5 INCOMPREENSÕES

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Update: 2022-06-25
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1 - Uma criança morreu, em Setúbal, vítima de maus tratos. Quão bárbaro pode ser um indivíduo, supostamente humano, que inflige a uma criança, indefesa, de três anos, atos de violência letal? O relatório anual da CPCJ, relativo a 2021, revelou um aumento de 8,6%, mais de 43 mil casos de perigo em Portugal, a maioria por violência doméstica e negligência. 2 - A guerra pelas audiências alimenta o jornalismo selvagem e descredibiliza os jornalistas, profissionais essenciais num regime democrático. As imagens captadas pelas câmaras de televisão devem envergonhar os profissionais, que aparentam desconhecer os seus limites éticos, quando não respeitam o outro, quase o abalroam e lhe metem o microfone na boca contra a sua vontade. A revolta da comunidade é inteligível. O desrespeito pela menina, no dia do seu funeral, é incompreensível e revelador do mediatismo orwelliano. Foi mais forte a ânsia de agressão à progenitora do que a vontade de garantir uma despedida digna à Jéssica. 3 - É profundamente errónea a ideia, que parece fazer o seu caminho, de existir uma espécie de violência de classe, como se fossem os pobres mais propensos a atos bárbaros. Sabemos que não é assim. Lamentavelmente, a violência e os maus tratos são transversais à nossa sociedade como um todo e não escolhem orçamentos, raças, sexos, idades…4 - O Eixo do Mal, na SIC, exibiu uma intervenção da Vereadora Independente por Lisboa, Laurinda Alves, que seria anedótica não fosse proferida pela responsável dos Direitos Humanos e Sociais na Câmara de Lisboa. Pressupondo que não terá passado de um momento infeliz, as suas declarações são reveladoras de um maternalismo anacrónico, desajustado ao paradigma de intervenção social desejável que em nada contribui para desconstruir o estigma e combater o preconceito em relação às pessoas em situação de sem-abrigo. Justificou a não atribuição de bilhetes para o Rock in Rio Lisboa com esta frase: “Ficava complicado, nomeadamente porque há situações de consumos e que poderíamos estar a potenciar". Tenho que ser sincero, já ouvi pior também em relação a uma pessoa em situação de sem-abrigo: “Não é urgente, a casa [uma ruína, sem portas e sem janelas] onde está nem é nada má.” 5 - Ao ouvir a responsável pela DGS, Dra. Graça Freitas, afirmar que “Agosto não é um bom mês para ter doenças, é a pior coisa que nos pode acontecer” percebi que estará a ler Aniquilação de Michele Houellebecq e identificar-se-á com as ideias de Paul: “Os hospitais não deviam ficar nas cidades, disse Paul para si mesmo, o ambiente no meio urbano é muito agitado, excessivamente saturado de projetos e de desejos, as cidades não são um bom lugar para morrer.”
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Jose Carreira