto, por conta do hematoma.A imprensa divulgou a façanha.E ele ganhou um novo 'sobrenome'. 'Guerreiro.'Foi um jogador diferenciado, mesmo. "Sempre me doei de corpo e alma no clube que defendi. Foi assim no Botafogo de Ribeirão Preto, no Corinthians, Goiás, Fluminense, São Paulo, Vasco... E colecionei títulos."Jogar futebol é se entregar, representar em campo a diretoria que o contratou e as torcidas. Como não respeitar o amor do torcedor?"Leandro teve uma infância com dificuldades. Sua primeira camisa de clube foi comprada na feira, pela avó, na feira. Foi a do São Paulo.  Abandonou a escola. Estava lavando carros, quando foi fazer a 'última peneira', no Botafogo de Ribeirão Preto. Já havia feito várias em vários clubes e não havia passado. Deu mais do que certo. Levado pelo Corinthians, com Doni e Luciano Ratinho, um novo horizonte se abriu.Seu destino era ser jogador.E a cena de Leandro, em cima de uma trave do Morumbi, comemorando os Brasileiros de 2006 e 2007, ficaram nas retinas dos torcedores por todo o sempre."Foi por instinto. A emoção me dominou. Ouvir a torcida vibrando com os títulos é algo inesquecível.'A entrevista exclusiva com Leandro é uma história de superação.Exemplo de dedicação, amor ao que se propôs a fazer.Ele mais do que merece ser chamado de 'Guerreiro'...
"Eu não suportei", confessa Alicia Klein.Mudou de vida, de país. Fez curso de gestão esportiva, em Washington. Passou a ser o braço direito do inglês bicampeão olímpico, nos 1.500 metros, Sebastian Coe. Ele era o presidente da IAAF, Associação Internacional de Federações de Atletismo. O trabalho e, principalmente, as viagens eram estressantes."Tive burnout, ou seja, desgaste psicológico de tanto trabalhar. Só chorava." Assim que o Brasil conseguiu o direito de sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada, resolveu dar outra reviravolta na sua vida. Acabou o casamento e voltou ao país. Acompanhou de dentro a organização dos dois eventos.E viu o desperdício, como os políticos se aproveitaram da Copa e da Olimpíada e não sobrou quase nada para o país. A não ser estádios que são elefantes brancos e centros olímpicos espalhados pelo Brasil, que nunca saíram do papel.Com sua visão diferenciada, inteligência, textos diretos ou irônicos, mas repletos e coragem e conteúdo, cativaram uma legião de leitores, como parte de sua revolução particular. Além dos seus depoimentos, diante das câmeras.Voltei para escrever, falar sobre futebol, que era o meu sonho. O machismo, o preconceito ainda existem. Uma mulher com voz, em uma posição de poder, incomoda ainda muita gente. Mas quem mudou de verdade fui eu. Sou agora uma mulher forte, não uma menina, pressionada por covardes. Eles que tentem alguma coisa.'Alicia é exemplo de talento, de defesa dos direitos das mulheres no futebol, na vida. Sem ser panfletária."Sou firme porque ainda sofremos no futebol, no jornalismo esportivo, todo tipo de abuso. E preciso lutar contra a desigualdade. Hoje nas redações, as mulheres são só 20% no futebol por quê? "Minha luta ainda está longe de acabar. Mas há luz no final do túnel. E vou brigar por esta luz."Não duvide de Alicia Klein...
Dia 27 de outubro de 2004.O Brasil assistiu consternado, a morte dentro do gramado do Morumbi, do zagueiro Serginho, do São Caetano, em uma partida contra o São Paulo.O motivo: parada cardíaca.De acordo com reportagens da época, exames apontavam problemas no coração, mas ele decidiu seguir atuando.A direção do São Caetano foi investigada até pela polícia. A suspeita era que seus jogadores não estariam seguindo protocolos médicos rígidos.Desta desconfiança nasceu outro drama.'Esse clima de medo no clube me atingiu em cheio. E acabei perdendo o auge da minha carreira.'Fabrício Carvalho pagou pelo exagero, pelo pavor da direção do São Caetano, de outra tragédia, que afastaria patrocinadores, investidores, apoio escancarado da prefeitura da cidade ao clube vice-campeão da Libertadores, vice-campeão nacional, campeão paulista.'Fui diagnosticado com arritmia. E simplesmente fui afastado. Tinha 27 anos, estava no auge. O São Paulo já negociava a minha compra. O Palmeiras e o Corinthians também estavam para fazer proposta. Mas todos se afastaram, com medo. Fiquei marcado no Brasil todo. E hoje eu posso falar abertamente, houve uma enorme precipitação. "O motivo da arritmia jamais foi constatado. O medo de nova morte em campo era tanta que apenas me chamavam para fazer exame médico. Ninguém achava nada. Só que não me deixavam correr, sequer andar."Engordei dez quilos em dois anos. Tenso, descontei todo meu medo e frustração comendo. E nada de me liberarem. Minha carreira foi sabotada."Fabrício Carvalho se tornou sinônimo de jogador cardíaco, sem possibilidade de atuar.Até que foi para Goiás."O São Caetano queria me encostar, deixar de lado. Foi quando eu decidi rescindir. E fui para Goiás. Fiz todos os exames possíveis. E ouvi dos médicos que estava apto para jogar. E só perdi tempo, dois anos da carreira. "Fiquei revoltado. Mas o que poderia fazer? Voltar no tempo? Atuei por mais nove anos. Só que meu futebol nunca mais foi o mesmo. Perdi agilidade, mobilidade. A carreira de um jogador é curta. Dois anos significam muita coisa."Vou contar mais. Os médicos do São Caetano ligaram para os médicos do Goiás reclamando da minha liberação. Eles não conseguiram chegar a um diagnóstico. E ainda queriam acabar de vez com minha carreira."Fabrício Carvalho é direto. "Se eu perdoei os médicos? Perdoei. Mas sei que paguei pelos erros, pelo medo que eles tiveram de um novo caso Serginho."Fabrício ainda jogou por Goiás, Portuguesa, Remo, Bragantino, Oeste, Ferroviária, Guaratinguetá, Araxá, Cabofriense e Taboão da Serra."Nada aconteceu comigo, mas os médicos do São Caetano fizeram que eu entrasse em campo com medo de morrer. Sou humano. Paguei demais por erros que não foram meus."Agora, aos 47 anos, Fabrício Carvalho está renascendo. Se tornando um excelente narrador e influencer. 'Acompanho jogos de várzea, transmito, faço reportagens. Sempre fui tímido, mas diante de um microfone, me transformo. Estou no meu ambiente, que amo e conheço muito: o futebol. Me sinto recuperando o tempo perdido. Graças a Deus...'Ele aceitou sair de Andradina, cidade a 600 quilômetros da capital de São Paulo para dar essa reveladora entrevista...
Pentacampeão com a Seleção Brasileira.Campeão mundial com o Corinthians.Bicampeão da Libertadores, uma vez com o Vasco e outra com o São Paulo.Maior artilheiro do Corinthians e Vasco na Libertadores.16 operações por conta do futebol.Ele foi um dos grandes goleadores da história deste país.Luizão.Nome muito respeitado no futebol.Principalmente no Guarani, Palmeiras, Vasco, Corinthians e São Paulo. Aos 49 anos, continua a mesma pessoa simples, mas de personalidade forte, direta.Conta a situação sem floreios, sem buscar amenizar o que viveu.Com um talento fora de série, misturando a raiva que disputava a bola com os zagueiros, com inteligência e frieza natas para definir diante do goleiro, teve uma carreira marcante."Se tivesse que chorar ou a mãe do zagueiro do time adversário ou a minha, que chorasse a dele", resume, brincando.Mas sua ironia tinha a ver com a raça que mostrava em campo."Nunca fui de me intimidar. Nunca abaixei a cabeça para ninguém. Nem pipoquei. Me propus a se o jogador que iria marcar os gols e fui o que fiz em toda minha carreira."Sua técnica também permitia gols driblando a zaga, tabelando.Seu principal parceiro foi Amoroso. Formaram uma dupla histórica.No Palmeiras, desfrutou da seleção montada pela Parmalat."Concordo com o que o Müller te disse, Cosme. Iríamos ganhar tudo se o time continuasse junto. Mas os dirigentes não enxergaram. Eram ruins. O Brunoro não me vendeu para o Real Madrid, estava tudo certo. Depois me vendeu ao La Coruña, com todos perdendo dinheiro."Já de volta ao Corinthians teve pela frente um elenco excepcional, que acabou campeão do mundo, em 2000."Jogar com o Fred, Marcelinho, Vampeta, Edilson. Equipe maravilhosa. E para quem chama o nosso Mundial de laboratório, o que é este Mundial de agora, dos Estados Unidos? Alguém diz que é laboratório?"No Corinthians, viveu a pior experiência da carreira. Estava vendido para o Borussia."Mas me obrigaram a jogar contra a Portuguesa. Quem? O Luxemburgo, o (diretor de futebol Roque) Citadini. Fiz um golaço. A torcida me xingando, por estar vendido. E rompo os ligamentos cruzados do joelho direito e ainda lesiono os meniscos. Adeus ida para o Borussia. O seguro que eu tinha era de invalidez, o que não era o caso. Não ganhei um tostão.' O Borussia iria pagar 12 milhões de dólares, em junho de 2001. Seriam, cerca de 70 milhões de dólares, atualmente. Ou seja, cerca de R$ 383 milhões.Luizão seguiu com problema no joelho e quase perde a Copa do Mundo de 2002. 'O Felipão acreditou em mim. Eu e o Ronaldo Fenômeno sofremos muitas dores. E passamos medo demais de não disputar a Copa. No final, campeões, choramos abraçados. Só nós sabemos o que sofremos.'Muito fechado, ele só sorriu quando lembrou do pênalti contra a Turquia, no primeiro jogo do Brasil no Mundial de 2002. "Eu fui agarrado pelo turco. O arrastei junto comigo até quando pude. Sei que caímos fora da área. Mas o Vampeta pegou a bola e já levou para a marca do pênalti. Foi a malandragem brasileira que ganhou o jogo. Com a vitória, a Seleção ganhou confiança para conquistar a Copa do Mundo.'Luizão hoje representa Jorge Mendes no Brasil, buscando atletas para levar à Europa.O português foi empresário durante décadas de Cristiano Ronaldo.'Tenho muito orgulho de tudo que vivi minha carreira. Sai de Rubinéia, uma pequena cidade, e acabei ganhando a Copa, o Mundial com o Corinthians, as Libertadores com o Vasco, com o São Paulo. Perdi, lutei, conquistei. Tenho filhos lindos, inteligentes, resolvidos. Minha vida é especial.'REDE SOCIALInstagram: @cosmerimoli #cosmerimoli #luizão #entrevista #corinthians #vasco #palmeiras #saopaulofc #2025 #cbf #podcast #recordtv #recordnews
Marcos André Batista Santos poucos conhecem.Mas basta citar o cruel apelido 'Vampeta' e a idolatria aparece.Ele chegou mais cedo para a entrevista, foi almoçar ao lado do estúdio. E o dono do restaurante não quis receber seu dinheiro. E ainda agradeceu por ele ter aparecido."Sou muito feliz, onde quer que eu vá é assim. Nem sei o que fiz para merecer tanto carinho. É de palmeirense, são paulino, santista. Nem parece que fui jogador do Corinthians. Aliás, fui feito para o Corinthians!"Aos 51 anos, o carisma segue o mesmo.O personagem e o homem já nasceram misturados, com o melhor e o pior de cada um.A mente afiada.E o bom humor inerente transforma até histórias tristes, dificuldades que passou na vida, objetos de riso solto.Choro e lamentações não fazem parte de sua vida.Longe do lado jocoso, que faz questão de cultivar, Vampeta foi um jogador especial, inteligente, com visão tática diferenciada.Não ganhou 14 títulos por acaso. Entre eles, o pentacampeonato mundial, com a Seleção Brasileira. E o Mundial de Clubes, com o Corinthians. 'Joguei 13 partidas das Eliminatórias como titular. Chega na Copa, o Felipão muda o esquema. E sobra para mim, que acabei no banco. Joguei alguns minutos contra a Turquia. Estava no meu auge, mas o Brasil ganhou, está tudo certo. Sou pentacampeão do mundo.''Eu fiz o meu destino. Era filho de um caminhoneiro e uma dona de casa do Interior da Bahia. Vi um anúncio na tevê, em Nazaré das Farinhas, cidade próxima a Salvador. O Vitória estava fazendo uma 'peneira'. Decidi ir. Fui sozinho, passei. Mudei minha vida.'Como não tinha os dois dentes da frente, os colegas de time o apelidaram de Vampeta, terrível junção de 'Vampiro' com 'Capeta'. Lógico que ele não gostou. Foi aí que o apelido pegou para o resto da vida. Conviveu com cobras e ratos no alojamento precário dos garotos do Vitória, que ficava ao lado de um gigantesco depósito de lixo.Foi o primeiro jogador do Nordeste a ser vendido para a Europa, quando a lei do Velho Continente só permitia três atletas. 'Na Holanda eram só dois. Fui para o lugar do Romário.'Sua carreira e vida não dariam um filme. Mas uma série com inúmeros capítulos. O documentário sairá, com certeza.Vampeta é muito requisitado. Para entrevistá-lo, a insistência de mais de um ano. Porque viveu inúmeras situações que, contadas por ele, lembrando Ariano Suassuna, deixa o real em surreal.Como descer a rampa do Planalto, bêbado, com a camisa do Corinthians, 'roubando' a festa do pentacampeonato, diante do atônito presidente da República, Fernando Henrique.Também foi o primeiro jogador de futebol a posar nu no Brasil.'Me deram três salários que recebia no Corinthians, topei na hora. "O Luxemburgo ficou louco. Foi a revista que mais vendeu na história. Como a gente seguiu ganhando e eu jogando bem, ninguém pegou no meu pé.'Esteve no time histórico que ganhou dois Brasileiros e o título mundial.'Era muito futebol e muita confusão. Rincón, Marcelinho, Edílson, Luizão, Dida, Ricardinho, Vanderlei Luxemburgo. Foi tudo especial. Até as tretas. Nosso vestiário era bravo...' Ele contou algumas situações inacreditáveis na entrevista.Explicou a famosa frase que cunhou no Flamengo. 'Eles fingem que me pagam. Eu finjo que jogo.' Relembra que ficou cinco meses sem receber na Gávea. E depois teve de andar com segurança, com medo dos torcedores flamenguistas.Vampeta viveu alegrias de conquistas, mas as dores do rebaixamento com o Corinthians e Brasiliense.'Cosme, o jogador sente quando está em um time que vai cair. E você pode fazer de tudo, que não tem jeito. É difícil, dói..."Foi preso no Kwait por desafiar a religião mulçumana, que proíbe bebidas alcoólicas. 'Fui fabricar vinho na minha casa. Fui pego. Passei mais de 30 horas na cadeia. De raiva, fiz umas 50 garrafas e saí distribuindo.'Restaurou o único cinema de Nazaré das Farinhas, como retribuição à cidade que nasceu.Trabalha há 14 anos na rádio Jovem Pan. Recusou convite da Band para substituir Denilson.
"Nós também vivíamos um caos na Vila Belmiro. Éramos mais 50 jogadores, ninguém acreditava no Santos. Era mais ou menos como acontece agora. Seguimos um trabalho sério. E o time renasceu. Foi assim que surgiram os 'Meninos da Vila', campeões de 1978. O Santos atual tem jeito!"A aposta é de João Paulo de Lima Filho.'João Paulo Papinha', para os que tiveram a sorte de acompanhar o Santos, campeão paulista de 1978. Time que fez história.Ganhou o primeiro título depois que Pelé deixou o Santos, em 1974Extremamente ofensivo, com Ailton Lira, Pita, Nilton Batata, Juary e João Paulo.Carioca, habilidoso, dono de dribles objetivos e com arremate forte e preciso, via no futebol uma saída para a família, simples de São João do Meriti. "Eu me destaquei no São Cristóvão. Achei que iria jogar em um time grande do Rio, quando o Santos surgiu. E lógico que eu fui. O clube era muito pressionado, tinha de dar resultado. Não tinha mais Pelé. Foi quando o Chico Formiga percebeu que havia jogadores extremamente ofensivos e com talento, entre os muitos jogadores que a diretoria contratou, meio sem critério."João Paulo logo ganhou o apelido de Papinha, por conta do Papa João Paulo ll. Embora franzino, sempre foi dono de personalidade forte. Em uma campanha memorável, o Santos decidiu o título de 1983. 'Nós ganhamos do Flamengo por 2 a 1, no Morumbi. Fomos jogar no Rio e o Arnaldo César Coelho marcou pênalti inexistente e ainda anulou um gol nosso alegando impedimento inexistente. Era carioca, não poderia ter apitado a final. Perdemos por 3 a 0 e a imprensa do Rio de Janeiro invadiu o campo, antes de a partida acabar. Saímos brigando com os jornalistas. O Serginho Chulapa começou e eu também participei."Essa briga queimou João Paulo, que foi contratado pelo Flamengo, no ano seguinte."Eu não fiquei nem um ano no Flamengo. Acabei queimado politicamente por ter batido nos jornalistas. Foi uma pena. Porque estava jogando muito bem."João Paulo não tem o que reclamar. Veio para o Corinthians. 'Primeiro teve desconfiança, por ter jogado no Santos. Mas depois acabei ídolo. Jogar no Corinthians foi completamente diferente. A torcida tem um envolvimento maior na direção do clube. Fui campeão paulista dez anos depois, contra o Guarani. Eles tinham um timão, Evair, João Paulo, Paulo Isidoro, Neto. Joguei como meia esquerda, revezando com o Paulinho. O técnico era o Jair Pereira." Acabou passando cinco anos no Parque São Jorge. E foi cultuado por lá."Ser ídolo em dois rivais não é para qualquer um."Teve poucas chances na Seleção Brasileira. "Tive muitos concorrentes. Éder, Joãozinho, João Paulo, do Guarani. Não era como hoje, havia jogadores talentosos aos montes.'Jogou rapidamente no Palmeiras. 'Cheguei em um clube com muitos problemas políticos. Não deu certo." Sobre o Santos atual, ele é direto. Não aceita a pressão só em Neymar."Ele está sozinho. O segredo para mim seria investir na base, nos garotos. O Santos só quer comprar jogadores. E tem formado times ruins. O rebaixamento aconteceu por isso. Agora é preciso muito cuidado. O segundo rebaixamento seria terrível. Ainda dá tempo. O trabalho tem de ser sério."João Paulo vive em Santos e nem parece ter 68 anos. Segue de mente afiada, personalidade forte.Torcendo para o Santos não cair de novo...REDE SOCIALInstagram: @cosmerimoli
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