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A Semana na Imprensa

Author: RFI Brasil

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Uma leitura dos assuntos que mais interessaram as revistas semanais da França. Os destaques da atualidade do ponto de vista das principais publicações do país.

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Depois de um ano preso na Argélia, o escritor franco-argelino Boualem Sansal foi liberado e transferido, na última semana, para a Alemanha, onde recebe cuidados médicos. A libertação, anunciada pelo governo argelino no dia 12 de novembro, aconteceu após a intervenção do presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, que disse “expressar profunda gratidão (ao escritor) pelos serviços prestados ao país”. As revistas francesas desta semana detalharam o caso, que colocou em xeque o governo da França. Com uma reportagem de capa, a revista L’Express destacou, na manchete, que Boualem Sansal era “o prisioneiro de Argel” e detalhou as negociações diplomáticas realizadas ao longo do último ano. Num dos títulos da matéria, o semanário foi bastante crítico, afirmando que a Argélia estava manipulando a França há um ano. “Por várias vezes, o Eliseu acreditou na libertação próxima do escritor, refém do regime de Argel”, destacou a publicação, dizendo que os argelinos pareciam brincar com “os nervos” dos franceses. Já a revista Nouvel Obs afirmou que Sansal, de 81 anos, nunca parou de denunciar uma tendência totalitária do governo da Argélia. Para a publicação, o escritor enfrentou a prisão com uma coragem inabalável. A reportagem lembrou ainda que o autor de livros como 2084: o fim do mundo e A aldeia da Alemanha, explora, em suas obras, o totalitarismo, como o nazismo do passado e o islamismo dos dias de hoje. A prisão A revista L’Express destaca que, no ano passado, muitos amigos estavam preocupados com a ida de Sansal, que acabara de obter nacionalidade francesa, à Argélia. Eles se preocupavam especialmente devido à hostilidade de Argel visando escritores críticos do governo. Ele foi preso no aeroporto da capital argelina no dia 16 de novembro de 2024, com a embaixada da França sendo informada somente no dia 19 daquele mês.   Para Nouvel Obs, há muitas hipóteses que tentam explicar sua prisão. Alguns opositores do regime argelino dizem que o governo queria ouvir Sansal antes da sua partida definitiva para a França, já que ele conheceria muitos dissidentes, diplomatas e figuras consideradas por Argel como hostis. A libertação do escritor põe fim à preocupação e revolta de amigos e admiradores de Boualem Sansal, mas mantém a já delicada relação entre a França e a Argélia.
Enquanto a COP30 começa nesta segunda-feira (10) no Brasil, com o objetivo de discutir medidas e compromissos para limitar o aumento médio da temperatura do planeta a 1,5 °C, revistas semanais francesas destacam uma realidade inquietante: o mundo continua mais dependente do petróleo do que nunca. “Mas até quando?”, questiona a L'Express. Já a revista Le Nouvel Obs desta semana discute o papel da Europa, dez anos após o Acordo de Paris, no momento em que Estados Unidos e China emergem como impérios energéticos. De um lado a América pró-petróleo de Trump, do outro o “Estado elétrico” chinês, caracteriza Le Nouvel Obs. Em meio a tantos debates sobre o futuro energético mundial, a imprensa semanal francesa indica a eclosão de uma profunda tensão entre compromissos climáticos e interesses geopolíticos.   L’Express aponta que enquanto a Agência Internacional de Energia (AIE), com sede em Paris, prevê um pico da demanda de petróleo por volta de 2029, potências como os Estados Unidos e a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) projetam esse marco apenas para 2050, mantendo investimentos em combustíveis fósseis.   Segundo a revista, as mudanças em prol da transição energética, embora necessárias, não estão acontecendo tão rapidamente quanto se esperava. “O retorno do cético climático Donald Trump é prova disso”, justifica. A publicação critica ainda o fato de que países emergentes como o “Brasil, anfitrião da COP30 que começa em 10 de novembro, acaba de autorizar uma nova exploração petrolífera na costa amazônica”.  Leia tambémSede da COP30, Brasil 'sabota' o evento ao apostar em petróleo na Amazônia e põe em risco liderança climática Ao mesmo tempo, a China se posiciona como um “Estado elétrico”, acelerando sua transição com energias renováveis, aponta a edição da Le Nouvel Obs. A revista observa uma disputa de influência global que se desenha, além de uma batalha decisiva pelas terras raras.   Papel da Europa nesse cenário  “O que pode fazer a Europa nesse novo grande jogo da energia?”, pergunta Le Nouvel Obs. A revista acredita que o continente vive uma descarbonização forçada, mas enfrenta o risco de dependência tecnológica. A disputa entre “o império do petróleo e gás americano e o modelo chinês de eletrificação” evidencia que a transição energética está longe de ser apenas uma preocupação com o meio-ambiente: trata-se também de uma batalha pelo poder global.  “O petróleo moldou toda a geopolítica do século 20. Já o início do século 21 é marcado pela corrida pelos metais, como lítio, cobalto e terras raras, essenciais para tecnologias de baixo carbono. A China, que domina o refino e boa parte da extração desses minerais, usa essa vantagem para pressionar os Estados Unidos e a Europa na guerra comercial. E também utiliza sua liderança para atrair o 'Sul Global' aos seus interesses”, sintetiza Le Nouvel Obs.  No centro desse novo “grande jogo” da energia, a transição energética deixa de ser apenas uma questão ambiental e se revela como uma disputa geopolítica estratégica. Leia tambémEuropa x China: quem vai vencer a corrida pelo mercado de veículos elétricos?
Nesta edição da resenha semanal da imprensa francesa, Le Nouvel Observateur e L’Express revelam duas fraturas profundas na sociedade francesa atual: o afastamento entre judeus e partidos de esquerda após os ataques do Hamas de 2023, e a crescente tensão em torno da exibição de bandeiras palestinas - e israelenses - em prédios e espaços públicos na França. Os relatos expõem dilemas políticos, identitários e simbólicos que atravessam o país em pleno 2025.   Dois anos após os atentados de 7 de outubro de 2023, que reacenderam o conflito Israel-Palestina, judeus franceses que historicamente se identificaram com a esquerda vivem um momento de ruptura. Segundo a revista Le Nouvel Observateur, o mal-estar ficou evidente em um evento na prefeitura de Paris, onde a senadora socialista Laurence Rossignol foi criticada por não endossar o gesto de seu partido de "hastear a bandeira palestina". Rossignol tentou lembrar que a luta contra o antissemitismo sempre foi uma bandeira da esquerda, citando Léon Blum. Mas foi interrompida por vozes da plateia do Parlamento que afirmaram: “Isso é passado!”. Uma participante resumiu o sentimento, entrevistada pelo veículo: “Nós, judeus de esquerda, estamos um pouco órfãos. Pela primeira vez, não sei em quem votar”. A revista destaca que o vínculo histórico entre judeus e esquerda está em crise. O presidente do Crif — Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França —, Yonathan Arfi, afirmou que o ataque do Hamas não foi apenas contra Israel, mas contra os judeus do mundo inteiro. “Nosso cotidiano mudou, vivemos com medo e solidão, e a esquerda não soube ouvir isso.” Para o historiador Jonas Pardo, o antissemitismo na esquerda representa uma "regressão inaceitável". O deputado Boris Vallaud reforçou à reportagem: “Ser socialista é ter o antissemitismo como inimigo”. A revista também ouviu intelectuais e militantes judeus que relatam dilemas íntimos entre identidade, história familiar e engajamento político. O advogado Arié Alimi, próximo da esquerda radical francesa, afirmou que sua militância não compreende "o vínculo entre identidade judaica e Israel". “Esse vínculo é parte da nossa identidade”, disse ele à L'Obs. Alimi estudou em Jerusalém e tem família no país, sublinha a revista. Leia tambémFrança: prefeituras içam bandeiras palestinas ou israelenses, desafiando neutralidade do serviço público Combate identitário Já L’Express aborda a tensão em torno da exibição de bandeiras em espaços públicos e privados. Após os ataques de 2023, algumas prefeituras hastearam a bandeira de Israel; outras, a da Palestina. Ambas as ações foram contestadas judicialmente. Em setembro de 2025, 86 cidades desafiaram a ordem do governo e exibiram a bandeira palestina no dia em que Macron reconheceu o Estado da Palestina. A revista relata o caso de Maria, jovem franco-libanesa que foi pressionada a retirar bandeiras do Líbano e da Palestina de seu apartamento em Paris. “Queria demonstrar apoio às vítimas civis dos bombardeios em Gaza e no sul do Líbano”, disse ela à revista. Segundo o cientista político François Foret, há um “retorno do uso simbólico das bandeiras”, mas a questão Israel-Palestina "é muito mais polarizada que outras". No cotidiano, o uso de bandeiras também gera hostilidade. Em Paris, pichações acusaram um morador de ser ligado ao Hamas. Um comerciante foi ameaçado por exibir uma bandeira israelense em sua loja. Arfi relata que muitos judeus escondem símbolos religiosos ou mudam seus nomes nas caixas de correio para evitar problemas. “Há uma vontade de discrição”, afirmou à L'Express. A revista publica que mesmo os síndicos evitam o tema em "reuniões de condomínio". Um gestor contou à revista que pediu a retirada imediata de uma faixa pró-Gaza em um prédio. “Não podemos correr o risco de conflitos.” Até mesmo a bandeira francesa pode gerar desconforto, em diversoso casos, relata L'Express. Em Plessis-Robinson, uma moradora reclamou da bandeira tricolor nacional. A tensão simbólica revela "feridas profundas e desafios democráticos", conclui o semanário.  
O roubo cinematográfico das joias da Coroa Francesa no museu do Louvre, em 19 de outubro de 2025, ganha uma grande cobertura na imprensa semanal francesa. As revistas Le Point e Télérama desta semana mergulharam nos aspectos históricos, simbólicos e operacionais do crime, revelando não apenas o que foi levado, mas o que esse ataque representa para a memória nacional e para a segurança dos museus. Paris amanheceu tranquila naquele domingo, mas terminou com um dos episódios mais audaciosos da história recente dos museus europeus. Um grupo de quatro homens invadiu a Galeria de Apolo do Louvre, quebrando vitrines e roubando oito joias da Coroa Francesa em apenas sete minutos. A operação, descrita como “cinematográfica” pela revista Le Point, envolveu o uso de serras elétricas e fuga em scooters. Segundo Le Point, o furto visou principalmente as joias da imperatriz Eugênia, esposa de Napoleão III. Entre os itens levados estão sua diadema, um broche relicário e um laço de corpete. A coroa, embora danificada, foi abandonada na fuga dos criminosos. A publicação destaca que, ao lado das peças da imperatriz Maria Luísa e da rainha Maria Amélia, o roubo abrange boa parte das joias das soberanas do século XIX, marcando uma perda irreparável para o patrimônio francês. A reportagem traça uma linha entre o esplendor do Segundo Império e a ostentação joalheira que marcou o período. Napoleão III, em busca de legitimidade, investiu em joias como forma de rivalizar com a monarquia britânica. Os joalheiros Lemonnier, Bapst e Kramer foram encarregados de criar peças que exaltassem o savoir-faire francês, como o laço de corpete de Eugênia, composto por 4.720 diamantes da Coroa e 70 pedras adicionais. Leia tambémApós 'roubo do século', diretora do Louvre quer delegacia no meio do museu mais visitado do mundo Alta rastreabilidade A Télérama, por sua vez, adota um tom mais crítico e reflexivo. A revista questiona o valor comercial das peças roubadas, destacando que, se os ladrões buscavam lucro, teriam feito melhor em atacar vitrines de grandes joalherias contemporâneas. As joias da Coroa, embora de valor histórico e simbólico inestimável, dificilmente serão revendidas no mercado clandestino — justamente por serem únicas e rastreáveis. A historiadora Capucine Juncker, especialista em joalheria, expressa forte preocupação com o destino das joias, em entrevista à Télérama. Para ela, o roubo não parece ter sido encomendado por um colecionador bilionário. Juncker teme que os ladrões desmontem as peças e vendam as pedras separadamente, apagando sua origem e valor patrimonial. “Essas joias não são apenas objetos de luxo. Elas contam a história da França, da Europa e da arte joalheira do século XIX”, afirmou. Ambas as revistas convergem em um ponto: o roubo não é apenas um ataque ao patrimônio, mas uma ferida aberta na memória nacional francesa. A Galeria de Apolo, palco do crime, é o mesmo cômodo por onde Eugênia fugiu em 1870, durante a queda do Império, na época em que o Louvre era um palácio. A ironia histórica não passou despercebida pela revista. Como conclui Le Point, “nada se perdia, tudo se transformava. Mas agora, quase tudo se perdeu.”
A crise política francesa atinge novo patamar, segundo as revistas semanais Le Nouvel Obs e Le Point. Para a primeira, a suspensão da reforma da Previdência não basta para sustentar o governo Lecornu 2, que opera sem maioria e sob tensão orçamentária. Já a Le Point defende que Emmanuel Macron antecipe sua saída em 2026, apesar do primeiro-ministro francês ter sobrevivido, na quinta-feira (16), a duas moções de censura no Parlamento, dias após propor a suspensão dessa reforma crucial de Macron. A crise política francesa ganhou novos contornos nesta semana, com as revistas Le Nouvel Obs e Le Point apontando o esgotamento do governo Lecornu 2 e o isolamento crescente do presidente Emmanuel Macron. Para os semanários, a "arquitetura do sistema político" do país estaria comprometida, apesar do premiê francês Sébastien Lecornu ter conseguido superar a moção de censura – por apenas 18 votos – na Assembleia Nacional dos deputados. Segundo Le Nouvel Obs, “a suspensão da reforma da Previdência, arrancada pelo Partido Socialista, talvez não seja suficiente para manter vivo o frágil governo Lecornu 2”. Sem o respaldo do artigo constitucional 49.3 – que permite aprovar leis sem votação parlamentar – e diante de uma Assembleia fragmentada, o Executivo tenta sobreviver em meio a tensões orçamentárias e disputas ideológicas. O chefe de governo anunciou medidas como a tributação de holdings utilizadas por ultrarricos e a suspensão da idade mínima para aposentadoria aos 64 anos até a próxima eleição presidencial. Mas, como alerta Le Nouvel Obs, “todos os temas em pauta; orçamento, taxação dos mais ricos, cortes na seguridade; são inflamáveis”. A presidência também enfrenta desgaste. Macron, segundo a mesma revista, “continuou a agir como um presidente todo-poderoso entre 2022 e 2024, mesmo sem ter mais os instrumentos para impor sua vontade — ou seja, a maioria absoluta no Parlamento”. A esquerda, fora do poder há quase uma década, ainda não conseguiu se consolidar como alternativa, e as alianças progressistas se fragmentam diante da ascensão da extrema direita. Saída antecipada de Macron? Já a revista Le Point vai além e sugere que Macron deveria organizar sua saída antecipada em 2026, um ano antes do final de seu segundo mandato. “O impasse político se tornou perigoso, para a economia e para as instituições”, afirma a publicação. A dificuldade de aprovar o orçamento e a sucessão de sete ministros da Educação em apenas três anos são sinais de um sistema em colapso. E mais: ao longo de seus dois mandatos, Macron nomeou sete primeiros-ministros, "um recorde sob a Quinta República", pontua. A revista questiona: “É razoável deixar esse fardo para o próximo presidente? E como fazer campanha nessas condições, apenas para permanecer alguns meses a mais no poder?”. Citando o economista francês que acaba de ganhar o Nobel, Philippe Aghion, Le Point propõe: “Se é preciso parar o relógio da reforma, por que não adiantar o da eleição presidencial?” A decisão, como disse De Gaulle após sua renúncia, pode ser “uma boa saída”, relembra Le Point. "Cabe a Emmanuel Macron escolher qual é a melhor para ele, e sobretudo para o país", conclui a revista.
Em meio ao aumento dos casos de câncer entre menores de 40 anos, a revista Nouvel Obs desta semana traz como matéria de capa a história do velejador francês Charlie Dalin, vencedor da competição de vela em solitário ao redor do mundo Vendée Globe, que revelou, em um livro, que estava em tratamento contra um câncer de intestino. Aos 40 anos, em fevereiro de 2025, Dalin venceu a competição conhecida como o “Everest dos mares”, devido à sua dificuldade, estabelecendo um recorde de 64 dias, 19 horas, 22 minutos e 49 segundos. Na época, “todos ignoravam que a façanha era ainda mais impressionante”, escreve a Nouvel Obs. “Porque, ao mesmo tempo em que enfrentava tempestades e depressões austrais no fim do mundo, ele lutava contra um câncer.” Durante a Vendée Globe, Dalin realizava tratamento imunoterápico contra um tumor gastrointestinal raro. Com a publicação de seu livro “La force du destin” (A força do destino, em tradução livre), o navegador pretende mudar o olhar do público sobre a doença. A revista também traz uma entrevista com Elie Rassy, médico responsável pelo programa de pesquisa do hospital de referência no tratamento do câncer na França, Gustave Roussy. Ele estuda as causas que favorecem o aparecimento da doença em pessoas na faixa dos 30 anos. O programa tem ainda o objetivo de desenvolver estratégias de prevenção e tratamentos personalizados. Isso porque, nessa faixa etária, como explica o especialista, os cânceres tendem a ser mais agressivos e menos sensíveis à medicação. O contexto de vida também é diferente: trata-se de “um momento em que construímos uma carreira, um percurso acadêmico ou pensamos em formar uma família”, diz Rassy. Além disso, o câncer nessa etapa costuma ser diagnosticado, na maioria dos casos, em estágio avançado, já que não há exames obrigatórios nessa idade — com exceção do de colo do útero. O British Medical Journal, citado pela Nouvel Obs, aponta um aumento de 79,1% no número de casos entre pessoas com menos de 50 anos, bem como de 27,7% nas mortes. O meio-campista do Bahia Éverton Ribeiro, que revelou nesta semana ter sido diagnosticado com câncer de tireoide, é um exemplo recente. Causas ambientais Rassy observa que nossos hábitos mudaram muito nos últimos 40 anos. “As hipóteses [para explicar o aumento dos casos] apontam para modificações no expossoma — o conjunto de fatores ambientais aos quais uma pessoa é exposta ao longo da vida: o ar que respira, os alimentos que consome, os produtos químicos, os micróbios, o estresse”, destaca. Entre os jovens adultos — como são chamados os pacientes entre 30 e 40 anos —, os cânceres mais comuns são os de mama, tireoide, pulmão, trato digestivo e rins. Embora muitos avanços tenham sido feitos nos tratamentos, ainda há muito a ser aprimorado para que deixem menos sequelas nos pacientes. A pesquisa desenvolvida no hospital Gustave Roussy também investiga os poluentes aos quais os pacientes foram expostos — como microplásticos, substâncias químicas e até metais pesados.
Na semana que antecede os dois anos do ataque do Hamas a Israel, as revistas semanais francesas abordam as feridas abertas na comunidade judaica, o luto coletivo em Israel e os bastidores da cooperação entre os serviços secretos dos dois países. A grande rabina da França, Delphine Horvilleur, denuncia o silêncio imposto aos judeus críticos da guerra na Le Nouvel Obs. A filósofa Élisabeth Badinter alerta para o avanço do antissemitismo na Le Point, enquanto a L’Express revela segredos do Mossad, o serviço secreto de inteligência e operações especiais de Israel. Dois anos após o ataque do Hamas a Israel, a revista Le Nouvel Observateur publica uma entrevista com a rabina Delphine Horvilleur, que reflete sobre o trauma persistente entre judeus na França e em Israel. Ela denuncia a escalada do antissemitismo e a radicalização interna da comunidade judaica, além de criticar a resposta militar israelense. Horvilleur relata o impacto emocional do 7 de Outubro de 2023, que despertou nela memórias da Shoah, como é conhecido o Holocausto na França. Em meio ao luto e à perplexidade, ela afirma que o sonho de Israel como refúgio não pode se concretizar à custa da destruição de outro povo. A rabina também destaca o silêncio imposto a intelectuais judeus que se posicionam contra a guerra. Na entrevista à Nouvel Obs, ela relembra o gesto simbólico de convidar uma palestina para rezar ao seu lado no Yom Kippur. Horvilleur defende que o diálogo é essencial, mesmo em tempos de polarização extrema, e alerta para os riscos de uma sociedade que só se comunica por meio de slogans e agressões. Leia também“Antissemitismo surge com crise da virilidade”, diz rabina Delphine Horvilleur, best seller na França O legado de Robert Badinter e o luto israelense A revista Le Point homenageia Robert Badinter, que será incluído no Panteão francês no dia 9 de outubro, data da abolição da pena de morte, orquestrada por ele na França. Em entrevista, Élisabeth Badinter relembra os combates do marido e lamenta o clima atual na França. “Tudo parece ter que recomeçar, nossos valores se tornaram inaudíveis”, afirma. Ela denuncia a traição da esquerda francesa, que segundo ela passou a ocupar o lugar da extrema direita no debate sobre o antissemitismo. Badinter, que perdeu familiares em Auschwitz, temia o ressurgimento do ódio. “Pouco antes de morrer, ele disse: ‘É preciso estar pronto para partir na hora certa’”, revela Élisabeth. Na mesma edição, Le Point publica uma reportagem sobre o luto coletivo em Israel, uma "sociedade traumatizada". A comunidade vive em estado de espera pela libertação dos reféns e pelo fim da guerra, segundo o veículo, que reporta ainda que manifestações semanais em Tel Aviv exigem um acordo de paz. Enquanto isso, o número de mortos em Gaza ultrapassa 62 mil pessoas, e o cemitério militar israelense precisa ser ampliado pela quarta vez. Leia tambémMorre Robert Badinter, ícone dos direitos humanos e promotor do fim da pena de morte na França Espiões, tensão diplomática e cooperação estratégica A revista L’Express revela os bastidores da relação entre os serviços secretos de Israel e da França. Após o ataque do Hamas, o chefe da inteligência militar israelense buscou apoio da DGSE (Direção-Geral da Segurança Externa) em Paris. A França, com informantes em Gaza, tornou-se peça-chave na coleta de dados, enquanto Israel se vê fragilizado por depender da tecnologia. Apesar das tensões políticas, como a exclusão de empresas israelenses da feira Eurosatory e o reconhecimento do Estado palestino pelo presidente Emmanuel Macron, os laços de segurança entre os dois países permanecem sólidos. “O diálogo entre os serviços nunca foi interrompido”, afirma um especialista ouvido pela L’Express. A revista confirma que os diretores do Mossad e da DGSE se reuniram diversas vezes nos últimos meses, em Paris e Tel Aviv. Mesmo com ameaças diplomáticas, como o possível fechamento do consulado francês em Jerusalém, os dois países seguem trocando informações estratégicas sobre o Oriente Médio, o Hezbollah e o Irã. Entre o luto coletivo, os dilemas morais e os bastidores da segurança, as revistas nas bancas mostram que, dois anos após o ataque de 7 de Outubro, a questão israelo-palestina continua uma ferida aberta na França e no mundo, capaz de moldar o futuro político da região.
O tema do reconhecimento do Estado da Palestina por países ocidentais, liderados pela França, marca uma virada diplomática no conflito israelo-palestino. Segundo a revista francesa Le Nouvel Obs, Macron celebra uma “vitória histórica”. A L’Express vê o início de uma nova arquitetura regional. Já o filósofo francês Bernard-Henri Lévy, na semanal Le Point, alerta para o risco de legitimar o Hamas e aprofundar o isolamento de Israel. Três visões, um impasse. Segundo a revista semanal Le Nouvel Obs, o presidente francês, Emmanuel Macron, cumpriu a promessa de liderar um movimento coletivo de reconhecimento do Estado da Palestina à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. A publicação descreve o momento como "carregado de simbolismo", com aplausos vindos sobretudo de países árabes e a delegação saudita “de pé como uma só pessoa”. O assento israelense, por sua vez, permaneceu vazio em sinal de protesto, observa a Nouvel Obs. A revista destaca ainda que Paris buscou ampliar o apoio internacional à iniciativa, citando países como Reino Unido, Canadá, Austrália, Bélgica e Portugal, além de pequenos Estados europeus. Os Estados Unidos, por outro lado, endureceram sua posição: “suspenderam os vistos da Autoridade Palestina”, impedindo Mahmoud Abbas de viajar a Nova York, aponta o veículo. A publicação relata que, dias antes do discurso, uma comissão independente da ONU concluiu que Israel teria “intenção de destruir os palestinos em Gaza, conforme definido pela Convenção sobre o Genocídio”. Macron, ao ser questionado pela emissora CBS, respondeu que “cabe aos juízes ou aos historiadores qualificar um genocídio com base em provas e jurisprudência”. Para a Le Nouvel Obs, essa inflexão contrasta com a reação de setores que apoiam o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que rejeitam qualquer balanço de vítimas e se recusam a reconhecer que, para cada morto israelense, já há dezenas de palestinos sob os escombros. A revista francesa L’Express descreve o reconhecimento do Estado da Palestina como um ponto sem retorno. Uma fonte europeia ouvida pela publicação resumiu com ironia: “Reconhecer um Estado é como perder a virgindade, não há volta.” Para o semanário, o dia 22 de setembro marca uma virada no conflito israelo-palestino, com impactos diplomáticos imediatos. Israel cada vez mais isolado Segundo L’Express, Israel está “cada vez mais isolado” e conta apenas com o apoio dos Estados Unidos para manter sua ofensiva em Gaza. A revista aponta que esse novo cenário pode inaugurar um processo diplomático inédito. O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot, afirmou à publicação que o documento apresentado é “o mais ambicioso sobre o conflito desde os Acordos de Oslo, há 30 anos, ou a iniciativa árabe de paz, há 20”. Barrot também destacou que se trata da “primeira condenação oficial do Hamas pela comunidade internacional” e da “primeira manifestação clara do desejo dos países árabes de uma integração regional com Israel e com o futuro Estado da Palestina”. Para o ministro, “uma nova página começa a ser escrita” — e L’Express reforça que esse gesto diplomático pode redesenhar os equilíbrios no Oriente Médio. Um erro? No entanto, no editorial publicado pela revista Le Point, o filósofo francês Bernard-Henri Lévy afirma que o reconhecimento do Estado da Palestina neste momento é uma “ideia funesta”. Embora defenda há décadas a solução de dois Estados e tenha participado de fóruns de diálogo, ele considera que “se houve um único momento em que esse reconhecimento não deveria ocorrer, é agora”. Segundo Lévy, a decisão pode ser interpretada como uma vitória política do grupo Hamas, mesmo diante das atrocidades cometidas em 7 de outubro. Ele alerta que, para muitos palestinos, o gesto internacional pode parecer “um milagre” que legitima “um movimento radical e sem concessões”, eclipsando a Autoridade Palestina, descrita como “envelhecida e corrupta”. A Le Point destaca ainda que Lévy vê duas urgências reais: libertar os 48 reféns ainda mantidos em túneis e interromper a guerra. Ele argumenta que, após o reconhecimento, “não há mais incentivo para negociação” por parte dos sequestradores, e que Israel, “traído por seus aliados e tomado pela vertigem do isolamento”, pode intensificar sua ofensiva. “Aspiro à paz com toda minha alma”, conclui o filósofo, “mas não a essa paz. Não desse jeito”.
Referência entre o público francês para análises políticas e sociais, a revista semanal Le Nouvel Obs traz nesta semana um perfil do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Figura central no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, Moraes é retratado como "um magistrado inflexível", cuja atuação se tornou símbolo da resistência institucional à erosão democrática no Brasil, um verdadeiro "xerife da democracia" no país. O Nouvel Obs traça, em dez pontos, o perfil do ministro Alexandre de Moraes, destacando sua atuação no julgamento de Jair Bolsonaro. Segundo a revista, o magistrado brasileiro “descreveu, durante cinco horas e sem consultar suas anotações, a organização criminosa liderada por Bolsonaro e seus aliados”. Apelidado de “Batman” nas redes sociais, Moraes é apresentado como o juiz mais visível — e também o mais criticado — do país, diz a revista. A semanal relembra episódios emblemáticos, como o bloqueio do aplicativo Telegram em 2021, e a ofensiva verbal de Elon Musk, que o classificou como um “ditador diabólico”. A publicação francesa ressalta que Moraes ingressou na magistratura aos 23 anos e, desde os anos 2000, passou a ser notado e cortejado pelas elites paulistanas. “Jurista renomado, suas ideias alinhadas à direita fizeram dele um líder pronto para a política”, afirma o veículo. O perfil também recorda sua passagem pelo Ministério da Justiça, entre 2016 e 2017, durante o governo Michel Temer. À época, era visto como uma “pedra no sapato da esquerda” — imagem que se transformou com a chegada de Bolsonaro ao poder, em 2019, quando Moraes passou a ser considerado um “super-herói” pelos progressistas. "Ombros de lutador" Com “maxilar definido e ombros de lutador”, Alexandre de Moraes cultiva sua imagem pessoal com o mesmo rigor que aplica em suas decisões judiciais, observa Le Nouvel Obs. A revista relembra o episódio em que o ministro foi fotografado exibindo o dedo do meio durante uma partida de futebol — gesto que teria ocorrido pouco depois de o presidente Donald Trump revogar seu visto de entrada nos Estados Unidos. Aos 56 anos, Moraes tem mandato no Supremo Tribunal Federal até 2043, o que, segundo a publicação, garante-lhe “uma longa influência sobre a vida política brasileira”.  Figurinha carimbada na imprensa francesa Esta não é a primeira vez que Alexandre de Moraes vira manchete na imprensa francesa. No dia 10 de setembro, a revista Les Echos também traçou o seu perfil, dizendo que "o juiz que derrubou Bolsonaro afirma que 'houve, sim, um golpe de Estado' no Brasil". No dia 8 de setembro, o jornal Le Figaro titulou "Alexandre de Moraes, o todo-poderoso juiz brasileiro que liderou a batalha judicial contra Jair Bolsonaro". "Enquanto o ex-presidente brasileiro acaba de ser condenado a 27 anos de prisão em seu julgamento por tentativa de golpe de Estado perante a Suprema Corte, os olhos se voltam para um magistrado, conhecido por sua intransigência, que se tornou alvo de Donald Trump", publicou o diário francês.
€ 270 bilhões de apoio às empresas, sem contrapartida, e subsídios fiscais para os mais ricos: este é o valor total dos “presentes" do presidente Emmanuel Macron à elite econômica do país, conforme revelações de um livro de investigação publicado esta semana na França. Os autores, dois jornalistas da revista Le Nouvel Obs, afirmam que a política “pró-business” do presidente desestabilizou o modelo social e pesou sobre a dívida pública francesa, estopim de mais um capítulo da crise política no país. “O Grande Desvio – como milionários e multinacionais captam o dinheiro do Estado” é o título da obra (em tradução livre do original em francês). Baseados em relatórios de instituições como Tribunal de Contas e a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), os autores, Matthieu Aron e Caroline Michel-Aguirre, analisam em detalhes “o buraco negro” da política de subvenções e subsídios fiscais que beneficiaram as grandes empresas e fortunas nos últimos oito anos, desde que Macron assumiu o poder. Redução dos impostos das sociedades e da produção, diminuição dos encargos sociais, teto da contribuição sobre a renda do capital e substituição do Imposto sobre a Fortuna por uma taxa focada apenas na "fortuna imobiliária” são algumas das medidas que favoreceram os ricos nos últimos anos – e sem que houvesse uma avaliação eficaz sobre os benefícios dessa política para a economia francesa, denuncia a obra. “O sistema de ajuda incondicional enriqueceu multinacionais que continuam a deslocar as linhas de produção para o exterior e entregam cada vez mais dividendos para seus acionários”, diz o livro, segundo resenha publicada na revista L’Obs. Entre os beneficiados, estão gigantes como Michelin e o império do luxo LVMH. Retorno da política pró-business é questionado Neste período, o desemprego baixou a 7%, mas a França não atingiu o pleno emprego, como prometeu Macron. As exonerações resultaram em € 80 bilhões a menos de arrecadação por ano, quase o dobro do valor previsto no plano de economias apresentado pelo ex-primeiro-ministro centrista François Bayrou, que acaba de deixar o cargo. Em paralelo, a edição desta semana da revista Le Point calcula quanto custa a instabilidade política na França, que acaba de conhecer o seu quarto chefe de governo em pouco mais de um ano. Segundo a publicação, a crise gerada pela dissolução da Assembleia Nacional por Macron, em junho de 2024, já gerou um prejuízo de € 12 bilhões para o país. Os juros para títulos do Estado francês agora estão no mesmo patamar da Itália, e a insegurança fez os investimentos desacelerarem, o consumo cair e o nível e a poupança subir. Resultado: a crise fez o país perder 0,1 ponto de PIB em 2024 e 0,3 neste ano, conforme os cálculos do Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE), citados pela Le Point.
A imprensa francesa aponta para um impasse político profundo na França, marcado pela instabilidade institucional e pela crise de representatividade. Enquanto a revista L’Express destaca a tentativa de Emmanuel Macron de buscar inspiração no modelo parlamentar alemão, a L’Obs analisa os sinais de esgotamento da Quinta República diante da sucessão de governos frágeis e da ausência de maioria parlamentar. Ambas as publicações apontam para a leitura de um sistema político em colapso, onde o presidencialismo centralizador já não responde às exigências de uma sociedade em ebulição. A queda anunciada do governo Bayrou representa mais um capítulo da crise política que se aprofunda na França, segundo análise da revista L’Obs. Em menos de três anos, cinco chefes de governo ocuparam o cargo e foram registradas 110 mudanças ministeriais, lembrando a instabilidade da antiga Quarta República (1946–1958). A ausência de maioria no Parlamento desde as eleições de 2024, somada à pressão social — com protestos organizados por sindicatos e movimentos como “Bloqueemos tudo” — revela um impasse institucional. A crise atual não é apenas política, mas também democrática e social, e levanta a questão: estaríamos diante do esgotamento da Quinta República ou da falência de uma classe dirigente incapaz de reinventar o exercício do poder? Leia tambémCom queda anunciada de primeiro-ministro e pressão das ruas, Macron está cada vez mais isolado Especialistas ouvidos por L’Obs apontam para um descompasso entre a nova configuração parlamentar e a cultura política francesa, ainda marcada pela centralização e pela figura presidencial dominante. Emmanuel Macron, mesmo enfraquecido, resiste à ideia de dissolução ou renúncia, enquanto busca um novo chefe de governo capaz de aprovar o orçamento de 2026. A hiperpresidência, modelo que já não responde às exigências do momento, parece travar qualquer tentativa de mudança. Para alguns analistas, a saída pode estar em olhar para experiências parlamentares de outros países, como a Alemanha ou a Espanha, onde a negociação entre forças políticas é parte essencial do funcionamento democrático. A crise é profunda, mas pode ser uma oportunidade de repensar o regime. "Monárquico" Emmanuel Macron, segundo reportagem da revista L’Express, parece buscar inspiração no modelo alemão de coalizão para enfrentar o impasse político francês. Em declaração publicada em 21 de agosto, o presidente apontou para o sistema parlamentar da Alemanha como exemplo de cooperação entre partidos. No entanto, como destaca L’Express, essa referência entra em choque com o estilo de governo adotado por Macron desde 2017, marcado pela centralização do poder e pela recusa em adotar o voto proporcional. A publicação questiona se o presidente estaria tão acuado a ponto de procurar em Berlim o que não consegue construir em Paris. A revista L’Express traça um paralelo entre os dois sistemas políticos: na Alemanha, os partidos são respeitados, bem estruturados e operam dentro de um sistema que os obriga a formar alianças. Já na França, os partidos vivem em crise de identidade e representatividade, com siglas que mudam com frequência e pouca base social. Leia tambémFim de festa no governo Bayrou: imprensa francesa expõe privilégios e desgaste político A reportagem lembra que Macron, ao fim de seu primeiro mandato, rejeitou a ideia de coalizão e abandonou a proposta de reforma eleitoral. Mesmo após as eleições legislativas de 2024, quando se falou em uma virada parlamentarista, não houve esforço real de negociação entre os atores políticos. Como observa L’Express, Macron foi moldado pela lógica da chamada Quinta República, onde o presidente exerce um papel quase "monárquico". A comparação com o modelo alemão, segundo a revista, revela mais uma contradição do líder francês, que prefere o poder absoluto à construção de consensos. Com a votação decisiva marcada para 8 de setembro, L’Express alerta para o risco de um novo abalo nas instituições francesas — e questiona até quando elas resistirão sem uma reforma profunda.
A ausência de uma perspectiva de trégua na guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia é abordada pelas principais revistas semanais francesas. A Le Point traz uma reportagem sobre os jovens no Donbas, região oriental da Ucrânia, ameaçada pelo avanço das tropas russas. O embaixador ucraniano na França escreve na L’Express que a ideologia de Vladimir Putin se assemelha ao fascismo de Hitler. Já o ex-presidente do Parlamento Europeu Josep Borrell fala, na Nouvel Obs, sobre a grande incerteza que paira sobre o fim da invasão russa. A jovem Arina, de 18 anos, explica ao repórter da Le Point, em pleno verão europeu, que o sol do Donbas é único. O jornalista nota uma ponta de tristeza nos olhos da ucraniana. Como em várias cidades pelo mundo, o shopping é um ponto de encontro — mas do lado de fora, nos bares ao redor, já que o centro comercial está fechado por causa da guerra. A noitada vai só até as nove da noite, como manda o toque de recolher. E nada de álcool, devido à presença de militares estacionados ou de passagem. A Ucrânia ainda controla 30% da região de Donetsk e uma ínfima parte de Luhansk. O restante do Donbas está sob controle russo. Droujkivka, uma cidade industrial que já foi próspera na era soviética, está em acelerado declínio devido à guerra. Sua população diminuiu drasticamente, de cerca de 80 mil habitantes nos anos 1980 para menos de 30 mil atualmente. A ameaça russa se aproxima, e os ataques de drones se multiplicam, tornando perigosas as estradas de acesso à cidade. Arina estuda em Dnipro, mas voltou a Droujkivka para ajudar o pai a preparar a saída da família da cidade. A maioria dos familiares e amigos já se foi. Arina reflete sobre a possibilidade de esta ser sua última visita à cidade natal, que ela pensava que sempre seria seu lar. "Ideologia de Putin é como fascismo de Hitler" Em carta aberta publicada na revista L’Express, o embaixador da Ucrânia na França faz um apelo por seu país. Em seu texto, Vadym Omelchenko compara a Rússia de Putin a um "ogro" que ameaça destruir a Ucrânia e expandir-se pela Europa. Ele alerta que a ideologia de Putin é semelhante ao fascismo de Hitler, justificando a violência e a anexação de territórios com mentiras e uma ideologia de ódio. Omelchenko destaca que o fascismo russo está se espalhando pela Europa, criando divisões políticas e alimentando a propaganda russa. Ele pede que os europeus permaneçam vigilantes diante dessa ameaça crescente. Em entrevista à revista Nouvel Obs, o socialista Josep Borrell, ex-presidente do Parlamento Europeu, comenta que, apesar dos esforços da Europa para influenciar a posição dos EUA e evitar o pior cenário — como a cessão de territórios ucranianos em negociações entre Trump e Putin — ainda há grande incerteza sobre como acabar com a guerra. O político catalão destaca que Vladimir Putin não interromperá os ataques apenas para agradar ao Ocidente. Além disso, menciona que a cooperação militar com a Ucrânia já não pode mais ser feita no âmbito da União Europeia devido a vetos, como o da Hungria, e que a Europa se vê forçada a comprar dos EUA o que antes recebia gratuitamente, aumentando os custos dessa ajuda.
O que pode deter a voracidade imperialista do presidente russo, Vladimir Putin, na Ucrânia e evitar que Moscou arraste a Europa para um longo ciclo de decadência e empobrecimento? Esse difícil enigma é analisado pelas revistas semanais francesas, depois dos encontros ocorridos nos Estados Unidos entre os presidentes Donald Trump, Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin.  Em seu editorial, a revista Le Point estima que a cúpula entre Trump e Putin no Alasca, apresentada como histórica, terminou com uma vitória diplomática e estratégica do presidente russo. Putin foi reabilitado na cena internacional, apesar de ter iniciado o conflito na Europa e de ter um mandado de prisão internacional emitido contra ele pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra na Ucrânia. Trump não impôs novas sanções contra Moscou e parece ter se alinhado às condições russas de uma paz que enfraquece a Ucrânia. Esse estreitamento das relações entre os EUA e a Rússia isola Kiev, fragiliza a Europa e coloca em xeque a credibilidade da Otan diante das ambições imperialistas russas, assinala a publicação. Mais grave ainda, o editorial recorda os momentos sombrios de 1938, quando uma concessão feita a Adolf Hitler durante a conferência de Munique, em vez de contê-lo, acabou desencadeando a Segunda Guerra Mundial. A Le Point alerta para os riscos de uma política de apaziguamento semelhante, que ameaça a segurança do continente europeu. Três visões de mundo se confrontam em torno da Ucrânia Três visões de mundo se confrontam no cenário da guerra na Ucrânia, segundo o analista Frédéric Encel. Em um artigo na revista L'Express, ele mostra que Trump enxerga a política como uma extensão dos negócios, trata aliados como clientes e ignora princípios éticos, históricos e diplomáticos. Já Vladimir Putin age movido por uma ideologia expansionista, buscando restaurar o antigo império russo, com desprezo pela democracia e pela prosperidade econômica. Ambos compartilham uma postura autoritária, viril e avessa ao multilateralismo. Enquanto isso, os líderes europeus tentam manter uma abordagem baseada no direito internacional, na diplomacia e na defesa da democracia, mesmo que isso os coloque em desvantagem estratégica. A Europa, embora comprometida com sanções e apoio à Ucrânia, evita o envolvimento militar direto, atuando como quem entra numa disputa com um braço amarrado. Essa diferença de postura entre os três blocos revela o impasse e a complexidade do conflito, cujo desfecho ainda é incerto. Na Le Point, o ex-coronel da Marinha francesa Michel Goya defende que a principal garantia de segurança da Ucrânia continua sendo seu próprio exército. Mesmo após o fim da guerra, Kiev deverá manter uma força militar robusta, possivelmente a mais poderosa da Europa, apoiada por uma linha defensiva próxima à fronteira e por forças aliadas internacionais encarregadas de monitorar acordos de paz. Para Goya, a Rússia só respeita a força – não a diplomacia nem o comércio – e só será dissuadida se enfrentar uma barreira militar sólida e pressão econômica máxima. Barrigas de aluguel resistem à guerra Enquanto especialistas debatem estratégias diplomáticas e militares, a revista Le Nouvel Obs publica uma reportagem em Kiev sobre a questão da barriga de aluguel. Após legalizar esse procedimento em 2002, a Ucrânia se tornou um dos principais destinos para casais europeus com problemas de infertilidade, que recorrem a mulheres ucranianas para realizar o sonho de ter filhos. A repórter enviada à capital constata que, apesar dos bombardeios russos diários, a atividade das barrigas de aluguel continua intensa, e pais de todo o continente seguem chegando ao país para acompanhar o nascimento de seus filhos.
Revistas francesas abordam esta semana a polêmica envolvendo uma publicidade estrelada pela atriz norte-americana Sydney Sweeney, que dividiu opiniões, levantando críticas por supostamente ser eugenista e sexista e sendo elogiada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A eugenia foi utilizada pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial e segue a ideia de que existe uma raça superior. O alvo das críticas é o nome da campanha feita pela marca de roupas American Eagle, cujo slogan é "Sydney Sweeney Has Great Jeans" (que em tradução literal significa "Sydney Sweeney tem ótimos jeans").  A frase faz um trocadilho entre o tecido “jeans” e “genes”, que em inglês se refere ao material genético. A pronúncia das duas palavras é muito parecida em inglês. Diante da grande repercussão, a revista francesa Nouvel Obs traça um breve perfil da atriz, repassando sua carreira, que inclui produções como a premiada série Euphoria, até o início da polêmica envolvendo a publicidade estrelada por ela. Para a l'Obs, “a extrema direita fez dela sua musa, vendo em sua popularidade o sinal da morte da cultura woke e o retorno a uma época em que era possível sexualizar as mulheres sem ser mal visto”. No inglês, woke significa literalmente "acordei", sendo o tempo passado do verbo wake. Mas, no contexto atual dos debates sociais, o termo também se refere ao que seria politicamente correto, resumidamente, e é justamente daí que vem a divergência entre esquerda e direita. “Adoro o anúncio dela", declarou Donald Trump no início de agosto, cita a revista. Em sua rede social Truth, o presidente escreveu: "O vento mudou bastante de direção. Ser woke é para os perdedores, republicano é o que queremos ser”. A Nouvel Obs também lembra que Sweeney, de 27 anos, tem sido alvo constante de hipersexualização ao longo de sua carreira e que “nas redes sociais, seu corpo é comentado e dissecado”. Sintoma "das guerras culturais" Já a revista L’Express destaca a mobilização que o assunto gerou nas redes sociais, ganhando uma dimensão política, reforçada após a declaração de Donald Trump. Em tom crítico, a publicação francesa traça um paralelo entre o tédio e a hiperexposição atual. “Como mostrou um estudo publicado pela Communications Psychology, as pessoas relatam estar cada vez mais entediadas na era digital. A ponto de se apaixonarem por uma figura populista como Donald Trump, por gosto pelo drama. E até se exaltar com um anúncio de jeans”. Nesse contexto, o artigo diz que a controvérsia em torno da campanha publicitária foi “o suficiente para causar furor na internet”. “Do lado conservador, a atriz é elevada ao patamar de ícone por ter ‘assinado a morte da cultura woke’. Do lado progressista, Sweeney teria se rebaixado ao adotar os códigos do ‘patriarcado’, chegando até mesmo a defender a eugenia. Uma polêmica vazia, mas sintomática das guerras culturais da época”, conclui a publicação.
A Estônia, pequeno Estado báltico onde vive uma minoria pró-Rússia, teme ser o próximo alvo de Vladimir Putin e conta com seus aliados para resistir. A ex-república soviética, hoje membro da União Europeia e da Otan, faz fronteira com a Rússia, cujo vasto território se estende por 11 fusos horários.   A revista L'Express desta semana conta que a proteção está sendo reforçada na fronteira, do lado estoniano. Grades de ferro impedem a passagem forçada de um veículo, mas não a entrada de um exército, em caso de agressão. Sobretudo, o país se preocupa com a chegada de imigrantes ilegais, o que as autoridades de fronteira acreditam ser uma questão de tempo.   Vítima de um ciberataque russo em larga escala, em 2007, a Estônia conhece as capacidades de Moscou. A capital Tallinn se prepara para responder a uma possível invasão militar, como aconteceu na Ucrânia.  Enquanto espera, a Estônia organiza as suas Forças Armadas. O país dispõe de 4.000 militares e 20.000 reservistas. O receio é que, em caso de um cessar-fogo com a Ucrânia, Vladimir Putin passe a olhar para o flanco oriental da Otan, onde os países bálticos são a parte mais vulnerável.  A Estônia também conta com uma liga paramilitar de defesa, criada em 1918, no momento da independência do país, e que se encarrega da proteção regional em caso de guerra e de certas missões de segurança nas cidades. Ela permite dobrar o número de combatentes do país e tem uma unidade reputada de defesa a ataques cibernéticos. São homens e mulheres prontos a combater voluntariamente por seu país.   Depois de ter sido incorporada à ex-União Soviética (URSS) em 1940, a Estônia recuperou sua independência em 1991. O país que buscou a neutralidade após a Segunda Guerra, hoje avalia que foi um erro histórico. O engajamento com a Europa e com a Otan vem do desejo de nunca mais ficar isolada. A Estônia acredita no desenvolvimento econômico e na prosperidade gerados das relações com os outros países europeus e na proteção da aliança militar atlântica, à qual aderiu em 2004. O que assegura a confiança dos estonianos é o artigo 5 da Otan. Ele diz que uma agressão a um Estado pertencente à aliança é considerada um ataque contra todos e que não ficará sem resposta.   Juntamente com a Polônia, a Estônia vai investir 5% do PIB em defesa, como pediram os Estados Unidos, cansados de pagar a maior parte da conta pelas ações militares da aliança ocidental. A reafirmação de Washington sobre o engajamento dos Estados Unidos na defesa coletiva da Otan tranquilizou os países dos Balcãs, depois de Donald Trump ter deixado pairar dúvidas sobre a atuação dos EUA na defesa dos europeus. A Estônia tem um plano de construir bunkers ao longo da fronteira com a Rússia, já vigiada por câmeras a cada 30 metros e que em breve receberá o reforço de drones. Operações militares conjuntas com os países da Otan permitem a vigilância aérea com uso de caças estrangeiros, incluindo os modelos Rafale franceses.  
A revista semanal francesa Le Point destaca a queda de natalidade registrada na França no ano passado. Pela primeira vez em 80 anos, o país teve mais mortes do que nascimentos: 651 mil óbitos contra 650 mil nascimentos em 2024. Apoiar a natalidade e incentivar uma “imigração seletiva” são os dois principais caminhos a seguir, diz a publicação. O texto de Bruno Tertrais, colunista e autor do livro "O choque demográfico" (em tradução livre, sem versão oficial em português), enfatiza que este marco leva a população francesa “rumo ao desconhecido”. Ele estima ser “bastante provável” que o saldo permaneça negativo ao longo de todo o ano de 2025. A reportagem enfatiza que mesmo com políticas em prol da natalidade, os efeitos só seriam sentidos por volta de 2050. Por isso, segundo Tertrais, a única solução para a França crescer demograficamente seria por meio da imigração, hoje o principal motor do crescimento populacional. Em 2024, o país acolheu 152 mil novos imigrantes. Le Point toca no ponto polêmico da “imigração seletiva” e compara os critérios de entrada de estrangeiros na França com os de seus vizinhos europeus: “A imigração na França é tradicionalmente pouco qualificada”, escreve Tertrais. Para a revista, o “real desafio econômico da imigração é fazer a economia funcionar".  Seleção de imigrantes deve entrar no debate político O colunista defende uma “verdadeira política demográfica” e recorda que o tema constava entre as propostas do atual primeiro-ministro francês, François Bayrou, quando ele ocupou temporariamente o cargo de alto comissário do Planejamento. Durante o período em que esteve nessa função, Bayrou tornou-se um dos assessores mais influentes no Palácio do Eliseu. O texto salienta ainda a importância de destacar a temática do “desafio econômico da imigração” durante a campanha eleitoral de 2027, apesar de pontuar que o debate tende a ser polarizado. Menor desejo de ter filhos A revista também questiona as causas da queda do número de nascimentos, que em 2024 foi de 1,62 por mulher, o índice mais baixo desde a Primeira Guerra Mundial. Segundo Le Point, a infertilidade seria um fator relativamente inexpressivo na equação que resulta nessa diminuição histórica. A causa mais evocada em pesquisas recentes é um menor desejo de ter filhos.  “A proporção de pessoas que não querem filhos dobrou em 20 anos (de 6% para 12%). Igualmente importante é o desejo de ter pelo menos três filhos: a proporção dos que têm esse objetivo caiu 10 pontos em 20 anos. O 'número ideal' de filhos para os franceses hoje é de apenas 2,3”, estima a publicação semanal.  Além da queda da fecundidade (número de filhos), a revista explica que também houve um aumento da idade média das francesas ao dar à luz – que subiu cinco anos em 50 décadas. Embora a França tenha sido pioneira na transição demográfica – a queda da natalidade para níveis modernos começou antes mesmo da Revolução Francesa –, agora é um Estado “normal” da União Europeia, entrando em “despovoamento”, detalha o texto. Dados do Instituto Nacional de Estudos Demográficos, mencionados pela revista, mostram que, projetando os dados de 2024 para os próximos 50 anos, a queda populacional começaria na década de 2050.  Em suas conclusões, o autor compara as estratégias adotadas por outros países que enfrentam situações similares. "Queremos ser como o Japão, ou preferimos nos tornar a Itália?", questiona. Segundo ele, o Japão – um país envelhecido e fechado à imigração, mas próspero e moderno – não representa uma opção acessível para os franceses por questões econômicas. Já a Itália representa um país que "agora se vê obrigado a recorrer à imigração para manter sua população ativa", avalia. 
As revistas semanais francesas trazem análises de dois líderes europeus: Giorgia Meloni, de extrema direita, que tenta mostrar que a “Itália não está mais de joelhos”, e o "paradoxo francês" de Emmanuel Macron, que busca um papel de protagonista internacional em meio a problemas nacionais. A Itália, sob a liderança da primeira-ministra Giorgia Meloni, tem buscado firmar sua posição tanto no cenário econômico quanto no palco diplomático internacional, explica a revista Le Point. Na frente econômica, o governo Meloni tem focado na recuperação da Itália após o impacto da pandemia de Covid-19. O Produto Interno Bruto (PIB) italiano registrou um crescimento notável de 6,3% em 2021 e 3,7% em 2022. Uma das prioridades tem sido a redução do déficit público. A previsão para 2023 foi revisada para 3,3% do PIB, com uma meta ambiciosa de 2,8% em 2026. O endividamento público da Itália, embora ainda elevado (145,8% do PIB em 2021 e 138,3% em 2022), tem sido alvo de planos para estabilização, com o objetivo de reduzir para 136,7% em 2025, indicando um esforço de consolidação fiscal. O governo lida com questões como a idade legal de aposentadoria, com projeção de aumento para 62,6 anos em 2025, e a taxa de desemprego, que em 2023 era de 7,4%. Internacionalmente, Giorgia Meloni tem buscado reafirmar o papel da Itália. Nessas ocasiões, a líder de extrema direita tem a oportunidade de projetar a imagem de uma Itália que "não está mais de joelhos" e que aposta em uma "diplomacia de sua primeira-ministra", buscando mostrar um país ativo e influente no cenário global. A revista Nouvel Obs convidou o jornalista e escritor Emmanuel Carrère para acompanhar o presidente Emmanuel Macron nos bastidores do último encontro do G7, na Itália. Carrère descreve Macron como um líder de estratégia complexa e multifacetada, marcada por uma busca incessante por influência global. Paradoxo francês O texto de Carrère destaca a "doutrina Macron", que se baseia na autonomia estratégica da Europa e no equilíbrio entre as alianças europeias e atlânticas. Essa abordagem se manifesta na tentativa de Macron de dialogar com figuras complexas como Donald Trump, Vladimir Putin e Benjamin Netanyahu, demonstrando uma disposição para engajamentos pragmáticos. A despeito de questionamentos sobre a legitimidade de tais diálogos, a estratégia do presidente francês é descrita como uma expansão contínua no cenário internacional. No entanto, as observações de Carrère também apontam para o "paradoxo francês": a projeção internacional de Macron coexiste com dificuldades e críticas no âmbito nacional. A capacidade da França de manter sua influência global é colocada em perspectiva diante de desafios internos.
As revistas semanais francesas analisam o governo Donald Trump sob várias facetas. L’Express traz as ações da polícia de imigração ICE. Criada após o 11 de setembro, a agência opera com poderes ampliados neste segundo mandato Trump. Os agentes da ICE podem agir mascarados, sem identificação ou uniforme, e não precisam de mandado judicial, inclusive para prisões em escolas, hospitais ou locais de culto. Têm autorização total para se defender de manifestantes. As táticas da ICE são descritas como "militares" e "agressivas", comparáveis a uma "polícia secreta" que faz pessoas "desaparecerem". A revista cita exemplos de prisões arbitrárias, invasão a um restaurante em San Diego com gás lacrimogêneo e a prisão equivocada de um requerente de asilo guatemalteco, cujo carro teve o vidro quebrado com uma marreta, além da agressão a um jardineiro mexicano, que tem três filhos servindo no exército americano. A expansão da ICE reflete a prioridade de Trump no combate à imigração. Uma lei fiscal recém-aprovada destinará US$ 170 bilhões à ICE nos próximos quatro anos, tornando-a a maior força policial do país, permitindo duplicar a capacidade dos centros de detenção e contratar 10 mil novos agentes. "Longe demais" Apesar de 54% dos americanos considerarem que a ICE "vai longe demais", a Suprema Corte, de maioria republicana, tem apoiado a administração. No entanto, a opinião pública e as mídias sociais têm atuado como contrapoder, com organizações de defesa de migrantes filmando e divulgando prisões. Já a Nouvel Obs explica em editorial que a Europa se depara com um "enigma Trump" e uma "via estreita" para lidar com seu retorno. Líderes europeus ainda buscam uma estratégia entre a "resistência" e o "acomodamento" para salvar a aliança com Washington. Em editorial, a revista Le Point argumenta que as novas propostas de Donald Trump para impor tarifas alfandegárias de 25% à Europa, a partir de 1º de agosto, não são meramente uma operação comercial, mas sim um ato de guerra comercial contra a Europa com o objetivo explícito de enfraquecer e, eventualmente, desmantelar a União Europeia.
As revistas francesas seguem comentando, nesta semana, a guerra na Ucrânia. A L’Express publicou uma reportagem sobre a evolução da espionagem ucraniana. Com o título "Os serviços secretos de Kiev, nova pedra no sapato dos russos", o semanário destacou como o país de Zelensky tem atacado para se defender de Vladimir Putin. A publicação lembrou a operação “Teia de Aranha”, quando 117 drones foram usados em ataques sem precedentes no território russo. Um ano, seis meses e nove dias teriam sido necessários para preparar esta ação, que foi trabalhada em completo sigilo. Como resultado, quatro aeródromos russos foram bombardeados, com dezenas de aviões estratégicos destruídos. Em tom elogioso, a revista afirma que pouquíssimos serviços no mundo são capazes de operar ações de tal porte. De acordo com a L’Express, outro personagem que tem causado dor de cabeça nos russos é o chefe do serviço de inteligência militar ucraniano (HUR), Kyrylo Boudanov, famoso por suas operações arriscadas e por sua expressão enigmática. No fim de maio, a imprensa ucraniana afirmou que seu serviço foi responsável pelas explosões ocorridas no dia 30 daquele mês na base naval de Vladivostok, a quase 7 mil quilômetros da linha de frente. Menos de um mês antes, o HUR reivindicou a destruição de dois caças SU-30 no Mar Negro, graças a mísseis disparados por drones marítimos, um feito inédito no mundo.  O HUR anunciava sua posição desde 2016, adotando como emblema uma coruja apontando uma espada sobre a Rússia. A escolha do animal noturno não foi por acaso: ele é um dos predadores do morcego, símbolo das forças especiais do serviço de inteligência militar russo. Ajuda americana Já a revista Le Nouvel Obs aborda o tema, mas com outro viés, destacando a dependência da Ucrânia da ajuda de outros países, como os Estados Unidos. A publicação aponta que os “caprichos” de Donald Trump levaram os EUA a anunciarem que, por conta do ataque ao Irã, não poderiam mais disponibilizar armas para Kiev, como se as operações militares do país tivessem ficado desfalcadas. A desculpa foi obviamente criticada por especialistas e, diante de um Vladimir Putin inflexível, o presidente norte-americano teve de voltar atrás. Ele anunciou, em 7 de julho, que a Ucrânia precisa ser capaz de se defender. Com isso, afirmou que seu país vai enviar mais armas de apoio a Kiev. A revista destaca ainda que antes do início de seu segundo mandato na Casa Branca, Donald Trump repetia que negociaria o fim da invasão russa na Ucrânia em 24 horas. Mas Cúpula da Otan, ele declarou aos jornalistas que isso deveria ser visto como uma piada.  
O presidente americano, Donald Trump, vem se destacando neste segundo mandato por medidas polêmicas, como a das tarifas alfandegárias e à caça aos imigrantes ilegais. Mas não sem alguma resistência, como mostram reportagens de revistas semanais francesas. A Nouvel Obs foi até Kennett, cidadezinha do cinturão da bíblica em Missouri, com dez mil habitantes, que apoiou o bilionário republicano com 80% dos votos na última eleição presidencial. Em 30 de abril, uma notícia abalou Kennett: a prisão de Carol, garçonete e faxineira, sempre presente em atividades ligadas à escola e à igreja. Nascida em Hong Kong, Ming Li Hui, seu nome verdadeiro, ela chegou aos Estados Unidos há 20 anos como turista. Casou-se com um mexicano e teve 3 filhos. Renovava seu visto de permanência regularmente. Mas não podia trabalhar e foi pega numa batida da polícia. “Não votamos para isso”, diz um habitante de Kennett. A mobilização da cidade chegou a ser notícia no New York Times. Habitantes de Kennett fizeram vaquinhas e protestos para ajudá-la. Finalmente, Carol foi solta, beneficiada por uma proteção temporária a cidadãos de Hong Kong. A revista francesa diz que a moral da história é curiosa, pois, apesar de os habitantes de Kennett terem defendido Carol, eles ainda apoiam Trump. O que culpam é a má execução da lei. Comércio interno tenso A revista L’Express vai para o lado econômico das medidas Trump. Os economistas já previam e os consumidores temiam que as tarifas alfandegárias do bilionário iriam chegar às prateleiras dos supermercados. No momento em que começam as encomendas para o final do ano, a situação é tensa. O setor varejista faz pressão em Washington. “O segmento está encurralado”, resumiu um consultor econômico à L’Express. A rede Walmart afirma que dois terços dos produtos vendidos em suas lojas são fabricados ou montados nos EUA. Ainda assim, a China, Vietnã e México, países sujeitos às novas taxas, estão entre seus principais fornecedores. Alguns comerciantes fizeram estoques, mas o dilema continua. Por enquanto, o impacto das tarifas ainda está contido, mas o braço de ferro continua. Especialistas dizem que os efeitos só serão sentidos no quarto trimestre.
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