22* Eu cá, tu lá

22* Eu cá, tu lá

Update: 2021-12-15
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Description

Hoje o dia não está muito diferente dos anos anteriores.


É impossível esquecer-me como eu andava eufórica para te ver. Tanto que já andava a riscar os dias do calendário para te receber.


Preparei o meu coração e escolhi o teu presente, atempadamente, com todo o carinho e dedicação. Já tinha tudo pronto para te receber. Só faltava vires.  Da minha boca só saía entusiasmo puro por toda a alegria que sentia dentro de mim, por estares quase a chegar.


Se tivesse o poder de adiantar o tempo tinha-o feito. Não pelo Natal, mas sim para poder ter, finalmente, a tua presença incontornável marcada com as tuas palavras de carinho e sabedoria. Precisava tanto disso! Não sei se sabes, mas sempre foste a minha confidente. Aquela que sem me pressionar sabia o que ia dentro do meu coração e sem julgar acolhia os meus pensamentos e sentimentos.  E, apesar do meu silêncio não me acusar, acredito que tu tivesses uma pequena ideia de como eu me sentia na verdade. Nunca te quis preocupar e, no fundo, acho que sempre acreditei que bastava um colo teu para acalmar a tempestade que estava dentro de mim, por isso, era só uma questão de tempo.  Tinhas o dom de me acalmar e encorajar a seguir caminho, fossem as circunstâncias que fossem.


Senti-me muitas vezes a viajar com as histórias que contavas e, sem me aperceber, a desejar ser como tu: cheia de garra, humor, sabedoria e com um coração enorme.


Eras avó de meio mundo e hoje percebo porquê. Quando tocamos o coração das pessoas e agimos com bondade é impossível não ter um retorno de carinho. Sabes, há quem fale de heróis, mas eu falo de ti. Com um brilho tão grande que muitos se sentam para me ouvir e se inspirarem em tudo o que conto. E é aqui que vejo que a tua obra não terminou quando decidiste morrer. Deixas-te um tanto em mim que transborda amor e toca a alma dos que querem fazer parte desta história.


Hoje decido acalmar o meu coração pela tua perda. Nem sempre é fácil, é verdade, mas ao fim de seis anos longe das minhas raízes, do meu mundo se ter virado do avesso umas, tantas vezes, e de te ter perdido para sempre, lembro - me agora das palavras que me dizias nas minhas dificuldades : “nunca desistas de nada porque ainda vais ser muito feliz”. Sabes, acreditei sempre nelas e acho que os ventos já começam a soprar nesse sentido. E é assim que, depois de todos estes dezembros amargos,  este começa a ser diferente. Começo a dar-lhe um outro significado com tudo o que me tem acontecido e com um olhar de resiliência. Vejo a minha vida agora  como as peças de um puzzle que começa encaixar-se e a fazer mais sentido.


No meu coração fica sempre a certeza de que “enquanto houver céu , vemo-nos em qualquer lado” por isso, sinto-me segura a cada passo que dou em frente porque te sinto sempre olhar por mim.







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Sofia Gomes