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Author: RFI Brasil

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Bate-papo com os correspondentes da RFI Brasil pelo mundo para analisar, com uma abordagem mais profunda, os principais assuntos da atualidade.
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O Natal ganhou novos números na Cisjordânia. Em Belém, cidade onde, segundo a tradição cristã, Jesus nasceu, o setor de turismo voltou a apresentar crescimento. Os peregrinos de todo o mundo começaram a retornar depois de dois anos de guerra do outro lado, na Faixa de Gaza.  Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel, A cidade de Belém voltou a receber milhares de turistas para as celebrações de Natal. Segundo o Escritório Central de Estatísticas Palestino (PCBS), a Cisjordânia – onde fica Belém – registrou um crescimento de 103% nas hospedagens em hotéis e também um aumento de 40% nos trabalhadores empregados no setor de turismo em comparação ao ano de 2024. Belém concentra 20% de todas as hospedagens da Cisjordânia. Apesar da guerra na Faixa de Gaza, a cidade permaneceu relativamente calma, segura e aberta ao turismo durante o ano de 2025. A Cisjordânia é dividida em três zonas: A, B e C. Belém fica na Zona A, ou seja, está sob controle integral da Autoridade Palestina (AP), o governo palestino reconhecido pela comunidade internacional. Cidadãos israelenses são impedidos de entrar na cidade. Do ponto de vista regional, no entanto, é muito comum que os turistas estrangeiros visitem Belém a partir de Jerusalém, em Israel, já que as cidades ficam a apenas cinco quilômetros de distância uma da outra. Outro dado relevante diz respeito ao número de cristãos na cidade. Na década de 1950, os cristãos correspondiam a 86% dos habitantes de Belém. Hoje, não passam de 10%. Visita de autoridade do Vaticano à Faixa de Gaza O patriarca Latino de Jerusalém, o cardeal Pierbattista Pizzaballa, visitou a Paróquia da Sagrada Família, a única igreja católica na Faixa de Gaza. Em julho deste ano, ela foi atingida por Israel, deixando três pessoas mortas.  Uma investigação do Exército de Israel concluiu que a paróquia foi atingida acidentalmente durante uma operação na região. Após a visita do cardeal à Faixa de Gaza no início desta semana, o Patriarcado Latino afirmou que a presença do religioso no território marcou o início das celebrações natalinas em “uma comunidade que viveu e continua a viver tempos sombrios e desafiadores”. Foi também a primeira visita do Patriarca Latino de Jerusalém ao território desde o cessar-fogo entre Israel e Hamas que entrou em vigor há dois meses e meio.  Segundo o cardeal, “a situação de fome ficou para trás. Mas poucos moradores de Gaza têm condições de comprar comida. E sem trabalho e renda, a maioria depende da ajuda humanitária que graças às agências internacionais, finalmente está a chegar".  Sobre isso, Israel afirma que entre 600 a 800 caminhões com ajuda humanitária entram na Faixa de Gaza todos os dias desde o início do cessar-fogo, num total de mais de 25 mil caminhões nesse período.  Autoridades israelenses presentes em evento do Patriarcado Latino Uma cerimônia especial de boas-vindas foi realizada na praça do Mosteiro de Mar Elias, ao sul de Jerusalém, em homenagem ao início das celebrações de Natal na cidade de Belém. Neste evento estiveram presentes representantes de alto escalão do Exército de Israel, da Polícia e do setor de Defesa. Segundo informação obtida pela RFI, a presença das autoridades foi uma homenagem ao cardeal, mas também uma demonstração de respeito à comunidade cristã e em especial católica em todo o mundo. Segundo esta fonte, "porque Israel considera que deve fazê-lo sempre e, de forma especial, neste momento de grande isolamento por parte do país".  "O cristianismo - e o catolicismo em particular - é profundamente importante em todo mundo, principalmente na Europa e na América Latina, e Israel reconhece isso", disse esta fonte. 
Leão XIV propôs um dia de trégua no mundo inteiro para este dia de Natal. Embora não tenha mencionado nenhum conflito em particular, o sumo pontífice se disse "entristecido" pela rejeição de seu pedido pela Rússia. As declarações foram feitas na saída do Castel Gandolfo, residência papal nos arredores de Roma, antes de se dirigir ao Vaticano onde, nesta quarta-feira (24), celebrará a primeira Missa do Galo como pontífice, dando início a uma série de eventos tradicionais da Igreja Católica.  Gina Marques, correspondente da RFI em Roma O papa trará algumas mudanças nas cerimônias de fim de ano. A primeira delas é em relação ao horário. Leão XIV escolheu celebrar a Missa do Galo às 22h pelo horário local, 18h em Brasília, algo que não acontecia desde o pontificado de Bento XVI. Em 2009, Bento XVI havia transferido a Missa do Galo da meia-noite para as 22h, e posteriormente para as 21h30. Esse horário foi mantido pelo papa Francisco até 2020, quando, em razão da crise sanitária da Covid-19 e das restrições de circulação impostas na Itália, a celebração passou a ocorrer às 19h. Após a pandemia, o início da missa no começo da noite foi preservado, também em função da idade avançada e dos problemas de saúde do sumo pontífice argentino, que faleceu em abril passado, aos 88 anos. Agora, com 70 anos recém-completados, Leão XIV decidiu marcar novamente a Missa do Galo para as 22h, restabelecendo um horário intermediário entre a tradição da meia-noite e as antecipações adotadas nos últimos pontificados. Outra novidade de Leão XIV é que o pontífice volta a presidir a missa do dia de Natal, em 25 de dezembro, às 10 horas em Roma, 6 da manhã em Brasília. Há três décadas um papa não conduzia esta cerimônia; a última vez foi João Paulo II em 1994.   Nestes últimos 30 anos, os chefes da Igreja Católica costumavam realizar apenas a bênção Urbi et Orbi ("à cidade [de Roma] e ao mundo, em latim). Trata-se de um ritual público que apenas o sumo pontífice pode ministar. Ela ocorre tradicionalmente na varanda central da Basílica de São Pedro, ao meio-dia pelo horário local (8h em Brasília) no Natal e na Páscoa, e em outras circunstâncias excepcionais, como após a eleição do Santo Padre. Na mensagem que acompanha a benção, o papa costuma abordar as principais crises da atualidade. Mensagem de Leão XIV para o Natal O papa Leão XIV sugeriu que fiéis convidem pessoas ou famílias em situação de vulnerabilidade para a ceia de Natal e evitem o consumo excessivo durante as festas. A recomendação foi feita em resposta a uma carta de um leitor divulgada recentemente na revista Piazza San Pietro, uma publicação gratuita distribuída na Praça de São Pedro. Segundo o Santo Padre, o Natal deve ser vivido com “sobriedade e caridade concreta”. Ele criticou as compras superficiais, e incentivou os fiéis a abrirem suas casas para acolher pessoas pobres ou que estejam sozinhas na noite de Natal. Outras celebrações de Fim de Ano No dia 31 de dezembro, às 17h, hora local, 13h em Brasília, o sumo pontífice presidirá a celebração das Primeiras Vésperas e recitará o Te Deum, agradecendo a Deus o ano que passou. Em 1º de janeiro de 2026, o papa vai celebrar a Missa do 59º Dia Mundial da Paz na Basílica Vaticana, às 10h em Roma, 6h em Brasília. Finalmente, para concluir o Jubileu da Esperança, proclamado pelo Papa Francisco, Leão XIV presidirá o rito de fechamento da Porta Santa da Basílica de São Pedro, em 6 de janeiro, dia da Epifania. Esta celebração ministrada por Leão XIV começará às 9h30 no Vaticano, 5h30 em Brasília. Vale lembrar que na Igreja Católica, o Jubileu, ou Ano Santo, é um período especial de perdão, reconciliação e renovação espiritual, celebrado ordinariamente a cada 25 anos, com raízes bíblicas. Ele convida os fiéis a uma conversão profunda, peregrinações e ao recebimento de indulgências plenárias. Este Jubileu dos Peregrinos da Esperança iniciou em 24 de dezembro do ano passado com a abertura da Porta Santa pelo papa Francisco. Essa será a segunda vez na história da Igreja Católica que um sumo pontífice abre um Jubileu e seu sucessor o encerra. O anterior ocorreu em 1700, quando o Ano Santo foi proclamado pelo Papa Inocêncio XII, mas devido à sua morte em 27 de setembro daquele ano, o período foi concluído por seu sucessor, o Papa Clemente XI. Mensagem do papa para Dia Mundial da Paz Na mensagem para o próximo Dia Mundial da Paz, publicada recentemente, o pontífice fez um apelo por um mundo sem guerras, condenou a lógica da dissuasão militar e nuclear e afirmou que as relações entre os povos não podem ser baseadas no medo e no domínio da força. Leão XIV ainda criticou duramente os interesses econômicos que, segundo ele, alimentam a corrida armamentista e estimulam o aumento dos gastos militares no mundo. O papa também alertou para o crescimento global das despesas militares, que chegaram a US$ 2,72 trilhões em 2024, e criticou a justificativa de líderes políticos de que o aumento dos investimentos em armas é necessário diante de ameaças constantes. Além disso, Leão XIV chamou atenção para os riscos do uso da inteligência artificial em conflitos armados e defendeu o fortalecimento das instituições multilaterais e da cultura da paz.
O movimento de passageiros entre Brasil e Portugal atingiu um novo recorde. Segundo dados da companhia aérea portuguesa TAP, mais de 2 milhões de pessoas viajaram na rota luso-brasileira ao longo de 2026, o maior número já registrado. O fluxo aumentou ainda mais neste período de festas, provocando longas filas na imigração dos aeroportos portugueses. Lizzie Nassar, correspondente da RFI em Lisboa O impacto do crescimento do tráfego aéreo se tornou ainda mais visível com a aproximação das festas de fim de ano, especialmente em Lisboa. Filas de até seis horas chegaram a ser registradas na imigração. O movimento é impulsionado pelo aumento de turistas e pelo retorno de brasileiros residentes na Europa para celebrar o Natal. Portugal se consolida como um dos destinos preferidos dos brasileiros para o fim de ano. Além da facilidade linguística, o país oferece um Natal marcado por tradições religiosas, culturais e familiares, em meio ao inverno rigoroso. Nos primeiros dias da estação, a neve já cobre regiões do norte, criando uma paisagem deslumbrante para visitantes vindos de áreas tropicais. Tradições natalinas regionais atraem visitantes De norte a sul, as cidades portuguesas se preparam para receber visitantes com programações variadas. No Norte, as festividades preservam costumes ancestrais. A Consoada, celebrada na noite de 24 de dezembro, reúne famílias em torno do tradicional bacalhau, seguida da Missa do Galo, ainda central em muitas comunidades. Lareiras acesas e doces típicos, como bolo-rei e rabanadas, completam o cenário. Em Braga, conhecida como cidade dos arcebispos, o espírito natalino toma conta das ruas desde o início de dezembro, com destaque para o Mercado de Natal da Avenida Central, concertos e iluminação especial. A visita à Catedral para as celebrações religiosas continua sendo uma tradição marcante. No Centro, o Natal assume um caráter mais intimista. Aldeias e vilas preservam costumes antigos, como presépios artesanais feitos à mão, transmitidos entre gerações. Óbidos se transforma na famosa Vila Natal, com mercados, concertos e atividades para famílias. Entre os destaques estão Piódão, chamada de “Aldeia Presépio”, e Penamacor, onde uma grande fogueira comunitária é acesa após a Missa do Galo. Em Bragança, o evento “Bragança Terra Natal e de Sonhos” reúne pista de gelo, mercado, presépio vivo e atrações familiares. Lisboa, Algarve e o Natal urbano Na região de Lisboa e Vale do Tejo, o Natal assume um perfil mais urbano, sem perder a tradição familiar. As ruas da Baixa e da Avenida da Liberdade recebem iluminação especial, enquanto o Mercado de Natal do Rossio e o Wonderland Lisboa, no Parque Eduardo VII, oferecem atrações culturais, pista de gelo e atividades para todas as idades. Em Sintra, a atmosfera natalina se mistura à imponência do Palácio Nacional, que abriga um mercado natalino. No Sul, a celebração é mais simples e descontraída. No Algarve, a mesa inclui, além do bacalhau, doces típicos como dom-rodrigo, figos recheados e filhoses. Em Faro, mercados natalinos, concertos e corais infantis animam o centro histórico, enquanto a visita aos presépios, especialmente o da Sé, mantém viva uma tradição que encanta visitantes brasileiros. Novas rotas e fortalecimento da ligação luso-brasileira Diante da demanda crescente, a TAP estuda abrir novas rotas com foco nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. O aumento do fluxo aéreo reflete não apenas o crescimento do turismo, mas também os vínculos familiares que atravessam o Atlântico.
O acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza obtido pelos Estados Unidos e países mediadores é frágil, mas se mantém. No entanto, ainda não avançou para a segunda fase, que prevê objetivos ambiciosos: um novo governo de transição em Gaza, o desarmamento do Hamas, a retirada das tropas israelenses e a entrada no terreno da chamada Força Internacional de Estabilização (ISF, em inglês). Para além dessas dificuldades, Israel e Irã retomaram a retórica de hostilidades entre si. Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel O enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, recebeu em Miami membros do alto escalão dos países mediadores para discutir a segunda fase do acordo na Faixa de Gaza. Conforme indicam fontes citadas pela imprensa israelense, os EUA e esses países mediadores (Catar, Egito e Turquia) acreditam que tanto Hamas quanto Israel querem a manutenção do status quo e, por isso, estão atrasando a implementação da segunda fase. Informações obtidas pela RFI apontam que o presidente norte-americano, Donald Trump, tinha a intenção de anunciar o início da segunda fase do acordo antes do Natal. Washington tem interesse em colocar em prática alguns dos pontos fundamentais do chamado Plano Trump já a partir do início de 2026: o chamado Conselho da Paz, uma entidade formada por nomes relevantes da política internacional e por palestinos não filiados ao Hamas; e a Força Internacional de Estabilização, que deve substituir o Exército de Israel na Faixa de Gaza. Leia tambémIsrael autoriza mais 19 colônias na Cisjordânia e continua ofensiva na Faixa de Gaza Em 29 de dezembro, Trump receberá o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para uma reunião cujo tema central deve ser o desarmamento do Hamas, outro item que compõe o plano do cessar-fogo e de estabilização de Gaza. Enquanto isso, dirigentes do Hamas têm repetido que não aceitam abrir mão das armas. Khaled Meshal, líder da organização no exterior, disse à rede de televisão Al-Jazeera que entregar as armas seria como "remover a alma" do grupo extremista. Ele também disse que estaria disposto a uma hudna, palavra em árabe para trégua - que poderia durar "cinco, sete ou dez anos". Não seria um reconhecimento da existência de Israel, nem um acordo de paz, mas uma pausa no conflito. Movimentações dos demais atores O chefe do serviço de Inteligência da Turquia, Ibrahim Kalin, e o chefe da equipe de negociações do Hamas, Khalil Al-Hayya, encontraram-se para discutir esse assunto em Istambul. Sobre isso, o Canal Público de Israel informa que as discussões estão suspensas até o encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no dia 29 de dezembro, na Flórida. Outra fonte citada de forma anônima pelo portal israelense Ynet informa que os EUA e os países mediadores pressionam o Estado hebreu a seguir adiante com a próxima fase do plano, apesar de os restos mortais de Ran Gvili, o último refém israelense, ainda não terem sido devolvidos. Outro item que compõe a segunda fase do plano para Gaza ainda permanece indefinido: o desarmamento do Hamas. Em relação a este ponto especificamente, autoridades israelenses consideram que o Hamas estaria planejando uma encenação que incluiria a entrega de armas obsoletas de forma a ganhar apoio na comunidade internacional. Na última sexta-feira (19), o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, reuniu-se com autoridades do Catar, Egito e Turquia em Miami para discutir o avanço para a segunda fase do acordo. Ao final do encontro, houve uma declaração conjunta de apoio ao estabelecimento a curto prazo do chamado Conselho de Paz para servir como entidade de governo de transição em Gaza. Hostilidade entre Irã e Israel continua ativa Na Praça Palestina, em Teerã, murais exibem ameaças em hebraico, persa e árabe contra a cidade de Nahariya, no norte de Israel, localizada a cerca de oito quilômetros da fronteira com o Líbano, deixando claro que a cidade deve se preparar “antes da próxima guerra”. Ameaças como essa não são incomuns no Irã, que muitas vezes faz uso de mensagens em hebraico para causar terror psicológico nos israelenses.  Mas o caso de Nahariya chama a atenção por se tratar de uma cidade pacata na costa norte de Israel e onde não há nenhuma base militar, nenhuma instituição de governo relevante.  A RFI conversou sobre isso com Beni Sabti, especialista em Irã e membro do Instituto de Estudos de Segurança Nacional (INSS) de Israel. Para ele, a escolha de Nahariya se deve a questões geográficas; pelo fato de ser uma cidade que fica no norte do território israelense, mas do lado oposto à fronteira com a Síria. Segundo Sabti, os iranianos não querem problemas com o novo regime sírio, o que também explicaria a escolha de Nahariya.  "O regime iraniano quer criar medo nas pessoas. Se eventualmente houvesse uma imagem dos moradores abandonando a cidade, isso já seria uma vitória para o Irã", diz. Mas ele não acredita que haveria um plano real de ataque ou qualquer ação concreta por parte de Teerã.  Mossad manda recado ao Irã Segundo o chefe do Mossad, David Barnea, o Irã não abandonou a ambição de destruir o Estado hebreu. Ele também afirma que Israel tem a responsabilidade de impedir que o programa nuclear iraniano seja ativado novamente. "Não permitimos, nem permitiremos, que um mau acordo se concretize. Um país que tem estampado em sua bandeira a destruição de Israel, que enganou o mundo ao desenvolver armas nucleares e enriquecer urânio a níveis que não têm outra explicação senão a realização de seu desejo por uma capacidade nuclear militar, é um país que avançará assim que puder". Ele também se referiu ao ataque terrorista contra a comunidade judaica em Sydney, na Austrália, no último dia 14, ao dizer que "Israel vai encontrar os terroristas iranianos e seus mandantes". Ou seja, ele atribui responsabilidade ao Irã pelo ataque. "A justiça será feita e será vista", disse.  Para além do programa nuclear, outro ponto que preocupa as autoridades israelenses é o programa iraniano de mísseis balísticos.  Em meio a todas essas declarações, o grupo de hackers Handala, ligado ao Irã, afirmou ter invadido o telefone celular do ex-primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett. Além disso, milhares de israelenses receberam mensagens em seus telefones com uma convocação para colaborar com o país. O texto orienta os interessados a entrar em contato com as embaixadas iranianas no exterior. O governo israelense disse que os cidadãos não devem responder e apenas precisam bloquear o contato e apagar a mensagem.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou nesta quinta-feira (18) a Lei de Autorização de Defesa Nacional (NDAA), que define o orçamento do Pentágono para o próximo ano. O texto autoriza um gasto recorde de 901 bilhões de dólares (o equivalente a R$ 4,5 trilhões), foi aprovado com ampla maioria no Congresso e estabelece prioridades estratégicas da política de defesa americana em um momento de alta tensão internacional. Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou nesta quinta-feira (18) a Lei de Autorização de Defesa Nacional (NDAA), que define o orçamento do Pentágono para o próximo ano. O texto autoriza um gasto recorde de US$ 901 bilhões (o equivalente a R$ 4,5 trilhões), foi aprovado com ampla maioria no Congresso e estabelece prioridades estratégicas da política de defesa americana em um momento de alta tensão internacional. A lei inclui um aumento salarial de quase 4% para militares, restrições a investimentos americanos na China e a liberação de recursos para a Ucrânia, às vésperas de uma nova rodada de negociações de paz que deve ocorrer em solo americano neste fim de semana. Apesar do discurso de Donald Trump de buscar um fim negociado para a guerra com a Rússia, o Congresso decidiu manter algum nível de apoio a Kiev. O texto reserva US$ 400 milhões (ou R$ 2 bilhões) para 2026 e outros US$ 400 milhões para 2027 dentro da chamada Iniciativa de Assistência à Segurança da Ucrânia, um programa que financia a produção de armas por empresas americanas destinadas às Forças Armadas ucranianas. Trata-se de um gesto político relevante para o governo de Volodymyr Zelensky, mas com impacto militar limitado. A guerra consome bilhões de dólares por ano, e o valor aprovado está longe de atender às necessidades do país. Diante disso, a Ucrânia segue pressionando aliados europeus por novas garantias financeiras. UE aprova € 90 bilhões para Ucrânia Horas antes da sanção do orçamento de defesa nos Estados Unidos, líderes da União Europeia viraram a noite negociando em Bruxelas um grande pacote de apoio à Ucrânia. Os líderes europeus alcançaram um acordo para desbloquear € 90 bilhões (R$ 583 bilhões) para ajudar a Ucrânia nos próximos dois anos, segundo o presidente do Conselho Europeu, António Costa. A soma será fornecida na forma de um empréstimo sem juros para Kiev, proveniente do orçamento do bloco.  A opção preferida pela Alemanha e a Comissão Europeia, a de recorrer aos ativos russos congelados na Europa, foi descartada após quatro horas de debates entre os dirigentes, a portas fechadas e sem telefones. Venezuela e América Latina Além da Ucrânia, a nova lei de defesa traz sinais claros sobre a política externa de Trump na América Latina, especialmente em relação à Venezuela. O texto inclui uma cláusula que pressiona o governo a prestar contas ao Congresso sobre as operações militares dos Estados Unidos no Caribe contra embarcações suspeitas de tráfico de drogas. Parte do orçamento de viagens do secretário de Defesa, Pete Hegseth, fica bloqueada até que ele apresente aos parlamentares imagens completas e as ordens oficiais que autorizaram essas operações, que vêm gerando desconforto entre republicanos e democratas. Desde setembro, forças americanas atacaram 26 embarcações consideradas ligadas ao narcotráfico, com pelo menos 99 mortos. Trump afirma que os Estados Unidos estão em “conflito armado” com cartéis de drogas e já declarou, mais de uma vez, que ataques em terra podem ser o próximo passo, associando diretamente o governo de Nicolás Maduro a essas organizações. No Congresso, cresce a pressão por explicações, especialmente após a revelação de que dois sobreviventes de um ataque naval foram mortos em uma ofensiva posterior. Ainda assim, a maioria republicana tem bloqueado tentativas democratas de exigir autorização formal do Legislativo para novas operações militares na região. Questionado por uma jornalista se pensava em solicitar a aprovação do Congresso para realizar ataques em terra na Venezuela, Trump disse nesta quinta-feira que não se sente obrigado a informar o Congresso, por temer algum tipo de vazamento por parte dos legisladores. "Eu não me importaria, mas [...] não preciso dizer a eles. Está comprovado, mas não me incomodaria em absoluto", afirmou. "Apenas espero que não vazem [informações]. Vocês sabem, as pessoas vazam. São políticos, e vazam como uma peneira", acrescentou o republicano. No caso da Venezuela, a estratégia de Trump tem sido descrita por fontes da própria administração como uma política de pressão gradual, como o bloqueio de navios petroleiros na costa do país, em vez de uma intervenção militar direta. O objetivo final, segundo essas fontes, segue sendo o mesmo: isolar e enfraquecer Nicolás Maduro até provocar sua queda, sem lançar, por ora, uma grande operação em território venezuelano. Tropas na Europa e OTAN A lei também impõe limites claros a qualquer retirada de tropas americanas da Europa. O Pentágono fica proibido de reduzir o número de militares no continente para menos de 76 mil por mais de 45 dias, sem antes consultar aliados da OTAN e justificar que a medida atende aos interesses de segurança nacional dos Estados Unidos. O texto ainda impede que os Estados Unidos abram mão do comando militar da aliança, um recado direto para conter eventuais tentativas de Trump de reduzir o envolvimento americano na OTAN. Negociações de paz Enquanto isso, as negociações para tentar encerrar a guerra entram em uma fase decisiva. Negociadores da Ucrânia já estão a caminho dos Estados Unidos para reuniões com a equipe americana, enquanto uma comitiva russa também deve se encontrar com representantes de Washington em Miami neste fim de semana. Zelensky admite que ainda não há uma proposta de paz alinhada e voltou a pedir mais apoio internacional, diante da pressão crescente do governo Trump para que a Ucrânia faça concessões. As conversas seguem abertas, mas, por enquanto, sem sinais claros de avanço imediato.
O ano de 2025 registrou nada menos que 2.000 sobrevoos de drones não identificados sobre o espaço aéreo da Alemanha, levando ao fechamento de aeroportos e a uma permanente tensão ao redor de bases militares do país. Em meio ao segredo da investigação da polícia federal alemã, um grupo de estudantes de jornalismo conseguiu traçar a conexão entre os drones, navios cargueiros de tripulação russa e a estatal de energia nuclear russa Rosatom. Gabriel Brust, correspondente da RFI em Düsseldorf A desconfiança é geral: de que têm origem russa os chamados enxames de drones que foram avistados ao longo de 2025 sobre a Alemanha. A polícia federal alemã trata com cautela o tema e divulga informações esparsas, que sugerem essa ligação com a Rússia. O que a investigação feita por um grupo de sete estudantes de jornalismo da Axel Springer Academy de Berlim traz, pela primeira vez, são indícios fortes de que os drones podem ser mesmo espiões russos. O grupo de alunos chegou a perseguir um navio suspeito pelo Mar do Norte usando o seu próprio drone. A apuração foi validada por respeitados veículos de jornalismo alemão, o jornal Zeit e a revista Bild, que publicaram a história na íntegra. Navios cargueiros suspeitos Tudo começou com o cruzamento de informações sobre as datas em que drones foram avistados sobrevoando bases militares alemãs e a movimentação de navios cargueiros com alguma ligação com a Rússia pelo Mar Báltico e pelo Mar do Norte, ambos ao norte da Alemanha. Somados a isso, veio o vazamento de relatórios da BKA, a polícia federal alemã. A apuração conseguiu estabelecer correlações temporais e geográficas entre os avistamentos de drones e as posições de três navios. Usando rastreamento por satélite, eles identificaram que os cargueiros Lauga, HAV Snapper e HAV Dolphin fizeram trajetos suspeitos, em zigue-zague, algo completamente atípico para cargueiros comerciais, que em geral navegam em linha reta. Estas movimentações anormais ocorreram justamente em maio deste ano, quando drones foram avistados na baía de Kiel, no norte da Alemanha, onde ficam bases navais e indústrias de defesa, como a ThyssenKrupp Marine Systems. Ligação com a estatal russa Rosatom Depois dos incidentes com drones, o navio Lauga seguiu para São Petersburgo, na Rússia, atracando no terminal da Petrolesport, uma empresa ligada à estatal russa de energia nuclear Rosatom. Antes disso, em 2024, ele havia permanecido por um período no porto sírio de Tartus, que era um importante ponto de apoio militar russo no Mediterrâneo. Já os navios HAV Snapper e HAV Dolphin têm histórico de permanecer longos períodos no Pregol, em Kaliningrado, na Rússia, estaleiro que mantém estreitas ligações com o Exército russo, inclusive com a Rosatom. O HAV Dolphin inclusive passou um mês ancorado em Kaliningrado pouco antes de se dirigir à Alemanha. Para completar, dois destes três navios foram inspecionados pela polícia federal alemã, que comprovou que toda a tripulação era russa, mas não encontrou drones. A própria polícia, no entanto, reconhece que a equipe era pequena e não tinha condições de procurar em todos os contêineres. Caça ao navio suspeito Durante a investigação, o grupo de estudantes de jornalismo descobriu que um dos navios suspeitos, o HAV Dolphin, estava naquele momento ancorado em um porto no norte da França. Eles foram até lá, mas o cargueiro já tinha partido. A partir daí, iniciou-se uma perseguição de 2.500 quilômetros, de porto em porto, pelas costas da França, da Holanda e da Bélgica. O navio suspeito de carregar drones russos continuava andando em zigue-zague, parecendo que ancorararia no próximo porto, mas de repente mudava sua rota, em um comportamento estranho e similar ao verificado na costa alemã. Por fim, ele ancorou em um banco de areia a 25 quilômetros da costa, bem em frente a uma base militar belga. Foi então que os estudantes de jornalismo usaram seu drone: saindo da costa, eles sobrevoaram o HAV Dolphin e fizeram imagens detalhadas do navio. Fontes de segurança da Alemanha depois confirmaram que a tripulação era composta 100% por homens de nacionalidade russa. Os detalhes dessa investigação estarão em um documentário que será lançado ainda este ano.
Nova lei, aprovada por unanimidade na Câmara dos Deputados em novembro, busca combater a violência de gênero no país ao prever a pena máxima prevista no Código Penal italiano.  Júlia Valente, correspondente da RFI em Milão Entrou em vigor nesta quarta-feira (17), na Itália, a lei que tipifica o feminicídio de forma autônoma no Código Penal e estabelece a prisão perpétua como pena máxima. O crime passa a ter um artigo próprio no Código Penal italiano, com uma legislação específica. A Itália não é o primeiro país a tipificar esse tipo de crime. O Brasil, por exemplo, o fez em 2015. A grande diferença na Itália está na pena definida: a prisão perpétua. Até então, a Justiça italiana tratava os assassinatos de mulheres como homicídio comum. Em alguns casos, a punição poderia ser mais branda. Um exemplo citado por especialistas é o de crimes cometidos por ex-namorados ou ex-maridos. Como não havia mais um vínculo atual com a vítima, a pena máxima era de 30 anos de prisão. Podiam ainda ser aplicados agravantes, como a premeditação, por exemplo. No entanto, ainda havia a possibilidade de condenações mais leves. Agora, com a nova lei, o feminicídio passa a ter como única punição prevista a prisão perpétua. O juiz Valerio De Gioia, consultor da Comissão de Inquérito sobre Feminicídio no Parlamento italiano, que participou diretamente dos debates sobre a nova legislação, destaca que o principal objetivo da mudança é evitar situações em que a punição acaba sendo menor do que a gravidade do ato. De Gioia, no entanto, não acredita que a nova lei vá provocar uma queda imediata no número de casos. Um dos motivos é que as estatísticas na Itália revelam que um em cada três autores desse tipo de crime acaba tirando a própria vida. Ainda assim, ele destaca que uma pena mais dura, como a prisão perpétua, envia uma mensagem clara de que a Justiça italiana será rígida e não tolerará o feminicídio. Homicídios recuam, feminicídios seguem altos Dados do Instituto Nacional de Estatística da Itália revelam que o número de homicídios tem registrado quedas no país desde a década de 1990, enquanto os feminicídios permanecem em patamares altos e constantes. No ano passado, 106 mulheres foram mortas em crimes desse tipo, o que representa um feminicídio a cada três dias. Em 2024, esses casos corresponderam a 32% do total de homicídios registrados no país. Em um recorte mais amplo, uma em cada três mulheres na Itália já sofreu violência física ou sexual. Por esse motivo, protestos contra a violência de gênero são frequentes no país e costumam contar com grande adesão. Muitos desses atos são organizados pela ONG “Nenhuma a Menos” e ganharam ainda mais força nos últimos anos, após casos emblemáticos que chocaram o país. Em 2023, a morte de Giulia Cecchettin, uma estudante de 22 anos, causou comoção nacional e levou milhares de pessoas às ruas em diversas cidades. Ela foi assassinada pelo ex-namorado, um jovem de 21 anos. Mesmo antes da nova lei, este foi um caso em que a Justiça conseguiu condenar o autor à prisão perpétua. Houve forte pressão popular para que a resposta judicial fosse rígida, e Giulia Cecchettin se tornou um símbolo da necessidade de promover mudanças concretas para a segurança das mulheres na Itália. Violência contra brasileiras Um balanço com base em dados de 2024, divulgado recentemente pelo Itamaraty, revela que a Itália é o terceiro país com maior número de registros de violência de gênero ou doméstica contra brasileiras. Foram 153 casos registrados. Em primeiro e segundo lugar nesta lista estão, respectivamente, Estados Unidos e Bolívia. Quanto aos feminicídios, em 2025 dois casos envolvendo brasileiras ganharam repercussão em toda a Itália. Sueli Barbosa, de 48 anos, morreu após pular da janela ao tentar escapar de um incêndio no apartamento em que morava, em Milão. O companheiro dela é acusado de ter ateado fogo no local e de tê-la trancado em casa. Em outubro, em um outro caso, Jessica Stapazzolo, de 33 anos, foi assassinada a facadas pelo ex-namorado, também brasileiro. O crime ocorreu no norte da Itália. Em ambos os casos, os suspeitos foram presos e respondem judicialmente. Porém, como os crimes foram cometidos antes da nova lei do feminicídio entrar em vigor, serão julgados de acordo com a legislação anterior.
Médicos residentes no Reino Unido anunciam uma greve em meio à pior temporada de gripe em décadas no país. A explosão de internações deixa o sistema público de saúde britânico (NHS) em alerta máximo. Quase 40 mil consultas, cirurgias e até tratamentos de câncer foram cancelados. Yula Rocha, correspondente da RFI em Londres O inverno no hemisfério norte marca o início da circulação de doenças respiratórias, mas, este ano, os casos de gripe começaram ainda no outono – quatro ou cinco semanas mais cedo – e já atingem o patamar normalmente visto em janeiro. Só na semana passada, as hospitalizações aumentaram 55%. A supergripe, como está sendo chamada no país, não é muito mais severa; no entanto, a cepa da influenza A mais comum em circulação, a H3N2, já passou por mutações, facilitando o contágio entre uma população que ainda não está imune. Essa variante, a K, também foi a causa da pior temporada de gripe na Austrália este ano. Muitos países da Europa continental, como a Alemanha, também enfrentam aumento no número de casos. Greve de médicos residentes aumenta pressão O governo do primeiro-ministro Kier Starmer tentou, mas não conseguiu impedir que os médicos residentes avançassem com uma paralisação de cinco dias a partir de quarta-feira (17). Eles representam quase metade da força de trabalho nos hospitais e consultórios do país; por isso, a greve terá um impacto imenso no sistema de saúde, justamente num momento de sobrecarga com casos de gripe em alta. Quem está à frente dessa crise é o secretário de Saúde, Wes Streeting, considerado um político em ascensão e possível substituto do atual primeiro-ministro caso haja mudança no comando do Partido Trabalhista. Ele classificou a decisão do sindicato dos residentes como irresponsável, perigosa e um abandono dos pacientes em um momento de grande demanda. Os residentes reivindicam melhores oportunidades para se tornarem especialistas, além de um aumento salarial de 26%. Esta já é a décima-quarta paralisação desde o início da disputa, em 2023. A vulnerabilidade do NHS se arrasta há muito tempo. Os hospitais enfrentam um déficit tremendo de profissionais, falta de recursos, burocracia e medidas imigratórias cada vez mais rigorosas, que limitam a contratação de estrangeiros. Prevenção e lições da Covid A notícia do aumento dos casos de gripe está em todos os jornais britânicos diariamente, mas poucas pessoas usam máscara nos metrôs e ônibus lotados. Do ponto de vista das políticas públicas, as orientações são conflitantes. O diretor do NHS, o sistema de saúde, foi taxativo: quem estiver com qualquer sintoma de gripe ou resfriado deve usar máscara em público. Já o primeiro-ministro apenas sinalizou que a população poderia considerar o uso. Algumas escolas reintroduziram medidas adotadas na Covid, reforçando aos alunos a importância de lavar as mãos. A faixa etária mais afetada é de cinco a 14 anos na Inglaterra, mas os casos mais graves ocorrem entre crianças pequenas e idosos. A vacina contra essa variante da gripe ainda previne os casos mais severos, mas apenas 40% das pessoas que têm direito à imunização gratuita foram vacinadas. Por outro lado, muitas farmácias estão sem estoque para quem está disposto a pagar por uma dose – sinal de que há procura. Os médicos alertam que o número de casos positivos e hospitalizações ainda não atingiu o pico, que normalmente ocorre após as festas de fim de ano e a volta às aulas em janeiro, quando todos já se misturaram em confraternizações em locais fechados por conta do frio. Além disso, há também os resfriados comuns e os casos de Covid, que têm sintomas parecidos e podem levar a complicações.
Bloco europeu encara votações decisivas que podem determinar a assinatura do tratado com o Mercosul ainda este ano. A semana será marcada por negociações internas, disputas políticas e preocupações sobre o impacto do acordo comercial nos setores agrícolas e na competitividade da União Europeia. Artur Capuani, correspondente da RFI em Bruxelas Depois de um quarto de século de negociações, o acordo entre a União Europeia e o Mercosul chega à sua semana mais decisiva. Os próximos dias podem determinar se o tratado será finalmente assinado ainda este ano ou se vai ganhar novos capítulos. Em Bruxelas, a movimentação é intensa e os próximos dias envolvem três etapas fundamentais: a votação das salvaguardas no Parlamento Europeu, a ratificação do Conselho Europeu e, por fim, a cúpula do Mercosul no Brasil. A primeira prova acontece nesta terça-feira (16), quando os eurodeputados votam o pacote de salvaguardas. Este é um conjunto de mecanismos de defesa criado para proteger setores sensíveis da economia europeia caso produtos do Mercosul causem algum desequilíbrio no mercado interno. Segundo apurou a RFI com funcionários da Comissão Europeia, cresce dentro da cúpula da União a preocupação de que, sem o acordo, a Argentina intensifique negociações e o Brasil aprofunde ainda mais sua aproximação comercial com outros parceiros, reduzindo a presença europeia na América do Sul. A avaliação interna é que o bloco arrisca perder espaço justamente no mercado sul-americano, considerado estratégico para a economia europeia. Essa mesma leitura aparece no relatório de competitividade elaborado por Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu e ex-primeiro-ministro italiano, que cobrou publicamente a ratificação do acordo em um discurso recente em Bruxelas. Regras  As salvaguardas que serão votadas nesta terça funcionam como um sistema de defesa rápida. Se aprovadas, permitirão que a Comissão Europeia investigue imediatamente qualquer aumento anormal nas importações vindas do Mercosul. Os eurodeputados do Comitê de Comércio Internacional endureceram o texto e reduziram o gatilho para abertura de investigação. Hoje, um crescimento acima de cinco por cento nas importações de um ano para o outro já pode desencadear o processo. Se a investigação comprovar prejuízo grave ou risco para os produtores europeus, a União Europeia pode suspender temporariamente as preferências tarifárias do item afetado. A proposta foi concebida como forma de dar segurança a governos que temem impactos sobre seus agricultores. Se essas proteções forem aprovadas, elas liberam o processo para a etapa seguinte: uma possível votação do acordo em si pelos chefes de Estado dos 27 países do bloco, já na quinta-feira (18), em Bruxelas. Conselho dividido A União Europeia continua profundamente dividida sobre o acordo. Alemanha, Espanha, Portugal e Suécia defendem sua conclusão e argumentam que o tratado reforça a competitividade europeia. França, Polônia, Irlanda e Hungria seguem reticentes, citando riscos para a agricultura e para o equilíbrio do mercado interno. A Bélgica anunciou que deve se abster, o que torna o papel da Itália particularmente decisivo. No Conselho Europeu, o tratado só avança se atingir a chamada maioria qualificada, que representa mais de 65% da população do bloco. Pequenas mudanças de posição podem alterar completamente o desfecho. A tensão também é política. Para vários governos, apoiar o acordo às vésperas de disputas eleitorais nacionais pode ter custo elevado entre agricultores e movimentos ambientalistas, o que deixa a decisão ainda mais sensível. A Espanha, por outro lado, intensificou nas últimas semanas sua mobilização para tentar levar o acordo à assinatura final. Nesta segunda-feira, o ministro espanhol da Economia, Carlos Cuerpo, defendeu a parceria em declaração à imprensa em Bruxelas. “É um acordo estratégico para a Europa. Eu sou otimista, como vocês já sabem. Esperamos que este acordo possa ser concluído antes do final do ano", disse.  Mesmo que tudo avance nesta semana, a assinatura em Foz do Iguaçu não coloca o acordo imediatamente em vigor. O texto completo ainda precisa passar pelo Parlamento Europeu, onde deve ser votado apenas em 2026. E mesmo que os mecanismos de proteção sejam aprovados agora, não há garantia de que o tratado receberá o apoio necessário na votação final. Muitos eurodeputados admitem votar pelas salvaguardas, mas mantêm oposição ao acordo. Se o pacto for finalmente ratificado, criará uma das maiores zonas de livre comércio do mundo, envolvendo cerca de 780 milhões de pessoas.
No próximo domingo (14), os chilenos devem tornar a extrema direita de José Antonio Kast a mais votada de toda a história do país. Paralelamente, a comunista Jeannette Jara pode ter a menor votação da esquerda desde a recuperação da democracia há 35 anos. Os chilenos querem alguém de fora do sistema tradicional de partidos e querem ‘linha-dura’ contra o crime e contra a imigração irregular, exatamente o perfil de Kast. Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires De um lado, a comunista Jeannette Jara representa uma coalizão de centro-esquerda progressista. Jara foi ministra do Trabalho do atual governo do presidente Gabriel Boric. Esses são justamente os seus dois pontos fracos: ser a candidata governista de um presidente com 30% de imagem positiva e ser comunista, uma característica alvo de resistência da maioria dos chilenos. Ao longo da campanha, Jeannette Jara teve muita dificuldade para classificar o regime de Nicolás Maduro na Venezuela como uma ditadura. Acabou admitindo essa condição para a Venezuela, mas, no caso de Cuba, disse que se trata de uma “democracia diferente”. Do outro lado, o ex-deputado de extrema direita, José Antonio Kast, na sua terceira tentativa de chegar à Presidência. Ao longo de 16 anos como legislador, não é conhecida nenhuma iniciativa de Kast, a não ser a sua oposição à pílula do dia seguinte e ao aborto até mesmo em caso de estupro. O ultracatólico, pai de nove filhos com a mesma esposa, contra os direitos reprodutivos da mulher, contra a igualdade de gênero e defensor do ex-ditador Augusto Pinochet, promete expulsar os imigrantes irregulares e fazer um governo de emergência. Kast é filho de um ex-afiliado do Partido Nazista de Adolf Hitler e foi sempre um defensor do ex-ditador chileno, Augusto Pinochet. Aliás, na sua primeira tentativa de ser presidente disse que, se Pinochet estivesse vivo, votaria nele. Esse tipo de perfil, que antes causava rejeição no eleitorado, está atualmente em sintonia com o que a maioria dos chilenos quer: linha-dura contra a criminalidade e contra os imigrantes irregulares, especialmente os venezuelanos, acusados de terem levado ao Chile o crime organizado. Antissistema Pode parecer um simples choque de posturas ideológicas extremas, mas, no fundo, os chilenos estão mostrando um repúdio ao sistema político tradicional. Há quatro anos, o atual presidente Gabriel Boric já tinha sido eleito com essa lógica de antissistema. Agora, os chilenos voltam a escolher aquele que não tenha sido governo, mas com um componente novo: a demanda popular por segurança. Esse é exatamente o perfil de José Antonio Kast; não o de Jeannette Jara. A candidata tem se mostrado mais comunicativa, tem apresentado mais propostas, tem adotado, inclusive, propostas de outros candidatos derrotados e tem alertado os chilenos sobre o risco que Kast representa em termos de perdas de direitos sociais adquiridos. A única preocupação de Kast tem sido a de não errar de maneira grave. O candidato se expôs pouco. Não deu entrevistas, nem mesmo coletivas, e até evitou um evento de encerramento da campanha em Santiago, optando apenas por um em Temuco, no Sul do Chile, onde a direita tem mais votos. Kast só promete que vai combater o crime e expulsar os imigrantes ilegais, cerca de 334 mil, na sua maioria venezuelanos. Faz, inclusive, uma contagem enigmática de quantos dias faltam até 11 de março, quando começaria o novo mandato. Essa contagem regressiva, diz Kast, é o tempo que falta para os imigrantes deixarem o Chile e para acabar o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela. Vitória histórica No primeiro turno, há um mês, Jeannette Jara ganhou com 26,8% dos votos, menos de três pontos à frente de Kast. A maioria da sociedade chilena votou em candidatos de direita que se alinharam no segundo turno. Jara obteve menos do que os 30% de aprovação do governo Boric e menos do que os 37,5% que obtiveram os candidatos governistas ao Congresso. No dia 30 de novembro, último dia permitido pela lei eleitoral chilena para a divulgação de sondagens, José Antonio Kast tinha quase 60% dos votos válidos, enquanto Jara passava um pouco dos 40%. No último mês, houve três debates presidenciais que teriam servido para Jara diminuir a distância com Kast, mas sem ameaçar a vitória da extrema direita. As três pesquisas divulgadas indicam entre 46% e 51% para Kast, entre 34% e 35% para Jara e entre 14% e 20% de votos nulos e brancos. Diante dessa distância aparentemente irreversível, o maior desafio da candidata comunista é o de tentar chegar o mais perto possível dos 45% dos votos válidos para ser uma oposição relevante. Já o papel de Kast é o de fazer uma eleição histórica para implementar um governo de emergência sem muita resistência. Governo de emergência A direita nunca teve tanto apoio do eleitorado. Em consequência, a esquerda nunca teve tão pouco. Nas eleições de 2017, o candidato da esquerda Alejandro Guillier obteve 45,4% dos votos válidos no segundo turno, até agora o nível mais baixo desde a recuperação da democracia há 35 anos. Por outro lado, Kast está perto de conseguir mais do que 57,2% dos votos da eleição de 1946, até hoje o melhor desempenho da direita na história eleitoral do Chile. Mas o número de votos nulos também pode ser histórico. Kast tem prometido um ajuste fiscal de seis bilhões de dólares sem conseguir explicar de onde vai cortar esse gasto. A conta só fecha se ele diminuir ou eliminar benefícios sociais, sobretudo porque o seu plano de governo prevê redução de impostos. O candidato tem prometido um “governo de emergência” sem explicar bem do que se trata. A tendência é a perda de liberdades em nome da segurança. Uma erosão democrática justificada pela urgência de combater o crime e de expulsar imigrantes. Uma acumulação de poder do Executivo em detrimento do legislativo e do Judiciário. O estado de emergência também permitiria uma maior ação das forças de segurança contra eventuais protestos sociais, críticos a um retrocesso em direitos adquiridos.
Portugal enfrenta nesta quinta-feira (11) uma greve geral histórica, a primeira em 12 anos convocada em conjunto pelas duas maiores centrais sindicais do país, CGTP e UGT. A paralisação é uma reação direta ao polêmico pacote trabalhista apresentado pelo governo de Luís Montenegro, que propõe mais de cem mudanças na legislação laboral. Lizzie Nassar, correspondente da RFI em Lisboa. Os efeitos da greve começaram ainda na noite de quarta-feira (10) e se intensificaram nas primeiras horas da manhã desta quinta. Os trens foram os primeiros a registrar problemas, com parte da circulação interrompida durante duas horas no período da manhã, com destaque para a região do Porto, onde quase metade das linhas foi suspensa. A CP, empresa responsável pela operação, funciona apenas com serviços mínimos até sexta-feira (12), e muitos passageiros enfrentaram atrasos de mais de meia hora. Para tentar contornar o caos, empresas e trabalhadores combinaram atrasos tolerados ou home office. Em Lisboa, o metrô não abriu as portas: permanece totalmente fechado desde as 6h da manhã e só volta a operar na madrugada de sexta. No Porto, apenas a linha amarela funciona; todas as outras estão interrompidas. Quem buscou alternativas também encontrou dificuldades. A Carris, empresa de ônibus de Lisboa, opera apenas com 12 carros, todos com intervalos bem maiores que o normal. Nas travessias fluviais pela Transtejo e Soflusa, apenas 25% das ligações são mantidas, e somente nos horários de pico. O setor aéreo é outro que sente o impacto: a TAP opera hoje com apenas um terço dos voos e a companhia angolana TAAG cancelou o voo diurno para Lisboa. Escolas fecham e hospitais enfrentam pressão Muitas escolas permanecem fechadas. Pais foram avisados previamente para se prepararem, mas a paralisação ainda assim gerou transtornos. A Fenprof, maior federação de professores, já previa uma adesão alta — e isso se confirmou. O setor da saúde, por sua vez, já vinha registrando sinais de colapso antes mesmo da greve. Os tempos de espera nas emergências, em média, ultrapassavam 10 horas, podendo chegar a 15 horas em alguns casos, muito acima da recomendação de uma hora para atendimento inicial. Nesta quarta, apenas os serviços mínimos estão garantidos: emergências, internações, quimioterapia, radioterapia e cuidados inadiáveis. Mas o sistema já estava sobrecarregado — falta pessoal, faltam recursos e a exaustão das equipes é evidente. Para profissionais e pacientes, o sentimento é de desgaste acumulado. O que está em jogo: o pacote trabalhista A proposta do governo traz mais de cem mudanças na lei do trabalho. Os pontos mais criticados são: - 150 horas extras obrigatórias por ano, podendo ser impostas unilateralmente pela empresa.- Contratos temporários mais longos, passando de dois para três anos; o que sindicatos consideram um estímulo à precarização.- Regras mais rígidas sobre horários de mães que amamentam, reduzindo o período de flexibilidade.- Novas limitações para pais com filhos até 12 anos pedirem horários adaptados. Os sindicatos dizem que as medidas representam perda de direitos históricos, atingindo principalmente mulheres, famílias monoparentais e trabalhadores mais vulneráveis. Já o governo afirma que o objetivo é “modernizar” o mercado de trabalho e aumentar a competitividade do país. Como a população reage Segundo pesquisas recentes, 61% dos portugueses apoiam a greve geral. Ainda assim, há muita irritação no dia a dia: a paralisação acontece em pleno dezembro, mês de intenso movimento nas cidades, e deixa milhares de pessoas sem opção de deslocamento. Leia tambémPortugal oferece treinamento a imigrantes em profissões com falta de mão de obra A proposta de revisão da legislação trabalhista, chamada “Trabalho XXI”, foi apresentada pelo governo em 24 de julho. Porém, à medida que o conteúdo da reforma foi sendo discutido na Concertação Social, CGTP e UGT passaram a denunciar o pacote como um ataque aos direitos dos trabalhadores. O acúmulo dessas tensões levou as duas centrais, que raramente atuam juntas, a convocarem a atual greve, a primeira conjunta desde 2013. Mesmo após apresentar uma nova versão com algumas concessões, o governo sinalizou que não pretende prolongar indefinidamente a negociação, e que, com ou sem acordo social, o texto seguirá para debate e votação na Assembleia da República nos próximos meses, após a conclusão do ciclo orçamentário.
Diante de uma crescente ameaça de conflito vinda do leste, o Parlamento alemão aprovou, na sexta-feira (5), o chamado Novo Serviço Militar, uma reforma que mantém o serviço voluntário, mas estipula regras mais rígidas e que – reconhece o próprio governo – pode levar à obrigatoriedade no futuro. A nova lei foi recebida com protestos de jovens em 90 cidades, e a Alemanha agora se pergunta: ninguém mais está disposto a defender o seu país? Gabriel Brust, correspondente da RFI em Düsseldorf Os protestos levaram cerca de 3.000 pessoas às ruas de Berlim. A partir de 2026, todos os homens, ao completarem 18 anos, deverão responder a um questionário e passar por avaliação médica. O objetivo do governo é aumentar o efetivo voluntário das Forças Armadas em 80.000 militares, chegando a 260.000. O serviço continua sendo opcional, mas se os números não forem atingidos, a lei deixa espaço para uma reintrodução da obrigatoriedade no futuro. “Não quero morrer em uma guerra” Diferentes pesquisas apontam para uma aprovação geral da população alemã à volta do serviço militar obrigatório (cerca de 70%), mas o cenário muda, é claro, quando a pesquisa é feita junto ao grupo mais afetado, os jovens a partir de 18 anos. Pesquisas mostram números discrepantes, com aprovação à obrigatoriedade variando entre 30% e 54%. Nos protestos da última semana, os cartazes iam do pacifismo até críticas ao governo e à própria Bundeswehr, as Forças Armadas alemãs. Alguns depoimentos colhidos pela revista Der Spiegel incluíram: "Não tenho nenhum desejo de morrer em uma guerra ou passar seis meses da minha vida em um quartel.” Houve também pautas alinhadas com a nova geração: “Toda hora se ouve falar de bullying, sexismo, racismo ou até mesmo redes de extrema direita na Bundeswehr. Acho isso abominável”, declarou um jovem de 17 anos da cidade de Münster. “Criamos uma geração mimada” A obrigatoriedade do serviço militar foi abolida na Alemanha em 2011 e, segundo especialistas, é inevitável que ela terá de ser reintroduzida se o país quiser se preparar para conflitos futuros. O psicólogo Rüdiger Maas, pesquisador especializado na chamada Geração Z (pessoas entre 15 e 30 anos), diz que os jovens que viveram este hiato de serviço militar opcional “nunca imaginaram que seriam submetidos a um serviço militar obrigatório”. “Eles cresceram em um mundo no qual nada era obrigatório para eles, exceto frequentar a escola. E de repente surge uma guerra à porta do país e esperam que eles defendam a nação com armas na mão”, disse Maas, em entrevista ao jornal Die Zeit, em outubro, quando do início do debate da nova legislação. Os estudos de seu instituto de pesquisas geracionais mostram que 81% dos jovens alemães não estão dispostos a morrer pelo país e 69% não defenderiam o país com armas. Esse número representa o dobro, por exemplo, dos jovens na Suíça. A explicação, para ele, seria justamente que no país vizinho o serviço obrigatório nunca foi suspenso: ”A consciência de que se deve defender militarmente o próprio país em caso de crise é muito mais forte entre os jovens suíços”. Maas vai mais longe em sua análise e vaticina: “Os jovens estão mimados. Mas quem os mimou? Nós, os mais velhos, temos grande responsabilidade nisso, com nossa superproteção”. Ele aponta outros exemplos anedóticos que apoiariam sua tese: o número de jovens que passam com a nota máxima no “ENEM alemão” disparou – o que denotaria uma menor exigência das escolas – e a decadência dos clubes esportivos, uma tradição alemã, em que jovens praticavam esportes de forma rígida, com horário marcado e frequência obrigatória. A nova geração está preferindo academias de ginástica flexíveis, em que eles fazem sua própria rotina. Jovens descontentes com o país Para outro pesquisador da juventude alemã, Simon Schnetzer, é preciso levar em consideração uma certa frustração da juventude atual: "Dizem que eles cresceram em um ambiente de prosperidade, mas também vemos que as coisas não estão indo bem no momento: problemas como as ferrovias, as políticas de previdência ou a inflação”, disse Schnetzer ao canal de TV público alemão ZDF. Para ele, esta seria uma geração duplamente penalizada: primeiro com a pandemia, que roubou um tempo precioso da juventude, e, agora, com uma exigência militar que pouco ou nada ouviu os jovens no processo legislativo. Influência da extrema direita Na última eleição parlamentar alemã, o partido de extrema direita AfD triplicou seus votos entre os jovens. Na votação da lei que instituiu o novo serviço militar, o partido retribuiu os votos e se posicionou francamente contra o projeto – que foi aprovado graças à maioria formada por CDU e SPD, a coalizão de centro-direita e centro-esquerda. Segundo Rüdiger Mass, a AfD alimenta um discurso pessimista entre os jovens sobre o país e seu papel nele. Isso seria uma particularidade alemã. “Enquanto Marine Le Pen continua exaltando a “Grande Nação” na França e Nigel Farage celebra a singularidade britânica, a AfD aqui diz que tudo está desmoronando e que não há nada de que se orgulhar. Que o Estado só faz algo pelos outros, pelos imigrantes, nunca pelos alemães. Esse discurso convence parte dos jovens, que então concluem: se tudo está ruim, por que devo defender meu país?”, explica o especialista. Na avaliação de Mass, não surpreende que a disposição para cumprir o serviço militar seja especialmente baixa entre os jovens simpatizantes da AfD.
Pacote migratório europeu avança após consenso entre ministros e provoca críticas de organizações de direitos humanos. O novo conjunto de medidas representa uma guinada na política de imigração e asilo no bloco, a maior dos últimos anos. O objetivo declarado é reduzir a entrada irregular de migrantes e melhorar a cooperação entre os Estados-membros. Artur Capuani, correspondente da RFI em Bruxelas As novas regras foram inicialmente propostas pela Comissão Europeia e avançaram após meses de negociações entre os 27 países da UE. Em Bruxelas, os ministros do Interior chegaram a um consenso, mas o acordo ainda precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu antes de entrar em vigor. O ponto mais emblemático do pacote é justamente a autorização para que migrantes irregulares sejam enviados a centros em países terceiros, algo sem precedentes em escala europeia. As medidas também endurecem punições para quem não cooperar com processos de retorno, incluindo a possibilidade de prisão. Outro elemento central é a criação de mecanismos que permitam a um país executar a decisão de deportação emitida por outro governo do bloco. Os ministros também aprovaram o chamado mecanismo de solidariedade para 2026, que busca apoiar os países que recebem maior volume de pedidos de asilo. Atualmente, um grupo de nove Estados-membros apoia o endurecimento das regras, entre eles Bélgica, Itália, Áustria, Polônia e Dinamarca. A Dinamarca ocupa a presidência rotativa do Conselho Europeu e desempenhou papel importante para acelerar o processo de adoção das normas. Os centros previstos fora da União Europeia poderão atuar como pontos de triagem ou como destino final para migrantes irregulares. Mas há forte resistência. A Anistia Internacional comparou as medidas à política migratória implementada pelo presidente Donald Trump nos Estados Unidos e classificou o sistema como cruel e inviável. Segundo a organização, transferir migrantes à força para países com os quais não têm qualquer vínculo pode violar o direito internacional. Críticas dos Estados Unidos Um outro tipo de crítica também veio dos Estados Unidos, que divulgou sua nova Estratégia de Segurança. Para a administração republicana de Trump, a política imigratória europeia é branda. O documento afirma que a Europa enfrenta declínio populacional e risco de um “apagamento civilizacional nos próximos 20 anos ou menos”. As declarações não foram bem recebidas em Bruxelas. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, rebateu as críticas e afirmou que a prioridade do continente deve ser adaptar suas alianças ao cenário geopolítico pós-Segunda Guerra. O governo alemão também rejeitou a avaliação feita pelos americanos. Fluxo migratório em queda Os números mais recentes mostram que a União Europeia registrou mais de 143 mil entradas irregulares até novembro de 2025. O total representa queda de 31% em relação ao ano anterior e de 48% em comparação com 2023. A redução é atribuída, em parte, às políticas mais rígidas adotadas internamente por alguns países. A Itália, por exemplo, já mantém um acordo com a Albânia para instalar centros de deportação. A Holanda também firmou uma parceria semelhante com Uganda. Mesmo com o recuo nos números, a pressão política, especialmente de governos de direita, aumenta para que o novo pacote migratório europeu seja implementado o mais rapidamente possível.
Esta sexta-feira (5) marca o início oficial da contagem regressiva para a Copa do Mundo da FIFA de 2026. O pontapé simbólico será dado na capital norte-americana, Washington D.C., em um evento com clima de espetáculo, que mistura esporte e entretenimento, mas que, no fundo, traz um tom político. A cerimônia de sorteio dos grupos acontece no prestigiado John F. Kennedy Center for the Performing Arts - com várias estrelas - e representa o primeiro grande momento público do torneio, que pela primeira vez reunirá 48 seleções. Mas não é ‘só’ isso, haverá também um prêmio pela paz, uma espécie de Prêmio Nobel dado pela Federação Internacional de Futebol. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles Esse sorteio vai definir quem joga contra quem na fase inicial e dá forma ao caminho de cada seleção rumo à taça. E o evento deste ano vai ser o maior da história, já que reunirá 48 seleções, divididas em 12 grupos de quatro equipes. Ao todo, serão 104 partidas; um aumento de 40 jogos em relação à Copa do Catar, realizada em 2022. O procedimento seguirá a lógica oficial: as seleções já classificadas (e os países-sede) serão divididas em potes, conforme ranking e regulamentos da FIFA. Depois, os nomes serão sorteados para definir quem vai a cada grupo. Apenas no sábado, a FIFA divulgará o calendário completo de sedes e horários dos 104 jogos. O sorteio não será um evento protocolar apenas: será uma superprodução de entretenimento, apostando em celebridades que misturam futebol, cultura pop e show business. Rio Ferdinand (ex-jogador inglês e ícone do futebol mundial) e a comentarista Samantha Johnson comandam a cerimônia. Já a supermodelo Heidi Klum e o comediante Kevin Hart serão os anfitriões do palco onde se apresentarão Andrea Bocelli, Robbie Williams e Village People, autores do hino "Y.M.C.A." que Trump adotou em sua campanha eleitoral. Também estarão presentes lendas de outros esportes como Tom Brady (futebol americano), Shaquille O'Neal (basquete), Wayne Gretzky (hóquei no gelo) e Aaron Judge (beisebol). Futebol e paz Mas, desta vez, o sorteio não será apenas sobre futebol. Pela primeira vez, a FIFA vai apresentar um novo prêmio durante a cerimônia: o “FIFA Peace Prize – Football Unites the World”. Esse é um prêmio criado pela FIFA para homenagear pessoas que atuam de forma extraordinária em prol da paz, que, segundo a Federação, promovem união, diálogo e harmonia pelo mundo. O primeiro vencedor será anunciado pelo presidente da FIFA, Gianni Infantino, durante o sorteio em Washington. Não foram divulgados ainda quem vota, critérios, processo de indicação. O que está sendo muito comentado nos Estados Unidos é a relação próxima de Trump e Infantino, que já se encontraram diversas vezes sempre com fotos sorridentes. Infantino parece ser um grande fã de Trump e foi um defensor declarado da candidatura do presidente norte-americano ao Prêmio Nobel da Paz, que acabou sendo concedido à líder da oposição venezuelana, María Corina Machado. Por isso há rumores de que Trump possa ser o primeiro vencedor do prêmio. Donald Trump tem capitalizado em cima da Copa, não só como um dos destaques do seu segundo mandato, mas como uma peça-chave das celebrações dos 250 anos da independência dos EUA, comemorada em 4 de julho do ano que vem, bem no meio da Copa do Mundo. Expectativas x imigração As expectativas para o sorteio em Washington estão altas, mas também tensas, principalmente pelo peso político que o evento ganhou nos Estados Unidos. O torneio, que deveria ser um momento puramente esportivo, acabou virando mais um palco para a administração reforçar sua retórica sobre controle de fronteiras, segurança nacional e projeção de força internacional. Trump apresenta o sorteio como uma vitória diplomática norte-americana e como símbolo da retomada do ‘prestígio global’ dos EUA, mesmo que às custas de conflitos geopolíticos gerados pela política de vistos. Esse evento é mais uma oportunidade que ele vai usar para defender que sua política externa é firme, coerente e capaz de “proteger o país”, com um discurso voltado ao público doméstico. A Copa de 2026 acontecerá em 16 cidades, sendo 11 nos Estados Unidos, duas canadenses e três mexicanas como sedes. O governo de Donald Trump é quem ficou responsável por coordenar a logística, segurança e, claro, os vistos necessários para receber torcedores estrangeiros. Tensão geral Organizações de direitos humanos (Human Rights Watch (HRW), Anistia Internacional e American Civil Liberties Union (ACLU) já denunciam que as políticas migratórias do governo podem gerar abusos contra torcedores, imigrantes e visitantes internacionais.Elas afirmam que há o risco de detenções arbitrárias, batidas do ICE (a polícia de imigração) em cidades-sede ou próximas, inclusive fora dos estádios, e uma atmosfera de medo entre comunidades de imigrantes. Essas organizações pedem à FIFA que exija comprometimentos concretos dos EUA para garantir segurança e direitos a todos os participantes e torcedores. Apesar de haver promessa de vistos facilitados para quem quiser assistir aos jogos, a entrada não é garantida apenas pela compra de ingressos, e a política migratória atual gera incerteza. O caso mais emblemático é o do Irã, que ameaçou boicotar o sorteio após a negação de visto ao presidente da federação iraniana. A decisão, considerada “alheia ao esporte”, evidencia as restrições que afetam cidadãos de 19 países e simboliza as tensões diplomáticas que podem impactar a Copa antes mesmo do início dos jogos que vão de 11 de junho a 19 de julho de 2026.
O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, realiza a primeira visita oficial de um chefe de Estado alemão ao Reino Unido em 27 anos. Embora o cargo seja, em grande parte, cerimonial, a viagem tem como objetivo reforçar os laços comerciais e estratégicos entre os dois países – relações que voltam a se estreitar após a saída dos britânicos da União Europeia. Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim Em seu segundo dia de visita de Estado ao Reino Unido, o presidente alemão discursa nesta quinta-feira (4) no Parlamento britânico – uma rara honra para um chefe de Estado estrangeiro. A última vez que isso ocorreu foi durante a visita do presidente francês Emmanuel Macron a Londres, no início deste ano. Já o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não teve permissão para discursar no Parlamento britânico durante sua visita, que ocorreu em setembro. Na quarta-feira (3), ao desembarcar em Londres, Frank-Walter Steinmeier chegou com sua esposa pelo Aeroporto de Heathrow, a oeste da capital britânica. O casal foi recebido pelo príncipe e pela princesa de Gales, William e Catherine. De lá, seguiram de carruagem até o Castelo de Windsor, onde foram recebidos pelo rei Charles III e pela rainha Camilla, dando início oficial à visita de Estado. À tarde, o presidente alemão reuniu-se com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, em seu gabinete em Downing Street, participou de um fórum com líderes empresariais e, mais tarde, tomou parte em um banquete de Estado em Windsor. Guerra da Ucrânia A guerra na Ucrânia e a cooperação mais estreita em defesa entre os dois países estão entre os temas centrais da visita. Esses assuntos também foram tratados no encontro de ontem entre o presidente alemão e o primeiro-ministro britânico. Após a reunião, o gabinete de Starmer informou que “os líderes concordaram sobre a importância de continuar trabalhando juntos para alcançar uma paz justa e duradoura para a Ucrânia”. Starmer também afirmou que as duas nações colaboram em questões de imigração, comércio e crescimento econômico, e que as relações estão se fortalecendo cada vez mais. Relação melhor desde o Brexit O presidente alemão concordou que os laços entre os dois países estão hoje em situação muito melhor do que nos anos difíceis após o plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia, em 2016. Ao discursar em Londres, Steinmeier afirmou que Berlim quer “colocar nossa parceria em uma nova base”. Steinmeier era ministro do Exterior quando ocorreu o referendo do Brexit e, na época, não poupou críticas, chamando de “irresponsáveis” os políticos que fizeram campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia. As relações entre Londres e o bloco melhoraram sob o governo do primeiro-ministro conservador Rishi Sunak, tendência que continuou com seu sucessor trabalhista de centro-esquerda, Keir Starmer. Tratado de amizade A ida de Steinmeier ao Reino Unido retribui a visita do rei Charles à Alemanha em 2023, primeiro país que ele escolheu após se tornar rei. A viagem ocorre pouco depois de Londres e Berlim assinarem acordos de cooperação importantes. A visita de três dias acontece menos de quatro meses depois de Reino Unido e Alemanha assinarem um tratado que promete aprofundar a cooperação em várias áreas, em meio às ameaças representadas pela agressão russa na Ucrânia, à turbulência desencadeada pelo governo de Donald Trump e aos desafios mais amplos à democracia no mundo. Em outubro de 2024, os dois países da Europa Ocidental que mais investem em armamentos já haviam assinado um pacto de defesa, seguido pelo primeiro “tratado de amizade”, firmado em julho passado. O chamado Tratado de Kensington aguarda agora aprovação do Parlamento alemão. Trata-se de um acordo histórico de cooperação bilateral, o primeiro do tipo entre os dois países desde a Segunda Guerra Mundial. Ele estabelece compromissos de defesa mútua, cooperação militar e combate à imigração ilegal, além de prever acordos em áreas econômicas, climáticas, tecnológicas e promover intercâmbios culturais e educacionais. Steinmeier encerra sua estadia nesta sexta-feira com uma visita à Catedral de Coventry, a 153 km a noroeste de Londres. Ele prestará homenagem às vítimas do bombardeio nazista que atingiu a cidade em novembro de 1940, matando pelo menos 568 pessoas e destruindo ou danificando mais da metade das casas. Foi o ataque mais intenso contra uma cidade britânica durante a Segunda Guerra Mundial.
A equipe de defesa jurídica de Benjamin Netanyahu considera que o pedido de indulto para que o processo contra o primeiro-ministro seja encerrado é uma decisão certeira, mesmo sem saber qual será a posição final do presidente Isaac Herzog sobre o assunto. A avaliação em Israel é que o presidente deverá levar semanas até anunciar a decisão. O fato é que este assunto passou a dominar o debate político no país já bastante polarizado entre as forças de apoio e oposição ao premiê.  Henry Galsky, correpondente da RFI em Israel Cabe ao presidente de Israel tomar a decisão de aceitar ou negar o pedido do chefe de governo. A imprensa israelense avalia que o processo deve levar semanas, e fontes próximas ao presidente consideram que pode haver uma negociação para encontrar uma saída. Aparentemente, Netanyahu sinalizou alguns caminhos no próprio pedido formal: “Conceder um indulto permitirá ao primeiro-ministro trabalhar para sanar a divisão do país e até mesmo lidar com questões adicionais, como o sistema jurídico e a mídia – questões que ele está atualmente impedido de abordar devido ao julgamento de seu caso”, escreveu o advogado de Netanyahu no documento de 111 páginas em que solicita o indulto. A chave para a compreensão do caso está em “lidar com questões adicionais, como o sistema jurídico e mídia”. A frase pode ser entendida como uma menção a duas das questões polêmicas recentes de Israel: o projeto de Reforma do Judiciário, o grande tema que mobilizava a sociedade antes dos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023; e o projeto de lei para a regulamentação da mídia. Ambos os temas são pautas polêmicas colocadas na agenda do dia em Israel pela coalizão de Netanyahu. O primeiro-ministro parece sugerir estar disposto a negociar os dois assuntos. Segundo uma fonte próxima a Isaac Herzog citada pela imprensa local, as exigências presidenciais em troca deste "perdão" não seriam modestas: entre as possibilidades, a exigência de que Netanyahu se retire da vida política, encerrando, portanto, sua longa carreira; a antecipação de eleições gerais; a interrupção do projeto de Reforma do Judiciário; e, por fim, a criação de uma comissão de Estado – não de governo – para investigar as falhas internas em Israel antes e durante os ataques do Hamas de 7 de outubro. Sociedade: sem anistia A sociedade já se organiza em protestos em frente à casa do presidente Isaac Herzog, em Tel Aviv, com cartazes que dizem "não haver possibilidade de concessão de anistia a quem destruiu o país". Em relação aos atores políticos, Naftali Bennet, ex-primeiro-ministro e um dos favoritos nas pesquisas para as eleições do ano que vem, disse ser favorável a um acordo.  “Nos últimos anos, Israel foi levado ao caos e à beira de uma guerra civil que ameaça a própria existência do país. Para sair do caos, apoiarei um acordo vinculativo que inclua uma aposentadoria respeitosa (de Netanyahu) da vida política, juntamente com a conclusão do julgamento. Dessa forma, poderemos deixar isso para trás e reconstruir o país juntos”. O atual líder da oposição Yair Lapid, que ocupou o cargo de primeiro-ministro por um período breve durante o chamado "governo da mudança" formado pela oposição em 2021, seguiu o mesmo caminho. Mas foi ainda mais duro com Netanyahu.  "Não se pode conceder indulto sem que ele admita culpa, uma expressão de remorso e um afastamento imediato da vida política", disse.  Vale lembrar que Netanyahu é julgado desde 2020 por acusações de suborno, fraude e quebra de confiança. Narrativa de extrema direita O primeiro-ministro tenta estabelecer uma narrativa de que o processo é um complô liderado pelo o que ele chama de "Estado profundo", uma referência a um termo que ganhou força nas redes sociais em todo o mundo e que é usado com frequência em especial por políticos da extrema direita.  Na versão local, não apenas o premiê, mas também membros de sua coalizão de governo buscam colocar a responsabilidade por esse suposto complô na imprensa (considerada de esquerda pelos ministros de governo) e na Suprema Corte israelense.  A estratégia do primeiro-ministro Segundo fontes citadas pelo Canal 12 de Israel, o círculo próximo a Netanyahu considera que a situação é positiva seja lá qual for o posicionamento do presidente de Israel, Isaac Herzog.  A avaliação é que, se Herzog conceder o indulto, a situação estará resolvida com o fim das acusações e do julgamento.  Já se Herzog pesar a mão numa eventual negociação com Netanyahu forçando-o, por exemplo, a confessar culpa, o plano é construir uma narrativa diferente: de que o presidente busca condenar o primeiro-ministro por um caminho fora dos meios judiciais. Se o presidente não conceder o indulto, essas fontes dizem que o plano é ir a público dizer que a "elite jurídica, inclusive Herzog, está mobilizada para condená-lo a todo custo". Por fim, fontes próximas de Netanyahu consideram ser impossível que ele seja atingido seja lá qual for a decisão do presidente de Israel.  EUA querem o fim de operações de Israel na Síria O governo dos Estados Unidos está preocupado com as ações israelenses na Síria, segundo fontes citadas pela imprensa local. O presidente Trump quer manter a estabilidade do governo do presidente sírio, Ahmed al-Sharaa, o que inclui também esforços para um acordo entre Israel e Síria. Por isso, segundo essas fontes, Washington teme a forma de atuação de Israel no país, como a operação terrestre conduzida na semana passada contra terroristas da Jamaa Islamiya que resultou também na morte de civis sírios. Três soldados de Israel foram feridos em estado grave ao serem alvejados por tiros a curta distância durante os confrontos. Dois altos funcionários norte-americanos disseram que o incidente prejudicou o progresso recente nas tentativas de levar Síria e Israel ao estabelecimento de um novo pacto de segurança. Os Estados Unidos têm a expectativa de que este venha a ser o primeiro passo para a Síria aderir aos Acordos de Abraão no futuro. “A Síria não quer problemas com Israel. Ela não é o Líbano. Mas Bibi vê fantasmas em todo lugar. Estamos tentando dizer que ele precisa parar porque, se isso continuar, será autodestrutivo: Netanyahu perderá uma enorme oportunidade diplomática e transformará o novo governo sírio em um inimigo de Israel”, disse um alto funcionário norte-americano. Autoridades dos EUA citadas de forma anônima disseram que foram surpreendidas pela operação e alegaram que Israel não informou previamente o governo Trump. Também disseram que Israel não notificou os sírios por meio dos canais de coordenação militar, como havia feito no passado, e não permitiu que as forças de segurança sírias lidassem com os suspeitos por conta própria. Já autoridades israelenses disseram exatamente o oposto: que os sírios foram comunicados por meio de canais de inteligência e que os terroristas do grupo Jamaa Islamiya planejavam ataques contra Israel.
As negociações de paz entre Ucrânia e Rússia atingem uma nova fase nesta terça-feira (2), com o enviado especial de Donald Trump, Steve Witkoff, se reunindo em Moscou com o presidente Vladimir Putin para discutir ajustes na proposta apresentada por Washington. Witkoff será acompanhado por Jared Kushner, conselheiro e genro do presidente americano. Artur Capuani, correspondente da RFI em Bruxelas O encontro acontece após duas rodadas de negociações entre Estados Unidos e Ucrânia na Flórida, nas quais os ucranianos buscaram revisar um plano inicialmente visto como favorável à Rússia. O documento previa limitações ao tamanho do Exército ucraniano e a perda de territórios ocupados, medidas consideradas inaceitáveis por Kiev. Nesse contexto pró-Moscou, a União Europeia se articula para não ser escanteada na discussão. Ontem, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, esteve em Paris, onde foi recebido pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Eles participaram de videoconferência com líderes de países como Reino Unido, Alemanha, Itália, Polônia e representantes da cúpula da União Europeia. Também conversaram por vídeo com o negociador ucraniano, Rustem Umerov, e Steve Witkoff. Em Bruxelas, os ministros da Defesa do bloco se reuniram para tentar chegar a um consenso sobre como seguir com o apoio financeiro a Kiev, incluindo a possibilidade de cooperação industrial militar e financiamento privado por meio do Banco Europeu de Investimento. A reunião em Moscou é determinante. Kiev se vê enfraquecida em meio a uma crise política, perdas no front de batalha e um duro inverno à vista, além da hesitação de Bruxelas em relação ao suporte financeiro. Agora é Moscou que terá de reagir às alterações discutidas na proposta de paz, o que deve definir o rumo das próximas semanas. A Casa Branca disse estar otimista quanto à possibilidade de um acordo para pôr fim à guerra, embora experiências anteriores mostrem que o caminho ainda é incerto.A situação interna da Ucrânia adiciona complexidade às negociações. O país enfrenta seu maior escândalo de corrupção desde o início da guerra, com a demissão do chefe de gabinete de Zelensky, que liderava a equipe de negociações, a demissão de dois ministros e a investigação de um ex-sócio do presidente. Ao mesmo tempo, a Rússia mantém a pressão militar com avanços territoriais e sucessivos ataques à infraestrutura energética, deixando milhares de ucranianos sem aquecimento. Situação confusa em Pokrovsk A Rússia reivindicou nesta segunda-feira (1º) a tomada de Pokrovsk, um importante centro logístico do leste da Ucrânia, e da localidade de Vovchansk, no nordeste. Pokrovsk é uma posição estratégica, já que está na encruzilhada de várias estradas e linhas férreas que levam aos últimos bastiões das tropas ucranianas no front oriental.Nesta terça, o exército ucraniano declarou, no entanto, que ainda controla a parte norte da cidade, apesar da declaração de vitória de Putin.  Europa avalia uso de ativos russos congelados Um dos temas mais sensíveis é o uso dos ativos russos congelados na Europa. Dos € 300 bilhões congelados, € 185 bilhões estão na Bélgica, sob custódia do Euroclear. A União Europeia debate a melhor forma de utilizar esses recursos sem ceder controle total aos Estados Unidos. A pesquisadora Jana Kobzova, do think tank Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), destaca a importância desse ponto: “A Europa pode influenciar de forma significativa o acordo de paz se agir rapidamente nesse tema. Merz e outros devem intermediar um acordo e superar as preocupações da Bélgica. Eles deveriam vincular essa ação a um escrutínio rigoroso das dimensões comerciais da proposta entre Estados Unidos e Rússia, insistindo que as sociedades europeias aceitariam o uso de ativos russos localizados na Europa para estabilizar a Ucrânia e/ou compensar os gastos europeus com a defesa do país.” Bruxelas ainda não decidiu a forma final de utilização desses ativos. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que houve avanços e que uma proposta concreta deve ser apresentada ainda nesta semana.
No Dia Mundial de Luta Contra a Aids, comemorado nesta segunda-feira (1º), mais do que celebrar a data, é hora de agir. O alerta está no novo relatório do Unaids, programa das Nações Unidas sobre HIV, elaborado especialmente para marcar a data. O documento demonstra preocupação com o cenário atual e revela que a resposta global ao HIV sofreu seu revés mais significativo após décadas de combate, resultado da redução do financiamento internacional e da falta de solidariedade global. Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suiça Esses dois fatores combinados causaram um choque nos países de baixa e média renda, onde há maior incidência de HIV, de acordo com o relatório “Eliminar as barreiras, transformar a resposta à Aids”, do Unaids, divulgado na terça-feira (25). Hoje, 40,8 milhões de pessoas vivem com HIV em todo o mundo e, só no ano passado, foram registradas mais de 1 milhão de novas infecções. Quase 10 milhões de pessoas ainda não têm acesso ao tratamento. Para a diretora-executiva do Unaids, Winnie Byanyima, “a crise de financiamento expôs a fragilidade do progresso que lutamos tanto para alcançar”. Byanyima afirma que “por trás de cada dado deste relatório estão pessoas, bebês e crianças que não tiveram acesso a exames de HIV ou diagnóstico precoce, mulheres jovens que não receberam apoio à prevenção e comunidades que, de repente, ficaram sem serviços e cuidados”, diz. “Não podemos abandoná-las. Precisamos superar essa interrupção e transformar a resposta à Aids”, pediu ela. Apelo às lideranças O Unaids faz um apelo às lideranças globais para que mantenham o financiamento internacional, reafirmem a solidariedade global, o multilateralismo e o compromisso coletivo de combater a Aids de forma conjunta. As reduções na assistência internacional este ano aprofundaram os déficits de financiamento que já existiam. A OCDE estima que a assistência externa à saúde deve cair entre 30% e 40% em 2025, em comparação com 2023, causando interrupções imediatas e ainda mais graves nos serviços de saúde em países de baixa e média renda. Segundo o Unaids, “o fracasso em atingir as metas globais pode resultar em 3,3 milhões de novas infecções por HIV entre 2025 e 2030”. Diretora pede “coragem política” Segundo a diretora-executiva do Unaids, “sabemos o que funciona — temos a ciência, as ferramentas biomédicas e as estratégias comprovadas. O que precisamos agora é de coragem política. Investir nas comunidades, na prevenção, na inovação e na proteção dos direitos humanos como caminho para acabar com a Aids”. O relatório mostra que os serviços de prevenção — que já estavam sob pressão — foram os mais afetados. Reduções significativas no acesso a medicamentos para prevenir o HIV, por exemplo, deixaram uma lacuna importante na proteção de milhões de pessoas. Também foram fechadas organizações lideradas pelas comunidades, que são essenciais por conseguirem alcançar as pessoas mais expostas ao HIV. Segundo o relatório, a crise de financiamento acontece em um contexto de fragilização do ambiente global dos direitos humanos, com consequências particularmente graves para as populações marginalizadas. De acordo com a diretora-executiva do programa da ONU, esse é o momento de escolher: “Podemos permitir que esses choques desfaçam décadas de conquistas duramente alcançadas ou podemos nos unir por uma visão compartilhada de acabar com a Aids. Milhões de vidas dependem das escolhas que fazemos hoje.”
O primeiro Atlas de Desertificação da Espanha, coordenado por especialistas da Universidade de Alicante (UA) e do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC), acaba de ser lançado no país. O estudo aponta que mais de 40% do território espanhol está ameaçado de degradação, que resulta de múltiplos fatores. Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em Madri O Atlas de Desertificação da Espanha, documento apresentado ao público na última quinta-feira (27), demonstra que 40,9% do território nacional têm mais de 50% de probabilidade de estar em processo de desertificação e 60,9% das zonas áridas estão expostas ao fenômeno. De modo geral, a área com mais de 50% de chances de estar sofrendo um processo de desertificação na Espanha ultrapassa 206 mil km². Segundo a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, “por desertificação entende-se a degradação da terra nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as atividades humanas”. A degradação, nesse caso, é entendida como a “perda de produtividade biológica, econômica e de biodiversidade”, como pontua o Atlas. O estudo destaca a importância de compreender corretamente o fenômeno, diferenciando-o da ideia de avanço do deserto e evitando confundi-lo automaticamente com outros processos, como a seca. Causas e consequências O clima é um dos elementos que mais contribuem para o processo de desertificação da Espanha. De fato, esse fenômeno ocorre em zonas áridas. E, segundo o registro mais recente, praticamente 67% do território espanhol é classificado como zona árida – incluindo as subdivisões: áreas subúmidas secas, semiáridas, estritamente áridas e hiperáridas. O Atlas recém-divulgado destaca que a aridez não equivale à desertificação e reforça que esta última só é desencadeada quando há ação humana inadequada e uso dos recursos naturais acima da capacidade de regeneração da própria natureza. Para exemplificar, a pesquisa menciona o nível de estresse hídrico vivido pela Espanha, considerado alto ou extremo em “extensas áreas” do país. Segundo o documento, em mais de 42% do território, o estresse hídrico é extremamente alto: consome-se mais de 80% da água doce disponível. A maior parte do consumo de água ocorre no setor agrário, seguido do urbano e do industrial. Outra causa apontada pelo Atlas para a desertificação é o abandono progressivo do campo, criando paisagens que são, entre outras coisas, mais vulneráveis a incêndios. E os incêndios, que muitas vezes atingem grandes proporções no território espanhol, transformam o solo e a vegetação, contribuindo para a degradação. Como consequências do processo de desertificação, o Atlas aponta a perda de fertilidade do solo, o retrocesso da vegetação natural, a diminuição de recursos hídricos e o abandono de usos tradicionais dos territórios. Respondendo perguntas em aberto O estudo foi motivado pela necessidade de cobrir um vazio que existia na comunidade científica. De acordo com o Atlas espanhol, em pleno século XXI, ainda não havia mapas confiáveis de desertificação. O texto diz que, para o Atlas Mundial da Desertificação (2018), os mapas previamente existentes “careciam de validade devido à sua subjetividade e falta de rigor”. A complexidade do assunto e as confusões conceituais que o tema pode causar dificultam a cartografia em questão. A pesquisa se propõe a superar as controvérsias ligadas a esse campo do conhecimento com base em três propostas. Primeiro, foram selecionados mais de 60 mapas relacionados a múltiplos aspectos que têm a ver com a desertificação. Depois, utilizou-se inteligência artificial para a criação de um mapa de probabilidade de degradação, citada como a proposta apresentada como sendo a parte “verdadeiramente inovadora” do trabalho científico. A IA “aprendeu” com base em evidências oficiais de degradação da Espanha, conectou tais evidências a uma série de indicadores e, a partir daí, criou um mapa de probabilidade de degradação. A terceira frente da pesquisa diz respeito ao estudo de 16 casos que são apresentados por mais de vinte especialistas relacionados a diferentes áreas conectadas à desertificação. Os casos “ilustram a diversidade de situações e interpretações em torno da desertificação e sublinham a necessidade de compreendê-la para aplicar medidas eficazes”. Aumento justificado As cifras de desertificação divulgadas no Atlas são significativamente mais altas que os números conhecidos pela ciência anteriormente. Enquanto o dado prévio indicava que cerca de 20% do território espanhol sofria com a desertificação, o atual estudo eleva essa marca a uma probabilidade de mais de 40%. E, ao considerar apenas as zonas áridas, o estudo indica que mais de 60% delas podem estar passando por esse processo. Os autores do Atlas abrem um parêntese para explicar essa diferença tão grande. Enquanto pesquisas anteriores estiveram focadas especialmente na degradação do solo, o Atlas considerou também os recursos hídricos. Isso faz com que, por exemplo, uma zona que aparenta estar em boas condições possa ser considerada degradada se ela cobre um corpo hídrico subterrâneo que está deteriorado. Ao incluir esse fator, os índices de degradação naturalmente aumentam. Mudança no modo de vida O Atlas atende a um dos principais desafios da Estratégia Nacional de Luta Contra a Desertificação: a elaboração de um mapa atualizado sobre o avanço do fenômeno na Espanha. Os autores defendem que o trabalho realizado – não apenas a criação desse mapa, mas todo o conjunto de informações reunidas pelo projeto – tenha impacto real. “Esperamos que este trabalho sirva de base para novas pesquisas, para a elaboração de políticas públicas mais bem informadas e para uma maior sensibilização social”, afirma o documento. Crítico ao atual modelo de desenvolvimento e à forma como os recursos naturais vêm sendo explorados, o texto do Atlas convoca uma mudança de paradigma. Nas conclusões, enfatiza que é necessário “primeiro, reconhecer que nosso modelo de vida contribui para a degradação; e, segundo, compensar esse dano por meio de mudanças profundas na produção e no consumo. Além da restauração ecológica, trata-se de um desafio ético e cultural, talvez maior do que o puramente tecnológico”.
Além da capital turca, o pontífice visitará outras duas cidades da Turquia e Beirute, capital do Líbano. Esta é a primeira viagem internacional depois que o americano Robert Francis Prevost foi eleito sucessor do papa Francisco. Os três principais objetivos são: enfatizar a unidade entre os cristãos, promover o diálogo entre religiões e fazer apelos à paz, perto de um Oriente Médio marcado por conflitos.  Gina Marques, correspondente da RFI na Itália A visita à Turquia estava programada para maio deste ano e seria realizada pelo papa Francisco para celebrar os 1700 anos do Primeiro Concílio de Niceia. Porém, com a morte do pontífice argentino, a viagem foi adiada para ser feita pelo sucessor, que também irá ao Líbano. No desembarque, o papa foi recepcionado pelo ministro da Cultura turco, Mehmet Nuri Ersoy. “Há muito tempo aguardo esta viagem por causa do que ela significa para os cristãos, mas também é uma bela mensagem para o mundo inteiro”, disse o papa aos 80 jornalistas que o acompanharam no avião de Roma para Ancara. Além de cerimônias na agenda do pontífice, constam encontros com autoridades civis, religiosas, conversas privadas com o presidente Recep Tayyip Erdoğan. Dentro das colunas do monumental palácio presidencial de Ancara, ele precisará agir com cautela ao levantar a questão sensível dos direitos humanos e das prisões em massa de opositores e vozes dissidentes na Turquia. Ele também abordará a questão do lugar reservado aos não muçulmanos, visto que os cristãos do país continuam a lutar contra a desigualdade e um sentimento de exclusão. Destaques religiosos da visita A Turquia e o Líbano são repúblicas laicas majoritariamente muçulmanas. Na Turquia, país de maioria sunita, os cristãos representam apenas 0,2% da população de 86 milhões de habitantes. Já no Líbano, país com cerca de 5 milhões de habitantes, há aproximadamente o mesmo número de muçulmanos sunitas e de muçulmanos xiitas, cerca de 63%. Os cristãos representam aproximadamente 30% da população libanesa, a maior porcentagem de cristãos no mundo árabe. Além destas principais religiões, o país é também conhecido pela grande variedade de fés professadas, com cerca de 18 confissões religiosas identificadas. Nesta sua primeira viagem internacional, Leão XIV também poderá afirmar sua visão de diálogo com o islã. No entanto, o tema predominante da visita será a unidade dos cristãos. Vale lembrar que foi o patriarca Bartolomeu I, primaz da Igreja Ortodoxa de Constantinopla, quem convidou o papa por ocasião do aniversário do Concílio de Niceia. Esta viagem tem uma forte relevância para Leão XIV. Vale lembrar que ele é agostiniano. Seu brasão e lema papal se baseiam na figura de Santo Agostinho. O lema em latim “In Illo uno unum” significa algo como “no único Cristo somos um”. Um lema que propõe a união entre os cristãos. Importância do Concílio de Niceia Para entender a importância do Concílio de Niceia para o cristianismo é preciso recordar o imperador romano Constantino I no quarto século. Este imperador reconheceu a religião cristã no ano 313 com o Edito de Milão, que pôs fim às perseguições aos cristãos concedendo-lhes direitos iguais aos de outras religiões no Império Romano. No entanto, havia uma controvérsia doutrinal que ameaçava interromper a paz no seu território. Para resolver as divisões teológicas dentro da Igreja, Constantino convocou, no ano 325, o primeiro concílio ecumênico, reunindo cerca de 318 bispos em Niceia, que hoje é a cidade de Isnik, na Turquia. O Concílio definiu a fé na qual se baseia o cristianismo e que todas as Igrejas cristãs professam: o Deus revelado por Jesus Cristo é um Deus único, mas não solitário: Pai, Filho e Espírito Santo são um único Deus, ou seja, a doutrina da Trindade. Portanto, este Concílio estabeleceu várias bases doutrinárias, incluindo o Credo de Niceia, uma declaração ainda utilizada. Na sexta-feira, às margens do lago de Iznik, Leão XIV se reunirá com líderes de várias Igrejas Ortodoxas e participará de uma oração ecumênica. Ainda não se sabe quais delegações das Igrejas Cristãs participarão do evento, especialmente se haverá um representante do Patriarcado de Moscou, a maior e mais poderosa comunidade da Igreja Ortodoxa, que, no entanto, está “em rota de colisão” com o Patriarcado de Constantinopla. A guerra na Ucrânia acelerou a ruptura entre os patriarcados de Moscou e de Constantinopla. O patriarca russo Cirilo, forte apoiador do presidente Vladimir Putin, não foi convidado para ir a Iznik. Enquanto os católicos reconhecem a autoridade universal do papa como chefe da Igreja, os ortodoxos se organizam em Igrejas autônomas. Atualmente, o mundo ortodoxo parece mais fragmentado do que nunca. Leia tambémMundo reage à nomeação de Robert Prevost como papa Leão XIV; imigração e guerras em pauta Seguindo a doutrina agostiniana, Leão XIV manifesta sua preocupação com a unidade dos cristãos, entre eles os ortodoxos. Ao mesmo tempo, ele tenta conciliar as divisões entre as correntes internas da Igreja Católica, fracionada entre reformadores e tradicionalistas. Viagem ao Líbano No Líbano, Leão XIV vai se encontrar com o presidente Joseph Aoun e irá destacar o apelo pela paz. O papa também visitará mesquitas e igrejas e rezará no Porto de Beirute, em homenagem às mais de 200 pessoas que morreram na explosão de 2020. Durante muito tempo, o Líbano foi considerado um modelo de convivência. No entanto, desde 2019 enfrenta uma grave crise que afeta todos os estratos da população: um empobrecimento generalizado, moeda extremamente desvalorizada e a guerra com Israel. É neste contexto que o país se prepara para a visita de Leão XIV. As autoridades realizam de estradas, agora decoradas com cartazes que exibem a imagem do pontífice e mensagens como “o Líbano quer a paz”. Porém, essa paz permanece distante: apesar de um cessar-fogo estabelecido com o movimento islamista Hezbollah, Israel continua a bombardear território libanês. A viagem do papa poderá, contudo, servir para evidenciar o trabalho de diversas organizações privadas — muitas delas de caráter religioso — que garantem à população serviços essenciais, como acesso à educação e à saúde.
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