Beijos e Whisky

É muito comum que, ao ver uma pessoa famosa, digamos que ela é uma pessoa de sucesso. E nos espantamos sobremaneira quando uma pessoa de sucesso decide encerrar a sua vida. “Como pode - falamos nós - cometer suicídio tendo tudo o que tinha?!” Mas o que é sucesso? Sucesso é o resultado positivo de alguma ação. É uma conquista, mas todas as conquistas são desfechos. Podemos dizer que sucesso é a realização de algum desejo. Mas dinâmica do desejo é paradoxal: quando temos o que desejamos, não a desejamos mais porque já a temos. De qualquer forma, o sucesso na vida vai depender do seu projeto de vida e no que você coloca maior valor. Quem coloca maior valor no dinheiro, terá sucesso quando tiver muito dinheiro. Quem coloca maior valor na fama, terá sucesso quando for famoso. Quem coloca maior valor na felicidade, terá sucesso quando for feliz.

Como pode que a coisa mais natural da vida e a única coisa certa que podemos esperar enquanto vivos, nós não conseguimos nos acostumar: a morte. A morte é tão presente quanto a vida e ainda assim não nos acostumamos com a ideia da morte. É a anulação de tudo o que conhecemos e isso nos perturba sobremaneira. Mas sobre este tema, são as palavras do filósofo clássico Epicuro que para mim dizem quase tudo o que deve ser dito, e eu reproduzo aqui como o próprio Epicuro escreveu.

Ao deparar-se com longas horas de silêncio e solidão o homem não tem outra alternativa a não ser amar-se. Pois como poderá conviver consigo mesmo tanto tempo sem distrações se odeia a si mesmo? Ora, ninguém gosta de conviver com aquele que odeia. Evitará a todo custo aquele que lhe causa desgosto. Mas como fará o homem para evitar a si mesmo caso sinta desgosto de si? Pois essa é a qualidade do silêncio e da solidão, a de deparar o homem consigo mesmo e atentar para a própria companhia. Se estiver sozinho, apenas as muitas atividades ou a distração proveniente de algum barulho evitará o homem de refletir sobre si mesmo. Mas em meio ao silêncio e à solidão é inevitável que os pensamentos do homem se voltem para si mesmo em pouco tempo, não importa o quanto resista a isso, como que para conversar com a única companhia que lhe resta: a si próprio. Meditation Impromptu 02 de Kevin MacLeod está licenciada ao abrigo da Creative Commons - Atribuição. Artista: http://incompetech.com/

É uma grande estupidez para qualquer homem negar o fato de que o mundo em que vivemos é um mundo masculino. O mundo de Cleópatra, Jane Austen, Marie Curie e Hannah Arendt ainda foi, em medida muito superior, transformado pelas mãos dos homens. É uma herança evolutiva. A força que tornava os homens mais capazes para caçar, lutar e proteger, também foi a força usada para subjugar aquela que naturalmente era a cuidadora da vida doméstica. É justificável? Ora, dos homens eu entendo as motivações, mas repudio as ações.Em tempos onde as palavras substituíram a força física, manter a subjugação é um sinal claro do medo masculino de perder seus privilégios. Buscar a igualdade não é a troca de poderes, mas a promoção da garantia de liberdade, para que as mulheres gozem desse direito tanto quanto os homens. Mas os homens não desistirão facilmente. Qual estratégia devemos então usar para promover a igualdade? (Touchpoint de Audionautix está licenciado ao abrigo Creative Commons Licence - http://audionautix.com/)

Como seria dormir e nunca mais acordar? Se você pensar nisso por tempo o suficiente você vai ser indagado por outra pergunta: Como seria acordar sem nunca ter dormido? E foi assim que você nasceu. Ninguém sabe, por sua própria experiência, como é não estar vivo. É quase impossível para nós imaginar a não existência, eu, pelo menos, nunca conheci alguém que conseguisse fazer isso. Pois toda a nossa vida tem como pressuposto o simples fato de que nós existimos. Não há nada mais íntimo de nós do que a vida em si. A não existência é, portanto, o puro conceito de desconhecido, de mistério. E tudo aquilo que é desconhecido gera receio. Quando encaramos o desconhecido por muito tempo e não conseguimos desvendar o mistério, então o receio se transforma em medo. Esse medo é responsável por tantas suposições e dogmas a respeito daquilo que acontece depois da morte: a permanência da vida, mas em algum outro estado, pois não suportamos a ideia de não existir mais. É aí que reside a esperança da eternidade. Permanecer existindo em alguma realidade melhor do que a nossa. É uma esperança legítima, mas que impõe muitas dúvidas.

Se eu lhe perguntar qual é a questão filosófica mais clichê de todos os tempos, você provavelmente pensaria na questão a respeito do sentido da vida. Mas qual é o sentido da vida? Qualquer pessoa mais ou menos sábia já se perguntou sobre o porquê da sua existência, sobre qual o propósito da sua vida. Há quem diga que cada um tem uma missão, e há quem diga que toda a existência não passa de mero acaso. Para muitos perguntar sobre o sentido da vida não faz sentido algum. O problema dessa questão seria a própria questão. Por exemplo: A pergunta “que horas são em Pequim?” faz sentido, mas a pergunta “que horas são no sol?” não faz nenhum sentido. Estamos, portanto, fazendo a pergunta certa?

A estética sempre foi importante na história da humanidade. O ser humano tem essa habilidade inerente de atribuir valor à arte. Enxerga-se arte no próprio ser humano. Tanto que nas tradições religiosas antigas o ser humano sempre é formado pelas mãos dos deuses a partir de alguma matéria prima. Ou seja, os deuses são vistos como artesãos, artistas criando uma obra de arte. É claro que o valor da estética atribuída às pessoas vai mudando com o tempo e o que era belo um dia hoje pode não ser mais. Em tempos de redes sociais e exposição pessoal a beleza e a feiura estão em constante contraste. O padrão consensual de beleza eleva-se cada mais e qualquer coisa, qualquer detalhe que não se acomode ao padrão de beleza é imediatamente visto como feio.

Existe uma diferença importante entre inteligência e sabedoria. Inteligência tem a ver com a quantidade de informações relevantes que um indivíduo consegue armazenar e a capacidade de resgatar essas informações em momentos oportunos. Mas sabedoria é a capacidade de aplicar essas informações da melhor maneira possível, de modo a tornar a vida mais agradável e feliz. Por exemplo: Inteligência é saber que tomate é uma fruta. Sabedoria é saber que não se coloca tomate numa salada de frutas. Nesta era da informação somos bombardeados constantemente pela superabundância de informações e acaba sobrando pouca energia para se aprender a aplicar o conhecimento adquirido. Por isso é muito comum encontrarmos pessoas inteligentes, mas passam longe de serem sábias. Existem 4 princípios para adquirir sabedoria. Irei lista-los em ordem de importância.

Arthur Schopenhauer diz: “O que o rebanho mais odeia é aquele que pensa de forma diferente, não é tanto a própria opinião, mas a audácia de querer pensar por si mesmo, algo que eles não sabem fazer”. Ser autêntico, pensar por si mesmo, ser livre parece ser uma grande ameaça aos que compõe a grande massa, aos chamados normais. Pois querendo ou não, quando você é livre em si mesmo você acaba se destacando e revelando as limitações autoimpostas pelos normais. Por isso, eles farão com que você se sinta mal por ser diferente. O que eles se recusam a aceitar é que cada pessoa é um universo em si mesma. Cada pessoa vê e interage com o mundo do seu próprio jeito. A sua percepção dos fenômenos ao seu redor é só sua. Impor a mesma percepção ao outro é escravizá-lo, tirá-lo de si, negá-lo. A forma que forma a maioria padronizada é a forma da desumanização, da negação do indivíduo, da escravidão.

Imagine que você está dirigindo um carro pelas ruas da sua cidade. Normalmente dirigimos porque queremos chegar a algum lugar. Agora, o que aconteceria se você mantivesse o volante sempre virado o máximo possível para a direita? Você muito provavelmente bateria o carro. E se você mantivesse o volante sempre virado o máximo possível para a esquerda? Você, da mesma forma, muito provavelmente bateria o carro. Se você estivesse em um campo muito aberto e fizesse a mesma coisa, mantendo o volante sempre virado para a direita ou para a esquerda, então você andaria em círculos, mas não chegaria a lugar algum.No trânsito, para que seja possível você chegar ao seu destino, você terá que, as vezes, virar para a direita e, as vezes, para a esquerda, indo reto sempre que possível em direção ao destino. Mas, se neste exemplo prático fica tão evidente que a permanência num ponto extremo não nos conduz a lugar algum, por que achamos que na vida será diferente?

Ressentimento é re-sentir, sentir sempre de novo uma emoção desagradável. É reviver constantemente o episódio que nos ofendeu. Agora, por que alguém iria querer isso? Se por natureza buscamos o bem e evitamos o mal para nós, por que buscaríamos o mal revivendo sempre de novo uma situação ruim? Pois pelo ressentimento não é a coisa em si que nos afeta, mas a nossa imaginação da coisa, pois ela não está mais presente, é a nossa memória que busca a coisa no passado, mas o passado não existe mais, já passou, a coisa que nos afeta já passou também e não existe mais.

Quem poderá prever as consequências da tua sorte ou as consequências do teu azar. A tua sorte poderá inclusive se converter em azar para o outro, pois a vida lhes conecta. Ou a tua sorte poderá se converter em azar, mais cedo ou mais tarde. Ou o teu desejo será afetado uma aleatoriedade que foge ao teu controle, de tal forma que você poderá dizer para si mesmo “eu nunca devia ter ido atrás desse desejo”. Tais aleatoriedades nos cercam constantemente, devido a esta imensa estrutura complexa que chamamos vida.

Você é o capitão da sua vida. A autoridade máxima sobre a própria vida. Você quer guiar a sua vida e levá-la pelos melhores lugares e momentos. É claro. Todos queremos. Mas eis a verdade crua, difícil e libertadora: você tem tanto controle da sua vida como o capitão tem o controle do seu navio. Pois se você parar para pensar com profundidade sobre a tua própria existência você perceberá que o bom desempenho da sua vida depende de circunstâncias tão diversas e autônomas que quase absolutamente tudo na tua vida acontece independente da tua vontade.Teu coração não te pede permissão para bater. Os passarinhos que te alegram não te pedem permissão para cantar. O que está em você e o que está fora de você, tudo simplesmente acontece. A vida simplesmente acontece. Você pode controlar mínimas coisas que se referem a você mesmo, mas são infinitas as coisas que fogem ao nosso controle.

Não é difícil passar um dia inteiro sem ter contato com a natureza. Passar um dia sem pisar na terra nua, sem tocar numa árvore ou planta, sem observar um passarinho. Muito fácil passar um dia inteiro absorto apenas por aquilo que mãos humanas criaram, plástico e concreto. Mas o ser humano nasceu do seu meio cru. Somos tão naturais quanto a natureza e tão selvagens como ela também. Isso significa que quanto mais nos afastamos dela, mais nós nos afastamos de nós mesmos.Continua...