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PSICANÁLISE EM ASSOCIAÇÃO LIVRE
Author: Nelson de Matos Barroso
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© Nelson de Matos Barroso
Description
Atualmente estou publicando escritos/áudios que visam provocar questões sobre a formação do psicanalista hoje, principalmente, após a "popularização" dos "cursos livres" que prometem diplomas e registros de psicanalista. Os áudios não são logicamente sequenciados, podendo serem escutados de maneira aleatória, se quiserem. Em alguns momentos vou tratar de temas pontuais em psicanálise, como: recepção lacaniana dos lgbtqia+ • fazer a experiência da linguagem em psicanálise • clínica social de psicanálise • psicanálise & filosofia • psicanálise e poesia • etc. (Nelson Barroso)
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A condescendência de Carlo V
É necessário que a criança "pague" por sua sessão de análise. É o pagamento simbólico. Isso introduz a criança no circuito do desejo e da linguagem como sujeito. São as "entrevistas preliminares", feitas na presença dos pais. Localizar como a castração dos pais está em jogo diante dos filhos é fundamental na análise com crianças. Esse é o primeiro passo para que a transferência se estabeleça e para que se localize muito claramente quem está demandando o tratamento.
"Essa fala é você...uma falta". Assim que uma analista francesa, branca, se dirigiu à Isildinha após apresentar seu trabalho sobre negritude, na França, para uma plateia de analistas famosos. Possivelmente era a primeira vez que a "cor do inconsciente" estava sendo apresentada à psicanálise e aos analistas. Era como "falta" que a fala de Isildinha inaugura o que viria a ser uma grande inquietação para os analistas brancos.
Continuação da apresentação. "Ética, então, quer dizer não renunciar a 'encontrar os caminhos' que permitam a uma criança estabelecer relação com o analista, mesmo quando ela ainda não tem, ou nunca teve, palavras para dizer "onde lhe dói".
A precisão clínica de Dolto é impressionante, ela constrói seu trabalho fundado da palavra da criança, mesmo que essa ainda não fale, mas de algum modo (um desenho, p.ex.) expresse seu desejo. Françoise Dolto não abre não da ética do desejo.
Uma criança pode "requisitar seu tratamento em seu próprio nome"?
Uma criança pode "se responsabilizar pelo seu desejo"?
Uma criança pode "pagar" simbólicamente por sua análise. Essas são algumas das maravilhosas questões colocadas por F Dolto nesse livro, e que deixou muitos analistas na "incredulidade".
Venha comigo desfrutar dessa viagem linda que é o tratamento psicanalítico de crianças orientado por Françoise Dolto.
Em A Cor do Inconsciente, Significações do Corpo Negro, Isildinha Baptista Nogueira relata: "como falar se algo que eu não aprendera a pensar..? Diante de uma plateia de psicanalistas franceses, brancos: "apresentar-me como negra...?" Amparada por Felix Guatarri, a jovem negra, recém formada em Psicologia, iniciando um mestrado, aceita o desafio após ser "resgatada do pânico".
O dinheiro na psicanálise
Eu não acertei com os psicanalistas no ganhar dinheiro. O investimento parece ter sido sempre maior que o lucro. Vivendo no sistema capitalista é bem arriscado não ter educação financeira, mesmo para os assalariados. A clínica psicanalítica enriqueceu alguns e criou um canto da sereia em que muitos são atraídos sem obterem o devido sucesso financeiro. Claro que é um percurso longo, angustiante, e apaixonante. E não necessariamente prazeroso. Pelo menos, não todo. Mas quem embarcaria nessa canoa sem ter suficientes recursos financeiros? Basta ter desejo? Claro que não. Mas não são poucos, e cada vez mais, os sujeitos que entram nessa aventura. Os "cursos de formação" se multiplicam dia a dia. Aqueles que já tinham um lugar na visibilidade midiática ficam cada vez mais ricos. Uma espécie de pirâmide se formou em que uma base feitas de "iniciantes", candidatos à analista (alguns já estão há mais de 10, 20 anos na base) sustentam o topo.
Em breve teremos milhões de psicanalistas atuando no Brasil com formação feita em "cursos livres". Isso é assunto que preocupe a elite da transmissão da psicanálise no Brasil? A resposta é não.
Vamos investigar o porquê?
A elite da transmissão da Psicanálise é sustentada por um formato piramidal em que os analisantes candidatos a analistas pagam por sua "formação" na medida em que fazem suas análises pessoais, e supervisões, com os analistas que estão no topo da pirâmide.
Na medida em que seguimos em direção à base da pirâmide, constatamos um rápido alargamento que denuncia a dificuldade de novos analistas sustentarem seus consultórios cobrando valores considerados altos para os padrões de quem está no topo. Suas agendas acabam sendo preenchidas com a chamada "clínica social": analisantes com poder financeiro baixo mas que desejam fazer sua formação em psicanálise e precisam serem analisados; ou sujeitos que não conseguem atendimento clínico em psicanálise, ou psicoterapias, na rede pública, nos planos de saúde, ou nos spa(s) das universidades.
Este quadro descrito acima é inflacionado pelos sujeitos que estão "se formando" no tais "cursos livres" de Psicanálise. Uma promessa de felicidade está inscrita no imaginário popular que entra em contato com as propagandas cada vez mais sofisticada desses cursos de psicanálise. Já não está restrita aos estudantes de psicologia, mas aberto a todos que queiram. Uma espécie de paraíso profissional se instala na cabeça do "candidato" à analista prometido por esses cursos. Hoje já constatamos uma imensidão de sujeitos entrando no mercado propagandeando o "título" de psicanalista por terem concluído os tais cursos, muitas vezes sem nem terem se submetidos à análise pessoal. (Nelson Barroso)
O gigantesco nicho surgiu quando o mercado se deu conta que a Psicanálise não era um curso de graduação. "O psicanalista se autoriza a si mesmo" (Lacan). Essa frase de Lacan é suplementada por duas outras condições: análise pessoal e supervisão. No entanto, Lacan instituiu uma escola para a transmissão da psicanálise. Com isso a Psicanálise deixou de ser uma especialidade médica e passou a ser o resultado de processo que envolve o desejo de analista: nunca sem que o sujeito tenha vivido a experiência da análise pessoal.
Esse "modelo" prosperou por muitos anos em vários países do mundo. Várias instituições foram criadas com distintas nomeações, mas, preservando os "princípios" fundamentais da formação proposta por Lacan.
Dito isto, vamos investigar o que está acontecendo no mercado dos "cursos livres" no Brasil:
A palavra "psicanálise" se tornou lugar comum no mercado dos "cursos livres". Vendo as propostas de formação em psicanálise que estão sendo oferecidas nas redes sociais constatamos que é espantoso como foi objetificado como "curso" - acessível a qualquer pessoa que pague por ele - a dita formação do psicanalista: "grande oportunidade de renda"; "formação sem exigência prévia"; "reconhecimento por um número de registro em orgão público"; "certificados e até diploma de psicanalista elaborados por institutos, conselhos, organismos, que se colocam como "responsáveis", simplesmente por assim se nomearem, pois, não há qualquer vínculo acadêmico com a rede oficial de ensino regulamentada pelo MEC. (Nelson Barroso)
crise na formação do psicanalísta?
Se até então havia uma queixa de que a formação do psicanalista era coisa acessível somente àqueles que tivessem uma boa situação financeira, ou seja, a Psicanálise estava restrita a uma elite que detinha o poder da transmissão institucionalizada em escolas, sociedades, associações, hoje podemos dizer que isso mudou totalmente: A Psicanálise está sendo "vendida" no enorme mercado dos "cursos livres regulamentados" pelo MEC. Qualquer instituição que consiga um número de registro de "curso livre" pode se lançar no mercado como curso de formação de psicanalista. (Nelson Barroso)
Em breve!
Transcender...
Eis que surge a primeira graduação em Psicanálise, no Brasil. Este fato aparentemente desimportante, devido sua precariedade estrutural, tem causado espécie nas figuras mais proeminentes do cenário da transmissão da psicanálise. Tudo ia muito bem na tradição de onde surgem cada vez mais analistas a sustentar um modelo piramidal de poder na "formação" do psicanalista. Um analisador, assim podemos chamar o fato do MEC ter aprovado tal graduação. Não que isso não possa ser revisto, mas a questão que sobressalta é a pergunta que Derrida já havia feito há décadas sobre a situação da crise necessária que a Psicanálise se negou a entrar no momento em que se pensou sua institucionalidade: os-estados-gerais-da-psicanálise! Hoje temos um cenário monstruoso em que pipocam cursos de formação de psicanalista EAD, e a tradição identificada como "proprietária" original da transmissão da psicanálise, principalmente as lacanianas, se defendem e admoestam contra a tal bizarrice da graduação em psicanálise. Fato é que durante várias décadas a tradição "passou pano" para os equívocos comuns de milhares de sujeitos que se "formam psicanalistas" ao concluir o curso de Psicologia, ou ao fazer uma "pós" em psicanálise, seja presencial ou EAD. Mestrado, Doutorado, e outras modalidades levam muitos sujeitos a se autorizarem "Psicanalistas". Ah..mas todos sabem que não se forma psicanalista assim! Sim, todos sabem! Ou, não todos! No entanto segue o baile movimentando milhões de reais nesse "mercado" tão diverso quanto confuso. Será que o fim da Psicanálise é sua "legalização"? Certo é que é mais do que urgente a "crise" e não a gambiarra, ou o equivoco seja exatamente ter deixado a psicanálise encastelada, produzindo muitas vezes o fenômeno grupal da sacralização? Há um golpe em curso ou tudo isso é somente o resultado de sistema que sonhou poder seguir fora da lei do Estado. (Lembremos as divisas que não chegam ao fisco)..mas, tudo bem? a "escola"está muito bem das pernas, obrigado? Opto pela microfísica do poder neste momento de não-crise institucional da psicanálise: que cada analista possa se deparar com seu real na autorização necessária ao exercício da prática clínica da psicanálise que no fundamento está inscrita na experiência que cada um faz na linguagem a qual constitui-se em corpo, em fala, em desejo, em furo no real. Não há Outro que garanta o sujeito da completude. (Por: Nelson Barroso)
o que tem essa mulher que só me vê sozinho? Por onde ando. Em qualquer lugar. Ela só me vê sozinho. Seus olhos parecem vazados de me ver sozinho. Tudo escapa. O trem o ônibus a bicicleta o trânsito das formigas. Ela só me vê sozinho. Se chego. Ela já estava lá. Se estou. Ela chega. Eu sozinho. Ela me olha. Finge que não me olha. Pra me ver sozinho. Qualquer dia vou acabar lhe perguntando: o quê você está fazendo aqui se me olha sozinho?
De todos os meus sonhos eróticos você é aquele que me faz não querer parar o rumor de nossas línguas....................................................e quando eu não estiver mais aqui haverá uma escrita marcada na memória do tempo que nunca se apagará porque o nosso amor é um corpo que não se corrompe em dias nem pelo tanto que gozamos até o grão da voz. (Nelson Barroso)
Quando recebi sua foto com uma lágrima presa no canto do olho, o sol estava quase morto por detrás do Cristo se esforçando para fazer ver que é assim o erótico. Enquanto morre deixa um calor luminoso na pele e nos olhos de quem acompanha silente o cortejo do crepúsculo. Não enxergo sua alma apenas, vejo o êxtase que desenha triste mas que me entrega sua imagem tão viva que quase levei aos lábios num gesto patético de quem atua no desejo. Como eu poderia profanar um semblante que chorasse sua dor tão intensamente? Mesmo assim, o que meu desejo me dizia é que ali havia amor. Sendo assim, meu olhar também se viu molhar numa lágrima que não escorre mas umedece a pele, o corpo, causando uma vontade louca de beijá-la, de lamber seu sal, de num só afago trazê-la pra perto de mim, e deixar que seu rosto receba meu sexo dissolvido por toda minha pele feito uma fébre queimando de prazer e dor, de desejo, de amor. (Nelson Barroso)
Contextualização da obra em questão. "hegelianismo sem reserva"; "A beleza será convulsiva ou não será"; a inclusão do "baixo", do "vil", do sangue, da porra, da merda, no que se pretende ser uma escrita da beleza.
O tradutor se apresenta! Uma grande promessa surge da oportunidade dessa tradução de uma obra tão visceral, que vai nos colocar gravitando em ao redor do tema que talvez seja o maior de nossa era: o erotismo. Não há esclarecimentos, mas sim aproximações do que não deixa de se escrever na vida e na morte como uma potência de ser.
Será a "crueldade" uma palavra que reivindica sua causa especialmente à psicanálise? Pois que assim seria "sem álibi" religioso ou qualquer outro.
"A crueldade da psique, um estado da alma." O projeto aqui executado visa à "análise institucional" da Psicanálise, tema encontrado em vasta bibliografia de Foucault à Lacan, passando por Derrida, Deleuze, Bataille, etc. Mario Jorge Pereira Reis fará parte dessas leituras por suas intervenções precisas, poéticas e desconcertantes.
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