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Tem Método - BandNews FM

Tem Método - BandNews FM
Author: BandNews FM
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Todas as sextas, uma análise detalhada, que foge do senso comum, sobre os principais acontecimentos políticos no Brasil e no mundo. Essa é a definição da coluna “Tem Método”, assinada por Carlos Andreazza, e que agora você vai conferir em formato de podcast. Um bate papo mais solto, descontraído, sem as amarras do tempo. Sempre dedicado a compreender o centro das questões que movimentam o país e a projetar desdobramentos e impactos na vida das pessoas. Ivan Brandão conduz a conversa com Andreazza, que faz uma leitura profunda da história ao abordar os principais fatos da semana e projetando aq
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Acreditar é um verbo inocente. Tornar algo digno de confiança, intuir boas intenções. Acreditar é um verbo perigoso: ficar convencido da veracidade. Acreditar é palavra cega, mas pode ser óculos para ver de longe. Acreditar pode te fazer morar nos braços da paz. E há quem viva assim, mesmo que na mentira. Acreditar pode ser, também, o aval da imensa dor. É um verbo que viaja. Na poesia de Dona Ivone, no compartilhar do telefone, no arroubo de quem governa. Acreditar pode ser remédio, vacina. Pode ser a morte. Presos em casa, presos na crença. Peste se alastra e então é natal. O presidente mente e na chaminé só tem fumaça. A gente espera um presente: no saco, só balas de fuzil. Tem gente que acredita em Papai Noel, até senta no colo. A diferença é que a vacina existe.
Em Brasília, não esqueces, nem esquinas. Diz o verso da poeta brasiliense Julianna Motter. O martelo do juiz é vacina contra a orgia, mas parece um placebo de enganar qualquer. Sobra discurso, falta leito. Intenção é diferente de vontade. O discurso está para as decisões que nos salvam como uma espécie de cloroquina. Seringa não tem. Agulha, também. Que dirá a tão esperada vacina. É que o calendário que salva, aos olhos de quem governa, é o do pagamento emergencial. Vencer a crise é ficar popular. Vencer a crise é ganhar eleição. No peito dos outros a dor da partida. No gogó só palavra mordida. No braço só porrada. Em Brasília, nem esquinas: não se dobre, não se cruze. Em Brasília, não esqueces: rir da morte é diferente de fazer rir com ela. Em Brasília, não esqueces: morriam à fora, postou um terno no salão. Ultraje de gala para comparecer ao enterro. Pra limpar o salão branco, digo: haja benjoim. Duas figuras, uma delas sem cabeça: qual dos dois é o manequim?
Pertinho de Brasília, tem uma fazenda.
O dono dela te desafia: se você conseguir comer uma jabuticaba de cada pé plantado em seu pomar, a fazenda é sua.
Tenta a sorte.
No centro de Brasília, está a Praça dos Três Poderes.
Lá também tem um pomar.
Uma árvore cega, teima e se faz de surda, muda fica e lava as mãos.
O congresso parece gostar é dessas aí, sabor de jeitinho brasileiro, bem graúdas.
Imagina você que, na fazenda, 42 mil pés produzem 420 toneladas de jabuticaba por ano.
No pomar Supremo, são só onze.
E produzem uma só, de quando em vez.
Daí, feito Adão e Eva, o paraíso é rebuliço.
Muita cobra criada e vacinada contra o pecado.
O fruto proibido é pra quem pode pagar.
O amargo suco de Brasil a gente não bebe, engole.
O golpe da fruta é fruto da gente, também.
Comeu a jabuticaba, não levou bronca de Deus.
Diz que veio do barro, duvido.
Sabe que vai pra lama, certeza.
A Carta rasgada, prato servido.
Tem caroço que não dá pra engolir.
Há uma torta na janela, que acabou de sair do forno. Um senador colocou lá. Feita da mais alta costura. Ingredientes tão nobres quanto à causa. Não que valha mandar um navio atravessar oceanos atrás da especiaria. Mas é o que tempera a política. Vale, no mínimo, circular no mar de carpete azul. O cachorro que fareja o prêmio nem precisa ser sorrateiro. Os ministros que o vigiam ainda não sentaram, mas já estão lavando as mãos. É que se o bicho come, é festa no Planalto. Mas se comida for, o bicho pega. A letra da lei vira papel manteiga. O regimento, guardanapo. Vão botando a mesa. O cachorro vai chegando. Sente o cheiro da torta e da cadeira boa. Sente o gostinho de oito ano de ração. Catou! Correu! Os ministros correram em vão. Ficou a mesa posta: os pratos, o brinde feito à reeleição. Nos palácios de Brasília, a fome é moeda. E, aos cães, interessam urna, forno e fogão.
O voto papel, o papel a que se presta.
Gravata no joelho.
Microfone, papelão.
Um enredo se desfralda bem antes da eleição.
Horas contam, contam votos, papelzinho, mão a mão.
Bate bafo com o malote, só bolinha de sabão.
Estado chave, quem aposta, onde que cai, cai balão?
O azul era vermelho.
Tudo interrogação.
Para a contagem.
Conta de novo.
Volta a contagem, vai até o fim.
Um cochilo, duas mentiras, volta a câmera pra mim.
Há um novo presidente e a contagem não acabou.
Se conta com a justiça.
Se conta com tuítes.
Se conta com a manchete que o jornal noticiou.
Vendo urna seminova, tratar direto com o vendedor.
Pronta entrega, coisa fina.
Preço de quem fabricou.
Junto foi na caixa, o apoio que sonhou.
É que foi pelo correio e por isso não chegou.
Excepcionalmente nesta sexta-feira (6), por causa do atraso da apuração das eleição americana, você não acompanha um novo episódio do podcast Tem Método.
Carlos Andreazza e Ivan Brandão voltam com todas as informações sobre a votação nos Estados Unidos na próxima segunda-feira (9).
Lá vem o Salles, Salles, Salles... Olhos atentos, mas fechados pra não ver. Pegando fogo, só a fofoca. Dessa turma do barulho, todo dia na tevê. Governo, Congresso, Esplanada. Um retrato de escola: quinta série “B”. “É muito direito pra pouco dever”, brada o austero professor. Refaz a carta, cada artigo em seu lugar. Sem notar que no fundão, há um aluno que faltou. Merenda é obra pronta. Propaganda é guaraná. Pra salvar é só Jesus. Rosa em copo de uísque. Arrodeiam os urubus. Tem imposto, sem imposto, quero imposto implementar. Vai imposto, vem imposto, não há como se pagar. É a crise, é o recreio e nada de reformar. Só groselha, é tamarindo, Seu Barriga vai cobrar. A guerra da vacina fez bolinha de papel. Churros, urros, murros. O governo como é. É que, “sem querer, querendo”, se consegue o que quer. Fosse pra ver filme repetido, melhor seria ver o filme do Pelé.
Sabatina de ministro não tem eficácia comprovada. Mas também não tem eficácia não comprovada. Nem que tem, nem que não tem. Testada é só a paciência e, por que não, a eficácia do “beija-mão”. Negócio da China, só que coisa muito nossa. Sem revolta com a lagosta enquanto o prato é água e pão. A revolta é com a vacina. Contra os boatos e mentiras, tudo indica, não fomos mesmo vacinados. A revolta era essa: todos eram obrigados. E o medo, veja só, era de acabar parecendo gado. Tiros, gritos, vaias e os bondes assaltados. Lockdown, guerra na praça, um Rio inteiro incendiado. Recua o governo, completamente desastrado. Passa a guerra, vem a peste. Correm todos apressados. O medo de morrer era maior do que o de ser inoculado. Essa história podia ser hoje, mas é do século passado. Hoje, a revolta é às avessas. De novo a peste, de novo a guerra. Mas, acima, a politicagem. Doença autoimune, que não tem medicação. A saúde na rabeira. Se há remédio que cure o “palanquismo”, mande logo a caixa inteira, mas esconda sua bandeira.
Dinheiro na mão é vendaval.
E nas vergonhas de um senador?
Solidão não.
Irmão, no caso, conhece irmão.
Salva o irmão, protege o irmão.
Vai que amanhã o irmão sou eu.
Fácil proteção, uma vez que o colendo vento que afasta pra longe é fruto da caneta de grifo meu.
Mais um suco de Brasil que explica o que assucedeu.
Do furo, Samba-canção.
O fundo da calça é o novo embaixo do colchão.
É PIX, é Fux, é o fim do caminho.
Um colégio de onze, todo mundo sozinho.
É a lei que não conhece o sistema.
E jaz em Supremo mausoléu.
O certo liberta os facínoras e põe o juiz no banco dos réus.
O errado corrige a despeito, bate no peito e levanta o troféu.
Tanta trova rasa.
Tanto voto longo.
Tanto preso a escapar.
Pé na porta, silêncio é a polícia.
- Cadê o dinheiro?
“Nádegas a declarar”.
Alô, alô minha claque, aquele abraço. As redes partem para o ataque, um descompasso. Alô, alô lava-jato, aquele abraço. Jantar na casa do ministro é um prataço. Os homens do centrão agora dão as cartas. O renda-cidadã provoca algumas farpas. Alô, alô, deputado, desculpa aê. Alô, alô, meu ministro, decola em V. Alô, seu Marinho, chama o bombeiro. Calma pastor, o Kássio primeiro. Centrão indica um ministro, a par e passo... Alô, Senado amigo... aquele abraço. Beijo a mão, amor antigo, o que se quer eu faço. Pós doutor em cinco dias, pego no laço. Essa imprensa é canalha, eu ameaço. A despedida do decano, um só pedaço. Por escrito ou frente a frente eu vou depor. Com o que se preocupar se, afinal, a corrupção já acabou. O Rio de Janeiro continua lindo. A Praça dos Três Poderes, mesma régua e compasso. Alô, todo povo brasileiro: Aquele abraço!
A cesta, os pães, as togas.
Um piquenique supremo.
A lagosta, o camarão, o doze anos envelhecido em barril de carvalho.
Mesa posta, traz a cervejinha.
Melhor, traz a Tubaína, que o ministro já vem lá.
Banquete com resenha.
Mas, vai esperar em pé.
Lá na corte ainda são onze, não há cadeira pra sentar.
O dono do centro quer bancar.
O dono do salão azul quer ficar.
De ponte em ponte, duto em duto, há uma base a se formar.
Enquanto se vai ao norte, quebra-se a cabeça.
Pois não tem de onde tirar.
E que não se rendam pra nova renda:
- Fura ou vai pedalar?
Chama líder, general, ministro, chama lá.
Chama todo mundo pra que possam explicar.
Mostra dado, contrarie e, se preciso, filosofe.
A conta é deles, o louro é meu... e governar?
Um tremendo rega-bofe.
O índio botou fogo na mata,
O estrangeiro nunca esse tanto investiu.
A justiça bateu o martelo.
O Banco Central diz que mentiu.
As mortes em outra conta.
Na minha só louros e dólares mil.
A autonomia é para lavar as mãos.
Tochas em riste, os perseguidores.
Parece que Cristo fugiu do Brasil.
E o mundo precisa da verdade.
Compra quem quer, aqui é tipo exportação.
Zeramos as taxas, tributos cortados, se fazer de “isentão”.
E pode tomar à vontade, mesmo sem comprovação.
Pra quem você tira o chapéu?
Xiiiii
Deixa vir o comercial.
O personagem desse programa, parece, deixou de ser o principal.
Vem aí o jogador, vamos todos aplaudir.
Quem quer um novo imposto? O aviãozinho vai subir.
Vem pra cá, seu general.
Vai pra lá seu deputado.
Só quem pode responder é o ministro tutelado.
- Ah, não pode? Então tá bom.
Pega aqui esse banquinho, você está eliminado.
Uma ode ao perdão que dispensa o entusiasmo. A doutrina do arrocho passa pano a quem sonega. Político ladrão, senso comum, é pleonasmo. Mas, fora da vida real, depende muito de quem enxerga. Quem é que joga a fumaça pro alto? Quem é que faz dela a cortina perfeita? Governar é um jogo de campeonato. E bola pro mato levanta suspeita. Quimeras no poder. Deputado-Carrasco.
Vereador-Guardião. Juiz-Governador. Prefeito-Pastor. Arremetem as chamas em voo livre. Cai a fuligem no ombro do moço que bate palma pro lindo céu de fogueira, do alto da pedra do Arpoador. Lacrando caixões, lacram nas redes. O Brasil de parabéns. Onde há fumaça, há fogo. Onde há necessidade, há voto. Falei: governar é um jogo. Expulso de quadra, do terrão e do campinho. Eis o veto do veto do descaminho. Arquibancada vai à loucura. Estamos nos acréscimos. Choram o Pantanal. Aplaudem o fogo no parquinho.
Vai óleo, tá caro. Cebola, chorei. Cheira a prêmio, vai alho. Mistura o guardado, mais um penduricalho. É ministro o chef, mas pensa que é rei. O gasto é a gosto. O tempero, engraçado. Sabor de pano passado, que nunca provei. No Brasil, fogo sempre alto. Como se tudo fritasse na panela de pressão. No passado plenário, o problema era lagosta. No presente queimado, contamos feijão.
A justiça é a coifa, transforma a fumaça, servindo o prato da nova eleição. Liga o giroflex, come o marmitex, foge da polícia, passa no cartão. Pede patriotismo, demite o cartazista, o preço é na caneta, perdoa esse bilhão. Tum tum tum, bateram na porta. Tum tum tum, fugiu à milhão. Secou o arroz, a fila formada. Todos famintos de pires na mão. A barriga ronca, talvez seja fome. Não sei. Agora me alimento das vinhetas de plantão.
Cada um tem o guardião que lhe convém.
Carta, lei, penduricalho. Paspalho aspone. Vereadores, também.
Monocraticamente sem voto. Democraticamente afastou. Com todas as vênias, discordo, mas acompanho o relator. Ouvi um raio que caiu sem som, lá atrás. Não era bem uma música aos ouvidos do ministro.
Era só barulho. Amplificando o trovão, que veio. Pedra que rola.
Ladeira abaixo. Sorte nossa! Tantos abafadores fora do preço do mercado. Vendidos como certeza de progresso: o auxílio, a reforma e o programa de renda que ainda é papel. Coletiva de nós de gravata mal dados. Costuras estranhas pra saber onde corta. Aos que não tem pão, panos usados. Aos que duvidam, decolaremos em “V”. Aos que governam, o toque suave da seda. E que o entulho da reforma não suje tantas e opulentas Hermès. É que boi de piranha também tem dom de guardar. Casta que não se protege não vinga. E jabuti cria asa. E quem acha absurdo vê-lo voar, ressalto: Defendemos menos Brasília. Nunca menos Planalto.
Era uma casa muito engraçada, verde e amarela, só que azul. Pá, picareta e bola na cal. Tijolo dos times passados, o truque do bom batedor. Diz que é direita, mas bate com as duas. A prancheta que usa é de um velho treinador. Drible preferido? Caneta. Obra preferida? Qualquer. Joga pra torcida e cuidado, não perguntem de sua mulher. Não tinha teto a casa, fizeram, mas ele atrapalha a vista pro céu. O céu é um mar de votos, o teto já desabou. Deu briga, deu soco e, no chute, promete reforma, mas nada de gol. O ministro na casa, é só canelada. E o time precisa de um driblador. Quem patrocina não importa, já que a conta é do torcedor. Sobe a marcação, sobe a laje do novo Neymar. Pedala, pedala, e nada... nada do ministro acertar. Já tá dado, recebi no zap: vai ter que arrumar outro time pra jogar. E aí, outra casa pra morar.
Porque essa, engraçada, vai pegar fogo.
- Alô bombeiro, sinto cheiro de queimado.
- Sim, eu espero.
- Endereço?
- Esplanada dos Ministérios.
- Rua dos bobos.
- Número zero.
Diz do barco onde estamos todos que a maré leva ao mesmo lugar. Embarcaram juízes e procuradores. Deputados, ministros, senadores. Embarcaram presidentes, generais e auditores.
Mas, as pessoas também. A fila do embarque era agência da Caixa.
Saguão cheio, bolso vazio: as lojas todas fechadas. Em busca de teto, o olho no veto e é fato, não dá: Socorrer a todos é loucura esse tempo.
Vela içada, “vambora” é o progresso. “E daí” esse tanto de homem ao mar? Vela pra santo a prece é muda. Promulga o despejo, esperança corre em vala e desagua na praia. Enquanto os de cima não jogam a boia, afundamos. O resto que sobra vai ter que remar. Com destino ao arrocho, partimos. Coveiro abre vala, gari tira lixo. Austeros capitães nos guiam, nos negam. Resguardada, claro, a validade dos próprios caprichos. Vale mais um penduricalho ou um prato de feijão? Em defesa da vida, matamos. Remando sem plano, morremos. Em fuga da morte, embarcamos. Na falta de um Norte, perdemos. Marinheiros de primeira viagem nadam de braçadas na crise. Se movem, se mexem e nada: todos errados e com razão. O vírus é do tamanho de um iceberg, batemos. O bote do barco se chama Centrão. Quem se salva?
Mais um samba do passado, escrito como se pensado para agora se fazer. Só que deu foi o contrário, nada hoje é igual ao tempo em que se pôs a escrever. Sonhava com preço pouco, riso e “L’argent” no bolso. Partindo do pressuposto que o povo teria o que comer. É mato, carne de gato, pirão pouco e sem farinha. O sonho é lar de quem caminha e cada acorde um reerguer. Um muro por janela, cerca de arame. O batuque na cozinha da casa da madame, que nunca vai acontecer. E que o teto não se faça em furadeira, evita crime e goteira, cantou Geraldo Pereira, quer com a nega lá viver. Mas, do jeito que a coisa anda, Geraldo, fica difícil te dizer. Não que eu queira acabar com o seu dia, mas carne não é mato e não tem nada mais barato que o mercado ao qual se roga não venha encarecer. De certo mesmo, só o amor que tem por ela, o teu samba e a debandada que acabou de acontecer. É mais fácil ver os gatos lá do morro se acabando em gargalhada do que o fim desse sofrer. O povo todo tá cansado é dessa briga, mais que nunca conhecida, do viver-deixar-morrer. Peço que não perca a alegria, sua nega não merece, mas tem coisa que é pra ser. O ministro que comanda a economia, me parece, não tem como resolver. Sobe o morro, busca o teu, faz uma prece. E escreva outro samba pra sonhar tudo outra vez.
Delegado Chico Palha não prendia, mas batia. Investigava e escondia. Gênio violento, acabava a festa a pau. Sobrava um surdo rasgado, um jogo de baqueta quebrado, um banjo sem corda, um boleto já pago e sempre tinha um malandro que não se dava mal. O bom de ter amigo é isso: convida pro samba, paga a conta, vaza antes da batida e não espera o final. Delgado Chico Palha não tinha alma, nem coração. O samba e a curimba ele não queria. Mas dizem os malandros da praça, que ele acobertou os caras do lava-jato, que se sujavam demais, mas escondiam do patrão.
Distribuiu santo e remédio, abriu a carteira, dizem até que pensava em eleição. O problema é que o bolso que abria demais não era o dele, e o chefe-xerife, recém chegado de Chicago, não queria que usassem o dinheiro da corporação. Isso até dividiu seus capangas. Briga toda hora, tiro, entrevista, bola dentro, bola fora, saíram no tapa até dentro da guarnição. De repente, e agora? Ninguém mais sabe quem manda na sua jurisdição. Aí a curimba ganha terreiro, o samba ganha escola. Na letra, Chico Palha é expulso e passa a viver de esmola. No xadrez da política, ganha um ministério. Ozônio no buraco do outro é refresco, diria o poeta. E cada Chico Palha tem a cloroquina que merece. Deixa os malandros da Portela e da Serrinha voltarem à roda. Quem sabe um cavaco chorando faz a gente tocar a vida. Cem mil na conta de cada Chico Palha. Uma hora o povo esquece.
Pulmão mofado, ainda brado, nada muda, Guimarães. Centrão rachado, analisa Riobaldo, não passa de um feito pelo mal feito. Sela no lombo, tabaco mascado, a vida é boa pra quem vê capim e come. Editores de toga, coronéis do cerrado: ameaçou? Achincalhou? É Peixeira Mont-Blanc e a conta some. Cavalgam em campanha. Em terra batida a cruzada. Por voto, por imposto e por vacinas ainda não comprovadas. Diz que um dia “entra em desuso matar gente”. Mas, no sertão, e “é dentro da gente”, “perder a vontade de ter coragem” é lei. Daí, morrer com medo do que não se vê, só sente, faz empilhar uma penca de número e o número mesmo... nem sei. Sei que se o capitão manda, o general faz. Cabresto para ministro, advogado e capataz. Te conto o conto da nota, duzentos contos e nada mais. Te conto o conselho contado, contados os votos que pode ganhar. - Se a água chega no sertão, presidente, o sertão, prometo, vai vir lhe amar. Esqueça os que cavalgaram contigo, há sempre outro abrigo para “sestar”. E quem quiser que chegue junto, vagas abertas o ano inteiro: para aspone, nova claque, ministro da saúde e amigo do peito. Só preste atenção no relincho, pois: “Cavalo que ama o dono”, com a licença que me cabe, Guimarães, “até respira do mesmo jeito”.
Acabou?