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Perguntar Não Ofende
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Perguntar Não Ofende

Author: Daniel Oliveira

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É mais que uma entrevista, é menos que um debate. É uma conversa com contraditório em que, no fim, é mesmo a opinião do convidado que interessa. Quase sempre sobre política, às vezes sobre coisas realmente interessantes. Um projeto jornalístico de Daniel Oliveira e João Martins. Imagem gráfica de Vera Tavares com Tiago Pereira Santos e música de Mário Laginha.

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Neste episódio do Perguntar Não Ofende, Daniel Oliveira conversa com João Leal Amado, professor catedrático e especialista em Direito do Trabalho, sobre o anteprojeto que altera quase 150 artigos da lei laboral. A proposta surge pouco depois da Agenda do Trabalho Digno e levanta questões sobre precariedade, despedimentos, outsourcing, direitos sindicais e parentalidade. Será esta reforma necessária para adaptar a lei à realidade ou um desequilíbrio que favorece apenas um lado? Uma análise profunda às mudanças que podem transformar as relações laborais em Portugal.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Luís Manuel Gonçalves Marques Mendes. É este um dos nomes que lhe aparecerá no boletim de voto, a 18 de janeiro. Ex-líder do PSD, partilha com o António José Seguro não ter consigo chegar a ir a votos, em legislativas. Natural de Fafe, formado em direito, começou a sua vida política cedo, como vice-presidente da Câmara, ainda com 19 anos. Foi deputado em seis legislaturas, líder parlamentar quando o atual Presidente da República era presidente do PSD, secretário de Estado dos assuntos parlamentares, secretário de Estado da Presidência e ministro adjunto de Cavaco Silva, assim como ministro dos Assuntos Parlamentares de Durão Barroso. Como começa a ser hábito nos candidatos à presidência do centro-direita, foi comentador, em horário nobre, canal generalista e a solo, durante anos. Foi o primeiro candidato a tornar pública a sua candidatura. Nestas eleições, tem uma vantagem e uma desvantagem, que são a mesma: é o candidato apoiado pelo partido que governa. Vantagem, porque é o partido mais votado e, não se afastando dessa base de apoio, Marques Mendes têm aparecido, consistentemente, como forte candidato a ir a uma segunda volta. Desvantagem, porque é um partido que concentra tal poder, que a teoria soarista de que os portugueses não gostam de pôr os ovos todos no mesmo cesto seria, neste caso, esmagadora. Nunca tantos ovos pesaram no mesmo cesto porque nunca um partido teve o governo, o parlamento, duas regiões autónomas, a maioria das câmaras, incluindo as cinco mais populosas. Mesmo perante isto, a sua campanha tem estado bastante colada ao governo e à AD. Com tanta concorrência à direita, saberá que só conquista quem tem base sólida. E, ainda assim, segundo as sondagens, uma parte importante dessa base ainda está por conquistar.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Neste episódio do Perguntar Não Ofende, Miguel Carvalho apresenta as principais conclusões do seu livro Por Dentro do Chega, a mais extensa investigação sobre a ascensão e os bastidores do partido liderado por André Ventura. O jornalista descreve um movimento político que se constrói em torno de um culto de personalidade e de uma lógica de poder pessoal, mais do que de uma ideologia estruturada. As vozes de ex-dirigentes, citadas no livro, revelam um ambiente de manipulação interna, gravações clandestinas, disputas de poder e ausência de transparência financeira. Carvalho analisa o crescimento eleitoral do Chega, que se torna a segunda força política portuguesa em apenas seis anos. Explica que o partido capta um eleitorado popular, maioritariamente vindo do PCP e do PSD, desiludido com o sistema e atraído por um discurso de protesto simples e emocional. Compara o fenómeno à transformação populista de outros países europeus, sublinhando que Ventura se adapta ao “ar do tempo” e domina as dinâmicas mediáticas e digitais com grande eficácia. O jornalista destaca ainda o papel das redes sociais, dos media sensacionalistas e de movimentos religiosos radicais na consolidação do partido. Denuncia a ausência de rastreio dos candidatos, a entrada de figuras com antecedentes criminais e a permeabilidade do Chega a grupos extremistas. Para Carvalho, o partido vive numa bolha de desinformação e paranoia, alimentada por uma estrutura centralizada e autoritária. Por fim, Miguel Carvalho reflete sobre o papel do jornalismo na vigilância democrática. Assume ter sentido pressões durante a investigação, mas defende que a missão do repórter é resistir ao medo e expor as contradições do poder.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo. Será este o nome que aparecerá no boletim de voto, a 18 de janeiro de 2026. Retornado, mas sem contas a ajustar com o fim do Império, sobrinho de um comunista e de um homem do Estado Novo, filho de um opositor moderado ao salazarismo e amigo de Almeida Santos que fugiu do PREC para o Brasil. Tudo na biografia de Gouveia e Melo parece fadado a agradar a gregos e a troianos. E, no entanto, esteve longe de ser uma figura consensual entre os camaradas de armas. Para uns será vaidoso e ambicioso; para outros confiante e corajoso. O seu sonho era ser Chefe de do Estado Maior da Armada, mas os portugueses ficaram a conhecê-lo antes de lá chegar, quando António Costa, para se livrar do cerco da oposição ao processo de vacinação, escolheu um militar que supostamente não tinha ambições políticas e seria deixado em paz. Uns dirão que foi a sua competência, outros que foi a farda, mas a sua autoridade foi aceite. E o PS criou o monstro (salvo seja) que não desejava. Já na chefia militar, deu muitas entrevistas e manteve a visibilidade, preparando o caminho para uma candidatura que já todos previam. As sondagens dão-no como favorito, baralhando as contas habituais dos partidos. Mas quando começou a ter de falar de política, a ser realmente um político, começou também a cair. Não há consenso que sempre dure quando se tem de clarificar posições. Os adversários apontam-lhe a inexperiência como principal problema. Uma folha em branco e só depois de tomar posse perceberemos que contrato assinámos. Os apoiantes a independência e a neutralidade partidária, que lhe darão equidistância em tempos difíceis. E a autoridade. Ajudada por uma farda que já não veste e também é vista como um problema.See omnystudio.com/listener for privacy information.
As eleições autárquicas são o momento mais próximo entre eleitores e eleitos, mas paradoxalmente aquele que menos mobiliza o país. Apesar de quase metade dos portugueses avaliarem positivamente o poder local, a participação cívica nas autarquias continua baixa. Porquê? O problema está nas instituições ou na nossa cultura democrática? À porta de novas eleições, Daniel Oliveira conversa com Filipe Teles, coordenador do Barómetro do Poder Local da Fundação Francisco Manuel dos Santos, professor de Ciência Política na Universidade de Aveiro e especialista em governação e descentralização. A partir dos dados do barómetro, exploram-se as contradições da nossa democracia local: cidadãos satisfeitos mas pouco participativos, autarcas próximos mas com poderes limitados, e uma máquina pesada e dependente do imobiliário. Na conversa questiona-se o modelo presidencialista das câmaras, a falta de transparência e de imprensa local, e a ausência de escrutínio das estruturas intermédias como as CCDR e as Comunidades Intermunicipais. Tudo isto num país onde 84% dos municípios perderam população e onde o centralismo, político e económico, continua a concentrar recursos e decisões em Lisboa. Pode a descentralização fortalecer a democracia e reduzir desigualdades regionais? Ou corremos o risco de apenas multiplicar os vícios do centro? Entre os limites da regionalização e o medo de distribuir poder, esta conversa procura perceber o que está em causa quando falamos de proximidade, autonomia e participação.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Daniel Oliveira recebe Carvalho da Silva e Torres Couto, duas figuras históricas do sindicalismo português, que se reencontram para discutir a chamada contrarreforma laboral. Desde o início da conversa, ambos sublinham a gravidade das alterações propostas pelo governo, que mexem em mais de uma centena de artigos da lei laboral e representam, segundo eles, um claro retrocesso nos direitos dos trabalhadores. O ponto de partida é o apelo à unidade das centrais sindicais, algo que os dois consideram indispensável para travar as mudanças em curso. Os dois antigos líderes sindicais também refletem sobre a capacidade atual das centrais em mobilizar a sociedade. Admitem que a CGTP e a UGT já não têm a força de outros tempos, mas defendem que o contexto exige coordenação e unidade. Recordam o seu próprio percurso, marcado por alianças e divergências, como na greve geral de 1988, mas sublinham que hoje se impõe ultrapassar divisões. Só uma frente comum, afirmam, pode criar condições reais para enfrentar um governo apoiado por dois terços de deputados de direita e disposto a usar esse poder para remodelar profundamente as relações laborais.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Neste episódio do Perguntar Não Ofende, recebemos Bruno Nogueira, figura incontornável do humor em Portugal. A conversa parte dos limites do humor, mas rapidamente avançamos para algo mais profundo: qual é, afinal, a função social, política e cultural do humor? Tem de ter uma? Ao longo do episódio, revisitamos os marcos principais de duas décadas de carreira de Bruno, do Curto-Circuito ao stand-up, dos Contemporâneos ao Último a Sair, passando pelo fenómeno Deixem o Pimba em Paz, ao inesperado sucesso do talk-show confinado no Instagram, durante a pandemia, Como é Que o Bicho Mexe?, até à série Ruído. Mas esta não é uma entrevista biográfica. Falamos do sentimento de perseguição que atravessa muitos humoristas, sobretudo os mais bem-sucedidos, e da contradição entre essa perceção e o espaço sem precedentes que o humor hoje ocupa. Discutimos o sketch final do “Ruído” e os ecos da justiça como nova forma de censura, como no caso da Joana Marques, ou da cartoonista Cristina Sampaio. Afinal, o humor é uma ameaça ou está só a ser levado (finalmente) a sério? Bruno reflete também sobre o poder do humor e as suas responsabilidades: existe uma ética do humor? Quem tem graça também tem de saber ouvir? É um espaço de crítica ou só uma forma de escapar à realidade? Da música popular à sátira política, dos podcasts aos palcos esgotados, Bruno fala sobre a tensão entre arte e entretenimento, e sobre como tenta manter-se fiel à vontade de experimentar, mesmo com o conforto que o sucesso já poderia garantir. É uma conversa sobre risco, criatividade e sobre o lugar que o humor pode (e talvez deva) ocupar no espaço público.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Na manhã de 24 de junho, num contexto marcado por instabilidade crescente e um frágil cessar-fogo, recebemos Daniel Pinéu para analisar os impactos geopolíticos do ataque israelita ao Irão. Especialista em relações internacionais, Pinéu é professor e investigador na Universidade de Amesterdão, com um percurso académico que passa pelos EUA, Alemanha e Paquistão, onde aprofundou o conhecimento da complexa dinâmica do Médio Oriente. O episódio centra-se na recente ofensiva militar de Israel contra o Irão, desencadeada sob o argumento da iminente ameaça nuclear. Netanyahu, com o apoio tácito dos EUA, parece ter avançado com um plano mais vasto: desestabilizar os vizinhos, consolidar o poder regional e eliminar qualquer possibilidade de um Estado palestiniano. Discutimos também a erosão da ordem internacional, o papel ambíguo da ONU e o silêncio cúmplice das grandes potências perante alegações de genocídio em Gaza. O episódio aborda o papel de Trump, a possível retirada do Irão do Tratado de Não Proliferação Nuclear, e o impacto desta escalada no equilíbrio geoestratégico global, com destaque para o posicionamento cauteloso da China e da Rússia. Num mundo onde a guerra parece uma constante, Daniel Pinéu ajuda-nos a perceber se ainda há espaço para soluções diplomáticas ou se estamos perante uma mudança irreversível na arquitetura internacional. Este é um episódio urgente, gravado num dos momentos mais voláteis da política mundial recente.See omnystudio.com/listener for privacy information.
O Serviço Nacional de Saúde está sob pressão como nunca, num contexto partilhado com outros países industrializados: populações envelhecidas, tecnologias cada vez mais dispendiosas e procura crescente de cuidados. Apesar de um aumento significativo na atividade assistencial e na despesa pública, que hoje absorve 12,5% do Orçamento do Estado, a perceção generalizada é de um sistema em declínio. Neste episódio, Julian Perelman, professor catedrático da Escola Nacional de Saúde Pública e economista da Saúde, ajuda a analisar este paradoxo. Fala-se da fragmentação crescente do sistema, da expansão do setor privado e das dificuldades em garantir equidade e acesso num modelo que promete ser universal. A conversa centra-se nas reformas necessárias para assegurar a sustentabilidade financeira e social do SNS. Discutem-se modelos de pagamento, medição de resultados, incentivos, e formas de responder à pressão sobre um setor com recursos limitados e expectativas crescentes.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Neste episódio do Perguntar Não Ofende, a convidada é Mariana Vieira da Silva, ex-ministra da Presidência e figura central do último governo socialista liderado por António Costa. Com o Partido Socialista a enfrentar uma das suas maiores crises em décadas — passando, pela primeira vez em meio século, a terceira força política nacional —, a conversa gira em torno da surpreendente rapidez com que o partido geriu a sucessão interna, sem debate ou reflexão estratégica. Em poucos dias, os socialistas parecem ter escolhido José Luís Carneiro como líder, numa transição marcada mais pela urgência de evitar nova derrota autárquica do que pela preparação de uma nova fase política. Mariana Vieira da Silva esteve no centro da governação socialista durante quase uma década e manteve-se fora da disputa interna, mas foi apontada como potencial alternativa à liderança. Nesta conversa, fala-se da sua leitura sobre a “transição simplex” no PS, da queda abrupta de um partido com maioria absoluta para uma oposição fragmentada, e da ameaça real que representa o crescimento do Chega. Discutem-se ainda os erros de gestão política após o terramoto de 2023, o papel dos autarcas nas decisões do partido, o impacto da pandemia na sua visibilidade e o estado atual da esquerda portuguesa. Com a experiência de quem esteve no centro do poder, Mariana Vieira da Silva ajuda-nos a perceber o que correu mal, o que está em causa e o que pode vir aí. Uma hora para olhar, com calma, para um partido em turbulência e para um país em transição.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Portugal teve três legislativas em quatro anos, duas delas no espaço de apenas doze meses. Num país habituado à estabilidade, vivemos agora em ciclos curtos e marcados por cansaço político e desconfiança nas instituições. A polarização cresce e os eleitores parecem votar mais por reação do que por convicção. Neste cenário, forças como o Chega crescem apesar dos escândalos, e os jovens mostram sinais de radicalização e desconexão com a política tradicional. Ao mesmo tempo, as sondagens multiplicam-se, mas será que nos dizem o que realmente importa? A personalização da política, o voto estratégico, a fidelidade geracional e o desejo de estabilidade são apenas algumas das variáveis difíceis de medir. Diferenças metodológicas e a dificuldade em recolher dados fiáveis tornam a leitura mais complexa. Neste episódio, falamos com António Gomes, diretor-geral da GfK-Metris e especialista com três décadas de experiência em estudos de opinião. Uma conversa para perceber os limites e as potencialidades das sondagens numa democracia fatigada. Capítulos: (02:54) Eleições e desconfiança nas instituições(06:11) Voto estratégico e dinâmicas eleitorais(09:08) A imagem dos líderes e mobilização eleitoral(12:06) O impacto dos escândalos na opinião pública(14:57) Campanhas eleitorais e proximidade com o eleitor(17:58) A polarização e o voto útil(21:05) Expectativas e realidade nas eleições(32:05) Desconforto e identidade política(34:57) Expectativas e imagem do líder(38:21) Imigração e economia no voto(40:47) Avaliação do Governo e expectativas(42:13) A imigração e o debate político(46:11) Escândalos e a reação do eleitorado(51:02) O eleitorado do Chega e a lógica anti-sistema(54:49) Impacto do Passos Coelho e voto dos mais velhos(57:27) Diferenças de género no voto jovem(58:07) A influência das redes sociais nas eleições(01:01:09) A nova dinâmica do voto feminino(01:04:01) A fragmentação da esquerda e suas consequências(01:08:12) A fiabilidade das sondagens e métodos de pesquisa(01:19:19) O impacto do voto na última horaSee omnystudio.com/listener for privacy information.
Neste episódio de Perguntar Não Ofende, voltamos ao tema do impacto dos smartphones nas escolas e no desenvolvimento das crianças e adolescentes. Partindo de novos dados alarmantes — como o facto de os menores passarem, em média, dois meses por ano em frente a ecrãs — debatemos os efeitos da dependência digital, a queda da socialização presencial e a correlação com problemas como ansiedade, depressão e baixa autoestima. A conversa ganha atualidade com a exibição da série “Adolescência” no Reino Unido e a recente reabertura do debate político em Portugal sobre a proibição de smartphones nas escolas. Os convidados são Matilde Sobral e Mariana Reis, fundadoras da Mirabilis, e Augusto Carreira, referência em pedopsiquiatria. Juntos, discutimos a necessidade urgente de agir e de devolver às crianças tempo real para crescerem, brincarem e partilharem emoções.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Em apenas oitenta dias, os pilares da globalização liberal começaram a ruir, minados por quem mais beneficiou dela: os próprios Estados Unidos. Mas será o trumpismo uma ideologia estruturada para refazer o mundo, ou apenas um sintoma de declínio imperial? A Europa vê-se paralisada entre dois polos: a antiga aliança com os EUA — agora hostis — e a ascensão de uma China confiante, que se posiciona como o centro de uma nova ordem global. Num cenário multipolar, o velho continente corre o risco de se tornar irrelevante. A Nova Rota da Seda simboliza esta transição, com a China a assumir o papel de maior investidor global, especialmente no Sul Global. Estaremos perante um novo imperialismo ou uma nova visão da globalização? Bruno Maçães, político e académico, mergulha nas consequências do trumpismo, no papel transformador da China e no colapso da ideia de “Ocidente”. Através da sua experiência internacional e pensamento estratégico, oferece pistas sobre um mundo em mutação — onde a estabilidade do passado já não é garantida.See omnystudio.com/listener for privacy information.
A imagem de Trump com uma coroa, partilhada pela Casa Branca, é apenas simbólica? Ou revela uma mudança de natureza no sistema político americano? Os Estados Unidos são o grande laboratório da democracia liberal — mas até onde resiste essa experiência quando posta à prova pelo fenómeno Trump? Neste episódio do Perguntar Não Ofende, exploramos as tensões entre instituições e populismo, entre legalidade e liderança carismática, num sistema pensado para resistir a tudo, menos talvez ao culto do líder. Com José Gomes André, doutorado em Filosofia Política, analisamos o trumpismo à luz da tradição constitucional dos EUA, o papel do Supremo Tribunal como guardião do equilíbrio de poderes, e refletimos sobre o paralelismo europeu: poderá a UE aspirar a um momento constituinte ou estará refém do seu próprio modelo tecnocrático? Uma conversa sobre democracia, federalismo e os desafios do nosso tempo.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Fazendo o balanço possível das opções económicas e fiscais do governo, passando os olhos pela crise da habitação e procurando as continuidades num país que, com três eleições em quatro anos, viu a sua economia crescer ao dobro do ritmo da zona euro. E falaremos do que mudou, para Portugal e para a Europa, com a chegada de Trump à Casa Branca, o início de uma guerra tarifária que não sabemos ao certo até onde nos levará e decisão da Europa se rearmar, dirigindo para aí os investimentos públicos. Para passarmos em revista os debates que poderíamos ter nos próximos meses, recebemos Ricardo Paes Mamede, economista, diretor da Escola de Tecnologias Aplicadas, doutorado pela Universidade Bocconi e docente, desde 1999, nas áreas da Economia Política Internacional, Política Industrial e de Inovação e Avaliação de Políticas. Foi membro do Conselho Económico e Social, coordenador do núcleo de estudos e avaliação do Observatório do QREN e diretor de Serviços de Análise Económica e Previsão do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia. Antes de tudo isto, é uma voz lúcida e heterodoxa no debate publico sobre política económica.See omnystudio.com/listener for privacy information.
A deputada Diva Ribeiro, do Chega, reagiu a uma intervenção de Ana Sofia Antunes, dizendo que era curioso que a deputada do PS só conseguisse intervir em assuntos que envolve, infelizmente, a deficiência. Rita Matias voltou à quadra, tentando associar a deputada a uma política identitária, que faria os deputados negros falarem de racismo, os portadores de deficiência sobre deficiência e por adiante. Dá-se o pormenor de, em 15 intervenções que Ana Sofia Antunes fez nesta legislatura, aquela ter sido a primeira sobre deficiência, apesar de, tendo sido secretária de Estado da Inclusão, seria normal que assim não tivesse acontecido. Ana Sofia Antunes é advogada de profissão e foi secretária de Estado da inclusão nos vários governos de António Costa, o que fez que, apesar de ter sido eleita deputada em 2019, só tenha exercido o cargo a partir desta legislatura. Apesar da afirmação do Chega e do seu percurso na defesa dos direitos das pessoas com deficiência, as suas intervenções no parlamento não têm sido sobre este tema, mas sobre imigração e segurança, assuntos que até têm estado na ordem do dia e a que o Chega dá bastante atenção, não lhe tendo seguramente passado desapercebidas as intervenções da deputada.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Quis a sorte ou azar que, no momento em que a imagem de uma rua do centro de Lisboa com muitas dezenas de imigrantes encostados à parede se tornou viral, fosse conhecido o Barómetro sobre as perspetivas dos portugueses em relação à imigração, da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Uma medida um pouco mais científica sobre as perceções dos portugueses. Quando o estudo foi conhecido, o ministro da Presidência António Leitão Amaro disse que concordava com o juízo feito pelos portugueses sobre as políticas públicas de imigração. Um juízo que se baseia em vários erros de perceção. E que o debate público que pretende responder a estas precessões pode estar a reforçar. É para esmiuçarmos este barómetro que temos, connosco, o coordenador deste trabalho e um dos seus autores. Rui Costa Lopes é psicólogo social, com pós-doutoramento no Instituto de Ciências Sociais, onde é investigador, sobre o fenómeno do preconceito racial e a influência das normas sociais na sua emergência.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Os portugueses até podem suportar que se diga que os seus descobrimentos foram, em grande parte, uma história de crimes que deixou como grande legado a maior transferência populacional forçada intercontinental. Até podem suportar que insultem Vasco da Gama ou Cristiano Ronaldo. Haverá sempre alguns, mesmo que sejam uma minoria, que acompanharão estas críticas. O que os portugueses não aceitam, e aqui o consenso aproxima-se da unanimidade, é que ponham em causa a sua gastronomia. Em julho de 2015, houve quem dissesse pior do que isso. Alguém se atreveu a escrever que a nossa cozinha era mesmo a pior do mundo. O conhecido crítico britânico de restaurantes Giles Coren escrevia, no “The Times”, a maior ofensa que um português pode ouvir. A reação dos leitores portugueses foi semelhante a um tsunami de ódio, deixando insultos e até ameaças de morte.  No Twitter, Coren até perguntou se havia algum dispositivo para silenciar, naquela rede, um país inteiro, tal a dimensão viral da indignação. Cinco anos depois, quando o jornalista Ricardo Dias Felner escreveu, aqui no Expresso, um texto com um título provocatório: “E se a cozinha portuguesa não foi a campeã do mundo?”. De forma racional, desapaixonada e rigorosa, ajudava a desmontar alguns mitos sobre o que comemos. E, acima de tudo, sobre o que os estrangeiros acham do que comemos. Sim, é verdade, não adoram. A maioria acha a nossa gastronomia apenas moderada ou razoável. Poucos veem a Portugal por causa dela. Muito acham pouco variada, sensaborona, pouco atrativa. Ela está ausente de quase todos os rankings internacionais. Porque a vendemos mal. E provavelmente vendemo-la mal porque, com a boca cheia de orgulho, achamos que se chega a si mesma. É Ricardo Dias Felner o convidado do último episódio do Perguntar Não Ofende em 2024, a abrir o apetite para a consoada. See omnystudio.com/listener for privacy information.
O coronel Vasco Lourenço tem 82 anos, é presidente da Associação 25 de Abril, ator e autor central do 25 de novembro. Um dos principais obreiros do 25 de novembro recusa a equiparação com o 25 de abril e não aceitou estar presente na sessão solene de hoje. Diz que esta é a festa dos que também foram derrotados nesse dia, que queriam transformar numa vingança e num retrocesso. O presidente da Associação foi uma das principais figuras do próprio 25 de novembro. Membro da chamada ala moderada do MFA, foi um dos nove do grupo dos nove, liderança política do golpe ou contragolpe (conforme o ponto de vista). A sua escolha para comandante da Região Militar de Lisboa, substituindo Otelo Saraiva de Carvalho, foi o gatilho dos acontecimentos. E teve um papel político e militar absolutamente central naqueles dias.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Veja aqui a reportagem fotográfica No dia do funeral de Odair Moniz, uma jornalista de uma televisão fez um direto, do bairro do Zambujal, dizendo que a paz quotidiana tinha regressado. No entanto, para que os telespetadores reconhecessem de onde falava, escolheu, como cenário, uma paragem de autocarro destruída. Se as palavras eram sobre um bairro que levava um dos seus a enterrar, a imagem era sobre os tumultos. Foi assim durante 15 dias: nós, os da cidade da lei, a olhar assustados, irados ou compreensivos, para eles, os da cidade invisível, para roubar uma expressão de um programa de rádio de António Brito Guterres. A polémica que veio depois, com um autarca socialista a defender regras inconstitucionais para os bairros sociais, resume ainda melhor o sentimento: a maioria da população acredita que a lei não serve para a vida destas pessoas. Que elas não as cumprem, que o Estado não tem de as cumprir. Que têm de ser mantidos na ordem, nada mais. Alguns discursos mais cuidadosos ou até bem-intencionados preferiram distinguir, no Bairro do Zambujal e em todos onde houve tumultos resultantes de mais uma morte às mãos da polícia, uma minoria criminosa de uma maioria ordeira e trabalhadora. A realidade é capaz de ser mais complicada quando se cresce com falta de quase tudo. Não que a escola e a casa não existam. Falta o que permite romper com o ciclo de exclusão que este território determina. A exclusão ficou evidente no próprio debate, feito sobre o bairro, mas exclusivamente fora do bairro. Apesar de haver associação de moradores e outras organizações de autorrepresentação, as pessoas que vivem nestes bairros são excluídas do debate público. Elas são o problema, não agentes das suas vidas. Nas palavras de Ventura, a “bandidagem”, nas dos seus opositores, as “vítimas”. Mas nunca sujeitos da sua própria vontade. Não serve isto para desmerecer quem fala, porque deve falar, da exclusão dos outros. Apenas para sublinhar como a invisibilidade faz parte das regras do jogo. Os moradores dos bairros sociais são vistos ou como um problema de segurança, ou como um problema social, nunca como um problema democrático, na medida em que têm sido excluídos do direito à cidade e à palavra. Com os meios que tenho, tentarei fazer o que acho faltar: dar alguma palavra ao Bairro do Zambujal. O modelo será semelhante ao que usei com o António Brito Guterres, na antiga Curraleira. O António estará, aliás, connosco nesta viagem a mais um bocado da cidade invisível. Mas o guia principal não será, desta vez, ele. Será Cláudio Gonçalves, que também usa o nome de Tibunga. Nasceu no Bairro da Cova da Moura, cresceu fora daqui e faz parte da Associação de Moradores do Zambujal. Tem 29 anos, é modelo internacional e as oportunidades que agarrou não resultaram das saídas que o bairro tinha para lhe oferecer. Nas duas próximas horas, estaremos no bairro. Não para filmar tumultos, mas para ouvir os cidadãos que aqui vivem. Bem-vindos ao Zambujal, de que só voltarão a ouvir falar nas televisões quando acontecer outra tragédia.See omnystudio.com/listener for privacy information.
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Comments (20)

Tony Alves

O convidado começa a mentir logo na primeira resposta que dá. Ficou claro que com Marques Mendes na presidência este governo tem carta branca para fazer o que quiser e não ter que tentar sequer cumprir promessas de campanha. Sinto que até o merdas do ventura seria como pr um melhor contrapeso que este senhor. Qualidade do políticos em Portugal está em mínimos históricos.

Nov 15th
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Susana

Alguns problemas no som.

Oct 25th
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Tony Alves

Houve algum erro no upload deste episódio. Só tem 8 segundos. Não consigo ouvir

Oct 23rd
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Tony Alves

Fantástica conversa! Devia ser obrigatório ouvir

Sep 18th
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Filipe Antunes

Neste caso, parecia mais que Daniel Oliveira estava em campanha do que a fazer uma entrevista.

May 28th
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Leonel Sousa

louvo o trabalho que o Daniel teve em obter respostas claras e objectivas..

May 24th
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AL

excelente!

Jul 19th
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R. Magalhães

O desprezo do entrevistador pelo entrevistado é evidente. Infelizmente esse desprezo é consubstanciado pelas constantes interrupções feitas durante a entrevista — a larga maioria das vezes com uma manifesta vacuidade intelectual — não conseguindo trazer algo de interessante para a conversa e transparecendo uma altivez mal disfarçada a cada comentário.

Nov 14th
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Sonia Moreira

Acho que se o Daniel abrisse a cabeça, podia aprender muito com a Inês.

Jul 1st
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Gonçalo Mendes

Pena que faltaram as perguntas fundamentais sobre o lar de Reguengos: Onde falhou, porque falhou, quem é o responsável? Isto até foi um entrevista muito fofinha.

Sep 11th
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D. bombadil

No castbox o canal o poema ensina a cair tem apenas 3 emissões, está tudo misturado no perguntar não ofende.

Jul 28th
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Pedro da Silva

o "miúdo" até enerva de tão eloquente. Obrigado pelo tempo que ganhei ao ouvir este episódio.

Jun 18th
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Ricardo Moncacho

Serviço público, excelente episódio. Obrigado Daniel, muita força e coragem Dra Graça

Mar 13th
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Ricardo Silva

Tanta gente indignada, pá

Oct 4th
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Sonia Moreira

Muito obrigada por este serviço público.

Sep 14th
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Guilherme Almeida

RAP a dar um baile ao Daniel Oliveira, a diferença entre alguém de esquerda com sentido de liberdade e alguém de extrema esquerda adepto da ultra-regulação do estado na expressão e até mesmo no humor. Shame on you

Jan 16th
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Pedro Conde

Estava à espera de argumentação melhor e mais bem preparada do Francisco. Contradições relativamente óbvias que remetem para discussões semânticas. Aparte - convém focar no controlo do volume num podcast como este, para quem ouve com headphones não é fácil.

Jan 10th
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ADRIANO CARVALHO

Mas esse portuga é mesmo uma besta ao quadrado! Vá defender o socialismo aí para suas bandas e deixe nosso sofrido Brasil tentar uma chance, ao menos. 👿

Dec 12th
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D. bombadil

Pior convidada de sempre. Ciganos que podem passar por brancos?! Os ciganos são brancos e vivem como querem, não andam a aturar esta nova vaga de etno puritanos. As pessoas actualmente são naturalmente contra o racismo e aparecem pessoas a aproveitar-se disso, é mesmo bater no fundo.

Nov 29th
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Inês Fevereiro

Seria muito interessante se aprofundasse o tema da amamentação prolongada a filhos de pais separados. Fica a ideia!

Nov 21st
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