Entre o cansaço e a esperança: como resgatar o bem-estar em tempos de exaustão?
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A saúde mental tem recebido cada vez mais destaque, principalmente após a pandemia de Covid-19. Especialistas apontam que esse período exacerbou ainda mais casos de transtornos de ansiedade, estresse e depressão. Para o psicólogo Lucas Freire, autor do livro “Exaustos: imaginando saídas para o cansaço diário”, a sociedade também está vivendo um recorde de afastamento no trabalho por conta da saúde mental. “Era algo que já percebíamos, principalmente porque em nosso país, muitas vezes, nós temos relações de trabalho que ainda carecem muito de dignidade, infraestrutura, ao mesmo tempo que a nossa sociedade se desenhou de uma maneira extremamente adoecedora do ponto de vista de performance, do bem-estar social, das relações interpessoais. Tudo isso foi exacerbado e contribuiu para o nosso mal-estar coletivo”, avaliou.
O psicólogo ainda afirmou que as atuais gerações estão falando mais sobre o tema, já que os mais jovens têm menos tabu e possuem menos medo de ser vulneráveis. Porém, ainda há uma grande parcela da população que tem dificuldade de falar sobre a saúde mental. “A gente ainda vive em muitos lugares a ideia de que você falar que não está bem é um sinal de fraqueza, é um sinal de que você não é capaz de lidar com o que a vida traz e a gente sabe que todos nós temos a necessidade de ser cuidados e de se cuidar”, pontou. O especialista salientou sobre o Dia Mundial da Saúde Mental, lembrado em 10 de outubro. “É um convite a todos nós para se proteger, para o autocuidado, para entender quais são os gatilhos que cada um tem”, disse. Ouça mais detalhes do assunto na entrevista completa realizada no programa Ponto de Encontro:
Para Lucas, há uma série de fatores que atuam juntos e que, infelizmente, contribuem para que as pessoas se sintam cada vez mais cansadas, principalmente mentalmente. “A gente tem um empobrecimento das experiências comunitárias, coletivas, interpessoais ao longo dos últimos anos. A gente tem se tornado mais intolerante uns com os outros, a gente tem vivido uma falsa ideia de que seremos capazes de ter performance o tempo inteiro na vida. A gente teve aí uma mudança brutal na nossa relação com a tecnologia, que hoje está na mão de todo mundo e empobrece muitas vezes as experiências”, comentou. “A gente tem essa vida que as pessoas estão, infelizmente, sendo atropeladas por informações sempre comparativas às vidas dos outros ou então cenários e horizontes cada vez mais incertos. São fatores que criam esse espírito de uma época tão cansativa”, acrescentou.
O psicólogo também pontuou que há fatores fundamentais para entender essa relação com a tecnologia. A principal é ter a consciência de que, hoje, a tecnologia entende mais sobre o comportamento humano do que tempos atrás. “A nossa atenção virou commodity, aquilo que as pessoas, que as empresas querem, é a nossa atenção. E isso empobreceu o nosso lazer, empobreceu nossos momentos de vida em família, empobreceu nossas relações, porque estão todas permeadas pelo algoritmo, pela velocidade, pelas telas”, avaliou. “Vamos aumentar a consciência crítica, vamos refletir mais sobre o mundo que a gente está vivendo para que a gente possa resgatar a autonomia”, frisou.
Freire salientou que é preciso valorizar mais o brincar. “Voltar a saborear a vida, contemplar, dar o tempo que as coisas precisam. Isso é fundamental para o nosso bem-estar, colocar mais a natureza de volta em contato com a gente”, disse. “Não é um brincar na tela, é o brincar que existia antes, era um brincar livre, um brincar exploratório. O brincar não é do universo apenas infantil, o brincar é para a vida inteira: o adulto brinca, o adulto precisa se reconectar com as artes, se reconectar com a consciência, contemplação, tudo isso está dentro desse campo”, reforçou. “É o campo que resgata nossa imaginação, que nutre nossa capacidade de enfrentar o estresse, que a gente chama de resiliência na psicologia”, afirmou.
Segundo Freire, a obra “Exaustos: imaginando saídas para o cansaço diário” é baseada em suas próprias observações sobre o atual cenário que a sociedade está vivendo. Conforme o autor, o livro é dividido em duas grandes partes. “O primeiro bloco é trazer a luz para esse movimento coletivo de adoecimento que nós estamos vivendo através desse uso abusivo de telas, dessa falsa ideia de performance. E no segundo momento são convites, que não são fórmulas prontas, mas um convite para resgatar a nossa autonomia, para a gente voltar a se reconectar com a vida, a gente voltar a imaginar, porque a imaginação é fundamental para a nossa espécie, ela nutre o esperançar, o descobrir, o olhar o futuro de uma forma mais otimista”, explicou. O livro está disponível para pré-venda na Amazon (CLIQUE AQUI).
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