Fitch baixa rating da dívida soberana da França de AA- para A+
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A agência de notação financeira Fitch baixou esta noite o rating da dívida francesa para A+ com perspectiva estável. Esta degradação é um reflexo da instabilidade política vivida no país que desde Junho de 2024 já teve três primeiros-ministros diferentes.
Nem a nomeação apressada do fiel Sébastien Lecornu, que já ocupou várias pastas nos diversos Governos indicados por Emmanuel Macron, como primeiro-ministro impediu a Fitch, umas principais agências de notação financeira, de baixar o rating da divída francesa de AA- para A+.
Esta é uma degradação que acontece ainda com uma perspectiva estável, mas que dependerá do desempenho da economia e da política interna francesa nos próximos meses, especialmente no que toca à aprovação do próximo orçamento, um desafio para Lecornu.
Para Pascal de Lima, economista chefe da consultora BKMC (Business Knowledge Management Consulting), esta diminuição já era esperada e terá algumas consequências.
"Era esperada por duas razões. A primeira é que a última notação da França da Fitch foi uma notação com uma perspectiva negativa e, portanto, quando uma agência de notação fala de perspectiva negativa é porque se o défice continua a aumentar, se a dívida pública continua a aumentar, haverá um impacto negativo. A segunda razão é que vimos nos mercados financeiros que os investidores já tinham integrado totalmente essa degradação da notação. [...] Eu acho que pode haver duas consequências. A primeira é um aumento, um ligeiro aumento da taxa a 10 anos das obrigações públicas francesas e segundo um aumento do risco dos investidores que investem na obrigações da França. E segundo, porque a taxa de juro a 10 anos é uma taxa de referência para todo o mercado bancário, é um ligeiro aumento da taxa de crédito para os créditos imobiliários dos franceses", explicou o economistra franco-português.
Segundo Eric Dor, director de Estudos Económicos da IESEG - Escola de Gestão de Paris e Lille, a redução da nota da dívida francesa vai levar a que haja um aumento dos preços em França e menos dinheiro disponível para o investimento público, já que a dívida tem de ser reembolsada aos credores, agora com juros mais elevados.
"Em termos práticos, os mercados estavam a pedir à França que pagasse taxas de juros mais altas do que as cobradas por países com classificações mais baixas como Espanha e Portugal, por exemplo. Portanto, esta diminuição é lógica. Se isto terá um grande impacto nos mercados? Inicialmente, não, não podemos esperar que a taxa de juros da dívida da França suba muito a partir de segunda-feira. É mais uma perspectiva a longo prazo, especialmente se a instabilidade política continuar e haja dificuldade em aprovar um orçamento que seja realmente um orçamento de rigor e consolidação das finanças públicas. Portanto, veremos um aumento lento na taxa de juros que a França paga sobre sua dívida pública, mas não é uma crise de dívida soberana. A França não perderá o acesso aos mercados, mas simplesmente pagará cada vez mais. E assim o custo da dívida aumentará, em detrimento de outros gastos públicos mais úteis", explicou Eric Dor em entrevista a Anieshka Koumor.
Segundo relatório elaborado pela Fitch, esta instabilidade política "enfraquece a capacidade do sistema político de realizar uma consolidação fiscal importante e torna pouco provável que o défice fiscal seja reduzido a 3% do PIB até 2029, como havia sido estabelecido como meta pelo governo cessante". Caso não haja um "plano credível" para a redução do défice, a Fitch ameaça voltar a baixar a nota da dívida francesa.




