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Autor: Instituto Claro

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Podcast do Instituto Claro tem como missão aliar as tecnologias da informação e da comunicação à educação e ao desenvolvimento social. A organização é o resultado da união realizada em setembro de 2013 entre o Instituto Embratel e o antigo Instituto Claro.
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Falta de orientação e monitoramento no uso da internet pode torná-las vítimas de criminosos Dados divulgados pela organização não governamental Safernet revelam que denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil na internet bateram recorde em 2023 com 71.867 queixas no período, número é 77,1% superior ao registrado em 2022. “O abandono digital remete diretamente ao ponto de negligência ou de omissão efetivamente dos pais, quando estamos falando de menores de idade, crianças e adolescentes. Então é basicamente aquela situação em que os pais acabam buscando por maiores facilidades, mas que dão esses aparelhos para essas crianças e adolescentes, sem limite de tempo, sem limite de acessos, sem orientações e sem conversa e diálogo”, explica a advogada e especialista em direito digital Marina de Oliveira e Costa.   A falta de acompanhamento das atividades realizadas pelas crianças na internet gera uma série de possibilidades para os criminosos. “A internet acaba apresentando um leque maior de possibilidades para aproveitadores terem contato e se aproximar dos menores. Então são diversos aplicativos e aplicações, redes sociais, que pessoas podem interagir com esses menores”, argumenta a advogada. Oliveira e Costa acrescenta que há diversos motivos que levam ao abandono digital e aos possíveis riscos de crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes. “Os pais hoje em dia são muito mais ocupados do que antes. A gente tem muitas famílias que são compostas só pelo pai ou só pela mãe (...), muito mais mães trabalhando. Então tem alguns fatores da dinâmica da sociedade atual que fazem com que haja esse uso desenfreado das tecnologias como um escape”, destaca. Importância do diálogo Oliveira e Costa esclarece que a família pode ser responsabilidade se comprovado o abandono digital da criança ou do adolescente. Para prevenir a exposição deles aos riscos do mundo virtual, a advogada defende o diálogo permanente. "A compreensão pela criança desde o princípio, desde quando ela ganha o seu aparelho celular: qual será a finalidade? O que pode acontecer, quais serão os limites, quais serão as regras? Isso é o ideal até para as crianças se sentirem seguras nesse canal aberto com os pais para o diálogo", orienta. Crédito da imagem: ljubaphoto – Getty Images
Sequência pedagógica com jogos ajuda a trabalhar princípios como respeito e amizade Os jogos olímpicos se aproximam, e com eles aumenta o interesse de estudantes pelas atitudes desportivas atreladas ao desenvolvimento físico e pelos valores olímpicos. O momento é oportuno para trabalhar o conceito de olimpismo nas aulas de educação física. “O olimpismo é uma forma de entender o esporte além do rendimento, do resultado, identificar o potencial educativo que o esporte tem e, por meio do esporte, educar, construir valores, conceitos que possibilitem a união entre os povos, o respeito às diferenças, inserção do aluno que está desenvolvendo aquele conteúdo de uma forma mais justa, mais respeitosa dentro da sociedade”, afirma o professor de educação física da Escola Municipal em Tempo Integral Professora Ana Lucia de Oliveira Batista, em Campo Grande (MS), Leonardo Liziero. Entrevistado neste episódio, o educador explica que o olimpismo é baseado em valores imaginados pelo historiador francês Pierre de Coubertein, idealizador dos jogos olímpicos modernos – a partir de 1894. “A excelência, que é fazer o melhor, independente do resultado ou independente da comparação com o outro; a amizade, que possibilita você interagir na diferença, respeitando o outro da melhor forma possível; e o terceiro valor: o respeito, que é aquele que move essa vida social, essa vida em sociedade e comunidade, na qual as diferenças estão presentes”, explica Liziero. Olimpismo na educação física Incentivado pela coordenadora de educação física da escola, Rosimeire da Conceição, o Liziero coloca em prática, desde 2012, um plano de ensino com foco no olimpismo para turmas dos anos iniciais do ensino fundamental. No áudio, Liziero compartilha o passo a passo da trilha pedagógica que segue na escola, que, segundo ele, tem como ponto alto o momento em que o conceito é efetivamente colocado em prática. “A gente teve uma aplicação, um fechamento com esses jogos olímpicos acontecendo na escola, envolvendo todas as turmas, todos os professores, com cerimônia de abertura, com a tocha olímpica, apresentação cultural e depois a vivência dos jogos”, detalha o professor. Percorrendo as etapas do planejamento, os alunos conhecem os jogos olímpicos, sua origem e valores propagados, correlacionam esses valores – excelência, amizade e respeito – com as atitudes necessárias no cotidiano e desenvolvem seu repertório motor por meio da vivência de diversas modalidades esportivas olímpicas – individuais e coletivas. “Ao trabalhar nesses valores com as crianças, elas já exercitam eles no próprio dia a dia delas, de forma que elas levem para a vida reflexões do que elas estão fazendo, se aquilo é legal ou não, os impactos que isso vai gerar na vida delas, além do muro da escola”, enfatiza Conceição. Crédito da imagem: acervo da Escola Municipal em Tempo Integral Professora Ana Lucia de Oliveira Batista
Livro de Lima Barreto, exigido no vestibular da Unicamp, também apresenta crítica ao racismo  O livro “Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá”, de Lima Barreto, está entre as obras obrigatórias do vestibular da Unicamp em 2025. Nela, o autor rompe com as convenções do realismo do século XIX que ainda imperavam nos romances daquela época. Narrado por Augusto Machado, um funcionário público negro, o livro tece a biografia do personagem Gonzaga de Sá. Por meio dela, transparece o comportamento da alta sociedade do Rio de Janeiro do começo do século XX, além dos diversos problemas sociais que afligiam o próprio Lima Barreto. “O Lima Barreto é e sempre foi um autor considerado periférico. Um homem que viveu nos subúrbios do Rio de Janeiro [RJ], que sempre se sentiu vítima de preconceito étnico, sempre se achou desprezado pelos seus colegas e sempre lutou muito contra o privilégio de determinados autores brancos, muitas vezes no julgamento dele, sem tanto talento, sem tanta coisa a dizer. Sendo assim, é compreensível que o principal tema de sua obra seja a denúncia do preconceito racial e a luta por um consequente reconhecimento social”, resume o professor de literatura brasileira do Sistema Anglo de Ensino Maurício Soares Filho. Nesse podcast, Soares Filho traz dicas para quem está se preparando para o vestibular e aponta possíveis abordagens que podem ser feitas no exame. “O que me parece que o Lima Barreto contribui muito claramente na leitura, na formação de um jovem leitor, num processo de desmontar as origens dos preconceitos. Ao investigarmos e compreendermos os movimentos em torno desse processo, que aqui nesse caso envolvem principalmente uma esperada modernização do Rio de Janeiro nessa passagem do Império para a República. E a abolição da escravatura, quer dizer, olhar para isso numa tentativa de compreender como chegamos até aqui, como chegamos nesse Brasil racista, machista, classista, em que ainda estamos no século XXI”, explica. Precursor do Modernismo Outro aspecto da obra que pode ser tema no vestibular da Unicamp, segundo Maurício soares Filho, é o fato de o livro não se enquadrar em um único gênero literário. Para o professor, ao ser publicado em 1919, a obra antecipa uma das características do Modernismo de 1922. “Nós sabemos que o livro se chama “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”, e esse título sugere uma biografia. Acontece que os próprios interlocutores acabam entendendo que poderia ser um romance, uma vez que o próprio biógrafo acaba aparecendo, muitas vezes, mais do que o biografado. Quando nós percebemos que os doze capítulos são mais episódicos do que lineares, quase independentes, e poderiam até mudar de lugar dentro da organização do livro, a gente cogita chamar essa obra de um livro de contos. E considerando o fato de o enredo, dos acontecimentos serem menos relevantes ou considerados com menos importância, menos ênfase do que as reflexões propostas pelo autor, aí talvez pudéssemos dizer que, na verdade, estamos diante de um livro de ensaios”, contextualiza. Crédito da imagem: Augusto Malta – Acervo da Light
Histórias apontam como os conflitos nas favelas da Maré (RJ) dificultam o acesso à escola e ao lazer   O livro infantojuvenil “Eu devia estar na escola” foi idealizado a partir de 1,5 mil cartas escritas por crianças moradoras do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), e endereçadas às autoridades brasileiras para retratar as consequências da violência no conjunto de 16 favelas. “Essas crianças, toda vez que tem operação policial, elas não têm aula. Elas têm muitas aulas perdidas no ano letivo”, explica a professora, pesquisadora sobre literatura infantil e coautora da obra Ananda Luz. “Tem uma frase que foi parar no livro, de uma das crianças, que diz assim: ‘Como é que a gente vai fazer para realizar os sonhos se a gente perde tanta aula?’ E isso me toca muito, porque essas crianças sabem que a educação seria um caminho para melhorar de vida. E, ao mesmo tempo, a escola é cancelada com frequência por causa de tiroteios, por causa de operação policial”, conta a jornalista e coautora do livro Isabel Malzoni. Organizado em conjunto com a ONG Redes da Maré, a obra é composta por desenhos e cartas de crianças, que desde muito cedo, precisam lutar por seus direitos segundo as autoras. “Eu li todas, e elas têm esse desejo em comum, que é o desejo de ir à escola, uma particularidade muito forte. Porque essa escola, com frequência, é fechada por causa dos tiroteios, por causa das operações. Então esse desejo é um desejo que aparece para todos”, afirma Malzoni. “Quando a violência tira a escola dessas crianças, ela tira também a possibilidade de ela construir outros mundos. Criança que está com o uniforme da escola deveria estar blindada, deveria estar circulando segura pela cidade”, completa Luz. Crédito da imagem: Editora Caixote – divulgação
Estimular a interpretação dramática em voz alta facilita a compreensão dos alunos O texto teatral é uma forma de trabalhar a fluência leitora de estudantes nos anos iniciais do ensino fundamental. É o que acredita a doutora em educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora de projetos no Instituto Avisa Lá Renata Frauendorf. Para a educadora, a prática social originada a partir da leitura dramática tem características que motivam o desenvolvimento de competências para melhorar a compreensão e o sentido do que se lê. “A fluência leitora tem essa relação com a intencionalidade da leitura, e ela vai se construir na relação com o outro e tantos outros. Não é só a fluência oral, que é ler rápido e compreender, mas também a fluência semântica, que está nesse lugar da constituição dos sentidos”, analisa. Frauendorf ressalta que, para estudantes dos terceiro, quarto e quinto anos do ensino fundamental, a proposta não é encenar a peça, mas estimular a leitura dramática com o grupo. “O trabalho com o texto teatral coloca os estudantes nesse lugar de realizar a leitura em voz alta para os outros, que dependem dele para compreender aquela história que eles estão contando e que está organizada com o texto teatral”, explica. O texto teatral se organiza em cenas e diálogos. A educadora ressalta outra particularidade que torna ainda mais interessante a leitura em voz alta desse estilo de texto: as rubricas. “É uma informação que vem entre parênteses. E essa informação é determinante para você compreender a ação, o jeito daquele personagem, por exemplo, responder a uma pergunta. Então, a inferência e a antecipação são colocadas o tempo todo em jogo, porque se eu não considero o que está de informação entre parênteses, eu dificilmente vou compreender [o conteúdo] no contexto geral”, argumenta Frauendorf. A docente aponta ainda no podcast como a leitura dramática se torna uma prática inclusiva em sala de aula e traz dicas de textos teatrais para trabalhar em sala de aula com alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. Crédito da imagem: FatCamera – Getty Images
Professores indicam o game para trabalhar a prevenção da doença com os alunos Diante do crescente número de casos de dengue divulgados pelo Ministério da Saúde no início de 2024, o portal de jogos virtuais Ludo Educativo está relançando o game “Contra a Dengue 3 – No Mundo Digital” para contribuir com a conscientização sobre as medidas de combate à proliferação do mosquito Aedes aegypti. “Depois de jogar uma ou duas vezes, porque é um jogo interativo, a criança fica na cabeça dela que ela tem que combater o mosquito e sabe claramente os locais onde o mosquito cria e porque cria naqueles locais”, explica o diretor do Centro para o Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF/Fapesp) e professor titular do departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Elson Longo. A versão 3 do jogo da série “Contra a Dengue”, lançada em março de 2024, a destemida protagonista Sophia embarca no mundo digital, junto com seus irmãos mais velhos. Na aventura, estudantes aprendem a combater, além da dengue, o vírus Chikungunya e o vírus Zika, todos transmitidos pelo Aedes aegypti. Longo afirma que todos os jogos disponíveis no portal Ludo Educativo recebem orientação de equipe pedagógica. “Com a repetição, fica na cabeça da criança o tempo todo: ‘Como eu posso viver com esse mosquito?’. ‘Eu tenho que acabar com ele e acabar com os focos’. A criança joga e vai falar com o pai que sabe como eliminar o mosquito da dengue”. “Contra a Dengue 3” na sala de aula Para a bióloga e professora do Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran) Perla Loureiro de Almeida, o “Contra a Dengue 3” é de fácil entendimento para alunos dos primeiros anos do ensino fundamental. A docente indica fazer uma introdução sobre o que é a dengue antes de apresentar o jogo à turma. “Iniciando com o aluno do terceiro ano do ensino fundamental, o professor pode fazer questionamentos básicos, um trabalho primário de orientação sobre o mosquito, avaliar com os alunos se algum familiar já esteve doente? Então, os alunos vão promover esses relatos dentro da sala de aula”, explica. No podcast, a professora traz outros caminhos a serem trabalhados, como os conhecimentos sobre a dentificação do mosquito causador da doença e dos possíveis locais de proliferação do Aedes aegypti. Almeida também aponta como o jogo educativo é introduzido nesse aprendizado. “O jogo vai entrar como um feedback, porque se o aluno já obteve todas as informações, consegue trabalhar as suas habilidades referentes a essas informações: sobre todo o processo de dengue, forma de transmissão, forma de prevenção. O jogo é uma forma de o professor avaliar se o aluno realmente conseguiu obter essa informação, esses conceitos importantes para a sua formação”, conclui. Crédito da Imagem: tela de uma das fases do jogo "Contra a Dengue 3" – reprodução
A variedade de costumes é explicitada a partir das vivências das comunidades Em 2004, a partir do programa “Pontos de Cultura Indígena” foi criado o portal “Índios Online”. A proposta era reunir os saberes e a luta de alguns dos povos indígenas oriundos de Alagoas, Bahia e Pernambuco. “E eu fui convidado para fazer parte dessa rede de comunicação, onde a gente tinha um chat para conversar com as pessoas, e a gente publicava matérias escritas pra divulgar nossa cultura, nossa situação, falar um pouquinho dos povos indígenas do Brasil, como eles realmente são”, conta o produtor cultural, cineasta e comunicador Alexandre Pankararu. Ao perceber a importância de indígenas terem suas realidades retratadas em conteúdos desenvolvidos pelos próprios povos, Pankararu juntou-se à também produtora audiovisual Graci Guarani e, em 2014, criaram a Olhar da Alma Filmes, produtora de conteúdos originais de cineastas indígenas. “Isso é pela importância de nós escrevermos a nossa própria história e contar a de nossos antepassados, porque entendemos que um povo sem história não existe”, afirma o cineasta. Segundo Pankararu, é fundamental que a história e a cultura indígenas sejam mostradas pelos próprios povos originários.  “Eu percebi a importância de a gente contar a nossa realidade do nosso jeito para que ela seja transmitida por quem a vive. Isso nos possibilitou mostrar como nós vivemos de verdade, o que sofremos de verdade”, revela. Diversidade dos povos originários De acordo com os dados do Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, o Brasil conta com mais de 266 povos indígenas, em todo o território nacional. Apesar de cada povo ter suas especificidades, segundo Alexandre Pankararu, há um pensamento comum entre todos eles. “Sempre lutamos pela sobrevivência, direito à natureza, a importância da natureza para a nossa sobrevivência. Então nós temos essa preocupação, não só o povo Pankararu, mas todos os povos indígenas do Brasil. Vocês vão poder perceber que onde tem a maior quantidade de matas e recursos naturais preservados são em territórios indígenas, então, para isso continuar, precisamos garantir o nosso território”, conclui. Crédito da imagem: Olhar da Alma Filmes – divulgação
No livro, José Paulo Paes aborda com humor a morte, a família e suas experiências pessoais   Vinte textos em prosa poética e treze poemas, chamados de odes mínimas, compõem o livro “Prosas seguidas de Odes Mínimas”, lançado no início dos anos 1990 por José Paulo Paes. Novidade na lista da Unicamp em 2025, a obra traz uma visão crítica da vida, adquirida pelo poeta com a maturidade. “José Paulo Paes usa de poucas palavras para conseguir grandes efeitos poéticos. Então, embora os poemas sejam muito breves, em sua maioria eles exploram profundidades filosóficas, humor e ironia”, analisa o professor de literatura do Curso Anglo São Paulo Paulo Oliveira. A obra tem forte influência do Modernismo. “Tanto que um importante protagonista deste movimento, que foi Oswald de Andrade, é citado nominalmente em um poema “Prosa para Miramar”. Justamente porque Oswald de Andrade caracterizou sua obra pela brevidade, pela concisão”, analisa o professor do Anglo. Estilo epigramático Oliveira explica que o estilo oswaldiano inspirou Paes a adotar um estilo epigramático. “Epigrama é uma forma concisa de se expressar poeticamente. A origem desse tipo de texto remonta à Grécia antiga, às inscrições feitas em monumentos, medalhas ou túmulos. Por falta de espaço, as palavras tinham que ser muito breves. Pois bem, José Paulo Paes é um poeta epigramático. Ele se vale da concisão, da brevidade. Isso implica dizer que ele é avesso a todo o tipo de enfeite desnecessário, a um preciosismo vocabular”, explica. O professor ressalta que é importante o vestibulando estar atento à ironia do poeta, principalmente na segunda parte do livro, dedicada às “odes mínimas”. “Se eu falo ‘ode à minha perna esquerda’, seria um canto, um poema dedicado à minha perna esquerda, que implica certo louvor. Mas, na pena de José Paulo Paes [que precisou ser amputada] nem sempre esses poemas, essas odes, terão o caráter celebrativo de exaltação. Muitas vezes essas odes têm um caráter irônico ou mesmo crítico”, revela. De acordo com Oliveira, além da presença constante do humor, é preciso estar atento também às sutilezas da obra, outra característica de José Paulo Paes. Crédito da imagem: Hobo_018 – Getty Images
Para especialista, texto de Oswald de Andrade estimula os alunos a refletirem sobre cultura brasileira Em março de 1924, o escritor Oswald de Andrade publicou no jornal “Correio da Manhã” o “Manifesto Pau-Brasil”. O texto de um dos principais representantes da primeira fase do Modernismo brasileiro propõe uma arte de acordo com a realidade e com a cultura popular. “O Manifesto Pau-Brasil foi um movimento de derrubada mesmo, de um padrão, de um modelo. Então a gente pode dizer que essa é a primeira grande contribuição: diminuir ou erradicar ao máximo a influência estrangeira, buscando assim uma expressão artística mais autêntica, mais original”, explica o professor de língua portuguesa e literatura Claudio Caus. Caus afirma que o assunto é tratado geralmente no 3º ano do ensino médio, e os poemas de Oswald de Andrade são bastante solicitados em vestibulares. Para o professor, essa é uma oportunidade para se trabalhar com redações baseadas na escrita criativa como forma de aumentar a autoestima de adolescentes e jovens em relação ao próprio texto. “Mostrar que eles [alunos] têm expressão, que eles podem utilizar a linguagem que eles conseguiram dominar até então. Valorizar o que eles já possuem e, ao mesmo tempo, também mostrar que eles podem aprender mais de maneira lúdica, estimulando a criatividade. Então, a possibilidade que a gente tiver de usar esses autores para experimentar formas e vocabulários diferentes, além das próprias temáticas, é de uma riqueza inestimável”, defende. Inicialmente voltado à estrutura do texto poético, o “Manifesto Pau-Brasil” rompe com a influência estrangeira ao valorizar um jeito de falar e escrever percebido também na construção do texto. Caus explica que o professor pode abordar o manifesto também nas aulas de língua portuguesa por meio dos poemas de Oswald de Andrade. “O nível de síntese que eles alcançam, de reflexão que eles provocam e de provocações que eles fazem é de fato mais apreciável para as aulas de literatura brasileira, também as aulas de gramática, em que a gente pode refletir também sobre as variedades linguísticas”, aponta o docente. Em artes, Claudio Caus indica abordar os quadros “Morro da Favela” e “No Carnaval do Rio” da artista plástica brasileira Tarsila do Amaral, uma vez que essas obras apresentam grande influências dos ideais do manifesto. “[Os quadros remetem a] essa diversidade, miscigenação, riqueza cultural popular, com referências ao cubismo, mas, ao mesmo tempo, quebrando um pouco daquilo que se entende por cubismo, com cores muito fortes, bem coloridas, retratando aí a brasilidade”, analisa o especialista. Crédito da imagem: Quadro “Morro da Favela”, de Tarsila do Amaral – Reprodução
A relação sustentável com a natureza e a valorização da coletividade são temas presentes na obra Criada por uma família Kaingang, a estudante aventureira Luz embarca em uma jornada em busca de suas raízes ao lado do amigo Vaga-lume. “Ela [Luz] simboliza a interseção entre alguns universos. Ela é uma menina não indígena e foi adotada por uma comunidade indígena, Kaingang, e ela cresce ali até o seu aniversário de 9 anos, quando descobre informações sobre o seu passado e resolve seguir numa jornada de autodescobrimento e de entender mais sobre as suas origens”, resume o diretor-geral da série, Thiago Teitelroit. Por meio da saga de Luz, crianças e adolescentes entram em contato com o jeito de viver do povo Kaingang. “Os saberes e a cultura indígena eclodem na série naturalmente, tanto nas relações afetivas quanto nos detalhes, no fazer do dia a dia, o artesanato. Aqueles saberes e aquela cultura são apresentados confortando conflitos internos e externos da própria personagem”, explica Teitelroit. O diretor destaca os saberes e costumes indígenas que aparecem na série. “A relação sustentável, a relação bem-sucedida que eles têm com o entorno, com o meio ambiente. A convivência, o cuidado, o olhar para o grupo, o olhar para a natureza em volta, cuidado com todo um ecossistema, que vai além deles”, aponta. Na entrevista, Teitelroit também comenta algumas cenas em que a cultura e os saberes indígenas são apresentados. Ele afirma que isso acontece principalmente a partir da relação de Luz com a avó e com os colegas da escola em que vai estudar.  “Cenas da Luz com o Joca [parceiro da protagonista] e com as outras crianças, quando todo mundo se pinta e se divide em dois grupos, o grupo do Kamé e o grupo dos Kairús, são alguns exemplos. Muitas cenas da avó com a Luz são muito pautadas na afirmação dos preceitos, dos ensinamentos e da cultura indígena”, cita o diretor. Crédito das imagens: Aline Arruda – Divulgacão / Netflix
Professores sugerem abordagens interdisciplinares em ciências, geografia, biologia e literatura O compositor e maestro Tom Jobim dedicou parte de seu reportório às canções de temática ecológica e do meio ambiente. Segundo a professora de música e artes da rede municipal de São Paulo (SP) Juliana Neves, o artista tinha um amor pela fauna e flora brasileira que foi retratado em várias canções, como em “Águas de março”. “Por exemplo, ‘É pau, é pedra, é o fim do caminho’ representa como as águas são implacáveis. Essa enxurrada pode causar impactos ambientais. E isso se liga à ação humana com o passar do tempo”, explica. A professora indica trabalhar a canção de maneira interdisciplinar em diferentes etapas dos ensinos fundamental e médio, fazendo a intersecção entre língua portuguesa e literatura para interpretar o significado da música. Além disso, Neves sugere incluir na estratégia pedagógica as disciplinas de ciências, geografia e biologia. “Nas ciências, o sol, a lua, como as mudanças climáticas afetam o globo terrestre. Em geografia, a demografia do continente brasileiro, suas regiões temperadas tropicais, a redução da biodiversidade, o desmatamento, a poluição”, analisa. De acordo com a professora, é possível abordar o conteúdo também em ciências sociais. “[Pode-se trabalhar] consumo sustentável, a economia dos ecossistemas, da biodiversidade e a conscientização da população, combate à corrupção, sustentabilidade, proteção ambiental e exigências de políticas públicas”, sugere Neves. Além de “Águas de março”, músicas como “Chovendo na roseira”, “O boto”, “Borzeguim” e “Passarim” também podem ser úteis para ensinar conteúdos de ecologia em sala. O professor da Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila) Gabriel Rezende propõe atividade para estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental. “Tem canções também ligadas a uma natureza animada, mágica ou mística, como “O boto”. Os seres naturais conversam, pensam sobre a ação humana, criam histórias entre si”, explica. Nessa podcast, os professores entrevistados também destacam outras abordagens possíveis com a canção “Águas de março”. “[A música] é muito rica em imagens, meio ‘claro-escuro’, digamos assim. A força expressiva está no contraste e como a poesia dá unidade a esses contrastes, a ênfase no verbo ser”, indica Rezende. “Daí vem a conscientização para a importância da preservação do meio ambiente, da reciclagem, do descarte de lixo de forma correta, a reivindicação por políticas públicas e melhorias de infraestrutura. Então, a música ‘Águas de março’ tem sim um grande significado sobre o funcionamento da natureza”, complementa Neves. Crédito da imagem: Walter Firmo – Exposição coleção Walter Firmo – Luz em corpo e Alma
Obra debate também o racismo e as transformações na sociedade brasileira do início do século XX “Água Funda” é um romance escrito por Ruth Guimarães, uma das primeiras escritoras afro-brasileiras a alcançar reconhecimento na literatura nacional. Publicado em 1946, o livro aborda questões como racismo, preconceito e a luta por identidade em uma sociedade marcada pela desigualdade racial. Segundo o professor, autor de materiais para o sistema Anglo de ensino e mestre em literatura brasileira pela Universidade de São Paulo (USP) Maurício Soares Filho, “Água Funda” contribui para a representatividade e visibilidade da cultura afro-brasileira na literatura nacional. “Essa discussão a respeito das questões sociais, da exploração do trabalho, da busca pelo lucro desenfreada, independente das condições do trabalhador, isso constitui uma das grandes vantagens, dos pontos positivos do livro. É essa mistura tão fluída, os causos populares da linguagem, da discussão sobre as crenças populares em relação ao folclore, das questões sociais”, analisa. A história se passa em uma fazenda em São Paulo, onde a protagonista, uma mulher negra chamada Água Funda, luta contra as adversidades da vida e enfrenta o preconceito racial e a discriminação. Além de abordar a desigualdade, o livro também explora temas como espiritualidade, tradições africanas e a conexão com a natureza. Nascida em Cachoeira Paulista (SP), Ruth Guimarães vive até os 18 anos entre o Vale do Paraíba, no paulista, e o Sul de Minas Gerais. “Considerando a idade que ela tinha, a pouca formação, o lugar específico em que ela vivia, quer dizer, longe de um grande centro, com poucas relações que transcendessem aquele espaço, e, ainda assim, com todas essas limitações, ela se revela uma autora de muitas qualidades”, explica Filho. O contato com lendas é uma das marcas que Ruth Guimarães leva para a literatura. Em “Água Funda”, o personagem Joca sai em busca da Mãe do Ouro, figura folclórica conhecida nessa região. “A Mãe de Ouro é capaz de se transformar numa bela mulher, é capaz de se transformar numa bola de fogo e enfeitiça qualquer um que olhar para ela quando ela estiver ali na proteção dos bens”, apresenta o professor. No podcast, Maurício Soares Filho aponta ainda alguns recursos estilísticos do livro, como a valorização da linguagem e da cultura caipira. O professor aborda também a importância da escolha da obra para o vestibular da Fuvest. “A hegemonia branca do pensamento e da cultura acabou. Ela não nos satisfaz mais. Ela está, no mínimo, precisando urgentemente dividir espaço com a cultura negra, com todo esse universo indígena. Eu preciso ampliar a minha percepção do que é ser brasileiro, do que se fala aqui, quais são os temas que nos são caros. Acho que ‘Água Funda’ contribui nesse sentido, conclui Filho. Crédito da imagem: Pintura de fazenda de café do Vale do Paraíba – José Rosael / Hélio Nobre – Museu Paulista da USP
Para especialista, obra da pintora mexicana denuncia a violência contra populações marginalizadas Uma artista que retratou em sua obra o próprio sofrimento e paixões para denunciar a violência contra mulheres e minorias sociais. Esse é um aspecto que merece destaque na obra de Frida Kahlo, falecida em 13 de julho de 1954, na opinião da pós-doutora em estudos da mulher pela Univesidad Autónoma Metropolitana de Xochimilco (no México) e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC – RS) Edla Eggert. Na entrevista para este episódio do podcast do Instituto Claro, a pesquisadora faz paralelos entre pinturas de Frida e acontecimentos que envolvem a luta por igualdade das mulheres e da comunidade LGBTQIAP+. Eggert cita o quadro “Unos cuantos piquetitos” (1935) – “Alguns pequenos cortes” –, no qual afirma ser possível discutir a violência doméstica. “Inclusive a gente traduz isso na famosa frase, ‘Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher’. A gente transforma essa representação numa grande discussão que eleva tanto o campo jurídico ao campo sociopolítico; como é que a gente no espaço, por exemplo, onde eu trabalho, com o que eu trabalho, os espaços formais ou não-formais, ensinam essa subserviência, essa condição de naturalizar a violência”, explica. De acordo com a pesquisadora, outra obra que se manifesta contra a violência é “O veado ferido” (1946). “Esse veado ‘sangrante’, essa violência para com toda a comunidade LGBTQIAP+. Hoje em dia tem nesse quadro uma referência muito simbólica. Então ela vai do caminho, desde a mulher morta pela tradição e violência patriarcal até chegar no ‘veadito’. Assim como tem a fraternidade tem a sororidade entre as mulheres, não mais como a disputa e sim como cumplicidades”, analisa. Segundo Eggert, a obra de Frida Kahlo é uma forma de fortalecer espaços de fragilidade. “A forma como ela não faz o buço, ela está pouco se lixando para o formato do que é o feminino, o feminino patriarcal, o feminino do desejo do outro. A Frida é assim um ícone para as comunidades marginais [marginalizadas], porque ela vai produzindo, esteticamente, o belo de como eu me coloco com o meu corpo”, finaliza a especialista. Crédito da imagem: Pintura a óleo de Frida Kahlo – TASCHEN
Para especialista, Lei 14.811/2024 ajuda educadores e responsáveis a criar ambientes mais seguros A Lei 14.811/2024 altera o Código Penal e torna crime a prática de intimidação sistemática de pessoas, conhecida como bullying, incluindo a praticada por meios virtuais, o chamado cyberbullying. Segundo a advogada especializada em direito e segurança digital e autora do livro “Crianças e Adolescentes no Mundo Digital” Alessandra Borelli, a internet pode agravar ainda mais o problema. “O bullying é aquela prática reiterada, persistente e intencional. O cyberbullying é tudo isso, porém, agravado a uma potência máxima, porque acontece em um ambiente digital, onde o poder de perpetuidade, disseminação e alcance é muito maior”, explica. Pela nova legislação, a pessoa que pratica bullying está sujeita a multa. E aquela que cometer o cyberbullying pode ter uma pena de dois a quatro anos de reclusão e multa se a conduta não constituir crime mais grave. Para Borelli, ao estipular punições, a medida deve, acima de tudo, ampliar a conscientização sobre essas práticas nos ambientes escolares. “Elas [as escolas] estão considerando a realização de mais e de novas campanhas sobre o assunto no decorrer do ano [2024]. Então, acho que aqui a gente já teve um ganho. A criação de canais de denúncias anônimas também é uma prática, uma providência muito importante e relevante, que pode coibir esse tipo de situação no ambiente escolar”, avalia a advogada. Borelli traz ainda dicas de como familiares e professores podem identificar sinais de que uma criança está sofrendo com esse tipo de violência. A especialista escreveu uma cartilha que explica o que são e como prevenir o bullying e o cyberbullying. Clique no botão acima e ouça a íntegra da entrevista. Crédito da imagem: Roque de Sá – Agência Senado
Especialista comenta dados do censo escolar e a importância da disciplina para o pensamento crítico Dados do Censo Escolar da Educação Básica divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontam problemas em relação à estrutura para prática desportiva. De acordo com relatório divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), escolas que possuem quadras e materiais adequados para as aulas de educação física somam apenas 40,6% das instituições de educação básica no Brasil. “Às vezes ele [professor] tem um local de prática, mas não tem bola, bambolê, cone, corda, não tem condições. Tem a quadra só, não tem rede, não tem nada. Então, 27% das escolas brasileiras não tem nem material e nem espaço. E isso é grave, porque o professor de educação física ou o pedagogo sem espaço e sem material não consegue organizar o conhecimento, o conteúdo no currículo”, avalia a professora de educação física e doutora em ciência do movimento humano Cassia Damiani. A especialista lamenta a falta de valorização das aulas de educação física escolar. Para Damiani, isso compromete as habilidades físico-motoras e prejudicam as evoluções cognitiva e socioemocional de crianças e jovens. “Se nos faltar o acesso a esse leque imenso de dança, jogos, ritmo, esporte, se nos faltar isso na infância e na adolescência, nós teremos dificuldade de sistematizar teoricamente o nosso pensamento, porque o nosso psiquismo necessita de várias relações e aproximações, tanto com os seres humanos, porque é assim que nós nos tornamos humano, quanto com o meio. E a prática, principalmente essa de aprendizagem na idade escolar, é que faz a mediação disso”, aponta. O relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que analisa os dados do censo escolar, destaca a importância de se valorizar as aulas de educação física. Segundo o documento, “considera-se que a melhoria da infraestrutura nas escolas é uma das maneiras de fortalecer o papel do poder público e fomentar as práticas esportivas para crianças e adolescentes em idade escolar”. Damiani ressalta que o acesso à cultura corporal é uma responsabilidade do poder público. “É dever do Estado cumprir com a determinação de educar as crianças e adolescentes, desde a tenra idade até o ensino médio”, analisa. Clique no botão acima e assista à íntegra da entrevista.
Enredo da Portela é inspirado em obra de Ana Maria Gonçalves e narra a saga de Luísa Mahin A tradição da Portela de criar sambas-enredo com base em obras literárias tem início em 1966, quando a escola levou para a Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, uma composição inspirada no livro “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manoel Antônio de Almeida. Em 2024, a escolha da azul e branco carioca recai sobre um clássico da literatura contemporânea, “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves, lançado em 2006. “Significa ficcionalmente trazer para o público brasileiro que a história da população negra brasileira não começa nos navios escravagistas, ela é anterior a isso. Foi um erro de rota para que essas pessoas chegassem aqui. Agora todo mundo tinha vida, tinha história, tinha família, tinha afeto do outro lado. Não por acaso ela [Portela] começa essa saga dessa mulher a partir do território africano”, explica a professora de literatura da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Fernanda Felisberto. A perspectiva feminina para o período da escravidão é um dos pontos fortes do livro que conta a saga de Kehinde. Chamada no Brasil de Luísa Mahin, ela foi “laçada” aos oito anos de idade em Daomé, na África, e colocada em um navio negreiro com a irmã gêmea e a avó para serem escravizadas no Brasil. No enredo da Portela, Kehinde recebe uma carta do filho Luís Gama, na qual o advogado, jornalista e patrono da abolição da escravidão no Brasil valoriza o legado deixado pela mãe narrado no livro. “Quando ela chega aqui no Brasil, ela é recepcionada por outras mulheres, e são essas mulheres que, dentro da saga da Kehinde, também vão apresentá-la à espiritualidade. É como a Kehinde acaba resgatando sua ancestralidade através da sua reconexão com a espiritualidade”, conta o carnavalesco da Portela André Rodrigues. “Como essa mulher forte e empoderada e movimentando outras mulheres, movimentando a sociedade e articulando algumas revoltas importantes para a busca da liberdade do povo preto no Brasil. Então, a gente propõe uma coroação a essa mulher como essa rainha das revoltas, que participou da Revolta dos Malês, participou da Cemiterada e era alguém que sonhava com um país mais justo e com o seu povo mais livre”, completa o também carnavalesco da Portela Antônio Gonzaga. Direito à memória Para Fernanda Felisberto, que pesquisa as experiências de escrita de autoria negra brasileira e a diáspora africana, a importância de levar um enredo baseado no livro “Um defeito de cor” é garantir o direito à memória. “Teve dor, teve subtração, violência, tortura, mas também teve resistência. Teve luta, teve formação de uma nação. Esse livro rasura a história oficial, porque esse livro vem trazendo a participação negra ativa, as maneiras de organização, as maneiras de professar sua fé, tudo isso daí é o direito à memória. Se a gente tem memória, ninguém vai contar para nós como nós somos, o que somos”, analisa Felisberto.
Livro do líder indígena integra lista da Unicamp e critica consumismo e devastação ambiental Lançado em agosto de 2020, o livro “A vida não é útil” traz reflexões do filósofo, escritor e líder indígena Ailton Krenak. A obra reúne cinco textos escritos principalmente no início da pandemia de covid-19 que tratam de tendências destrutivas da civilização, como consumismo desenfreado e devastação ambiental. “A escolha que a humanidade fez com a industrialização e com a supervalorização da tecnologia, da técnica, esse caminho é o caminho que vai levar a gente à destruição. Esse é o resumo da minha parábola. Se a gente não parar com essa fissura pela tecnologia, pelo moderno, pelo novo, nós vamos acabar explodindo o planeta para nós, os humanos, porque o planeta vai continuar existindo para ele mesmo”, afirma Krenak em entrevista ao Instituto Claro. A vida não é útil A principal crítica do autor é à ideia de que “tempo é dinheiro”. “Isso, para o Krenak, é o grande crime que se institui. Então, ele fala o tempo não é dinheiro, o tempo é a vida, é a gente respirando, é a gente fruindo. É a gente se integrando à natureza. E essa é a mensagem final que ele nos deixa nesses cinco textos dele”, avalia o professor de literatura do curso Anglo Vestibulares Fernando Marcílio. Krenak defende que os povos da floresta sejam ouvidos para que se tenha um mundo diferente, não no amanhã, mas no tempo presente. Ele exalta o exemplo de indígenas, quilombolas e alguns povos ribeirinhos que consomem o que a natureza proporciona a eles e fazem jus ao pensamento de que “a vida não é útil”. “A vida não tem que ter utilidade. Ela não é alguma coisa utilitária. Se você vive, o dom maior da vida é ela mesma. É intrínseco. A vida não tem que produzir coisas para ela ter sentido. Se não, nós íamos achar que só as pessoas que acumularam prestígio e riqueza é que viveram”, resume Krenak. Em 2025, a obra entrará na lista do vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo Fernando Marcílio, um dos objetivos da instituição é estimular os estudantes a terem contato com as várias formas do pensamento humano. Em “A vida não é útil”, a leitura permite que se entenda a filosofia dos povos da floresta. “O Krenak traz uma coisa muito interessante que é a forma. Lembrando que não são textos escritos, na verdade, são textos falados por ele, então tem uma marca de oralidade muito clara, são transcrições de fala dele. Mas também se explica porque isso é parte da cultura indígena. Ancestralmente, ela não é escrita, ela é ágrafa, ela é transmitida oralmente. O Krenak gosta dessa oralidade também como forma de resgatar a cultura indígena”, analisa Marcílio.
Viviane Pitta de Azevedo utiliza o colar e defende maior divulgação para conscientizar a sociedade Em julho de 2023, a Lei nº 14.624 alterou o Estatuto da Pessoa com Deficiência e instituiu o uso do cordão de fita com desenhos de girassóis como símbolo nacional para identificação de pessoas com deficiências ocultas. O acessório é feito com um tecido verde e, segundo a integrante da Comissão de Inclusão e Pertencimento do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo Viviane Pitta Salgado de Azevedo, proporciona segurança e conforto para quem o usa. “Ele [o girassol] é um símbolo de resiliência, por isso que ele entrou como o símbolo de deficiências ocultas, e representa a solidariedade e compreensão. Mas tenho que ainda explicar para as pessoas, porque infelizmente a política de divulgação do colar de girassol não abrangeu o tanto que deveria atingir na sociedade”, lamenta Azevedo, que tem uma doença rara não visível – stiff person syndrome, a síndrome da pessoa rígida – e utiliza o cordão de girassol. “As pessoas olham para o indivíduo e não conseguem ver aquela doença aparente, ela não vê aquilo na apresentação da pessoa. Ela pode ser: doenças raras, pode ser vinda de pessoas neurodivergentes, que estão dentro do aspecto do TEA [transtorno do espectro autista], pessoas com transtorno de ansiedade, transtorno de humor”, explica. Para Azevedo, é necessária uma grande campanha para que as pessoas entendam o que é e para que serve o cordão de girassol. “Eu acho que a gente tinha que ter mais força por parte do governo e por parte dos veículos de comunicação de divulgarem isso, essa importância do colar. Uma divulgação em massa em transporte público, em metrô seria sensacional”, analisa. Azevedo aponta que essa carência e a facilidade de encontrar o acessório livremente em diversos tipos de comércio estimulam quem não precisa a comprar o cordão como simples adorno e suporte para crachá. “Ele [cordão de girassol] é vendido em camelô, loja de papelaria, sem critério nenhum de bloqueio, a qualquer pessoa. Muita gente vai atrás da beleza, então acaba comprando, e aí invalidando as pessoas que realmente precisam daquilo”, alerta. Clique no botão acima e ouça a íntegra da entrevista.  
Abordagem interdisciplinar trabalha os conteúdos associando-os a aspectos da cultura local O trabalho de conclusão de curso “Um estudo inicial do uso de HQs na aula de matemática” foi desenvolvida pelo professor Davison Renan Abreu de Sousa para a Faculdade de Matemática da Universidade Federal do Pará (UFPA) e propões a criação de três histórias em quadrinhos para ensinar a disciplina em sala de aula. Orientado pelo mestre em matemática João Batista do Nascimento, o trabalho do docente propõe uma atividade interdisciplinar para o desenvolvimento de histórias em quadrinhos com finalidade didática. “Se você quer aplicar essa nossa proposta na escola, você vai desenvolver o conteúdo de matemática junto com o professor de linguagem e o professor de arte, portanto os alunos vão produzir ‘um’ HQ – história em quadrinhos – baseado no seu conteúdo dessas aulas e buscando relacionar com fatos da cultura”, explica. Matemática e cultura local Os quadrinhos criados por Sousa abordam conceitos da matemática presentes no dia a dia da escola: sistema de numeração; análise combinatória e teorema de Pitágoras. “Para criação das HQs, a gente tentou utilizar algum exemplo cultural da nossa região. Então a gente procurou situações culturais na nossa região e tentou encontrar o melhor conteúdo possível que se encaixasse com essas histórias”, explica o professor. Para o orientador do estudo, as histórias em quadrinhos criadas podem servir como inspiração para docentes incentivarem seus alunos a desenvolverem novas revistinhas que associem a cultura e costumes da comunidade com a matemática. “O quadrinho precisa de uma história de fundo, ter uma construção textual para envolver na história, não é só a matemática. Com um problema que envolve a comunidade, a escola, o HQ faz essa junção das coisas: o conhecimento matemático ajudando ou intervindo naquele problema”, argumenta Nascimento. No podcast, Sousa apresenta as três HQs criadas para a pesquisa, materiais que os professores podem baixar para utilização em sala de aula: “Pajé e Curupira”, “Caranguejo” e “Visagem” e suas respectivas orientações. Clique no botão acima e ouça a entrevista. 
Sociólogo e professor sugerem atividades a partir de composições como “A novidade” e “Procissão” O tema desigualdade é tratado por vários artistas da música brasileira. Gilberto Gil aborda as diferenças sociais em sua obra desde o início da carreira, em meados dos anos 1960. “’Roda’ e ‘Procissão’ são o ponto de abertura de Gilberto Gil dentro da música profissionalmente. É o primeiro disco, a primeira produção dele, e nós estamos no processo histórico de ditadura. É nesse contexto que Gilberto Gil, jovem, vem e faz uma obra chamada “Louvação”, em que o autor, percebendo-se dentro da chamada classe média brasileira, assume o discurso dos chamados dominados”, analisa o doutor em educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Cleonilton Souza. O artista baiano volta ao tema novamente, destacando-se outras duas músicas que criou nos anos 1980, no período da reabertura política no país. “’A novidade’ e ‘Nos Barracos da Cidade’ têm uma questão em comum: como reagir à ‘sereia’ e ao ‘tubarão’, seres marinhos com que nós, humanos, podemos nos deparar como metáforas da desigualdade? Se temos, como diz o verso, ‘De um lado esse carnaval, de outro a fome total’, não há igualdade de oportunidade e de tratamento”, avalia o jornalista e sociólogo Mario Luis Grangeia, autor do livro “Os Paralamas do Sucesso – Selvagem?” no qual aborda o tema. Nesse podcast, os entrevistados trazem algumas sugestões de como a obra de Gil pode ser utilizada de forma didática para debater e gerar interesse pelo tema da desigualdade social. “Então seria apaixonante pegar uma música como ‘A novidade’ e fazer todo esse jogo: ver a questão da letra, ver a questão da melodia, para depois ir ao temático”, sugere Souza. Clique no botão acima e ouça outras análises das músicas e como usá-las em sala de aula. Crédito da imagem: Hallit / Divulgação
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