Quando uma obra de arte é apresentada ao mundo, temos basicamente uma miríade de possibilidades de interagir com ela. Podemos enxergar nessa obra os subtextos ocultos e soterrados em sua forma. Identificamos, por exemplo, contexto histórico e político, comentários sociais, sinalizações biográficas, metáforas, entre outros símbolos. Como uma obra de arte é necessariamente também uma manifestação material, ela também se apresenta no campo estético, no qual as impressões e sentimentos se tornam o primeiro e mais importante impacto. Em suma, a experiência de consumir uma obra de arte é uma mistura de intelecções etéreas, percepções simbólicas e sensibilidade. Geralmente, quem apenas consome uma obra considerando apenas o filtro da sensibilidade, a estética pura, é rechaçado como parte de um público não sofisticado – e as próprias obras que se apresentam dessa forma são ignoradas como obras menores. Não é por acaso que filmes de terror são desprezados pela academia, onde o apelo estético e a experiência sensorial (no caso, do medo) são mais acentuados que o normal – na minha opinião, um puro preconceito intelectualóide infundado. O mesmo acontece com filmes de ação, nos quais a experiência de adrenalina é negligenciada nas análises e considerações mais significativas, pois, aparentemente, apenas atendem a um anseio escapista acrítico da sua audiência. No entanto, na minha opinião, o exagero e o apego a intelecções etéreas, percepções simbólicas e, principalmente, os exaustivos “comentários políticos”, podem refletir uma mediocridade intelectual tão acentuada quanto aquela de quem consome um produto apenas pelo que ele pode oferecer de distração. Neste caso, diferente da maioria dos jornalistas, não acho que quem consome Bacurau (por exemplo) é intelectualmente superior a quem consome qualquer produto enlatado da Marvel (para falar a verdade, acho até o contrário). Dentro dessas discussões, existem filmes como Old Boy. Leia mais aqui.
Procusto é um famoso personagem da mitologia grega. Ele era um bandido que vivia em uma pousada na antiga Grécia e possuía uma cama de ferro. O nome Procusto deriva do verbo grego “prokrouo”, que significa “estender à força” ou “esticar”. A característica marcante de Procusto era seu método cruel de receber os viajantes. Quando alguém se hospedava em sua pousada, ele o convidava a deitar-se em sua cama de ferro. Se o viajante fosse menor do que a cama, Procusto o amarrava e esticava seus membros até que se adequassem ao tamanho da cama. Por outro lado, se o viajante fosse maior, Procusto cortava seus membros para que ele se encaixasse na cama. Em ambos os casos, a vítima sofria. Sob a luz desse mito, Ortega y Gasset vai nos revelar um pouco sobre a característica de algumas filosofias ou correntes de pensamento modernas. Ele começa, em seu livro “O que é a Filosofia?”, a desenhar a confusão da exatidão com suficiência. Segundo o filósofo, a diferença entre verdade científica e verdade filosófica é que a primeira é exata, mas insuficiente, enquanto a segunda é suficiente, mas não exata. Esse é um problema da incompletude de uma ideia humana sobre a realidade. Quando buscamos uma verdade, buscamos ela em sua plena exatidão e sua plena eficiência. Por isso mesmo foi muito tentador para o desenvolvimento do pensamento humano buscar uma ideia que conjugue tudo isso. Isso é o que algumas filosofias modernas tentam resolver ao se afirmarem tanto como verdade científica (considerando toda a história das ideias anteriores como utopia ou idealismo) quanto como verdade filosófica (considerando que toda filosofia anterior é a mera pavimentação para o surgimento da última – uma espécie de concepção messiânica que foi muito bem esclarecida por Eric Voegelin). O problema é que essas filosofias que buscam ser ao mesmo tempo verdades filosóficas e verdades científicas acabam não sendo nem uma coisa nem outra. Não que isso seja impossível, mas até agora o que vimos são filosofias que transitam num espaço intermediário e incerto entre as duas. Quando você pede para essas filosofias prestarem contas em um campo, logo elas se abrigam no outro. Os ideólogos dessas filosofias são como Procusto, que mutilam ou distorcem a realidade como se ela fosse o viajante da narrativa do mito, buscando conformar a realidade em “sua cama”. Leia mais aqui: https://tavernadolugarnenhum.com.br/miscelanea/a-cama-de-procusto-e-as-ideologias-modernas/
No final do século XIX, um asceta ortodoxo russo chamado Nikolai Fedorov foi inspirado pelo darwinismo para argumentar que os humanos poderiam direcionar sua própria evolução para trazer a ressurreição. Segundo ele, até este ponto, a seleção natural tinha sido um fenômeno aleatório, mas agora, graças à tecnologia, os humanos podiam intervir neste processo. Invocando profecias bíblicas, ele escreveu: "Este dia será divino, impressionante, mas não milagroso, pois a ressurreição será uma tarefa não de milagre, mas de conhecimento e trabalho comum." Essa teoria foi levada para o século XX por Pierre Teilhard de Chardin, um padre jesuíta francês e paleontólogo que, como Fedorov, acreditava que a evolução levaria ao Reino de Deus. Em 1949, Teilhard propôs que no futuro todas as máquinas seriam conectadas a uma vasta rede global que permitiria que as mentes humanas se fundissem. Com o tempo, essa unificação da consciência levaria a uma explosão de inteligência – o "Ponto Ômega" – permitindo que a humanidade "rompesse a estrutura material do Tempo e Espaço" e se fundisse perfeitamente com o divino. Os transumanistas, geralmente ateus, normalmente reconhecem Teilhard e Fedorov como precursores de seu movimento, mas o contexto religioso de suas ideias raramente é mencionado ou creditado - embora, a todo momento, tudo o que a religião fornecia (mesmo na sua forma herética, gnóstica ou heterodoxa) fosse prontamente substituído por um pretenso equivalente científico. Para se afastar de sua raiz esotérica, ocultista, religiosa, cristã, gnóstica - a maioria dos adeptos do movimento atribui o primeiro uso do termo transumanismo, no sentido que eles de fato desejam comunicar, a Julian Huxley, o eugenista britânico e amigo próximo de Teilhard que, na década de 1950, expandiu muitas das ideias do padre em seus próprios escritos - embora tenha se esforçado para afastar qualquer pista religiosa para soar relevante entre a academia. Durante duas décadas, o trasnhumanismo era tido como uma ideia marginal, até ressurgir com força nos anos 80 em São Francisco entre um grupo de pessoas da indústria de tecnologia com uma veia libertária. Eles inicialmente se autodenominavam extropianos e se comunicavam por meio de boletins informativos e em conferências anuais. Desde então, foram criados jornais, institutos, ONGs e organizações educacionais destinadas a juntar pensadores transumanistas e espalhá-los pelas diversas áreas do conhecimento humano: inteligência artificial, nanotecnologia, engenharia genética, robótica, exploração espacial, memética e a política e economia. O movimento foi ganhando destaque não apenas no meio acadêmico, mas também entre empresários e entusiastas da tecnologia. Russel Kurzweil foi um dos primeiros grandes pensadores a trazer essas ideias para o mainstream e legitimá-las para um público mais amplo. Sua ascensão em 2012 para um cargo de diretor de engenharia no Google, anunciou, para muitos, uma fusão simbólica entre a filosofia transhumanista e a influência de grandes empresas de tecnologia. Os transhumanistas hoje exercem enorme poder no Vale do Silício — empreendedores como Elon Musk e Peter Thiel se identificam como crentes desta "nova religião" — onde fundaram think tanks como a Singularity University e o Future of Humanity Institute. As ideias propostas pelos pioneiros do movimento não são mais reflexões teóricas abstratas, mas estão sendo incorporadas em tecnologias emergentes em organizações como Google, Apple, Tesla e SpaceX. O que torna o movimento transumanista tão sedutor é que ele promete restaurar, por meio da ciência, as esperanças transcendentes que a própria ciência obliterou. Os transumanistas não acreditam na existência de uma alma, mas também não gostariam de soar como materialistas estritos. Deus na Maquina: Transhumanismo, Antihumanismo e Religiões Biônicas https://tavernadolugarnenhum.com.br/filosofia/deus-na-maquina-transhumanismo-antihumanismo-e-religioes-bionicas/
A Tragédia de Belladonna é um filme de animação japonesa do gênero drama erótico, realizado e escrito por Eiichi Yamamoto, baseado na obra La Sorcière do autor francês Jules Michelet. É o terceiro e último filme da trilogia Animerama, voltada para adultos da Mushi Production, seguindo Mil e Uma Noites (1969) e Cleopatra (1970). Embora seu lançamento inicial tenha sido um fracasso comercial e tenha levado o estúdio à falência, o filme se tornou um cult ao longo dos anos. O filme é notável por suas imagens eróticas, religiosas, violentas e psicodélicas, abordando temas como misoginia, opressão feudal, depravação moral, rebelião e caça às bruxas. Leia mais aqui
Os hinos védicos apresentam diversas cosmogonias. No entanto, quatro tipos específicos de cosmogonias parecem ter apaixonado os poetas e teólogos védicos. Temos a Criação pela fecundação das águas originais, a Criação pelo despedaçamento de um gigante primordial, a Criação a partir da unidade-totalidade, simultaneamente ser-não ser, e a Criação pela separação do Céu e da Terra. Leia mais aqui.
Tudo sobre Lily Chou Chou é um filme japonês de 2001 escrito e dirigido por Shunji Iwai que conta a história de vários estudantes ao longo de sua adolescência. O filme se ambienta no começo dos anos 2000, onde a cultura das redes sociais ainda estava embrionária, sendo manifesta nos famosos chats e salas de bate-papo online. Além dos problemas, a vida desses adolescentes são permeados por uma enigmática artista chamada Lily Chou-Chou que, que vai conectar todos os personagens do filme (sendo os principais Shūsuke Hoshino e Yūichi Hasumi), se tornando o ponto convergente entre todos eles. Temos aqui um típico filme “coming-of-age”, que mostra um painel confuso e fragmentado de vidas de adolescentes que se entrelaçam e se conectam, onde autodescoberta e a descoberta do outro se intensificam numa necessidade contraditória autoafirmação de identidade com necessidade de pertencimento, além das estimulantes e traumáticas descobertas do desejo sexual. Tudo isso numa época em que a cultura digital ainda nascente. Leia mais sobre o filme aqui: https://tavernadolugarnenhum.com.br/resenha/tudo-sobre-lily-chou-chou/
Yoshihiro Tatsumi, através de seu alter ego Hiroshi Katsumi, narra sua vida como escritor de mangá em Osaka nos anos 50 e seus desafios para conciliar estudos, trabalho, puberdade, família, vocação artística e negócios em um país que tentava se recuperar dos destroços da guerra, enquanto também buscava reconciliar identidade, orgulho, prosperidade econômica, tradição e modernidade. O Japão estava “à deriva”, assim como Hiroshi, e Hiroshi estava “à deriva”, como qualquer pessoa. O leitor deste mangá, ao terminar a leitura e olhar ao seu redor, sentirá a mesma náusea de um barco à deriva no meio do oceano, sendo levado pelas ondas em direção a um destino incerto. O mais importante desta obra é mostrar as coisas como são, sem tentar transmitir uma “mensagem” ou oferecer algum ensinamento. Um dos piores males do mundo moderno é ter destruído o senso de hierarquia e nivelado o homem comum ao sacerdote. Quase todo mundo tem um bom conselho para qualquer situação. O homem comum perdeu a capacidade de ser sincero, de assumir não saber lidar com as coisas e de se sentir à deriva.
As máquinas historicamente se tornaram extensões de nossa musculatura e expandiram basicamente todas as nossas possibilidades físicas. Através delas, conseguimos migrar em questão de dias de um lado do planeta ao outro, ou mesmo sair da Terra. Conseguimos demolir montanhas e até criá-las novamente em outros lugares. Desbravamos os mares, mudamos o curso dos rios, nadamos com as baleias e até voamos com os pássaros. A última fronteira a ser quebrada seria a nossa própria mente, e essa possibilidade parecia adormecida até a chegada dos computadores. Quando os computadores chegaram, trazendo consigo toda a sua noção avançada de processamento, armazenamento de dados, memória e velocidade de resposta, todo o nosso imaginário pareceu se configurar no mesmo instante – enquanto crescia em nós um misto de esperança e medo. Veja mais aqui: https://tavernadolugarnenhum.com.br/filosofia/autores/roger-penrose/a-mente-nova-do-imperador/testando-o-teste-de-turing/
Segundo Roger Penrose (Nobel de Física em 2020, para quem gosta de validação de autoridade acadêmica), toda essa discussão sobre os “perigos dos avanços da inteligência artificial” e a possibilidade dessa “inteligência” substituir a mente humana não passa de alarmismo vulgar, alimentado por muita ficção científica e pouca ciência e filosofia. Não que figuras importantes da ciência não defendessem tal possibilidade distópica, onde as máquinas poderão nos copiar, nos substituir, nos eliminar e prevalescer sobre a Terra. Autores como Marvin Minsky, pioneiro na inteligência artificial, consideram nossa mente como “computadores feitos de carne” e, como tal, seria perfeitamente possível pensar que toda nossa percepção de beleza, humor, consciência e livre-arbítrio poderiam emergir naturalmente de robôs eletrônicos com comportamento algorítmico suficientemente complexo. O grande problema de nossos tempos é que muitas vezes bons cientistas não produzem boa filosofia e bons filósofos não entendem de ciência. E ambos já não produzem nenhuma especulação mística ou religiosa, pois o pensamento religioso foi caricaturado numa interpretação vulgar de “dogma” (mas isso é outro assunto). Os filósofos da ciência, como John Searle, parecem, a princípio, os mais qualificados para responder a autores como Minsky, ao afirmar com bastante lucidez que computadores não são essencialmente diferentes de calculadoras mecânicas que operam com rodas, alavancas ou qualquer outra coisa capaz de transmitir sinais. Um computador, por mais avançado que seja, “entende” suas operações tal como um ábaco. Leia mais aqui.
Os documentos etnográficos mais importantes e numerosos da pré-história estão nas cavernas, nas artes rupestres. O que intriga pesquisadores como Leroi Gourhan é que essas artes possuem uma extraordinária unidade de conteúdo artístico e temático. Na arte rupestre, há uma predominância de representações de animais: ursos, leões, lobos ou tigres crivados de flechas, além de cervos, corujas, bisões e camurças. Era também nas cavernas que ocorriam os nascimentos, pois eram lugares seguros, vistos e celebrados como verdadeiros santuários. Essa imagem pode passar despercebida para a maioria das pessoas, mas certamente não escapava aos homens de curiosidade mística. Leia mais.
É um consenso científico que o dia do homem paleolítico era alternado entre tentar se alimentar e procurar abrigo. Basicamente, qualquer esforço adicional a essa rotina poderia ser fatal e colocá-lo em risco. O homem nessas condições extremas deveria se reduzir ao que é eficiente e utilitário. Nem um alimento poderia ser desperdiçado; nenhuma energia deveria ser gasta em vão. No entanto, o que sempre intrigou os estudiosos é a descoberta de que o homem paleolítico, de Chu-ku-tien até a costa ocidental da Europa, na África até o cabo da Boa Esperança, na Austrália, na Tasmânia, na América até a Terra do Fogo, se preocupava com ritos funerários. De um ponto de vista prático, o abandono puro e simples de corpos em matagais seria o esperado. Veja mais.
Ryo Fukui foi um pianista de jazz japonês que marcou profundamente o cenário musical, especialmente no Japão. Sua jornada musical começou com a aprendizagem do acordeão aos 18 anos, mas foi aos 22 que ele decidiu embarcar na aventura de aprender piano por conta própria, mudando-se para Tóquio. Durante esse período, Fukui teve encontros fortuitos com o saxofonista Hidehiko Matsumoto, que ofereceu valioso incentivo e orientação ao jovem pianista. Apesar dos desafios e momentos de desânimo, Fukui perseverou, aprimorando suas habilidades e moldando seu próprio estilo. Fukui, como muitos em seu país, se apaixonou pelo jazz após o término da Segunda Guerra Mundial. Enquanto o resto do mundo começava a esquecer o jazz como música popular, o Japão permaneceu completamente engajado com o gênero naquilo que ele originalmente era: um rítmo baseado em swing. Esse interesse pelo swing é fundamental para entender o Japão como um lugar do renascimento do jazz enquanto música popular, enquanto nos Estados Unidos o gênero se tornava mais complexo e abstrato, afastando-se do público em geral. Nada contra essa evolução, pois trouxe inovações incríveis à música, mas o jazz estava gradualmente se tornando mais acadêmico, enquanto a popularidade fluía para gêneros como funk e rock and roll. Leia mais aqui: https://tavernadolugarnenhum.com.br/musica/jazz/ryo-fukui-e-um-pouco-da-historia-do-jazz-no-japao/ Críticas do disco de Ryo Fukui: https://tavernadolugarnenhum.com.br/categoria_resenha/musica/jazz/jazz-japones/ryo-fukui/
Gilbert Ryle introduziu o conceito do “fantasma na máquina” em seu livro “O Conceito da Mente”, de 1949. O autor argumenta que a “mente” é uma “ilusão filosófica” vinda principalmente de René Descartes, sustentada por erros lógicos e conceituais. No capítulo “O Mito de Descartes”, Ryle apresenta “o dogma do fantasma na máquina” para descrever o conceito filosófico da “mente” como uma entidade separada do corpo, como se esta pudesse ser isolada dos “processos físicos”. Como filósofo linguístico, uma parte significativa do argumento de Ryle é dedicada a analisar o que ele percebe como erros baseados no uso conceitual da linguagem. Para ele, Descartes cometia um erro específico de categoria. Em “Ghost in the Shell”, Shirow Masamune faz uma espécie de revisão crítca do conceito de Ryle. Aqui, a parte mais significativa da existência se confunde com a mente num tecido intercambiável de informações, significados e consciência. Continue lendo aqui: https://tavernadolugarnenhum.com.br/ficcao-cientifica/cyberpunk/os-paradoxos-em-ghost-in-the-shell/
“My Back Was a Bridge for You to Cross” é o quinto álbum de estúdio de “Anohni and the Johnsons” e o primeiro que ouço. Foi lançado em 2023 e co-produzido (também co-idealizado) por Jimmy Hogarth. O álbum aborda diversos temas, como preconceito e convulsão social em “It Must Change”, conservacionismo em “There Wasn’t Enough” e memórias, como em “Sliver of Ice”, inspirada em uma conversa peculiar de Anohni com Lou Reed sobre “a beleza da água congelada”, semanas antes de sua morte em 2013. O que torna este álbum tão bom é que ele evita experimentações excessivas em favor de um estilo soul mais clássico. Não que o experimentalismo seja ruim, mas muitas vezes artistas alternativos como Anohni acabam sendo experimentais apenas para sinalizar uma afinidade pretensiosa com uma vanguarda vazia de sentido e efeito. O soul tradicional, em sua fórmula consagrada, já oferece as ferramentas necessárias de expressão – o que importa para um artista. Aqui, Anohni busca expressar, entre outras coisas, é sua admiração por Marsha P. Johnson, que figura a capa deste disco (e também o nome da banda). Leia mais aqui.
Na Praia à Noite Sozinha” é um drama sul-coreano de 2017, escrito, produzido e dirigido por Hong Sang-soo. O filme gira em torno de uma premissa central: Young-hee, uma atriz fracassada, vive o estresse de um relacionamento com um homem casado na Coreia. Na praia, ela se questiona se ele sente falta dela da mesma forma que ela sente falta dele. Esta foi a segunda vez que assisti ao filme. Na verdade, o revi por acaso. Não era minha intenção revisitá-lo; ele simplesmente apareceu novamente na minha lista e acabei assistindo. Não lembrava se já o tinha visto pelo título. A primeira vez que vi esse filme foi em uma mostra de cinema oriental, ao lado de uma ex-namorada. Na ocasião, achei o filme extremamente tedioso, assim como ela. A fotografia escura e os diálogos longos e triviais me deixaram entediado, e em vários momentos acabei adormecendo. Ao acordar, estava no meio de um diálogo, sem entender nada, o que me gerou ansiedade por não conseguir acompanhar a conversa. Leia a crítica completa do filme aqui.
A sociedade indo-europeia era dividida em três classes: sacerdotes, guerreiros e agricultores. A identidade religiosa era trifuncional: tínhamos a função da soberania mágica e jurídica, a função da força guerreira e, finalmente, as divindades da fecundidade e da prosperidade econômica. Os celtas repartiam a sociedade em druidas (sacerdotes, juristas), aristocracia militar (flait, literalmente “poder”, equivalente ao sânscrito “ksatra”) e homens livres (airig), possuidores de vacas (bó). A sociedade romana também seguia o mesmo modelo na ideia geral de uma organização trina, onde o mundo terreno era uma cópia da tríade capitolina celeste composta por Júpiter (cosmocrata jurídico), Marte (deus da guerra) e Quirino (deus das riquezas da terra). Entre os escandinavos, a mesma coisa: temos Odin, Thor e Freyr. Leia mais aqui.
Esse podcast discute o renascimento do paganismo na Inglaterra, inspirado pelo filme "The Wicker Man" de 1973. Mircea Eliade para explicar que as mitologias indo-europeias são conhecidas por fragmentos heterogêneos. Antes do cristianismo, os europeus já haviam abandonado muitas tradições religiosas. Irônicamente, os cristãos preservaram muitos mitos pagãos ao tentar dialogar com os pagãos. O "resgate" moderno do paganismo é baseado em um conhecimento escasso e cristianizado e se assemelha mais a um evento de cosplay sem profundidade espiritual. Muitos elementos do paganismo contemporâneo são subprodutos da cultura cristã, não refletindo as tradições pagãs originais. Concorda? Discorda? Fique a vontade!
Podcast com reflexões sobre o mundo moderno, a tradição, o cristianismo e as noções de transcendencia e verdade.
Como o niilismo cósmico da literatura de Lovecraft entrou no mundo do Idol japonês, eu não faço a menor ideia. O Necronomidol é um grupo espantosamente eclético que mistura J-Pop, Darkwave, AOR e Black Metal (entre outros estilos) em músicas com temáticas lovecraftianas surpreendentemente aprofundadas e... dancinhas. Não sei bem por que isso deu certo, confira o programa e me ajude a entender.
Eis finalmente o último episódio da série de podcasts sobre a filmografia de Akira Kurosawa. Aqui eu falo de dois filmes: Dersu Uzala de 1975 e Madadayo de 1993, o último filme de Akira Kurosawa. Dersu Uzala" e "Madadayo" são filmes que abordam os temas crepusculares da velhice e do legado. Em "Dersu Uzala", acompanhamos a amizade entre o explorador russo Vladimir Arsenyev e o velho caçador Dersu Uzala. Apesar das diferenças culturais, eles desenvolvem um vínculo especial, e Dersu compartilha sua sabedoria sobre a natureza e a vida, enriquecendo a perspectiva de Vladimir. Já em "Madadayo", o professor Uchida Hyakken se aposenta após trinta anos lecionando literatura alemã para se dedicar à escrita. Seus ex-alunos o visitam todos os anos, demonstrando respeito e gratidão pelas lições ensinadas ao longo do tempo. Ambos os filmes nos convidam a refletir sobre a efemeridade da vida e a importância de valorizar o presente. A velhice é retratada como uma fase de transição, na qual experiências e conexões se tornam preciosas. Essas obras cinematográficas inspiram-nos a enxergar a velhice com maturidade, refletindo sobre nossa própria relação com o tempo e com a busca por uma vida valorizando aquilo que de fato importa. Espero que gostem.
pennywise
salada de palavras aleatorias.
Bruno Kal-el Barroso
episódios novos please