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Author: PÚBLICO

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De segunda a sexta às 7h. Antes de tudo: P24. O dia começa aqui
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Numa declaração aos jornalistas feita a quente, o presidente da Câmara de Lisboa disse uma coisa sobre a tragédia do elevador da Glória que qualquer cidadão compreende com facilidade: “É um acidente que não devia ter acontecido.” Nesta constatação, há bem mais do que um protesto normal contra a imprevisibilidade, contra aquele tipo de fenómenos, de efeitos ou de acontecimentos que a humanidade não consegue antecipar, prevenir ou evitar. Há igualmente a sensação de havia eventualmente alguma coisa que se devia ter feito e não se fez. Exactamente: este acidente, não devia ter acontecido. Mas aconteceu e as consequências são tão devastadoras em número de mortos e de feridos que, de imediato, engenheiros, políticos e jornalistas se empenharam em procurar respostas para se saber se, de facto, o desastre podia ter sido evitado. E de imediato todas as pistas apontaram para o mesmo caminho: para o da manutenção. Ou da falta dela. Não é normal que um cabo de aço grosso, que é composto por um interminável novelo de cabos de aço finos entrelaçados, tenha rebentado de um momento para o outro. Não é normal que a empresa que faz a manutenção do Elevador da Glória tenha verificado as suas condições de funcionamento na manhã da tragédia sem que tenha dado conta, ou sequer suspeitado, que alguma coisa não estava bem. Ainda vão demorar semanas, meses, até que um relatório técnico devidamente avalizado nos esclareça por completo sobre o que aconteceu. Mas, como estas coisas não devem acontecer, importa saber que rede de normas e procedimentos existe em Portugal para nos garantir a segurança de infraestruturas sensíveis. Caso do elevador da Glória. Entre empresas certificadas que tanto se dedicam a manter um elevador que entre a partida e a chegada acusa um desnível de 48 metros como um comboio da linha de Cascais e técnicos da Carris que durante anos sabiam das manhas do elevador, há escolha possível? Os intervalos de manutenção, que a Carris diz ter cumprido, foram feitos para o tráfego da Lisboa pacata de há uns 20 anos, ou foram actualizados para dar resposta à enorme carga do turismo dos últimos anos? Tanto como saber porque aconteceu o que não devia ter acontecido, importa saber se a manutenção e a fiscalização de equipamentos de transporte, de centrais cruciais ao abastecimento de energia ou água, as pontes ou as linhas férreas têm um enquadramento legal e técnico actualizado e eficiente. Para nos ajudar a encontrar respostas a estas perguntas, contamos com a presença neste episódio de Carlos Neves, Engenheiro Mecânico com vasta experiência profissional que preside ao colégio de mecânica da Ordem dos Engenheiros.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Os Estados Unidos alvejaram no Mar das Caraíbas uma embarcação da Venezuela que, supostamente, transportava drogas para território norte-americano, como acabamos de ouvir no som de abertura deste episódio. Donald Trump confirmou que o ataque matou 11 pessoas e que funciona como um aviso a quem pretenda introduzir aquele tipo de substâncias no país. Nos últimos tempos, os EUA têm aumentado a pressão sobre a Venezuela, ao deportar um número significativo de venezuelanos, com a alegação de pertencerem ao grupo criminoso Tren de Aragua, e ao acusar o presidente Nicolas Maduro de liderar um cartel de droga. Washington duplicou para 50 milhões de dólares a recompensa por informações que conduzam à detenção de Maduro. A Venezuela responde que o vídeo do ataque nas Caraíbas foi criado por inteligência artificial, afirma que os EUA estão interessados nosrecursos petrolíferos do país e mobilizou a marinha para qualquer eventualidade. Neste episódio, Francisco Pereira Coutinho, professor na Nova School of Law, acredita que a ameaça de Donald Trump sobre a Venezuela é “muito para consumo interno”.See omnystudio.com/listener for privacy information.
É uma prática recente, mas que é cada vez mais comum: externalizar a manutenção. Mas há riscos: na prática, a cada concurso público, a equipa que vem tratar da manutenção dos equipamentos pode ser completamente nova, sem haver passagem de conhecimento, como era habitual quando a manutenção era internalizada. O acidente que matou quinze pessoas no Elevador da Glória levanta uma série de alertas e é o ponto de partida para a conversa com o jornalista Carlos Cipriano.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Na última semana de Agosto, a PSP registou quase 300 casos de violência doméstica e deteve cinco suspeitos da prática do crime mais vulgar em Portugal. Para se ter uma melhor noção do que está em causa, é preciso dizer que o número de casos de violência doméstica representa o dobro das infracções registadas por falta de seguro de responsabilidade civil ou por falta de inspecção periódica de veículos, o triplo das ocorrências de condução sob influência de álcool e mais do que cinco vezes a quantidade de casos por falta de cinto de segurança. Nas últimas semanas, têm sido conhecidos vários casos de grande violência, que vitima, regra geral, as mulheres. Afinal, porque é que este crime é tão frequente em Portugal? Porque é que se trata de um crime cada vez mais praticado durante o namoro ou até contra os pais? É sobre isso que nos fala Cátia Pontedeira, criminóloga, que integra o Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), e professora da Universidade da Maia.See omnystudio.com/listener for privacy information.
A mais importante associação internacional de académicos na área dos estudos sobre genocídio aprovou uma resolução na qual considera que Israel está a cometer genocídio em Gaza. A aprovação foi conhecida no mesmo dia em que os EUA chumbaram uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que condenava o uso de fome como arma de guerra por parte de Israel. No mesmo dia em que Vladimir Putin agradeceu à Índia e à China os seus esforços pela paz na Ucrânia e em que o avião em que seguia Ursula Von der Leyen terá sido alvo de interferência russa na sua aterragem na Bulgária. Os últimos ataques russos a Kiev, que atingiram instalações da delegação da UE e do British Council, mereceram a condenação do bloco europeu e a acusação a Putin de não estar interessado na paz. Mas a UE não aplica os mesmos critérios quando se trata de Israel e da Palestina. “Porque é que há uma coligação de vontades para a Ucrânia e não há para Gaza?”, pergunta o convidado de hoje deste episódio. Manuel Serrano, especialista em assuntos europeus e política internacional, fala das divergências e do definhamento da diplomacia europeia. E comenta a coligação de vontades que pode nascer entre China, Rússia e Índia.See omnystudio.com/listener for privacy information.
O número de crianças com seis anos a frequentar o pré-escolar não pára de aumentar. Todos os anos, encarregados de educação de milhares de crianças, nascidas entre 16 de Setembro e 31 de Dezembro, têm de tomar uma decisão: passar para o primeiro ciclo ou ficar mais um ano no pré-escolar. São as chamadas “crianças condicionais”, cuja entrada está também dependente da existência de vagas. Mas se antigamente a norma era estas crianças entrarem com cinco anos no primeiro ano, a tendência está-se a inverter. No ano lectivo de 2013/14, cerca de seis mil crianças nesta faixa etária ficaram mais um ano no jardim-de-infância. Na altura, representavam apenas 6,14% das crianças com mais de cinco anos no pré-escolar. Dez anos depois, em 2023/24, o número quase triplicou: são agora 16.412 crianças e representam 17,62% das crianças entre os cinco e os seis anos. Mas afinal, o que mudou? Quais os riscos e benefícios de adiar a entrada no 1.º ciclo? E existe, de facto, uma idade ideal para começar a escola? Para reflectir sobre estas questões, neste episódio ouvimos Inês Ferraz, psicóloga e investigadora no Centro de Investigação em Estudos da Criança da Universidade do Minho.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Os regimes autoritários começam assim: prendendo pessoas sem olhar às suas garantias legais, apenas com base em suspeitas ou na cor da sua pele. A mensagem que acabámos de ouvir não foi pronunciada por um dirigente do partido democrata dos Estados Unidos, por um comentador da oposição, ou por um militante radical dos direitos civis. Foi dita num comunicado dramático do governador do Estado da Califórnia, Gavin Newsom, aos cidadãos que governa, a todos os americanos, a todos os cidadãos empenhados na causa da democracia. Aconteceu há cerca de dois meses, quando as forças especiais para combater a imigração ilegal receberam por ordem de Donald Trump o apoio do exército e dos fuzileiros para organizarem a perseguição e a detenção de imigrantes nas ruas. Sem fundamento ou um processo legal, sem qualquer proporcionalidade, sem o mínimo respeito pelo valor fundamental da democracia: a garantia da lei que protege os cidadãos contra os abusos do poder. Isto tem a ver consigo, tem a ver com todos, tem a ver com a democracia que está sob ataque nos Estados Unido, diz Newson. E está sob ataque, não apenas pelo que aconteceu na Califórnia. A interferência na independência dos tribunais, a pressão sobre advogados que defenderam causas contrárias ao interesse do presidente, o assalto à independência das universidades, a ingerência na independência da FED, o banco central dos Estados Unidos juntam-se, entre outros exemplos, num processo que está a corroer o exemplar equilíbrio entre os poderes. Os checks and balances, que tornaram a democracia americana vigorosa. Com Trump, a América está a mudar, ao ponto de, como sempre aconteceu com os ditadores, estar em curso um culto da personalidade que levou as forças armadas a desfilar no dia do seu aniversário. Chega o momento crucial em que a pergunta, perturbadora mas necessária, se impõe: os Estados Unidos ainda são uma democracia? Ou, no sentido da conhecida definição do jornalista Fereed Zacharia, ainda são uma democracia liberal? Como bem sabemos, as eleições são apenas uma parte instrumental da verdadeira democracia. Sem o equilíbrio entre os poderes judicial, legislativo e executivo, sem uma imprensa forte, sem garantias de defesa dos cidadãos perante a tentação de abuso de poderes, a eleição torna-se um expediente para legitimar autocratas de quatro em quatro anos. Como na Rússia. Teremos chegado já ao ponto de declarar que a democracia na América está moribunda? Para nos falar sobre esta questão essencial para o futuro da liberdade e do estado de direito, convidámos Francisco Assis. Eurodeputado eleito pelo PS, Assis é conhecido pelas suas reflexões sobre o estado da democracia em Portugal e no mundo.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Nos últimos dias, a guerra na Faixa de Gaza voltou a registar episódios de violência extrema. O hospital Nasser, o último grande hospital em funcionamento no sul de Gaza, foi alvo de um ataque israelita que matou civis, jornalistas e socorristas. À falta de acesso a cuidados de saúde, equipamentos e medicamentos, soma-se também a escassez de comida e água potável. Esta terça-feira, a organização Médicos Sem Fronteiras anunciou a suspensão da distribuição de água potável, depois de um tiroteio próximo de um dos seus pontos de fornecimento. Após meses de notícias sobre bloqueios na entrada de bens essenciais e ataques a civis em centros de distribuição de alimentos, a ONU declarou nos últimos dias oficialmente a existência de fome em Gaza - uma fome provocada pelo homem, que já afecta mais de meio milhão de pessoas. Apenas nas últimas 24 horas, foram reportadas dez mortes devido à fome. Mas o que significa, na prática, viver numa situação de fome extrema? E como se presta apoio de saúde mental num cenário em que o mais básico nunca está garantido? Estas são algumas das questões abordadas pelo psicólogo Raul Manarte, que regressou há duas semanas de Gaza. O português já tinha estado no terreno no final do ano passado e voltou recentemente para uma missão de 18 dias, durante a qual foi responsável pelas actividades de saúde mental da Médicos Sem Fronteiras.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Estávamos na primeira metade de 2018 e acabara de nascer o Movimento pelo Interior. A ideia não era nova: há décadas que Portugal se olha ao espelho e vê reflectido um corpo disforme, obeso em Lisboa, gordo no Porto, nutrido na faixa do Litoral de Setúbal a Viana ou no Algarve e raquítico e famélico em todo o espaço do interior. Dessa vez, porém, havia razões para acreditar que algo poderia mudar. O movimento reunia autarcas de vários partidos, académicos como Fontaínhas Fernandes ou figuras prestigiadas da vida pública como Miguel Cadilhe ou Silva Peneda. O Presidente Marcelo apoiava-o, a qualificação dos seus membros tinha criado um programa mobilizador e, nas palavras de Silva Peneda, radical. Em que resultou essa ambição e esse projecto destinado a reequilibrar o país e criar um modelo de sociedade e de economia mais justo, coeso, moderno e competitivo? A resposta pode encontrar-se no rasto de destruição das últimas semanas nas florestas portugueses. E pode confirmar-se nos resultados do concurso de acesso ao ensino superior deste ano. Quase todas as universidades e politécnicos do país perderam alunos. Mas foi no interior que essa perda mais se notou. Em alguns casos, ficaram por ocupar 40% das vagas disponíveis. Os estudantes são molas cruciais para a economia de cidades como Bragança, Vila Real ou Covilhã Caso para se voltar a um dos mais graves e profundos problemas do país. O abandono do interior (há quem lhe chame territórios de baixa densidade) é muito mais que uma penalização aos quase 2 milhões de portugueses que lá vivem e resistem: é um desperdício de recursos. Com 75% da população e da economia concentrados no Litoral, estamos a sobre explorar uma parte do território e a esquecer a outra parte. Não estamos a conseguir um desenvolvimento justo e harmonioso. E não estamos, porquê? Bem se sabe que contrariar uma tendência demográfica, social e económica iniciada em 1950 é difícil. Mas também se sabe que, nos 50 anos da democracia, nenhum governo se empenhou para lá das palavras em investir no interior. Iremos ainda a tempo? No episódio de hoje, temos connosco António Fontaínhas Fernandes, que foi membro fundador do Movimento pelo Interior, reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde é professor catedrático. Fontainhas Fernandes é presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Durante décadas, habituámo-nos a ouvir dizer que um dos problemas de Portugal era a baixa qualificação da sua população. Era a pesada herança de quase meio século de um regime que cultivava o obscurantismo e a pobreza como atributos essenciais de uma ética e de uma forma de ser. No prazo de duas décadas, essa amarra ao passado foi destruída. No ano 2000, apenas 12,8% dos portugueses entre os 25 e os 34 anos tinham uma licenciatura; no ano passado, esse valor representava já 43,2% dessa classe etária. Numa geração, Portugal saiu da cauda da Europa para o meio da tabela. Ainda longe da Irlanda ou dos Países Baixos. Mas acima da Finlândia, da Alemanha ou da Itália. É por isso que quando ouvimos Francisco Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto, dizer, como disse à TVI, que o Ensino Superior está a acentuar as desigualdades sociais, temos de ficar alerta. A universidade, apesar de todos os seus limites ou problemas, é ainda a melhor forma de promover a mobilidade social. O que se está a passar? Este fim-de-semana foram revelados os números de alunos que ingressaram no ensino superior e verificou-se que, este ano, há menos 12%, ou seja, uns seis mil alunos, a entrar nas universidades portuguesas.  Há quem reclame prudência na análise dos números e recomende que se espere pelas colocações na segunda fase. Mas há já também quem queira rever em profundidade os modelos de acesso, muito dependentes dos exames nacionais, que alegadamente estão a fechar as universidades e politécnicos a milhares de jovens. Em especial os mais desfavorecidos. Depois do boom nas qualificações que, reconhece o Banco de Portugal, explica em grande parte o comportamento da economia portuguesa da última década, estaremos a andar para trás? A Andreia Sanches é jornalista do Público e acompanha há anos a educação em Portugal. A Andreia é a convidada deste episódio do seu podcast da manhã.See omnystudio.com/listener for privacy information.
O primeiro-ministro que no dia 15 protestava contra as televisões que dividiam o ecrã entre os fogos na floresta e a festa no Pontal apareceu no dia 21 com ar compungido nas televisões para se explicar. Falou em percepções e decidiu voltar ao ataque no problema dos fogos com 45 medidas de mitigação imediata e um plano de intervenção para a floresta para durar durante os próximos 25 anos. Uma das apostas desse plano promete mudar de alto a baixo a legislação sobre as heranças indivisas. Heranças que ficam décadas em nome do seu titular originário e que muitas vezes são desconhecidas até pelos seus descendentes. Há anos que se fala do problema e, depois das tragédias de 2017, o Governo de António Costa lançou as primeiras medidas para criar um cadastro da propriedade rústica. Objectivo: acabar com o drama das propriedades florestais sem dono conhecido. Porque, não havendo quem assuma a posse da propriedade, é impossível haver planeamento, gestão ou até responsabilidade civil ou criminal pelo custo que o abandono causa a toda a sociedade. Depois da criação dos BUPi, os balcões únicos dos prédios rústicos, em mais de 150 municípios, foi possível identificar os donos de mais de 2,5 milhões de propriedades. Mas permanecem no desconhecimento os titulares de 8,6 milhões. A desadequação da legislação, pensada num tempo em que Portugal era um país rural e o anacronismo dos impostos sobre os terrenos rústicos estão entre as prioridades no novo plano do Governo. Pedro Bingre do Amaral, presidente da Liga para a Protecção da Natureza e professor da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra, é um especialista em assuntos florestais que tem dado particular enfoque a este problema estrutural. Na sua análise, entram elementos da história e da sociologia que traduzem as consequências da desertificação do chamado interior. A obsolescência das leis fiscais e da propriedade para os prédios rústicos são também um testemunho do abandono a que o Estado votou o país das montanhas depois dos grandes êxodos rurais dos anos 60 e 70 do século passado.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Era o dia 15 de Agosto, pelo final da tarde, e Luís Montenegro subiu ao palco do Pontal para falar na tradicional festa do PSD. Nesse mesmo momento, dezenas de aldeias e milhares de portugueses do interior lutavam, ansiosos, com os incêndios que batiam às portas das suas casas ou nos muros das suas propriedades. O primeiro-ministro, no seu discurso, começou por destacar o carácter da festa do seu partido, continuou com mensagens de empenho e solidariedade com os cidadãos que viviam de perto a tragédia dos fogos, e deixou no ar uma crítica às televisões por dividirem a sua emissão entre o Pontal e Trancoso, entre o ambiente descontraído e estival e o inferno das chamas no país remoto e esquecido. De imediato se levantou um coro de críticas. Do candidato presidencial Gouveia e Melo aos socialistas e aos liberais, todos apontavam à falta de empatia de Luís Montenegro com o sofrimento das pessoas, à sua falta de liderança, aos danos que o confronto entre o drama do interior e a festa estival causavam à sua imagem e reputação. Custa, de facto, a perceber por que razão Montenegro não percebeu o que estava a acontecer e o que o levou a não agir em conformidade. Desde o dia 11 que a Beira Alta registava incêndios incontroláveis, capazes de destruir em dias consecutivos uma área equivalente a mais de 40 mil campos de futebol. O que terá levado um político experiente e intuitivo como Luís Montenegro a optar por uma “estratégia discreta”, como a definiu? O que se espera de um líder nestes momentos? O que deve fazer e comunicar? Oportunidade para falarmos com Vasco Ribeiro, mestre em jornalismo político, doutor em Ciências da Comunicação, com uma vasta experiência como assessor de imprensa e de comunicação na Câmara do Porto, na bancada parlamentar do PS e em consultorias de comunicação para empresas nacionais e estrangeiras. Vasco Ribeiro publicou no mês passado o livro Opinião Pública e Propaganda, com a chancela da Zigurate.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Desde 2017 que a lei portuguesa permite que os incendiários florestais condenados a menos de dois anos de cadeia cumpram a sua pena de forma intermitente e em casa. Mas os tribunais aplicam a lei de forma muito residual - neste verão, apenas 22 incendiários condenados estão a cumprir prisão domiciliária com pulseira electrónica, segundo dados fornecidos ao PÚBLICO pelo Ministério da Justiça. O PAN quer agora tornar a medida obrigatória para todos os condenados pelo crime de incêndio florestal que estejam em liberdade, entre os meses de Maio e Outubro. A proposta surge num ano em que os fogos já consumiram mais de 200 mil hectares. De acordo com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, o incendiarismo esteve na origem de um quarto dos incêndios registados entre Janeiro e Julho. Para o partido, só uma vigilância mais apertada nos meses críticos pode reduzir o risco de reincidência e facilitar a investigação criminal. Uma medida já defendida também pelo candidato presidencial António José Seguro, em entrevista ao DN. Mas será esta solução exequível? E terá impacto real na prevenção e no combate a este tipo de crime? Para responder a estas perguntas, ouvimos o ex-director da Polícia Judiciária, Gil Carvalho, que ao longo da sua carreira liderou investigações sobre incêndios florestais e conhece de perto o perfil dos incendiários em Portugal.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Depois de Pedrógão, dos incêndios de Outubro de 2017 ou dos que devastaram mais de 100 mil hectares em poucos dias em Setembro do ano passado, julgávamos que a explicação dos humores do clima estava fora de prazo. Não está, como testemunha esta declaração do primeiro-ministro. Não está nem pode estar, porque a multiplicação das vagas de calor e das noites tropicais tornam a missão de salvar a floresta nacional ainda mais pesada. Mas é exactamente por isso que regressou à ordem do dia a pergunta incómoda: o que fizemos enquanto país para adaptar e defender a floresta nacional dos fogos numa era de crise climática? Há nos registos deste ano, que volta a elevar a área ardida para valores próximos de 2017 e fazer esquecer a média simpática dos últimos seis anos, o acentuar de um fenómeno que desde há anos preocupa os especialistas das árvores e os do fogo: os chamados GFR, ou grandes fogos rurais. Aqueles como o da Serra Amarela, de Vila Real, de Trancoso ou agora o de Arganil, que saltam de montanha e montanha, de concelho em concelho, durante dias, sem que os dispositivos de combate os consigam travar. São afinal esses incêndios que destroem a maior área, que ameaçam as povoações, que provocam mortos. Perante a impotência, levantaram-se algumas vozes contra as tácticas aplicadas no terreno pelos bombeiros, que na maior parte dos casos se limitam a estacionar nas estradas e defender as populações.  A pergunta, porém, impõe-se: estamos a fazer tudo o que é possível para impedir a progressão dos grandes fogos? A estratégia de defender as aldeias e deixar o monte arder faz sentido? A técnica do contra-fogo, da abertura de faixas limpas de combustíveis com maquinaria pesada, o combate na cauda e outras estratégias estudadas pelos peritos estão a ser bem feitas? Oportunidade para falarmos com Fábio Silva, especialista em fogos florestais, ex-director da comissão técnica de análise de fogos e ex-adjunto do comando da Força Especial de Proteção Civil. Fábio Silva está a fazer um doutoramento sobre análise de incêndios. Este é o P24. O seu dia começa aqui!See omnystudio.com/listener for privacy information.
Há uma frase na azeda troca de palavras entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky na Casa Branca, há cinco meses, que ilustra na perfeição a visão do presidente norte-americano sobre a guerra na Ucrânia: “You don’t have the cards”. Ou seja, tu não tens cartas para jogar este jogo com a Rússia. A admissão deste princípio altera a natureza do direito internacional e ameaça fazer regressar o mundo ao tempo das guerras medievais. Ganha quem tem cartas, ou seja, armas e homens. Perde quem não tem.  A guerra sempre foi assim, diz-se, e com razão. Geralmente, os mais fortes ganharam, outras vezes, como tantas vezes na História de Portugal ou na II Guerra Mundial, foi preciso forjar alianças para travar as ambições imperiais das potências. O que obriga a uma pergunta: há solução para este conflito sem que a Rússia fique a ganhar? Não estará Trump apenas a ser realista e pragmático? Alguém acredita que a Rússia possa abdicar da Crimeia e do Donbass? Vamos centrar este episódio do P24, para o qual convidámos o embaixador Francisco Seixas da Costa, na questão dos territórios. Vale mais uma paz injusta do que a continuação de uma guerra devastadora?  See omnystudio.com/listener for privacy information.
Depois de um ano de reduções consecutivas das taxas de juro, em Julho Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, anunciou uma pausa no ciclo de descidas: a decisão surgiu porque a zona euro estabilizou na taxa de 2%, o objectivo de médio prazo definido pelo BCE. Em Portugal, no entanto, a tendência tem sido diferente da registada no conjunto da zona euro: os preços continuam a subir. Em Julho de 2025, a taxa de inflação em Portugal atingiu 2,6%, acima dos 2,4% de Junho - o valor mais elevado desde o início do ano e o quarto mês consecutivo de subida. O principal motor tem sido o aumento dos preços dos alimentos não transformados, em particular da fruta, que está hoje 10% mais cara do que no ano passado. Ainda mais preocupante é a evolução nos preços do café, chá e cacau, que registaram uma subida de 12,7%. Neste caso, contudo, já se começa a notar algum abrandamento após os fortes aumentos dos meses anteriores. Mas afinal, o que explica que Portugal esteja em contraciclo face ao resto da Europa? E o que podemos esperar para os próximos meses em matéria de inflação? No P24 ouvimos o economista Pedro Brinca, investigador associado da Nova SBE e do Centro de Economia e Finanças da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Primeiro, o romance entre Donald Trump e Vladimir Putin, alimentado por telefonemas pessoais e enviados especiais. Depois, o impasse sobre a situação na Ucrânia e a irritação crescente do presidente norte-americano. Com os russos a intensificarem a guerra e a fazerem letra-morta dos apelos de Washington para um cessar-fogo, a relação gelou. Trump chegou a mandar dois submarinos nucleares para posições estratégicas, após palavras desafiadoras de porta-voz do Kremlin. No horizonte desenha-se até a possibilidade de os americanos aplicarem sanções aos países que compram petróleo russo. E eis senão que todo este fel se dissipa e o enlevo regressa. Trump e Putin reúnem-se pela primeira vez pessoalmente no Alasca, esta sexta-feira, deixando a União Europeia e Vladimir Zelensky no banco de suplentes para usar a expressão de Viktor Orbán. O presidente norte-americano volta a admitir cenários inadmissíveis para os seus ainda aliados. Haverá alguma troca de territórios para o bem de ambos, afirmou o presidente dos Estados Unidos. O aviso accionou os alarmes nas chancelarias europeias. Zelensky garantiu que os ucranianos não vão entregar as suas terras aos ocupantes e que qualquer decisão que não envolva a Ucrânia é impraticável. Os líderes europeus apoiaram, dizendo que a Ucrânia tem necessidade de garantias de segurança robustas e credíveis que lhe defendam eficazmente a sua soberania e integridade territorial. Uma reunião por videoconferência realizada na quarta-feira tentava articular posições que à partida parecem inconciliáveis. Trump parece voltar a beneficiar o infractor. No seu espírito e na sua prática, a lei do mais forte prevalece sobre o direito internacional. É a realpolitik ou, pelo menos, a sua realpolitik. Mas, para satisfazer o seu ego, será que ele se fica por aqui ou poderá acolher algumas das pretensões europeias e ucranianas? Perante este contexto, o que podemos então esperar desta cimeira? Convidamos para este episódio José Alberto Azeredo Lopes, jurista especializado Direito Internacional e professor no Centro Regional do Norte da Universidade Católica. A sua visão sempre atenta e informada não é de tom pessimista como a que se vai ouvindo ou lendo nos media.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Já estava com saudades da emoção do futebol? Ainda falta a estreia do Benfica na Primeira Liga (o clube da Luz já mostrou o que vale contra o Nice na pré-eliminatória da Liga dos Campeões Europeus). Os adeptos já têm em mãos os primeiros sinais do que pode ser a temporada dos seus clubes. De todos, os que têm razões para mais expectativas são os do FC Porto – o que não era difícil, dado percurso penoso do clube na época anterior. Também os do Braga. Porque, num e noutro caso, os seus clubes investiram como nunca em contratações – os dragões 88 milhões, de acordo com as contas do site especializado Transfermarkt, e o Braga 28,7 milhões. O Benfica continua a investir forte – 78 milhões, para já – e só o Sporting parece estar longe desta euforia: vendeu a sua estrela Gyokeres por 68,5 milhões de euros ao Arsenal e gastou apenas 47 milhões. O futebol, porém, vive quase sempre à margem destas contas – ou o Benfica teria sido a potência hegemónica da Liga Portugal dos últimos anos. Os números servem sim para nós compararmos o valor relativo do futebol português na Europa. Por exemplo, se o produto interno bruto do país está na 19ª posição e se Portugal tem a 14ª maior população do continente, com a Rússia e Turquia incluídas, a selecção tem o mais elevado coeficiente de pontos da UEFA este ano e em termos de clubes estamos no sétimo lugar. Mas há outra forma de ler os números dos clubes do campeonato que terá quase de certeza este ano o Verão mais gastador de sempre. É que se olharmos ao valor dos plantéis, Portugal está em sexto lugar com 1690 milhões de euros. Longe, muito longe dos 12200 milhões do Reino Unido ou dos 5250 milhões da Espanha. Mas, por exemplo, acima dos 1100 milhões de um país muito mais rico e muito mais populoso que Portugal, a Holanda. Curioso, ou talvez estranho, é a distribuição do valor dos planteis da Liga. O Sporting, ainda de acordo com o Transfermarket, vale 452 milhões, o FC Porto 350 milhões, o Benfica 332 milhões e o Braga 170 milhões. Ou seja, o valor dos plantéis dos quatro maiores atinge 1230 milhões e todos os outros valem apenas 460 milhões. Será isto suficiente para Portugal fazer uma boa campanha europeia? Os reforços estrangeiros contribuem ou comprometem o surgimento de novos valores do futebol nacional? E esta época, vamos ter de novo um campeonato disputado a três até ao final? E o que esperar dos clubes desafiadores como o Braga ou o Vitória de Guimarães? Temas para a nossa conversa com Nuno Sousa, editor de Desporto do Público.See omnystudio.com/listener for privacy information.
No passado domingo, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Nethanyau convocou os jornalistas da imprensa estrangeira para denunciar supostas mentiras e anunciar que o pano de fundo que as germina, a guerra em Gaza, vai ser aumentado e reforçado. Nethanyau insurge-se contra o que diz ser a manipulação de imagens de crianças famintas e explica o reforço da sua estratégia de violência com a necessidade de “acabar com a guerra” em Gaza e “fazê-lo depressa”. Para que esse cenário se concretize, avisa, é necessário ocupar Gaza por inteiro e exterminar o Hamas. “Os palestinianos não querem criar um Estado, querem destruir um Estado”, disse, e é “um desafio à imaginação ver como pessoas inteligentes no mundo, como diplomatas experientes, líderes políticos e jornalistas, caem nisto”, acrescentou. A história dos conflitos militares trazem luz tanto sobre o anúncio como sobre o que pode acontecer a seguir. Uma coisa é controlar posições estratégicas em territórios ocupados, outra coisa é ocupar por inteiro esses territórios. Até porque os escombros da cidade de Gaza, onde supostamente o que resta do Hamas e os reféns à sua guarda se albergam, são o terreno ideal para uma guerra de atrito mortífera e interminável. Basta conhecer a história da batalha de Estalinegrado. Não admira assim que em Israel, e em especialmente nas cúpulas das IDF, as forças de defesa, haja muitas vozes críticas desta estratégica. Ora, as IDF são um dos mais poderosos símbolos da identidade nacional de Israel. Este passo implica uma nova, perigosa e imprevisível escalada do conflito, da violência e do número de vítimas das guerras – de um, e do outro lado. Implica em primeiro lugar novos movimentos de uma população que estará cada vez mais na frente da linha de fogo. Implica possíveis fracturas no seio do estado judaico e entre as suas elites. Implica também uma maior exposição de Israel à crítica internacional. Com vários países europeus, e agora também a Austrália, a anunciaram o reconhecimento do estado palestiniano já em Setembro, Israel caminha para se tornar uma espécie de estado pária. Restar-lhe-á o obstinado apoio de Donald Trump. Bastará? O que esperar desta aceleração de Nethanyau em direcção à zona escura e incerta da ocupação? O que leva um governo que arrasou Gaza, decapitou o Hamas e o Hezbollah e impôs o seu poder militar ao grande rival Irão a persistir numa guerra que escandaliza cada vez mais pessoas pelos custos humanitários? Questões que vamos analisar com a convidada deste episódio do P24, Joana Ricarte, investigadora no Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra, professora auxiliar convidada na Faculdade de Letras desta instituição e coordenadora da Licenciatura em Relações Internacionais do Instituto Piaget, em Viseu, e autora de um livro de 2023 que analisa o impacte dos longos processos de paz nas identidades de Israel e Palestina.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Há 50 anos, milhares de pessoas instigadas por um discurso do bispo de Braga caminharam até à sede do PCP, no Campo da Vinha, no centro da cidade. O que se seguiu, acabou num assalto e na destruição das instalações do partido. Não houve mortos, como aconteceu em outros assaltos da mesma natureza. Mas o episódio de Braga é ainda assim um testemunho perfeito do Portugal em sobressalto do Verão Quente de 1975. Um país dividido, à beira de uma guerra civil, que só regressou a um caminho de normalidade muito depois da noite de 25 de Novembro desse ano. O que aconteceu por esses dias parece, felizmente, o que é: uma memória distante, um incidente de percurso que acabou por desembocar na normalidade democrática que hoje conhecemos. Um conflito entre visões contrárias para o futuro do país novo, acabado de nascer em Abril de 1974 com o derrube do regime autoritário de Salazar e Marcelo Caetano. Entre os vários caminhos em aberto, discutia-se a legitimidade revolucionária defendida pelo PCP e pela extrema-esquerda e a legitimidade democrática dos partidos do centro, da direita, da Igreja ou da maioria dos portugueses. Nas eleições para a Assembleia Constituinte, em Abril de 1975, o PS tinha conquistado 37,87% dos votos e o PPD 26,38% e o CDS (7,6%). Entre a cúpula do poder político dominada pelo PCP de Vasco Gonçalves e a ala radical do MFA e o resto da sociedade tinha-se criado um conflito sem tréguas. O Norte conservador tornou-se o baluarte da resistência. Foi aí que o Exército de Libertação de Portugal (ELP), criado em Janeiro de 1975 pelo ex-subdirector-geral da PIDE-DGS, Agostinho Barbieri Cardoso, e o Movimento Democrático de Libertação de Portugal, liderado por Spínola, encontraram o seu suporte. Foi pela sua acção que a violência contra o PCP ou o MDP se instituiu. Enquanto o Grupo dos Nove, que reunia a ala moderada do MFA, manobrava politicamente para reequilibrar o poder comunista no Governo, na base a extrema-direita aliada à Igreja combatia através da violência e do terror. O assalto ao PCP de Braga é um desses momentos de violência que ameaçou partir o país a meio e levá-lo à beira do precipício. Vernon Valters, avisava desde a embaixada dos Estados Unidos em Lisboa que “Portugal está à beira de uma guerra civil”. Os números da violência coligidos pelo PCP provam essa probabilidade: de Maio de 75 a Abril de 77, registou-se a deflagração de 310 bombas, 136 assaltos a sedes comunistas, 58 incêndios de instalações, 36 casos de espancamento de militantes comunistas, 16 atentados a tiro e dez episódios de apedrejamento. Miguel Carvalho, um dos nossos melhores jornalistas de investigação, estudou a fundo essa onda de violência. E em 2017 escreveu um livro referencial sobre o período, com o título Quando Portugal Ardeu. Miguel Carvalho é o convidado deste episódio.See omnystudio.com/listener for privacy information.
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Comments (2)

mal disposto

(voltou aquele problema de ficheiro “não escutável” .... cuidado se estiverem a conduzir e o programa de podcasts ficar parado)

Sep 10th
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Nuno Neves

Não gostei do comentário de hoje.

Jun 8th
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