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Author: Instituto Claro

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Podcast do Instituto Claro tem como missão aliar as tecnologias da informação e da comunicação à educação e ao desenvolvimento social. A organização é o resultado da união realizada em setembro de 2013 entre o Instituto Embratel e o antigo Instituto Claro.
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Autora do livro “Lute como uma professora negra” traz caminhos aos docentes A professora de educação infantil da rede pública de São Paulo Josy Asca está lançando seu terceiro livro. Depois de dois títulos destinados à educação antirracista voltados ao público infantil, ela se dirige a colegas de profissão em “Lute como uma professora negra”. “Para a gente falar de educação antirracista, a gente precisa entender um pouco do racismo, então eu trago minhas histórias, situações que eu passei, de como eu vivenciei o racismo desde criança até a fase adulta. Como foi ingressar na escola sendo uma professora negra, que não é fácil”, resume. A motivação para o livro vem da própria vivência da escritora, já que teve de lidar com o racismo desde criança. “A minha infância na escola não foi das lembranças mais bonitas que eu poderia ter. Sofri muito racismo, e naquela época a gente não tinha com quem conversar. O negro não tinha a voz que ele está tendo hoje. Eu não conseguia falar em casa porque os meus pais também eram reprimidos. Desde o jardim da infância até o período da minha graduação, eu não tive nenhum professor negro, por isso que eu trabalho tão duramente hoje em dia, para que as crianças não passem pelo que eu passei”, revela Asca. Educação antirracista O livro “Lute como uma professora negra” traz, além da história da autoria, métodos para uma educação antirracista. No áudio, você acompanha cinco atividades e propostas que têm o objetivo de promover um ambiente mais igualitário na escola. “Nesse livro eu trago também algumas dicas de vivência em sala de aula que eu tive com as crianças e que deram certo”, aponta. As cinco dicas que a professora e escritora compartilha na entrevista são: 1) Realização de assembleias com crianças a partir de três anos de idade; 2) Valorização da representatividade a partir de personalidades negras de diversas áreas; 3) Encenação de peças de teatro a partir de obras literárias escritas por pessoas negras; 4) Leitura de obras que têm protagonismo negro; 5) Promoção de eventos e festas com manifestações das culturas afro-brasileira e africana. Crédito da imagem: divulgação – Expo Favela 2024
Para especialistas, animação conecta os dois públicos para debater temas complexos com leveza Na nova animação de “Divertida Mente”, Riley, que está com 13 anos, tem sua mente transformada em uma sala de controle em que são observadas ações importantes para a protagonista, como jogar hóquei e as relações com as amigas. A partir do que vive, a agora adolescente passa a lidar com a Vergonha, a Inveja, o Tédio e a Ansiedade. Para o psicanalista Christian Dunker, animações e filmes como esse podem ser uma boa forma de estimular a conversa sobre temas difíceis com crianças e adolescentes. “O cinema, enquanto fusão de diferentes linguagens – você tem a dramaturgia, a música, a literatura, pintura ou cenografia –, é excelente, justamente porque permite essa hierarquização, mudança de patamar de linguagem e, ao mesmo tempo, uma espécie de convergência entre esses níveis de signos diferentes, o que favorece muito para a função que a gente diria assim, formativa, das narrativas para a nossa subjetividade”, afirma. Para Dunker, a primeira animação de “Divertida Mente”, lançada em 2015, já permitia que se estabelecesse um diálogo sobre emoções com as crianças. “Você tem a zona de controle, você tem os afetos disputando entre si quem é que manda, você tem representações imagéticas para cada um dos afetos. Isso tudo vai produzindo efeitos de reacomodação e de visualização, necessários para a gente poder tematizar melhor conflitos, experimentar melhor certas emoções e, principalmente, perceber como as emoções se produzem a partir de afetos, e elas são negociadas na forma de sentimentos sociais”, analisa. O psicólogo e terapeuta de casais e de família Alexandre Coimbra Amaral concorda que “Divertida Mente” gera uma conexão entre adultos e crianças ou adolescentes. “Então a parte mais divertida, mais da ação, as crianças adoram; e tem essas surpresinhas que têm a ver com as neuroses adultas. O “Divertida Mente” oferece isso como um prato cheio, dando uma amostra muito fidedigna da complexidade do nosso funcionamento mental e emocional. É um desenho que abre portas para o diálogo”, defende. O especialista traz dicas de como o adulto pode iniciar a conversa com a criança ou o adolescente. “Pode ser a partir de uma história que você viveu, como memória que o filme te lembrou, pode ser a partir da cena da personagem principal, perguntando se o filho ou filha se coloca naquele lugar, se sente parecido com ela em alguma coisa. E, sendo bem coerente com o filme, deixar escorrer a emoção. Então, se você tiver que falar do medo, poder assumir os seus medos. Se você tiver que falar da tristeza, poder assumir uma tristeza ou contar uma cena em que você foi visitado pela ansiedade”, explica Amaral. Crédito da imagem: Tara Moore – Getty Images
Livro de Eça de Queiroz usa metalinguagem para retratar a aristocracia, seus costumes e valores “A Ilustre Casa de Ramires” está na lista de leituras obrigatórias para o vestibular da Fuvest 2025. De publicação póstuma, o romance lançado em 1900 é um dos livros de destaque da obra de Eça de Queiroz. “No final da carreira, sem deixar de lado a sua convicção realista, ele combina um pouco desse realismo com uma dose de fantasia. E ‘A Ilustre Casa de Ramires’ é uma das obras que pertencem justamente a essa última fase dos romances do Eça de Queiroz”, explica o professor de literatura Eduardo Calbucci. O livro traz um retrato da decadência da nobreza lusitana a partir de um contraponto entre os valores de um país monarquista e os acontecimentos a partir de meados do século XIX.  “Portugal passava por um momento histórico que acaba levando o país a abandonar a monarquia. O Eça vai viver nesse momento de decadência da monarquia portuguesa. E houve um acontecimento chamado ‘Ultimatum’, que se deu aí em 1890, um conflito que não se torna uma guerra, com os ingleses. Houve esse conflito, e Portugal teve que ceder. Foi considerado por alguns uma espécie de vergonha diplomática e acabou enfraquecendo justamente essa força da monarquia, dando origem à Proclamação da República em Portugal, em 1910”, analisa o professor. Metalinguagem Calbucci chama a atenção para o recurso da metalinguagem. Em “A Ilustre Casa de Ramires”, o protagonista está escrevendo um romance histórico, o que permite que a obra tenha como destaque o próprio ato da escrita. “Em muitos momentos, a gente vai vendo o Gonçalo [protagonista da história] escrever, e cada vez que ele escreve o Eça coloca o texto, e a gente vai tendo essas pontes entre o século XIX e o século XIII. Então, o romance faz essa problematização histórica, e a gente tem, do ponto de vista discursivo, essa complexidade de uma história dentro da outra”, explica. Crédito da imagem: Fabien – Pixabay
Obra de Caio Fernando Abreu oscila entre o sofrimento e a esperança de viver em uma sociedade de preconceitos  “Morangos mofados” está na lista de leituras obrigatórias da Unicamp 2025. O livro de contos de Caio Fernando Abreu (1948-1996) foi publicado em 1982 e é marcado pelo período de início de reabertura política durante a ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985). Os textos tratam do combate à repressão e têm como pano de fundo relações afetivas. “Caio foi uma grande voz da literatura da homoafetividade, assim como fez o Cazuza no terreno da música, ele também assumiu o problema que ele estava enfrentando, o problema de saúde da Aids. Durante a epidemia de Aids, nós tivemos a circulação de discursos de ódio muito fortes contra os homossexuais, contra homossexualidade, e o Caio foi uma voz combativa contra o preconceito gerado por essa situação”, afirma o professor de literatura Fernando Marcílio. Dos 18 textos de “Morangos mofados”, o vestibular da Unicamp escolheu seis: “Diálogo, “Além do Ponto”, “Terça-feira Gorda”, “Pera, uva ou maçã?”, “O dia em que Júpiter encontrou Saturno” e “Aqueles dois”. Os três primeiros fazem parte do segmento “O Mofo”. Os outros três integram a divisão chamada de “Os Morangos”. “E eu acho muito interessante que o leitor tenha em mente essa divisão e essa estrutura para poder começar a leitura dos contos. A primeira parte, por exemplo, se chama “O mofo” e apresenta uma perspectiva um pouco mais pessimista, um pouco mais desencantada, envolvendo relações de homoafetividade. [A segunda parte] apresenta um otimismo um pouco maior, apresenta perspectivas de libertação desse clima opressivo que se vivia no Brasil por causa da ditadura e por causa do conservadorismo social”, resume Marcílio. Contracultura Para dar conta da dualidade entre desejos e movimentos repressivos, a linguagem de Caio Fernando Abreu remete a jovens que se identificavam com a contracultura como forma de se contrapor ao pensamento repressor. “Eles não se adequavam, evidentemente, à sociedade militarizada da ditadura, mas também não aderiam completamente à luta política mais tradicional da linha partidária que se verificava no Brasil. O Caio é ligado ideologicamente a essa corrente da contracultura, portanto a essa visão um pouco mais cética e que via com desilusão o cenário político, no qual não encontrava perspectivas muito amplas de expressão e de manifestação de pensamento”, conclui. Crédito da imagem: azerbaijan_stockers – Freepik
“A Cerimônia do Adeus” também permite refletir sobre as relações e o papel social da mulher O espetáculo “Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir” é baseado no livro “A Cerimônia do Adeus”, da escritora Simone de Beauvoir. Considerado um dos textos mais relevantes de sua obra, traz a relação da filósofa e ensaista com o também filósofo Jean-Paul Sartre. No relato dos últimos anos de vida do escritor, os capítulos abordam a liberdade e marcas do pensamento existencialista do século XX. “Uma filósofa, uma pensadora existencialista, significa interferir na vida, significa se colocar no mundo e agir no mundo sobre a possibilidade de interferir no mundo. E quando a gente lê “A Cerimônia do Adeus”, a gente entende muito o sentido disso, de estar engajado no mundo – porque ela [Beauvoir] é assim, e o Sartre, também, e é disso que se trata. A produção de pensamento e de ação não é dissociada”, explica a doutora em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e professora de filosofia contemporânea na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Izilda Cristina Johanson. Na entrevista, a pesquisadora analisa como as reflexões sobre velhice, morte e relacionamento estão presentes no livro. “A relação da Simone de Beauvoir e do Sartre, nessa sociedade que a gente vive, fundamentalmente patriarcal, machista, misógina, continua sendo uma exceção, porque não se trata simplesmente de ser um casamento aberto, como hoje em dia a gente diz, é muito mais que isso. É uma parceria de vida enorme, de produção”, analisa. Sartre e Beauvoir conviveram por cinco décadas desde que se conheceram em Paris em 1929. Nos diálogos entre eles, mais do que liberdade, há o estímulo à libertação. “A liberdade sempre se realiza não como um ‘Vou fazer tudo o que eu quero’, mas sempre como um processo de libertação: menos um obstáculo no caminho, menos outro obstáculo no caminho, menos outro obstáculo no caminho. O grande legado da Simone Beauvoir, a vida e obra, ação, interferência no mundo é esse, exercício da liberdade como um processo de libertação”, conclui Johanson. Crédito da imagem: domínio público
Tragédias como a do RS obrigam vítimas a migrarem para outras cidades Entre as notícias referentes à catástrofe no Rio Grande do Sul, um termo começou a ser usado para se referir a uma parte da população da região. Milhares de gaúchos que perderam tudo com as enchentes têm sido chamados de “refugiados climáticos”. No entanto, para a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), essa denominação não é a mais adequada. “Pelo ACNUR, refugiado é uma pessoa que foge de situações de violência, de violações dos direitos humanos, de conflito, e cruzam a fronteira. Deixam a proteção do seu país e fogem para outro país. Então, em contexto de desastres, a gente se refere mais a um termo de deslocamento por causa da mudança climática por causa dos desastres”, esclarece o representante do ACNUR no Brasil Davide Torzilli. Devido à quantidade cada vez maior de eventos ligados à emergência climática, em todo o mundo tem aumentado o número de pessoas que se deslocam dentro do próprio país. “Nos últimos 20 anos, pelo menos, a gente está vendo que os desastres estão voltando mais frequentes, são mais intensos e impactam um número mais alto de pessoas. A maioria das pessoas que se deslocam pelos efeitos dos desastres naturais se deslocam no interior do próprio país. Então elas já têm a proteção do Estado, mas claramente precisam de uma atenção particular, que enumeram uma série de ações que vão do acesso a serviços assistenciais, serviço de saúde, educação e, claramente, moradia”, aponta Torzilli. Refugiados entre as principais vítimas Torzilli ressalta que o Rio Grande do Sul é um estado que tradicionalmente serve de asilo humanitário para refugiados que tiveram que deixar seus países de origem, como Haiti e Venezuela, por causa de fome, violência ou desastres naturais. “O Rio Grande do Sul é um estado no Brasil que recebe um mais alto número de refugiados. Nossas estimativas é que 43 mil imigrantes moram no Rio Grande do Sul. Então, o Acnur está muito engajado nessa pauta, em que as mudanças climáticas, os impactos dos desastres minam cada vez mais a resiliência de pessoas que já eram deslocadas por razões de conflitos ou de violência”, argumenta. O representante do Acnur ressalta que essa população de refugiados tem mais dificuldades para se adaptar às catástrofes climáticas. “Tem menos resiliência, menos apoio na comunidade onde ele mora e também psicologicamente. Depois de ter passado por um deslocamento forçado, o refugiado se vê outra vez deslocado por um desastre, claramente tem um impacto muito forte”, revela. A Agência da ONU para Refugiados tem como missão proteger e oferecer assistência às pessoas refugiadas e deslocadas em todo o mundo e tem se dedicado ao amparo das vítimas das catástrofes ambientais no Rio Grande do Sul e em outras partes do mundo. “O que estamos trabalhando com vários governos ao redor do mundo é o tema de incluir o deslocamento em estratégias nacionais de resposta a desastre, mas também de prevenção, de mitigação dos riscos, também plano nacional de adaptação e resiliência”, explica. Torzilli afirma que o fato de o Brasil ser a sede da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30) faz com que o país esteja dedicado a um plano de prevenção de novos desastres naturais. “É um país que tem olhado essa temática, preparando-se para a COP 30, ligado à prevenção de risco e adaptação aos efeitos da mudança climática, para ter a melhor assessoria existente em termo de planificação para a resposta de mitigação dos efeitos da mudança climática”, conclui. Crédito da imagem: Fabio Rodrigues-Pozzebom – Agência Brasil
Professora criou a atividade para desenvolver leitura, escrita e estimular gosto pela literatura A professora de língua portuguesa e literatura na rede municipal da capital paulista Paula Rosiska desenvolveu a aplicação de uma sequência de atividades com foco no letramento literário para alunos do 7º ano do ensino fundamental. O projeto tem o objetivo de promover o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita literária por meio da apreciação e da compreensão de crônicas. “A crônica é um gênero textual que trata do tema cotidiano. São as coisas bem simples, aquelas que costumam ficar de fora da grande literatura, da literatura de ficção, evidentemente. Elas são retratos da vida comum, das pessoas comuns também pela simplicidade da linguagem da crônica. Ela é informal, então imaginei que seria um bom gênero para eles adentrarem a literatura brasileira e começarem a produzir seus próprios textos”, resume a docente. Para instigar os estudantes a escreverem, Rosiska promoveu durante um bimestre o concurso de crônicas com júri composto por alunos, professores e gestores. “A ideia era justamente o estímulo, porque, num concurso de crônicas, eu tratei todos eles como autores, como cronistas e não como estudantes candidatos, para eles já entenderem que a literatura está ao alcance deles. E a ideia era justamente ‘desescolarizar’ a redação. Mas num concurso nós temos um júri. Como eles sabiam que haveria leitores, que o texto seria público, acredito que tenha incentivado de tal maneira que dos 32 alunos, 28 entregaram uma redação para o concurso”, analisa. Passo a passo para o concurso de crônicas Inicialmente, os alunos foram apresentados ao conceito de crônica, sua estrutura e características. Em seguida, foram conduzidas atividades de leitura de textos. “Eu criei um ‘baú de crônicas’, no qual eu colocava crônicas para eles poderem ler, terem acesso, e aí se eles encontrassem alguma crônica ou se escrevessem alguma, eles podiam deixar lá, que eu pegaria e já daria devolutiva para eles”, explica Rosiska. Em seguida, a professora fez uma pergunta aos alunos: “Fale sobre o momento que mudou a sua vida. O que foi esse momento e qual que foi essa mudança?”. “A maioria deles colocou alguma mudança de turma, mudança de escola. E eu percebi realmente que a escola era o tema central da vida deles. Na escola que a gente tem vida social e a questão das amizades. Por isso eu pedi essa primeira produção textual, uma aula, porque é um texto bem curtinho, então esse foi o primeiro passo”, aponta. Os passos seguintes da sequência didática que Rosiska sugere para estudantes dos últimos anos do ensino fundamental foram demonstrar que a crônica é um texto de temática extremamente simples e promover o contato com nomes da literatura que se destacam também com a escrita de crônicas. “Na sequência, resolvi desafiá-los. Eu escolhi uma crônica do Machado de Assis chamada ‘Regras para o uso dos bondes’. É uma crônica muito engraçada. E aí nós fizemos até a dramatização. Então nós montamos um bonde ali e cada um deles era um dos passageiros que estavam fazendo alguma coisa que Machado de Assis critica no texto”, conta a professora. Depois dessa preparação, o concurso prossegue com o momento da escrita da crônica por parte da turma. Rosiska defende que saber que está participando de um concurso estimula o aluno, uma vez que o texto produzido por ele será lido efetivamente e passará por um júri. “Havendo esses leitores, houve um estímulo, todos acabaram escrevendo alguma coisa que era importante, alguma angústia ou algo que era divertido, porque essas crianças ou esses adolescentes querem ser ouvidos. Eles entenderam que às vezes é mais fácil ser lido; então na escola eles podem ser lidos. Eu acredito que a escrita se tornou uma alternativa viável para se expressar muito mais do que a fala”, argumenta Rosiska. Os resultados obtidos revelaram um progresso significativo no letramento literário dos alunos. “Quanto à leitura, a minha ideia era justamente que eles entendessem que muitas vezes o escritor morreu antes de a gente nascer, mas aquele sentimento humano continua. E isso foi percebido até mais na crônica do Machado de Assis, que algumas angústias que ele coloca ali, nas reclamações de conviver com as pessoas no bonde, são parecidas com as que existem até hoje. Eu acredito que, pelo menos aquele medo ou aquela sacralização dos escritores canônicos foi desfeita. O medo de ler eles [os alunos] não vão ter”, conclui. Crédito da imagem: acervo – Paula Rosiska  
Obra narra saga do protagonista para pagar dívida e garantir o leite do filho pequeno “Os Ratos”, de Dyonélio Machado, entra para a lista de livros para o vestibular da Fuvest 2025. A obra é dividida em 28 capítulos curtos e tem como protagonista um homem que perambula pelas ruas de uma então provinciana Porto Alegre (RS), em busca de garantir alimento para o filho.   “Naziazeno Barbosa é um pobre diabo. É um personagem que está na franja da miséria, beirando a miséria, tentando justamente lidar com a dimensão muito básica da nossa existência, que é a da alimentação da família. Então a gente vê aqui o drama de um pequeno burguês, digamos assim, uma odisseia em modo menor. A viagem não é longa, o tempo transcorrido não é longo, mas as aflições vivenciadas por Naziazeno fazem dele um perseverante, embora nunca [seja] uma pessoa que tenha atitudes admiráveis e nem grandes valores morais a serem apreciados pelo leitor”, descreve o professor de literatura do curso Anglo Vestibulares Paulo Oliveira. O romance escrito por Dyonélio Machado foi publicado em 1935 e é considerado o mais importante do autor. “O contexto literário era da chamada segunda geração modernista, e os escritores nesse momento vão se aproximar de temáticas mais sociais, portanto que vão olhar para a sociedade brasileira de um ponto de vista muito crítico, querendo expor certas mazelas de nossa convivência social”, analisa o professor. Em “Os ratos”, o funcionário público Naziazeno Barbosa recebe um ultimato do entregador de leite, que exige o pagamento da dívida em 24 horas sob ameaça de não fornecer mais o alimento ao protagonista. “É uma forma, digamos assim, de demonstrar como no intervalo muito curto de tempo muita coisa acontece, seja no plano exterior, das nossas percepções sensoriais, seja no plano interior dos nossos pensamentos e reminiscências”, atesta Oliveira. No áudio, o docente aponta possíveis questões que podem ser foco do vestibular da Fuvest. “Há um entrelaçamento de vozes, a voz do narrador em terceira pessoa, a voz dos pensamentos de Naziazeno e mesmo a voz dele apresentada, digamos, sonoramente por meio do discurso direto. Esse tipo de entrelaçamento de vozes, que se manifesta por meio de um recurso técnico chamado discurso indireto livre, é sempre um bom assunto para a Fuvest explorar no vestibular”, argumenta. Por que “Os ratos”? O professor explica que o nome do romance também chama atenção por ter mais de uma interpretação. “Sob a perspectiva social que o romance assume lá nos anos [19] 30, o nome “Os ratos” pode se referir mesmo à condição de Naziazeno Barbosa tentando conseguir esse dinheiro andando pela cidade, relacionando-se com pessoas, digamos assim, de atividades meio duvidosas, que ficam na franja da moralidade. Lidam com agiotas e outras coisas assim. Por outro lado, o título “Os ratos” refere-se também a um devaneio que o personagem Naziazeno vai ter em sua noite depois de chegar em casa”, analisa Oliveira. Crédito da imagem: congerdesign – Pixabay
Para Sergio Leitão, recuperação da vegetação nativa deve unir plantio de árvores à produção agrícola Após enfrentar chuvas extremas no mês de maio, o Rio Grande do Sul se volta à reconstrução de suas cidades com o desafio de criar estruturas e espaços mais resilientes aos episódios climáticos. Diante desse cenário, um estudo do Instituto Escolhas – especializado em estudos para o desenvolvimento sustentável – demonstra a necessidade de se investir em sistemas agroflorestais, que conjugam o plantio de árvores nativas, frutíferas e madeireiras ao lado de produtos agrícolas. Essa combinação aumenta a capacidade de infiltração da água no solo e pode auxiliar a recuperação econômica do estado. “Plantar florestas por meio de sistemas agroflorestais, juntando produção de alimentos com plantio de árvores, faz bem para o Brasil, para economia, o meio ambiente, é o econômico, é o ambiental, é o social, tudo junto para fazer um país melhor, com menos sofrimento, com menos eventos climáticos extremos. É isso que a gente precisa para que o país finalmente tenha consciência de que as mudanças climáticas chegaram, e a gente precisa se proteger”, afirma o ambientalista e diretor do Instituto Escolhas, Sergio Leitão. Com vasta experiência em políticas públicas e campanhas ambientais, o pesquisador afirma que a recuperação das áreas desmatadas no estado é uma ação fundamental para prover serviços ecossistêmicos para a região, como o aumento da capacidade de infiltração da água no solo. “Recuperar toda essa infraestrutura natural permitirá que o estado recupere exatamente essa capacidade de voltar a regular os ritmos das chuvas, a ter um processo de conservação do solo. Fazer toda uma recuperação dessa infraestrutura natural para permitir que a própria agricultura do estado possa ter forças novamente para ser uma das grandes produtoras do país”, explica Leitão. Função esponja De acordo com o diretor do Instituto Escolhas, apesar de não ser possível evitar toda a tragédia diante de eventos climáticos extremos, com o sistema agroflorestal, os impactos seriam reduzidos por causa da “função esponja”. “Áreas que têm vegetação, que têm árvores, permitem que a água se infiltre e, portanto, se espalhe mais, reduza a força da inundação. Portanto, essa infraestrutura natural que só existe com vegetação precisa fazer parte das prioridades do Brasil, para fazer um país melhor, com menos sofrimento, com menos eventos climáticos extremos. E isso tudo será extremamente importante porque o Brasil precisa desesperadamente – o caso do Rio Grande do Sul está mostrando isso – cuidar daquilo que a gente nunca cuida, que é a infraestrutura natural”. No áudio, Leitão fala ainda sobre como a recuperação de áreas devastadas, por meio de sistemas agroflorestais, pode auxiliar a economia local e remover um considerável volume de dióxido de carbono (CO²) da atmosfera. Ele também comenta como, a partir do que aconteceu no Rio Grande do Sul, o país pode confirmar a importância da recuperação de vegetação nativa, a fim de que se cumpra a meta assumida pelo Brasil no Acordo de Paris. “Para o Brasil como um todo, se faz um grande investimento em recuperação de florestas, além dos benefícios ambientais, vai gerar benefícios econômicos muito importantes. O Brasil tem uma meta de recuperar 12 milhões de hectares de floresta, que foi assumida quando o Brasil participou da Conferência do Clima em Paris, que foi a chamada COP 15”, destaca. Crédito da imagem: Lauro Alves – SECOM/RS
Problemas sociais abordados no campeonato de poesia falada fazem parte do cotidiano dos alunos O Slam Interescolar de São Paulo já é um momento tradicional do segundo semestre do ano letivo em várias unidades de ensino públicas e privadas do estado. Em 2024, o concurso de poesia falada chega à 10ª edição e conta com 360 escolas participantes, com etapas para o ensino fundamental II e para o ensino médio. “[Slam] é uma onomatopeia, do inglês, que significa bater, socar. Ele é muito usado em campeonatos e competições. O grande slam de tênis, acho que é o mais conhecido. E nós temos nossos slams de poesia, que vêm para o Brasil em 2008, e a Guilhermina vai levar para a rua em 2012, o primeiro slam de rua do Brasil. Em 2015, a Guilhermina também vai criar o slam interescolar, abrangendo todo o estado de São Paulo”, explica uma das criadoras do evento, a professora de história e slammaster – mestre de cerimônia do slam – Cristina Assunção. Realizado pelos criadores do Slam da Guilhermina, a proposta do campeonato de poesia falada é dar o protagonismo para estudantes poderem tratar de temas do cotidiano e das ruas a partir de suas vivências. “A gente vê muito que é abordado preconceito, racismo, discriminação, feminicídio, desigualdade social, respeito, homofobia. Primeiro que eu acho que faz parte do cotidiano deles e dos projetos que a gente trabalha dentro da escola. Então nós percebemos que são esses temas que estão sempre presentes nas produções de texto deles”, cita a professora de língua portuguesa Rute da Penha Cota Salviano, da Escola Municipal de Ensino Fundamental CEU Feitiço da Vila, no Capão Redondo, zona Sul da cidade. Slam e saúde metal Outro tema recorrente nas edições do slam interescolar é o problema com a saúde mental. “A questão da depressão aparece. Então o poema serve como uma forma de desabafo. A tristeza, a angústia que ele está sentindo, a aflição. E muitas vezes esses sentimentos vêm por causa de uma questão de gênero, de uma questão social que ele está passando na casa dele”, comenta a também professora de língua portuguesa do CEU Feitiço da Vila Márcia Rodrigues de Oliveira. Os relatos de professores que estimulam a participação de suas turmas giram em torno de o slam interescolar permitir que as aulas discutam temas sociais de uma forma que normalmente não é vista no dia a dia da escola. A equipe do Instituto Claro esteve no evento de 26 de abril de 2024 e conversou com uma das adolescentes que vai participar do campeonato deste ano. Quin Escritora, como se identifica nas redes sociais, tem 14 anos e geralmente apresenta poesia para combater a transfobia. Segundo ela, o slam interescolar é uma forma de expressar sentimentos e analisar a sociedade. “A gente poder falar sobre racismo, machismo, homofobia, essas pautas que raramente são escutadas na sociedade porque são vozes jovens, que já estão sendo escutadas, e é algo incrível, revela. Crédito da imagem: Divulgação – Slam da Guilhermina
Especialista explica como a inteligência artificial reproduz o preconceito nos ambientes virtuais Racismo algorítmico é uma espécie de transposição do racismo estrutural da sociedade para ambientes digitais. A discriminação acontece principalmente por meio de ferramentas de inteligência artificial, que são alimentadas por algoritmos. “Sistemas algorítmicos, às vezes chamados de inteligência artificial, são sistemas que tomam algum tipo de decisão a partir de alguns objetivos definidos: ranquear um conteúdo, classificar uma pessoa ou mesmo transformar um tipo de conteúdo ou de imagem ou de mídia. O problema é: temos um histórico de séculos de violência racial e de discriminação. Então, por exemplo, se um sistema de IA [inteligência artificial] generativa, que faz uma foto aparentemente de forma automatizada, se baseia no histórico de fotos sobre pessoas negras no Brasil, vai haver uma representação muito negativa, relacionada à criminalidade, relacionada à violência, relacionada à pobreza”, explica o mestre em comunicação e cultura contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Tarcízio Silva. Autor do livro “Racismo Algorítmico: Inteligência artificial e Discriminação nas Redes Digitais”, o pesquisador reflete nesse podcast sobre o que acontece quando as máquinas e programas apresentam resultados discriminatórios. No áudio, Silva comenta que é falsa a ideia de que tecnologias digitais seriam neutras. “Quando a gente pensa a internet, que foi muito festejada como a infovia do conhecimento, de fato revolucionou como a gente circula conhecimento, mas ao mesmo tempo aumentou a insegurança sobre o que é verdade e o que não é verdade. E a desinformação passou cada vez mais a ser estratégica para alguns grupos que preferem que a desinformação circule para diferentes fins: ganhos políticos, financeiros etc.”, argumenta. Um exemplo de racismo algorítmico é quando uma pessoa negra é representada de forma negativa no resultado da busca de imagens na internet ou a partir de ferramentas de inteligência artificial. A doutora em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do Data Privacy Brasil Johanna Monagreda cita o caso da deputada estadual Renata Souza (Psol-RJ) que, em outubro de 2023, relatou ter passado por esse tipo de discriminação ao gerar uma imagem via inteligência artificial. “Ela deu as instruções para o aplicativo: ‘Ah, eu quero que você faça a imagem de uma mulher negra com cabelo black na favela’. Ela descreveu a imagem que queria, e a inteligência artificial devolveu para ela a imagem de uma mulher negra com cabelo black na favela e incorporou uma arma na mão daquele desenho. Esse é um claro exemplo de racismo algorítmico, porque estereótipos sobre pessoas negras e sobre estar na favela ou a vida em comunidade acabaram sendo imbricados na tecnologia, de forma que, na produção dessa imagem, a própria tecnologia fez a relação que a humanidade faz, que é aquela relação de a favela como um território de violência”, explica Monagreda. Os pesquisadores trazem também outros exemplos com consequências que podem ser ainda mais prejudiciais. “Como um aplicativo de transporte, que estabelece preços maiores para comunidades onde mais pessoas negras e pobres moram ou mesmo no caso do reconhecimento facial, que tem uma precisão inferior quando se pensa em pessoas não brancas de modo geral”, afirma Silva. Monagreda comenta ainda o caso do torcedor do time de futebol Confiança, que, em 13 de abril de 2024, foi detido por agentes da polícia militar por erro de reconhecimento facial. A situação aconteceu na final do Campeonato Sergipano. “Ele foi identificado pela câmera de reconhecimento facial como uma pessoa em conflito com a lei, e ele teve que passar por uma abordagem policial, saiu do estádio algemado. Mas, além disso, ele teve um constrangimento público muito grande, porque foi num estádio, na frente de todo mundo”, argumenta a pesquisadora. Após o episódio, foi suspenso o uso de reconhecimento facial no estádio durante os jogos do time sergipano. Silva acredita que situações assim fazem uma parcela das pessoas perceber a necessidade de ter um olhar mais crítico sobre o que é acessado online. “Isso é importante, é positivo, em alguma medida. E se a gente conseguir transformar a educação para que cada vez mais, enquanto cidadãos, possamos desenvolver essas habilidades – pesquisar a veracidade de informações e interagir online –, podemos ter um futuro mais produtivo, justo e seguro para todos, conclui o pesquisador. Crédito da imagem: VioletaStoimenova – Getty Images
História online gratuita traz técnicas para controlar a ansiedade e o estresse associados a catástrofes O livro “Pipo e Lila ajudando as crianças num momento difícil – Quando a chuva passar” foi desenvolvido para trabalhar as emoções de estudantes da educação infantil e do ensino fundamental diante da catástrofe que atinge o Rio Grande do Sul desde abril. “As nossas histórias terapêuticas, elas sempre têm começo, meio e fim. O começo sempre é dentro da situação disfuncional que a criança está vivendo; o meio, a gente vai encontrando formas de resolver as situações; e no final sempre é um final feliz”, explica a psicóloga clínica e doutora em ciências da saúde pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ana Lúcia Castello. Junto com a também psicóloga clínica Fabiana Brandão, Castello se baseia em técnicas da terapia Eye Movement Dessensitization and Reprocessing (EMDR), que em português significa Dessensibilização e Reprocessamento por meio de Movimentos Oculares. Na história, Pipo e Lila entram em contato com essa abordagem terapêutica e aprendem a controlar o estresse e a ansiedade associados a eventos traumáticos. O livro gratuito pode ser baixado nesse link. Desenhos, respiração e o “abraço da borboleta” Na entrevista a este episódio do Livro Aberto, as autoras compartilham os recursos que ajudam as crianças a lidarem com tragédias. Fabiana Brandão destaca a importância do estímulo ao desenho. “Ele vem como a forma da criança representar a imagem mental do que ela viveu. Mesmo as que já têm a fala – as que não têm, [o livro] vai ajudar a representar e ressignificar aquela situação vivida -, elas vão poder deixar no concreto [os acontecimentos], e isso vai trazer mais confiança para ela na possibilidade da mudança, para internalizar bem, instalar essa situação positiva de futuro”, explica. A respiração é outra forma de controlar melhor as emoções. Nesse podcast, Brandão lê um trecho do livro com um exercício para ajudar a controlar as emoções. “Muitas pessoas quiseram nos ajudar e uma profissional me ensinou uma maneira de eu poder acalmar meus pensamentos e as minhas emoções. Me ensinou uma maneira de respirar importante: Inspira contando 4 tempos. Segure o ar contando 4 tempos Expira contando 8 tempos Solta o ar completo contando 4 tempos”, diz um trecho do livro. O termo “tempos” se refere a segundos. Castello cita ainda o chamado “abraço da borboleta”, idealizado pelos terapeutas mexicanos Ignacio Jarero e Lucina Artigas, quando o furacão Paulínia atingiu aquele país em 2008. “E a doutora Lucina estava atendendo as crianças, e fazer estimulação bilateral com as crianças estava sendo muito difícil. Então ela pedia às crianças para colocarem as duas mãos na frente do peito e golpearem lentamente um lado e outro, com objetivo de fazer a estimulação bilateral cerebral. Ela mostrava como se as mãos ficassem similares às asas de uma borboleta. Por isso que a técnica se chama ‘o abraço da borboleta’”, detalha a terapeuta. O livro foi imaginado para as psicólogas e autoras utilizarem em escolas do Rio Grande do Sul, mas elas ressaltam que pode ser importante para qualquer criança. “As crianças também podem desenvolver esse tipo de trauma por ouvirem tanto o que está acontecendo, por verem muitas imagens nas TVs, então poderia ajudar bastante as crianças de uma maneira geral”, esclarece Castello. Crédito da imagem: ilustração de Durvally Nicoletti e Bruna Nicoletti
Falta de orientação e monitoramento no uso da internet pode torná-las vítimas de criminosos Dados divulgados pela organização não governamental Safernet revelam que denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil na internet bateram recorde em 2023 com 71.867 queixas no período, número é 77,1% superior ao registrado em 2022. “O abandono digital remete diretamente ao ponto de negligência ou de omissão efetivamente dos pais, quando estamos falando de menores de idade, crianças e adolescentes. Então é basicamente aquela situação em que os pais acabam buscando por maiores facilidades, mas que dão esses aparelhos para essas crianças e adolescentes, sem limite de tempo, sem limite de acessos, sem orientações e sem conversa e diálogo”, explica a advogada e especialista em direito digital Marina de Oliveira e Costa.   A falta de acompanhamento das atividades realizadas pelas crianças na internet gera uma série de possibilidades para os criminosos. “A internet acaba apresentando um leque maior de possibilidades para aproveitadores terem contato e se aproximar dos menores. Então são diversos aplicativos e aplicações, redes sociais, que pessoas podem interagir com esses menores”, argumenta a advogada. Oliveira e Costa acrescenta que há diversos motivos que levam ao abandono digital e aos possíveis riscos de crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes. “Os pais hoje em dia são muito mais ocupados do que antes. A gente tem muitas famílias que são compostas só pelo pai ou só pela mãe (...), muito mais mães trabalhando. Então tem alguns fatores da dinâmica da sociedade atual que fazem com que haja esse uso desenfreado das tecnologias como um escape”, destaca. Importância do diálogo Oliveira e Costa esclarece que a família pode ser responsabilidade se comprovado o abandono digital da criança ou do adolescente. Para prevenir a exposição deles aos riscos do mundo virtual, a advogada defende o diálogo permanente. "A compreensão pela criança desde o princípio, desde quando ela ganha o seu aparelho celular: qual será a finalidade? O que pode acontecer, quais serão os limites, quais serão as regras? Isso é o ideal até para as crianças se sentirem seguras nesse canal aberto com os pais para o diálogo", orienta. Crédito da imagem: ljubaphoto – Getty Images
Sequência pedagógica com jogos ajuda a trabalhar princípios como respeito e amizade Os jogos olímpicos se aproximam, e com eles aumenta o interesse de estudantes pelas atitudes desportivas atreladas ao desenvolvimento físico e pelos valores olímpicos. O momento é oportuno para trabalhar o conceito de olimpismo nas aulas de educação física. “O olimpismo é uma forma de entender o esporte além do rendimento, do resultado, identificar o potencial educativo que o esporte tem e, por meio do esporte, educar, construir valores, conceitos que possibilitem a união entre os povos, o respeito às diferenças, inserção do aluno que está desenvolvendo aquele conteúdo de uma forma mais justa, mais respeitosa dentro da sociedade”, afirma o professor de educação física da Escola Municipal em Tempo Integral Professora Ana Lucia de Oliveira Batista, em Campo Grande (MS), Leonardo Liziero. Entrevistado neste episódio, o educador explica que o olimpismo é baseado em valores imaginados pelo historiador francês Pierre de Coubertein, idealizador dos jogos olímpicos modernos – a partir de 1894. “A excelência, que é fazer o melhor, independente do resultado ou independente da comparação com o outro; a amizade, que possibilita você interagir na diferença, respeitando o outro da melhor forma possível; e o terceiro valor: o respeito, que é aquele que move essa vida social, essa vida em sociedade e comunidade, na qual as diferenças estão presentes”, explica Liziero. Olimpismo na educação física Incentivado pela coordenadora de educação física da escola, Rosimeire da Conceição, o Liziero coloca em prática, desde 2012, um plano de ensino com foco no olimpismo para turmas dos anos iniciais do ensino fundamental. No áudio, Liziero compartilha o passo a passo da trilha pedagógica que segue na escola, que, segundo ele, tem como ponto alto o momento em que o conceito é efetivamente colocado em prática. “A gente teve uma aplicação, um fechamento com esses jogos olímpicos acontecendo na escola, envolvendo todas as turmas, todos os professores, com cerimônia de abertura, com a tocha olímpica, apresentação cultural e depois a vivência dos jogos”, detalha o professor. Percorrendo as etapas do planejamento, os alunos conhecem os jogos olímpicos, sua origem e valores propagados, correlacionam esses valores – excelência, amizade e respeito – com as atitudes necessárias no cotidiano e desenvolvem seu repertório motor por meio da vivência de diversas modalidades esportivas olímpicas – individuais e coletivas. “Ao trabalhar nesses valores com as crianças, elas já exercitam eles no próprio dia a dia delas, de forma que elas levem para a vida reflexões do que elas estão fazendo, se aquilo é legal ou não, os impactos que isso vai gerar na vida delas, além do muro da escola”, enfatiza Conceição. Crédito da imagem: acervo da Escola Municipal em Tempo Integral Professora Ana Lucia de Oliveira Batista
Livro de Lima Barreto, exigido no vestibular da Unicamp, também apresenta crítica ao racismo  O livro “Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá”, de Lima Barreto, está entre as obras obrigatórias do vestibular da Unicamp em 2025. Nela, o autor rompe com as convenções do realismo do século XIX que ainda imperavam nos romances daquela época. Narrado por Augusto Machado, um funcionário público negro, o livro tece a biografia do personagem Gonzaga de Sá. Por meio dela, transparece o comportamento da alta sociedade do Rio de Janeiro do começo do século XX, além dos diversos problemas sociais que afligiam o próprio Lima Barreto. “O Lima Barreto é e sempre foi um autor considerado periférico. Um homem que viveu nos subúrbios do Rio de Janeiro [RJ], que sempre se sentiu vítima de preconceito étnico, sempre se achou desprezado pelos seus colegas e sempre lutou muito contra o privilégio de determinados autores brancos, muitas vezes no julgamento dele, sem tanto talento, sem tanta coisa a dizer. Sendo assim, é compreensível que o principal tema de sua obra seja a denúncia do preconceito racial e a luta por um consequente reconhecimento social”, resume o professor de literatura brasileira do Sistema Anglo de Ensino Maurício Soares Filho. Nesse podcast, Soares Filho traz dicas para quem está se preparando para o vestibular e aponta possíveis abordagens que podem ser feitas no exame. “O que me parece que o Lima Barreto contribui muito claramente na leitura, na formação de um jovem leitor, num processo de desmontar as origens dos preconceitos. Ao investigarmos e compreendermos os movimentos em torno desse processo, que aqui nesse caso envolvem principalmente uma esperada modernização do Rio de Janeiro nessa passagem do Império para a República. E a abolição da escravatura, quer dizer, olhar para isso numa tentativa de compreender como chegamos até aqui, como chegamos nesse Brasil racista, machista, classista, em que ainda estamos no século XXI”, explica. Precursor do Modernismo Outro aspecto da obra que pode ser tema no vestibular da Unicamp, segundo Maurício soares Filho, é o fato de o livro não se enquadrar em um único gênero literário. Para o professor, ao ser publicado em 1919, a obra antecipa uma das características do Modernismo de 1922. “Nós sabemos que o livro se chama “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”, e esse título sugere uma biografia. Acontece que os próprios interlocutores acabam entendendo que poderia ser um romance, uma vez que o próprio biógrafo acaba aparecendo, muitas vezes, mais do que o biografado. Quando nós percebemos que os doze capítulos são mais episódicos do que lineares, quase independentes, e poderiam até mudar de lugar dentro da organização do livro, a gente cogita chamar essa obra de um livro de contos. E considerando o fato de o enredo, dos acontecimentos serem menos relevantes ou considerados com menos importância, menos ênfase do que as reflexões propostas pelo autor, aí talvez pudéssemos dizer que, na verdade, estamos diante de um livro de ensaios”, contextualiza. Crédito da imagem: Augusto Malta – Acervo da Light
Histórias apontam como os conflitos nas favelas da Maré (RJ) dificultam o acesso à escola e ao lazer   O livro infantojuvenil “Eu devia estar na escola” foi idealizado a partir de 1,5 mil cartas escritas por crianças moradoras do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), e endereçadas às autoridades brasileiras para retratar as consequências da violência no conjunto de 16 favelas. “Essas crianças, toda vez que tem operação policial, elas não têm aula. Elas têm muitas aulas perdidas no ano letivo”, explica a professora, pesquisadora sobre literatura infantil e coautora da obra Ananda Luz. “Tem uma frase que foi parar no livro, de uma das crianças, que diz assim: ‘Como é que a gente vai fazer para realizar os sonhos se a gente perde tanta aula?’ E isso me toca muito, porque essas crianças sabem que a educação seria um caminho para melhorar de vida. E, ao mesmo tempo, a escola é cancelada com frequência por causa de tiroteios, por causa de operação policial”, conta a jornalista e coautora do livro Isabel Malzoni. Organizado em conjunto com a ONG Redes da Maré, a obra é composta por desenhos e cartas de crianças, que desde muito cedo, precisam lutar por seus direitos segundo as autoras. “Eu li todas, e elas têm esse desejo em comum, que é o desejo de ir à escola, uma particularidade muito forte. Porque essa escola, com frequência, é fechada por causa dos tiroteios, por causa das operações. Então esse desejo é um desejo que aparece para todos”, afirma Malzoni. “Quando a violência tira a escola dessas crianças, ela tira também a possibilidade de ela construir outros mundos. Criança que está com o uniforme da escola deveria estar blindada, deveria estar circulando segura pela cidade”, completa Luz. Crédito da imagem: Editora Caixote – divulgação
Estimular a interpretação dramática em voz alta facilita a compreensão dos alunos O texto teatral é uma forma de trabalhar a fluência leitora de estudantes nos anos iniciais do ensino fundamental. É o que acredita a doutora em educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora de projetos no Instituto Avisa Lá Renata Frauendorf. Para a educadora, a prática social originada a partir da leitura dramática tem características que motivam o desenvolvimento de competências para melhorar a compreensão e o sentido do que se lê. “A fluência leitora tem essa relação com a intencionalidade da leitura, e ela vai se construir na relação com o outro e tantos outros. Não é só a fluência oral, que é ler rápido e compreender, mas também a fluência semântica, que está nesse lugar da constituição dos sentidos”, analisa. Frauendorf ressalta que, para estudantes dos terceiro, quarto e quinto anos do ensino fundamental, a proposta não é encenar a peça, mas estimular a leitura dramática com o grupo. “O trabalho com o texto teatral coloca os estudantes nesse lugar de realizar a leitura em voz alta para os outros, que dependem dele para compreender aquela história que eles estão contando e que está organizada com o texto teatral”, explica. O texto teatral se organiza em cenas e diálogos. A educadora ressalta outra particularidade que torna ainda mais interessante a leitura em voz alta desse estilo de texto: as rubricas. “É uma informação que vem entre parênteses. E essa informação é determinante para você compreender a ação, o jeito daquele personagem, por exemplo, responder a uma pergunta. Então, a inferência e a antecipação são colocadas o tempo todo em jogo, porque se eu não considero o que está de informação entre parênteses, eu dificilmente vou compreender [o conteúdo] no contexto geral”, argumenta Frauendorf. A docente aponta ainda no podcast como a leitura dramática se torna uma prática inclusiva em sala de aula e traz dicas de textos teatrais para trabalhar em sala de aula com alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. Crédito da imagem: FatCamera – Getty Images
Professores indicam o game para trabalhar a prevenção da doença com os alunos Diante do crescente número de casos de dengue divulgados pelo Ministério da Saúde no início de 2024, o portal de jogos virtuais Ludo Educativo está relançando o game “Contra a Dengue 3 – No Mundo Digital” para contribuir com a conscientização sobre as medidas de combate à proliferação do mosquito Aedes aegypti. “Depois de jogar uma ou duas vezes, porque é um jogo interativo, a criança fica na cabeça dela que ela tem que combater o mosquito e sabe claramente os locais onde o mosquito cria e porque cria naqueles locais”, explica o diretor do Centro para o Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF/Fapesp) e professor titular do departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Elson Longo. A versão 3 do jogo da série “Contra a Dengue”, lançada em março de 2024, a destemida protagonista Sophia embarca no mundo digital, junto com seus irmãos mais velhos. Na aventura, estudantes aprendem a combater, além da dengue, o vírus Chikungunya e o vírus Zika, todos transmitidos pelo Aedes aegypti. Longo afirma que todos os jogos disponíveis no portal Ludo Educativo recebem orientação de equipe pedagógica. “Com a repetição, fica na cabeça da criança o tempo todo: ‘Como eu posso viver com esse mosquito?’. ‘Eu tenho que acabar com ele e acabar com os focos’. A criança joga e vai falar com o pai que sabe como eliminar o mosquito da dengue”. “Contra a Dengue 3” na sala de aula Para a bióloga e professora do Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran) Perla Loureiro de Almeida, o “Contra a Dengue 3” é de fácil entendimento para alunos dos primeiros anos do ensino fundamental. A docente indica fazer uma introdução sobre o que é a dengue antes de apresentar o jogo à turma. “Iniciando com o aluno do terceiro ano do ensino fundamental, o professor pode fazer questionamentos básicos, um trabalho primário de orientação sobre o mosquito, avaliar com os alunos se algum familiar já esteve doente? Então, os alunos vão promover esses relatos dentro da sala de aula”, explica. No podcast, a professora traz outros caminhos a serem trabalhados, como os conhecimentos sobre a dentificação do mosquito causador da doença e dos possíveis locais de proliferação do Aedes aegypti. Almeida também aponta como o jogo educativo é introduzido nesse aprendizado. “O jogo vai entrar como um feedback, porque se o aluno já obteve todas as informações, consegue trabalhar as suas habilidades referentes a essas informações: sobre todo o processo de dengue, forma de transmissão, forma de prevenção. O jogo é uma forma de o professor avaliar se o aluno realmente conseguiu obter essa informação, esses conceitos importantes para a sua formação”, conclui. Crédito da Imagem: tela de uma das fases do jogo "Contra a Dengue 3" – reprodução
A variedade de costumes é explicitada a partir das vivências das comunidades Em 2004, a partir do programa “Pontos de Cultura Indígena” foi criado o portal “Índios Online”. A proposta era reunir os saberes e a luta de alguns dos povos indígenas oriundos de Alagoas, Bahia e Pernambuco. “E eu fui convidado para fazer parte dessa rede de comunicação, onde a gente tinha um chat para conversar com as pessoas, e a gente publicava matérias escritas pra divulgar nossa cultura, nossa situação, falar um pouquinho dos povos indígenas do Brasil, como eles realmente são”, conta o produtor cultural, cineasta e comunicador Alexandre Pankararu. Ao perceber a importância de indígenas terem suas realidades retratadas em conteúdos desenvolvidos pelos próprios povos, Pankararu juntou-se à também produtora audiovisual Graci Guarani e, em 2014, criaram a Olhar da Alma Filmes, produtora de conteúdos originais de cineastas indígenas. “Isso é pela importância de nós escrevermos a nossa própria história e contar a de nossos antepassados, porque entendemos que um povo sem história não existe”, afirma o cineasta. Segundo Pankararu, é fundamental que a história e a cultura indígenas sejam mostradas pelos próprios povos originários.  “Eu percebi a importância de a gente contar a nossa realidade do nosso jeito para que ela seja transmitida por quem a vive. Isso nos possibilitou mostrar como nós vivemos de verdade, o que sofremos de verdade”, revela. Diversidade dos povos originários De acordo com os dados do Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, o Brasil conta com mais de 266 povos indígenas, em todo o território nacional. Apesar de cada povo ter suas especificidades, segundo Alexandre Pankararu, há um pensamento comum entre todos eles. “Sempre lutamos pela sobrevivência, direito à natureza, a importância da natureza para a nossa sobrevivência. Então nós temos essa preocupação, não só o povo Pankararu, mas todos os povos indígenas do Brasil. Vocês vão poder perceber que onde tem a maior quantidade de matas e recursos naturais preservados são em territórios indígenas, então, para isso continuar, precisamos garantir o nosso território”, conclui. Crédito da imagem: Olhar da Alma Filmes – divulgação
No livro, José Paulo Paes aborda com humor a morte, a família e suas experiências pessoais   Vinte textos em prosa poética e treze poemas, chamados de odes mínimas, compõem o livro “Prosas seguidas de Odes Mínimas”, lançado no início dos anos 1990 por José Paulo Paes. Novidade na lista da Unicamp em 2025, a obra traz uma visão crítica da vida, adquirida pelo poeta com a maturidade. “José Paulo Paes usa de poucas palavras para conseguir grandes efeitos poéticos. Então, embora os poemas sejam muito breves, em sua maioria eles exploram profundidades filosóficas, humor e ironia”, analisa o professor de literatura do Curso Anglo São Paulo Paulo Oliveira. A obra tem forte influência do Modernismo. “Tanto que um importante protagonista deste movimento, que foi Oswald de Andrade, é citado nominalmente em um poema “Prosa para Miramar”. Justamente porque Oswald de Andrade caracterizou sua obra pela brevidade, pela concisão”, analisa o professor do Anglo. Estilo epigramático Oliveira explica que o estilo oswaldiano inspirou Paes a adotar um estilo epigramático. “Epigrama é uma forma concisa de se expressar poeticamente. A origem desse tipo de texto remonta à Grécia antiga, às inscrições feitas em monumentos, medalhas ou túmulos. Por falta de espaço, as palavras tinham que ser muito breves. Pois bem, José Paulo Paes é um poeta epigramático. Ele se vale da concisão, da brevidade. Isso implica dizer que ele é avesso a todo o tipo de enfeite desnecessário, a um preciosismo vocabular”, explica. O professor ressalta que é importante o vestibulando estar atento à ironia do poeta, principalmente na segunda parte do livro, dedicada às “odes mínimas”. “Se eu falo ‘ode à minha perna esquerda’, seria um canto, um poema dedicado à minha perna esquerda, que implica certo louvor. Mas, na pena de José Paulo Paes [que precisou ser amputada] nem sempre esses poemas, essas odes, terão o caráter celebrativo de exaltação. Muitas vezes essas odes têm um caráter irônico ou mesmo crítico”, revela. De acordo com Oliveira, além da presença constante do humor, é preciso estar atento também às sutilezas da obra, outra característica de José Paulo Paes. Crédito da imagem: Hobo_018 – Getty Images
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