Na Terra dos Cacos

<p>Como dizia Eduardo White, os países africanos são hoje cacos dos sonhos que partiram ontem. António Rodrigues e Elísio Macamo discutem, a cada duas semanas, como colá-los.</p>

“Hoje, já não acredito que a verdade vem sempre ao de cima”

João Paulo Borges Coelho tem novo livro, mais um voo rasante sobre a história de Moçambique, tendo como protagonista um moçambicano que sabia ler e escrever num tempo em que muitos dos brancos que iam da metrópole eram analfabetos. José Fernandes Jr., o personagem central de Narração Nocturna, editado pela Caminho, é encarregado pelos denominados Chefes Grandes de escrever a história da Chiúta, distrito na província de Tete. Sendo “Moçambique um país, como no resto de África, em que se nasce muito e se morre muito e muito cedo, a memória social ou colectiva é muito frágil”, o escritor moçambicano insiste em “remar contra a maré”, mas confessa que se “antes acreditava que a verdade acaba sempre por vir ao de cima: hoje já não acredito nisso”. E embora esteja em paz com a ideia de que “a evolução é uma espécie de entropia, perdem-se coisas para se ganhar novas coisas”, a ele cabe-lhe “esta luta” de “levantar coisas” que lhe parecem importantes e que acha “importante que sejam relembradas”. Antes da entrevista, na primeira parte, António Rodrigues e Elísio Macamo voltam ao tema da Guiné-Bissau, depois de na semana passada o Supremo Tribunal ter dado mais um golpe na estrutura carcomida da democracia, atacada por todos os lados pelos caprichos do Presidente Umaro Sissoco Embaló, cujo mandato terminou a 27 de Fevereiro, mas que se mantém no poder por sua livre e espontânea vontade. Desta vez, a maioria dos juízes recusou apreciar a candidatura da coligação PAI-Terra Ranka, que ganhou com maioria as eleições de Junho de 2023, porque a mesma teria sido entregue fora de prazo, apesar de na justificação o tribunal referir que o prazo acabava a 25 de Setembro e a candidatura entrara no dia 19. Também conversam sobre o anúncio da próxima cimeira África-França, que se realizará em Maio de 2026, pela primeira vez num país cuja língua oficial não é o francês. A cimeira tem por título Africa Forward, porque não só aponta para o futuro como está em inglês. Apesar de os franceses continuarem a olhar para si como herdeiros de um império que deixou a sua língua como língua oficial de cerca de 30 países, há muito que o francês deixou de ser língua franca, substituído pelo inglês. E até Paris o reconhece.See omnystudio.com/listener for privacy information.

10-01
53:52

O silêncio ensurdecedor de Portugal (e da CPLP) sobre o autoritarismo na Guiné-Bissau

A quase dois meses das eleições legislativas e presidenciais na Guiné-Bissau tudo são dúvidas e entre as poucas certezas está a de que Umaro Sissoco Embaló transformou o seu mandato na presidência num exercício de autoritarismo, de interpretação ad hoc da Constituição, inclusive dos limites temporais do seu mandato: deviam ter sido cinco anos, deviam ter terminado a 27 de Fevereiro, mas seguem e seguirão até ao próximo ano, garantindo ao Presidente da Guiné-Bissau um mandato de seis anos que ele próprio instituiu para si. Perante este cenário de deriva autoritária de Embaló, de instrumentalização dos poderes judiciais e legislativos, de perseguição a políticos opositores e activistas, sujeitos a violência física, acusações judiciais e repressão dos seus direitos, de silenciamento da imprensa independente (levando até ao encerramento das delegações da RTP, RDP e Agência Lusa e à expulsão dos seus jornalistas do país), estranha-se o silêncio de Portugal (e da CPLP, de que a Guiné-Bissau tem a presidência nesta altura), que tantos elogios teve para Embaló (Marcelo Rebelo de Sousa até lhe deu uma das mais importantes condecorações portuguesas). Além da situação guineense, neste episódio também conversamos sobre o Sudão do Sul e de como a detenção e as acusações contra o vice-presidente Riek Macharcolocam o país mais jovem do mundo à beira de uma nova guerra civil entre os apoiantes do Presidente Salva Kiir e os de Machar (que estiveram em guerra entre 2013 e 2018). Na segunda parte, o sociólogo João Feijó, investigador do Observatório do Meio Rural e arguto observador da realidade política moçambicana, conversa connosco sobre o diálogo intrapartidário em Moçambique, a inclusão ou não do recém-formado partido de Venâncio Mondlane nesse diálogo e os prós e contras dessa inclusão. Uma conversa em que se fala também da aproximação de Mondlane ao partido Chega em Portugal e a essa internacional de extrema-direita que tem Donald Trump como referência.See omnystudio.com/listener for privacy information.

09-17
48:21

João Lourenço foi “dolorosamente decepcionante”

Neste último episódio antes de uma pausa para férias — regressaremos apenas a 17 de Setembro — debatemos, na primeira parte, os acontecimentos da semana passada em Angola, inicialmente convocados por taxistas em reacção ao aumento dos preços dos combustíveis. O que começou como uma manifestação transformou-se rapidamente em tumultos, vandalismo, pilhagens e confrontos. O balanço final foi trágico: 30 mortos, 277 feridos e mais de 1200 detenções. A reacção do Presidente angolano, João Lourenço, chegou apenas na sexta-feira. No seu discurso, atribuiu a responsabilidade dos incidentes a “cidadãos irresponsáveis” — pessoas, segundo ele, ingénuas e influenciadas por maus conselhos, tanto internos quanto externos. Elísio Macamo classificou essa intervenção como “dolorosamente decepcionante”. Ainda na primeira parte, abordamos a longevidade dos líderes africanos, com destaque para Paul Biya, Presidente dos Camarões, que, aos 92 anos, anunciou a sua recandidatura nas eleições presidenciais marcadas para 12 de Outubro. Caso seja reeleito para o seu oitavo mandato consecutivo e o cumpra até ao fim, Biya terá 99 anos. Na segunda parte, discutimos a situação na província moçambicana de Cabo Delgado, onde os jihadistas do Al-Shabab, em guerra desde 2017 em nome de Alá, intensificaram os seus ataques nas últimas semanas. O nosso convidado é o jornalista moçambicano Estácio Valoi, reconhecido pelo seu trabalho de investigação e membro fundador do Centro de Jornalismo Investigativo. Colaborador regular da imprensa nacional e internacional, Valoi foca-se sobretudo em temas relacionados com o meio ambiente e a exploração de recursos naturais. See omnystudio.com/listener for privacy information.

08-06
51:16

Em vez de democratizar África, vamos africanizar a democracia

Carlos Lopes tem um novo e interessante livro, editado em Portugal pela Tinta da China, intitulado A Armadilha do Auto-Engano: Uma Visão Crítica das Relações Entre África e a Europa. Nesta obra, o antigo conselheiro político do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e alto-representante da União Africana para as relações com a Europa, reúne a sua vasta experiência para mostrar como é difícil desmontar os estigmas que condicionam a relação entre os dois continentes. É para falar desse livro que o actual professor da Nelson Mandela School of Public Governance da Universidade da Cidade do Cabo vem ao podcast Na Terra dos Cacos. Uma oportunidade para saber que armadilha é essa que contribui para o paternalismo europeu e para a desunião africana — e o que será necessário para que os africanos assumam a responsabilidade de definir, por si próprios, os termos dessa relação. Como refere o antigo secretário executivo da Comissão Económica para África da ONU, se calhar, em vez de democratizar África, deveríamos africanizar a democracia. Essa será a segunda parte do episódio. Na primeira, António Rodrigues e Elísio Macamo discutem a última cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizada em Bissau na sexta-feira, marcada pelas ausências dos chefes de Estado de Angola, Brasil e Portugal, bem como pelas declarações do Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, que classificou as manifestações pós-eleitorais no país como parte de uma conspiração internacional da extrema-direita para afastar os partidos históricos do poder. Sendo um sinal de algo a que já nos habituámos em países de partido único que ainda se mantém no poder, o discurso da conspiração internacional, não deixa de ser certo que há uma internacional da extrema-direita que recorre às mesmas tácticas para pressionar os partidos tradicionais e procurar derrubar por dentro as instituições democráticas.See omnystudio.com/listener for privacy information.

07-23
50:13

Cabo Verde: não é preciso o PAICV pedir desculpas, só reconhecer o mal que fez quando era partido único

Ulisses Correia e Silva, o primeiro-ministro de Cabo Verde, é o nosso entrevistado deste episódio do Na Terra dos Cacos. Conversa franca sobre os 50 anos da independência de Cabo Verde, o estado da democracia naquele arquipélago africano, bem como as marcas deixadas pela copiosa derrota do seu partido, o Movimento pela Democracia (MpD), nas eleições autárquicas de Dezembro, tendo em conta que 2026 é ano de legislativas no país. Ao contrário do que afirmou Celso Ribeiro, líder parlamentar do MpD, na sessão comemorativa do 50.º aniversário da independência de Cabo Verde na Assembleia Nacional, a 5 de Julho, o primeiro-ministro não acha fundamental que o PAICV peça desculpa pelo tempo da ditadura de partido único, nem que pague reparações pelos danos que causou, mas acha fundamental que se conte a história destes 50 anos sem escamotear esse período sombrio. A entrevista com Ulisses Correia e Silva chega depois de António Rodrigues e Elísio Macamo terem conversado na primeira parte sobre este meio século de independência também em Moçambique (25 de Junho), São Tomé e Príncipe (12 de Julho) e Angola (11 de Novembro). A abrir o episódio desta semana, no entanto, o tema são as lutas internas dentro do partido no poder em Angola. Depois de o general Higino Carneiro ter anunciado a sua intenção de se candidatar à liderança do MPLA, o Presidente João Lourenço, que está no segundo e último mandato que a Constituição lhe permite, começou a mexer os cordelinhos para garantir que continuará à frente do partido depois de abandonar a Cidade Alta e indicará o próximo candidato do MPLA à presidência. Esta terça-feira, o general lançou um vídeo de candidatura à liderança em que garante a sua pretensão de tornar “o MPLA mais plural, mais inclusivo” e “valorizar ainda mais o militante de base do MPLA” que “não pode continuar a ser negligenciado” e que deve ser “um agente activo na eleição dos seus representantes”. Referiu, também, que “a sucessão na continuidade” não pode ser uma “imposição administrativa” para “promover elementos descomprometidos com o MPLA”. Um discurso que poderia tomar-se como novo não tivesse sido Higino Carneiro uma das figuras proeminentes no tempo de José Eduardo dos Santos e não fosse esta mais uma etapa na luta entre eduardistas e lourencianos pelo controlo do partido que domina o poder em Angola desde a sua independência.See omnystudio.com/listener for privacy information.

07-09
48:00

O paralelismo entre Pepe Mujica e Nelson Mandela

O ex-Presidente do Uruguai José ‘Pepe’ Mujica morreu esta semana quase aos 90 anos, oportunidade para se olhar para o legado do político uruguaio, que se tornou uma referência da esquerda mundial e um exemplo de ética mundial, numa perspectiva africana. Personagem ambivalente, transformou-se de guerrilheiro urbano e defensor da luta armada em político democrático depois de 13 anos de prisão, em que foi torturado e quase enlouqueceu, num percurso de vida muito semelhante ao de Nelson Mandela. Mujica era defensor de uma “cultura do inconformismo”, porque “tudo, absolutamente tudo, pode ser feito de um modo um pouco melhor do que foi feito ontem”, será que os líderes africanos poderiam ganhar em adoptar essa mesma mentalidade? Elísio Macamo considera que sim, mas lembra que a “cultura da complacência é tão forte” que, mesmo que esse inconformismo conseguisse levar a melhor, corre-se sempre o risco de “uma recaída”. A seguir falaremos da estranha aproximação das juntas militares do Burkina Faso e do Níger aos talibãs do Afeganistão. Numa altura em que a violência jihadista no Sahel se agudiza, como se explica esta aproximação a um regime com ligações à Al-Qaeda que combate no Sahel? Na segunda parte, a nossa convidada é a realizadora Denise Fernandes, cuja primeira longa-metragem, Hanami, se estreou na semana passada em Portugal. Nascida em Lisboa, filha de pais cabo-verdianos, cresceu no cantão italiano da Suíça, estudou cinema no Conservatório Internacional de Ciências audiovisuais em Lugano e na célebre escola de cinema cubana de San Antonio de los Baños, fundada pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez. Hanami é um filme cabo-verdiano feito por uma realizadora da diáspora, com técnicos de vários países (belíssima direcção de fotografia da colombiana Alana Mejía González), filmado na paisagem de lava da ilha do Fogo, com um nome em japonês que significa chuva de pétalas de cerejeira e com uma protagonista que, numas ilhas africanas no meio do Atlântico de onde se parte, escolhe ficar.See omnystudio.com/listener for privacy information.

05-21
50:45

“África põe em prática a crueldade colonial”

Cinco cidadãos nigerianos, entre eles a activista e contadora de histórias Sherifat Abimbola Ogundairo, foram deportados de Cabo Verde depois de passarem três dias retidos na ilha do Sal, impedidos de entrar no país. O episódio suscitou inúmeras críticas, a indignação de muitos e levantou a questão: onde anda a integração africana quando países africanos fazem isto a outros cidadãos africanos? O tema desatou a indignação de muitos e chegou ao Parlamento cabo-verdiano, onde a deputada Gisele Lopes, do PAICV, se referiu aos “cidadãos africanos” que “estão a ser expulsos dos aeroportos da Praia e do Sal, em condições humilhantes, sem justificação clara, sem assistência e sem respeito pelos direitos humanos”. O nosso entrevistado é o académico cabo-verdiano Odair Varela e é dele a citação que dá título a este texto, “África põe em prática a crueldade colonial”, comentando este episódio que é mais comum do que se imagina. O diferente aqui é que os detidos eram artistas e activistas que puderam fazer valer a voz da sua indignação. Na primeira parte, Elísio Macamo tem muitas dificuldades em identificar pontos positivos sobre os 100 dias de Daniel Chapo como Presidente de Moçambique, mas admite que, pelo menos em termos de discurso, a diferença é grande entre Daniel Chapo e o seu antecessor, Filipe Nyusi. A seguir falaremos sobre Constituição, democracia e respeito pelas instituições ao abordarmos as declarações do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, general Biague Na Ntan, que a organização da sociedade civil Frente Popular classificou como “perigosas” e “irresponsáveis”. "Vou-vos dizer uma coisa: Não vou permitir ninguém nas ruas com armas nas mãos a perturbar. Essa pessoa tem de ser eliminada", disse o general Biague Na Ntan, citado pela Lusa. "Estamos cansados, não podemos permitir mais perturbadores com armas nas ruas do país. Não podemos permitir que esses perturbadores sejam capturados, detidos nas celas, depois saem cá fora e voltam a perturbar."See omnystudio.com/listener for privacy information.

05-07
50:10

Votar com a barriga vazia “sufoca a cidadania”, em Moçambique ou em Angola

O belo e o bom não estão apenas naquilo que agrada ao olhar e ao gosto individual, mas naquilo “que constrói a harmonia social”, porque “a estética africana está profundamente ligada ao viver em comunidade”. A ideia é defendida por José Castiano, professor da cátedra de Filosofia da Universidade Pedagógica de Maputo, convidado pela Culturgest, em Lisboa, para dar uma palestra sobre o seu conceito de inter-munthu, sobre o qual publicou um livro em 2023, chamado O Inter-munthu: Em Busca do Sujeito da Reconciliação. Na entrevista deste episódio de Na Terra dos Cacos, Castiano fala-nos sobre essa sua ideia para lidar com a reconciliação e o desarmar das mentes em sociedades pós-conflito como a moçambicana. Como é que o seu conceito pode ajudar o Moçambique de hoje, saído do conflito das eleições de Outubro a encontrar uma polícia de harmonia social. Como é que se constroem cidadãos quando a desigualdade impera? Como se vota, quando a barriga vazia “sufoca a cidadania”. Na primeira parte deste episódio, Elísio Macamo e António Rodrigues discutem como os países do Golfo se têm vindo a tornar paulatinamente em grandes investidores no continente africano e da nova proposta de lei do Governo angolano sobre fake news que está actualmente em discussão na Assembleia Nacional de Angola. Em Dezembro, de acordo o diário britânico The Guardian, os Emirados Árabes Unidos suplantaram a China como principal investidor estrangeiro em África. Este investimento, além de económico é também ideológico e político, visa assegurar peso geopolítico regional e acesso a recursos naturais, desde os minérios fundamentais para as energias renováveis aos produtos agrícolas. E estes interesses podem levar a guerras por procuração em África, como acontece no Sudão ou na República Democrática do Congo. Vários governos no mundo já criaram ou estão em vias de criar legislação para controlar a forma como as fake news têm fomentado visões distorcidas da realidade, alimentando teorias da conspiração e contribuindo para a degradação do debate público. Mas há quem se tenha sentido tentado em aproveitar para fazer passar legislação que permita controlar politicamente o espaço mediático em proveito próprio, diminuindo a capacidade dos partidos da oposição e das organizações da sociedade civil de desempenharem o seu papel de contrapeso aos governos. Parece ser esse o caso da proposta de lei que o Governo angolano enviou aos deputados e está actualmente em apreciação no Parlamento.See omnystudio.com/listener for privacy information.

04-23
45:45

Ondjaki fala da amizade entre um guerrilheiro e um cão

O livro de Ondjaki e António Jorge Gonçalves tem pouco de mitologia e simbologia políticas (apesar deste último desenhar caminhos, guerrilheiros, margens céus e um cão como se fossem signos de Tapiès, talismãs nostálgicos), mas não deixa de ser romântico e revolucionário na sua abordagem, ao nivelar uma personagem histórica da dimensão de Ernesto Che Guevara com um anónimo cão esfaimado nas margens de um lago africano. O escritor angolano é o convidado desta semana no espaço de entrevista do podcast Na Terra dos Cacos para falar do seu O Tempo do Cão, um livro editado pela Caminho, feito em parceria que implicou deixar de fora quatro quintos do conto que tinha escrito. Uma conversa sobre amizade, Angola, as memórias dos professores cubanos e uma afirmação política de Ondjaki a favor da Palestina e dos palestinianos. Antes, António Rodrigues e Elísio Macamo conversam sobre o apoio militar russo aos três países da Aliança dos Estados do Sahel, acertado na semana passada em Moscovo entre os quatro ministros dos Negócios Estrangeiros. Uma promessa de formação de cinco mil soldados para combater o jihadismo na zona central do Sahel. Curiosamente, enquanto Mali, Níger e Burkina Faso iam a Moscovo selar a aproximação de que todos vinham falando, o general Michael Langley, comandante do Comando Africano dos Estados Unidos (Africom) comparecia no comité das Forças Armadas do Senado norte-americano para apresentar os argumentos que impeçam a Administração de Donald Trump de acabar com o Africom numa altura em que Washington não se pode dar ao luxo, por questões de segurança e geopolíticas, de desviar o olhar de África.See omnystudio.com/listener for privacy information.

04-09
50:19

Petróleo colonial de Angola: interesses americanos e ditadura portuguesa

Neste episódio de Na Terra dos Cacos, António Rodrigues e Elísio Macamo falam de Angola por duas vezes, no princípio para discutir o fracasso da diplomacia angolana nas negociações de paz para o Leste da República Democrática, depois de Luanda ter anunciado na segunda-feira que deixava de ser mediador para o conflito, e na entrevista com o investigador Franco Tomassoni, a propósito do seu livro O Petróleo de Angola – Uma História Colonial (1881-1974), feito com base na sua tese de doutoramento sobre, como o próprio diz na primeira fase, “um território inexplorado nos estudos sobre o império português tardio". Mandatado pela União Africana em 2022 para mediador do conflito, o Presidente João Lourenço sentiu-se desrespeitado pelas partes e esta semana anunciou em comunicado que abdicava desse papel. A gota de água foi a cimeira entre os presidentes congolês, Félix Tshisekedi, e ruandês, Paul Kagame, na semana passada em Doha, no Qatar, no dia em que a mediação angolana tinha marcado um encontro em Luanda entre o Governo congolês e os rebeldes do M23 que acabou por não se realizar. A entrevista com Tomassoni, na segunda parte, volta a trazer-nos a questão da exploração do petróleo em Cabinda e faz a ponte com o nosso entrevistado do episódio anterior, o investigador José Marcos Mavungo, que ultima a sua tese de doutoramento sobre o petróleo no enclave angolano de onde é originário. Grande protagonista no livro do investigador italiano é a multinacional norte-americana Gulf Oil Company, a mesma para a qual Mavungo trabalhou toda a sua vida, antes de ser um preso político e de se exilar em Portugal com a família. O outro tema em discussão neste episódio do podcast do PÚBLICO sobre temas africanos vem a propósito de duas notícias recentes, ou antes, a propósito de uma notícia, a de que duas escolas secundárias de Moçambique vão passar a incluir nos currículos o ensino do mandarim, e de um estudo de Paul Nantulya, para o Africa Center of Strategic Studies, sobre a presença crescente da China nos portos do continente africano: empresas públicas chinesas construíram, financiaram e/ou operam 78 portos em 32 países africanos, o que equivale a um terço de todos os portos existentes em África.See omnystudio.com/listener for privacy information.

03-26
53:52

Cabinda, a guerra esquecida de Angola

Volta e meia às redacções dos media em língua portuguesa chega um comunicado da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (que já se chamou do Enclave de Cabinda) a dar conta de mais um ataque que resultou na morte de uns quantos soldados angolanos. Desta vez não foi diferente, na semana passada, a organização independentista cabinda anunciou que tinha atacado com armas pesadas posições das Forças Armadas de Angola na região de Belize, provocando a morte de 24 soldados e oito oficiais. O elevado número de mortos e o uso de armamento pesado mostra que o conflito latente no enclave, cujas reservas de petróleo garantem a grande parte das exportações angolanas, segue ao fim de quase 50 anos de independência, com pouca repercussão internacional, é certo, mas capaz de infligir baixas no exército angolano. É sobre o conflito e o desejo dos cabindas pela independência, pela autonomia ou, sobretudo, por poder usufruir dos recursos que são explorados na sua terra que falamos com o investigador e antigo preso político cabinda José Marcos Mavungo. Condenado em 2015 a seis anos de prisão por incitamento à insubordinação e violência contra o Estado angolano só por ter convocado uma manifestação que nem se chegou a realizar, foi libertado em 2016 depois de o Tribunal Supremo angolano ter ordenado a sua absolvição por não haver provas de que tivesse cometido o crime pelo qual o Tribunal de Cabinda o tinha condenado. Vive desde então em Portugal onde se tem dedicado à investigação, estando a finalizar a sua tese de doutoramento sobre Petróleo, Instituições e Desenvolvimento: o Caso de Cabinda no Iscte. Antes da entrevista, falaremos sobre o acordo de diálogo nacional inclusivo assinado por nove partidos políticos moçambicanos e o ataque da polícia à caravana do candidato presidencial Venâncio Mondlane, o segundo mais votado das eleições presidenciais de 9 de Outubro, mas que não participou no acordo intrapartidário patrocinado pelo Presidente Daniel Chapo. E também sobre as novas etapas na crise política na Guiné-Bissau e da deriva autoritária do Presidente Umaro Sissoco Embaló, cujo mandato terminou a 27 de Fevereiro, mas que continua em funções. Sissoco Embaló marcou as eleições apenas para 23 de Novembro, na mesma semana em que ordenou a expulsão de uma missão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que procura encontrar uma solução de diálogo para a crise política guineense.See omnystudio.com/listener for privacy information.

03-12
54:52

Líder do Podemos em Moçambique garante que não recebeu dinheiro da Frelimo

O entrevistado desta edição do podcast Na Terra dos Cacos é hoje o líder formal da oposição em Moçambique, depois de o Podemos, mercê do apoio ao candidato presidencial Venâncio Mondlane, se ter tornado no partido mais votado da oposição nas contestadas eleições de 9 de Outubro. Albino Forquilha defende-se das acusações de traição à luta do povo moçambicano, falando do diálogo intrapartidário que actualmente decorre com o Presidente Daniel Chapo, do seu convencimento de que a ruptura com Mondlane não irá acabar com o partido nas próximas eleições. Para ele, a votação no Podemos não se justifica apenas pela ligação ao candidato presidencial, dizendo que em 2019, mesmo tendo apenas seis meses de vida, o partido já ficara em quinto lugar. Antes da entrevista, os temas em cima da mesa, no diálogo entre António Rodrigues e o professor Elísio Macamo, são a questão do ensino das línguas nacionais nos países africanos de língua portuguesa, a propósito do Dia Internacional da Língua Materna, que se assinalou no dia 21; e o choque de Donald Trump com a África do Sul, assim que assumiu a presidência dos Estados Unidos, acusando o Governo de Cyril Ramaphosa de racismo em relação aos brancos.See omnystudio.com/listener for privacy information.

02-26
01:01:10

Em Cabo Verde, depois da derrota, mandam-se embora as mulheres do Governo

Depois da copiosa derrota do Movimento para a Democracia (MpD) nas eleições autárquicas de Dezembro, em que perdeu metade das autarquias que tinha, o primeiro-ministro Ulisses Correia da Silva fez uma remodelação governamental, para cerrar fileiras e tentar contrariar o ciclo político negativo para o seu partido: o único senão é que quase todas as pessoas que saíram do Governo foram mulheres. Dos seis que saíram do executivo, cinco são mulheres – o único ministro que deixa o cargo, Carlos Santos, sai porque é arguido num processo de branqueamento de capitais. Nem a democracia cabo-verdiana, tantas vezes dada como exemplo de sucesso em África, se livra de mostrar as costuras da sua fragilidade. Será que a derrota autárquica do MpD foi culpa das mulheres do Governo? Ou será que para lamber as feridas de perder metade das câmaras que governava e criar um discurso de vitória para as legislativas de 2026, o MpD só acredita em homens? Seja como for, a resposta do primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, fica muito aquém do desejável: de seis demitidos, cinco serem mulheres parece tudo menos “coincidência”. António Rodrigues e Elísio Macamo também conversam sobre o conflito no Leste da República Democrática do Congo, onde o grupo rebelde Movimento 23 de Março, ou simplesmente 23M, tomou a cidade de Goma, capital da província do Norte-Kivu, e avança em direcção a Bukavu, capital do Sul-Kivu, ameaçando com marchar até à capital, Kinshasa, para derrubar o Governo de Félix Tshisekedi. Além da possibilidade de se abrir aqui a Caixa de Pandora se o Ruanda conseguir levar à modificação das fronteiras para abarcar uma parte da República Democrática do Congo, com a desculpa de querer defender os tutsis congoleses, também se fala de possíveis sanções da União Europeia ao Governo de Paul Kagame e as repercussões que isso poderá ter em Cabo Delgado, onde milhares de soldados ruandeses lutam contra o jihadismo ao lado do exército moçambicano, numa missão militar financiada pela UE. Na segunda parte, o nosso entrevistado é o jornalista, poeta e político guineense Agnelo Regalla, líder da União para a Mudança, e porta-voz da Plataforma Aliança Inclusiva-Terra Ranka, a coligação que venceu com maioria as eleições legislativas de Junho de 2023 na Guiné-Bissau, mas que se viu impedida de governar ao fim de poucos meses pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló. Agnelo Regalla vem conversar sobre o mandato do Presidente da Guiné-Bissau que deveria acabar a 27 de Fevereiro, mas que Sissoco Embaló decidiu prolongar por iniciativa própria, recusando-se a marcar eleições para escolher o seu sucessor.See omnystudio.com/listener for privacy information.

02-12
48:12

Protestos em Moçambique criam tempestade para a oposição em Angola

No segundo episódio de 2025 de Na Terra dos Cacos, António Rodrigues e Elísio Macamo conversam sobre as ondas de choque em Angola provocadas pelos protestos pós-eleitorais em Moçambique. O movimento popular engendrado por Venâncio Mondlane, o impacto que teve no seu país e os efeitos conseguidos em termos internacionais fizeram muita gente em Angola pensar que, nas eleições de 2022, a UNITA e a Frente Patriótica Unida não fizeram tudo o que estava ao seu alcance para contestar o resultado das eleições. Se havia razões de queixa em relação a uma fraude eleitoral cometida pelo MPLA, parecida com a cometida pela Frelimo agora nas eleições de 9 de Outubro, por que razão Adalberto Costa Júnior e Abel Chivukuvuku não convocaram protestos em massa e desafiaram o poder instituído como Mondlane? Essa é a pergunta que, justificadamente, muitos fizeram em Angola e que pode trazer problemas à liderança da UNITA em ano de congresso electivo. Por outro lado, a decisão tomada por Donald Trump no seu regresso à Casa Branca de retirar os Estados Unidos da Organização Mundial de Saúde vai trazer consequências marcantes para muitos países que dependem dos projectos da OMS para as suas políticas de saúde pública, grande parte deles em África. Como diz Ngashi Ngongo, da direcção executiva dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças de África, “chegou a altura de alguns dos Estados-membros africanos da OMS repensarem o financiamento da saúde pública”. Na segunda parte, o entrevistado será o músico cabo-verdiano Alberto Koenig. Filho do músico e escritor Mário Lúcio Sousa e sobrinho e do cantor e compositor Princezito, nasceu em Cuba, mas cresceu em Cabo Verde com a música sempre presente, mas ainda foi estudar arquitectura para o Brasil antes de finalmente ceder à inspiração. Mudou-se agora para Portugal e é em Lisboa que pretende dar um novo rumo à sua carreira: o primeiro single desta etapa sairá em Março.See omnystudio.com/listener for privacy information.

01-29
58:20

O novo Presidente de Moçambique e a falta de dinheiro de Angola

Na segunda-feira tomou posse o Parlamento moçambicano com boicote da Renamo, do MDM e de quatro deputados do Podemos, o agora maior partido da oposição, e esta quarta-feira tomou posse o sucessor de Filipe Nyusi na presidência da República, Daniel Chapo. Dois actos que, teoricamente, deveriam pôr fim à situação de instabilidade no país, mas não é assim. Venâncio Mondlane, o principal candidato presidencial da oposição não se dá por vencido na busca pela sua “verdade eleitoral”. Assumiu-se como o Presidente realmente eleito pelo povo, recusa reconhecer Chapo como chefe de Estado e convocou três dias de protestos que culminaram esta quarta-feira. A seguir, falamos de Angola. O Governo de João Lourenço assumiu com os sindicatos, em Maio do ano passado, o compromisso de aumentar este ano os funcionários públicos em 25%. Chegou Janeiro e o executivo não cumpriu, alegando atraso nos trâmites no Parlamento e prometendo pagar em Março com retroactivos a Janeiro. Uma desculpa que esconde as cada vez maiores dificuldades de tesouraria do Governo angolano. Segundo um estudo da organização não-governamental Debt Justice, citado pela Lusa, Angola é o país do mundo que vai usar este ano a maior percentagem da sua receita fiscal para pagar os serviços da dívida. Em 2025, serão 66,4% para pagar juros, um aumento face aos 64,7% do ano passado. Na segunda parte, no nosso espaço de entrevista, vamos falar com o antigo ministro das Obras Públicas, Infra-Estruturas, Recursos Naturais e Ambiente de São Tomé e Príncipe, Osvaldo Viegas d’Abreu, sobre a actual crise política no seu país, que levou o Presidente Carlos Vila Nova a demitir o Governo, a não aceitar os nomes propostos pelo partido do agora ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada e a escolher para chefiar o novo Governo o governador do Banco Central e ex-ministro das Finanças, Américo Ramos.See omnystudio.com/listener for privacy information.

01-15
57:53

Entre o “caos” de Moçambique e as palavras sábias de Karyna Gomes

Com a decisão do Conselho Constitucional de Moçambique sobre as eleições aí à porta (próxima segunda-feira), a crise pós-eleitoral está em estado de espera. Venâncio Mondlane, candidato presidencial e cérebro das manifestações que desde o dia 24 de Outubro têm vindo a abalar o poder de quase meio século da Frelimo, já deixou o aviso sobre o que acontecerá a seguir: está nas mãos da mais alta instância judicial determinar se Moçambique “avança para a paz ou o caos”. Neste que é o último episódio do ano – o podcast Na Terra dos Cacos só regressa no dia 15 de Janeiro – também falaremos do estado do ensino superior nos países africanos de língua portuguesa (PALOP), partindo do ranking de universidades da África subsariana do jornal britânico Times Higher Education. A lista é liderada por três universidades sul-africanas e nenhuma de língua portuguesa está entre as 20 primeiras – a mais bem classificada é a Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique, no 23.º lugar. Na segunda parte conversaremos com a cantora, jornalista e activista guineense Karyna Gomes, que começou na sexta-feira uma série de concertos em Lisboa, no B’Leza, assentes no melhor do cancioneiro guineense (o próximo concerto é no dia 10 de Janeiro), ao mesmo tempo que prepara o seu terceiro álbum de originais. Karyna Gomes, que se formou em Jornalismo em São Paulo e trabalhou como jornalistas para vários meios em Bissau, incluindo a RTP, vive desde 2011 em Portugal, onde coordena o projecto de jornalismo crioulo no jornal online Mensagem, em parceria com o Lisboa Criola de Dino d’Santiago.See omnystudio.com/listener for privacy information.

12-18
59:50

Que futuro poderá ter a visita de Biden a Angola?

Neste episódio falamos de Angola por duas vezes e voltamos a discutir a (interminável) crise pós-eleitoral em Moçambique, onde os protestos voltaram e uma manifestante foi atropelada por um veículo blindado da Polícia da República de Moçambique, que acelerou propositadamente contra um palanque improvisado no meio de uma das avenidas de Maputo. Um incidente documentado em vídeo de todas as perspectivas possíveis e transmitido para o mundo inteiro, que levou a União Europeia a condenar “a utilização excessiva de força” por parte da polícia e a pedir o fim “da repressão violenta das manifestações”. Na primeira parte, além do fracasso da iniciativa de diálogo do Presidente Filipe Nyusi, devido à ausência de Venâncio Mondlane, António Rodrigues e Elísio Macamo tentam olhar para o impacto político e económico da visita histórica a Angola do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que nesta quarta-feira termina em Benguela, e a necessidade de que o Governo angolano saiba aproveitar a relação privilegiada para alicerçar um real desenvolvimento do país. Na segunda parte, vamos conversar com um angolano à margem de qualquer visita política de alto nível, para falar de livros e dessa louca e fascinante aventura de criar e manter uma editora livreira dedicada a Angola e a autores angolanos. Sedrick Carvalho, activista que foi um dos presos políticos do conhecido processo dos 15+2, em 2016, tem uma editora que assinalou este ano cinco anos de existência. Chama-se Elivulu e, neste quinquénio de existência, publicou 20 autores, sendo 19 deles angolanos e uma portuguesa, a jornalista Leonor Figueiredo, que cresceu em Angola e tem vários livros publicados sobre temas angolanos.See omnystudio.com/listener for privacy information.

12-04
01:03:22

Em Moçambique, a luta continua

Com os protestos pós-eleitorais galvanizados por Venâncio Mondlane a continuarem em Moçambique, bem como a violência da polícia na repressão dos manifestantes, voltamos esta semana a conversar sobre o tema, que se estende também ao entrevistado, o realizador Ico Costa, que estreia comercialmente em sala no dia 28 o seu último filme, O Ouro e o Mundo, rodado integralmente em Moçambique (Inhambane, Maputo e Manica), com autores moçambicanos. O realizador foi testemunha privilegiada dos acontecimentos eleitorais em Moçambique, tendo filmado a campanha e a primeira parte dos protestos para um documentário que vai agora começar a montar. Além da situação moçambicana, Elísio Macamo e António Rodrigues conversam sobre a crise política na Guiné-Bissau, alimentada, em grande medida, pela actuação do Presidente Umaro Sissoco Embaló. O chefe de Estado adiou as eleições legislativas que marcou contra a opinião dos principais partidos, que esta semana voltou a chamar para conversar sobre o agendamento do novo sufrágio. Esta é uma semana importante para o futuro próximo do país, também porque grande parte da oposição política e as principais organizações da sociedade civil convocaram para domingo, 24 de Novembro, dia em que se deveriam realizar as legislativas adiadas, um grande protesto contra a deriva autoritária do chefe de Estado. Subscreva o Na Terra dos Cacos na sua aplicação de podcasts — como a Apple Podcasts ou o Spotify — e não perca os novos episódios disponíveis quinzenalmente às quartas-feiras.See omnystudio.com/listener for privacy information.

11-20
01:03:33

“Mentalidade da Frelimo é incompatível com o sistema democrático”

Envolvido em percalços por questões de saúde, este episódio 27 do podcast Na Terra dos Cacos voltou a ter só um tema: Moçambique e os protestos que continuam contra a alegada fraude eleitoral levada a cabo pela Frelimo. Terminada esta quarta-feira a semana de paralisação do país convocada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, o país enfrenta esta quinta-feira um desafio ao poder instituído com a marcha dos apoiantes de Mondlane e do Podemos sobre Maputo. Os militares estão desde terça-feira nos seis pontos indicados para a concentração dos manifestantes, sinal de que o poder moçambicano não parece querer permitir que os manifestantes dêem um sinal da sua força, marchando pelas ruas da capital, mostrando os seus cartazes, soprando as suas vuvuzelas e reclamando um desfecho das eleições mais coerente com aquilo que pensam ser o desejo dos moçambicanos: a saída da Frelimo do poder ao fim de 49 anos. Ao professor Elísio Macamo não lhe parece que o que esteja a acontecer em Moçambique seja uma “revolução”, como se houve muito dizer, mas é um momento importante e definidor que os dirigentes da Frelimo poderiam aproveitar para mostrar que estão dispostos a levar a cabo mudanças em nome do futuro do país. O comentador habitual deste podcast é um dos intelectuais moçambicanos que assinam o “Manifesto cidadão: Fazer de Moçambique um país seguro para a cidadania” que, numa altura em que Moçambique se encontra “num momento crucial da sua evolução como Estado soberano e independente”, apela urgentemente “a reflectir seriamente” sobre o sistema político moçambicano para que “ele encoraje, facilite e proteja o exercício da cidadania”. Uma proposta sincera, mas que parece votada ao fracasso, como o próprio sociólogo admite, ao referir que a actual “mentalidade da Frelimo é incompatível com o sistema democrático”. Além de Moçambique, na segunda parte, no espaço habitual de entrevista, teremos a presença do historiador luso-angolano Alberto Oliveira Pinto, que esta quinta-feira lança em Lisboa a quarta edição da sua História de Angola: Da Pré-História ao Início do Século XXI, um livro publicado pela primeira vez em 2016 pelas Edições Afrontamento e que agora surge numa edição da Guerra & Paz.See omnystudio.com/listener for privacy information.

11-06
43:59

Frelimo por trás da vida e da morte em Moçambique

Pela primeira vez desde que começaram este podcast, há mais de um ano, Elísio Macamo e António Rodrigues dedicam toda a primeira parte deste episódio a falar de um tema: Moçambique. A fraude eleitoral e, sobretudo, o assassínio de dois membros destacados da campanha do candidato presidencial da oposição Venâncio Mondlane acabaram por impor a situação política moçambicana como assunto exclusivo em debate. O sociólogo moçambicano defende uma teoria sobre a morte de Elvino Dias e Paulo Guambe de que já tinha falado no artigo publicado no domingo no PÚBLICO, a de que os dois membros da campanha de Mondlane foram mortos por causa das lutas internas dentro da Frelimo, o partido no poder: um recado sangrento para o mais que provável novo Presidente, Daniel Chapo, sobre quem manda nas sombras e quer continuar a mandar. Na segunda parte, a entrevista é com Vítor Ramalho, figura do Partido Socialista, ex-deputado, que foi consultor da Casa Civil do então Presidente português Mário Soares, antigo secretário de Estado do Trabalho e antigo secretário de Estado adjunto do ministro da Economia, que esta semana põe um ponto final a 11 anos à frente da UCCLA – a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa. Vítor Ramalho é um homem atento às questões africanas, nomeadamente a Angola, onde nasceu em 1948 – foi um elemento importante nos Acordos de Bicesse entre o MPLA e a UNITA, chegou a presidir ao grupo parlamentar de Amizade Portugal-Angola quando estava na Assembleia da República e é um orgulhoso portador das raízes da Caála, a sua terra no planalto central angolano –, mas também à Guiné-Bissau e a Moçambique (aqui, juntamente com a antiga primeira-dama Maria Barroso, teve um papel nas negociações de paz entre a Frelimo e a Renamo).See omnystudio.com/listener for privacy information.

10-23
01:04:03

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