#193 – Série: O que é poluição luminosa? – Ep. 1 Aspectos gerais e seus impactos
Description
A poluição luminosa é um tipo de interferência silenciosa nos padrões naturais e paradoxalmente, é uma poluição invisível. Invisível e invisibilizante! Esta é uma preocupação de astrônomos, mas também de qualquer cidadão que compreenda como o excesso de luminosidade no ambiente tem um impacto enorme sobre o desenvolvimento de diferentes espécies da fauna e da flora. O Oxigênio traz esta série que pretende provocar os ouvintes sobre este tema. O idealizador e produtor é o Marco Centurion, que produziu a série como parte do seu Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização em Jornalismo Científico, do Labjor. Neste primeiro episódio ele aborda aspectos gerais da poluição luminosa. Os entrevistados foram o Rodrigo Felipe Raffa, Cledison Marcos da Silva e Raone dos Reis Mariano.
No segundo episódio, Marco vai falar sobre como a luz artificial afeta a astronomia, e no terceiro, o tema serão os impactos dessa luminosidade excessiva para a natureza. Acompanhe!
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Roteiro
[Trilha de abertura com a trilha “’Six Coffin Nails’ by Kerosyn | Electronic Metal Music (No Copyright)”].
Narração: Com um planeta cada vez mais iluminado, a humanidade vem perdendo a conexão com uma lindíssima cena que nos acompanhou por quase toda a nossa história na Terra: uma bela noite de céus limpos e estrelados.
Rodrigo Felipe Raffa: Olha a poluição luminosa, ela é um. É um. É um dos graves problemas do crescimento urbano, mas principalmente da má gestão, né? Dessa iluminação pública. Porque, de certa forma, é um desperdício de energia. E quando você percebe que a iluminação está indo para cima. Não iluminando nada, sendo desperdiçada no espaço, prejudicando o meio ambiente, porque a gente sabe que alguns animais são prejudicados pela problemática da poluição luminosa. Então eu vejo um problema muito maior do que o problema da astronomia em si.
Narração: A poluição luminosa, tema central deste podcast, é um problema silencioso, invade nossas vidas de forma sorrateira e interfere em ecossistemas, com consequências que vão muito além da simples perda da beleza do céu. Muito além do visível
Cledison Marcos: Bom, a gente sempre vê qualquer tipo de poluição como prejudicial, né? No caso da poluição luminosa, do ponto de vista observacional, ela é completamente prejudicial, porque, como a gente depende de ver, quanto mais luz parasita tiver por ali, a gente vai ter dificuldade para enxergar o objeto mais apagado. Então meio que vai limitando a gente a atingir alvos que podem por ventura entrar em erupção. A gente não consegue ver por causa da luz, que não permite que a gente chegue lá. Inclusive, em algumas cidades ela pode prejudicar as observações a olho nu. No caso dos amadores, eles entram bastante com a parte da observação a olho nu de estrelas variáveis. Tem bastante estrelas variáveis a olho nu que de uma cidade, mais ou menos, com 100.000 habitantes, altamente poluída, a pessoa já não vai conseguir ver. Então vai meio que levando essas observações exclusivas para as pessoas que moram longe dessas áreas com maior índice de poluição luminosa.
Marco Centurion: Meu nome é Marco Centurion e neste episódio, exploraremos do que se trata a poluição por luz artificial, como o seu excesso afeta nossa visão do céu noturno e o impacto na vida animal.
Narração: A humanidade teve na maior parte da sua história na Terra, um ambiente com iluminação regulada principalmente pela luz solar. O controle do fogo permitiu o prolongamento do tempo sob luzes de fontes não solares. Contudo a mudança dramática do tempo exposto a iluminação foi alterada mesmo quando a eletricidade foi dominada. A facilidade que a eletricidade permitiu aos humanos no manejo do mundo nos períodos noturnos, alterou completamente as paisagens. Os humanos, esticaram suas horas de atividade com luzes que simulam perfeitamente a luz solar. Consequentemente, toda a fauna e flora no entorno da atividade humana teve de seguir essas alterações nos padrões naturais. A essas luzes que iluminam os períodos com ausência de iluminação natural solar, dá-se o nome de luzes artificiais. A questão chave aqui é o excesso dessas luzes artificiais!
Raone dos Reis: Quando a gente fala em poluição a gente precisa entender que poluição está muito atrelado a excesso. Tudo aquilo que é em excesso faz mal. Então, se eu falo de poluição luminosa, eu estou falando de excesso de luz. Ou o mau uso dessa luz. Quando nós estamos viajando e estamos chegando perto de uma cidade, um grande centro urbano, principalmente à noite, a gente já observa de longe aquela mancha alaranjada no céu. Essa mancha alaranjada no céu são basicamente toda luz que é mal direcionada. Essa luz, ela se propaga pelo céu e reflete nas nuvens. Parece bobo, mas esse tipo de fenômeno que ocorre, essa iluminação que acaba ali refletindo nas nuvens, ela traz inúmeros impactos.
Narração: Raone dos Reis Mariano é biólogo pela UFSCar e em suas pesquisas, conseguiu perceber impactos em diversas espécies animais
Raone dos Reis: Primeiro. Os principais impactos. A poluição luminosa, ela tem um aspecto de repelir algumas espécies, então eu acabo ocasionando a extinção local. E ela também tem um outro aspecto de atrair outras espécies. Então, por exemplo, alguns tipos de besouros, alguns tipos de coleópteros, eles são atraídos pela lâmpada, pela luz, né? Principalmente essa luz que nós temos aí, de sódio de alta pressão, que é essa mais alaranjada, e também onde há alguns tipos de insetos, também ocorre alguns tipos de predadores. Então aranha, lagarto, lagartixa, sapo e todos esses animais passam a viver próximo desses postes, dessas fontes de iluminação artificial. Ao passo que outras espécies que são repelidas automaticamente já não existem mais ali. Hoje, se a gente for conversar com uma criança aí que já tem, esteja vivendo, né? Uma criança, talvez até 12 ou 15 anos, que teve toda sua vida, toda sua trajetória de vida em ambientes urbanos mais extensos, essa criança talvez nunca viu um vagalume em sua vida. E isso é um negócio muito alarmante, né? A gente fica até um pouco assustado assim, porque a gente sabe que todos os animais possuem sua função dentro do ecossistema. Eu me recordo que quando estudava algumas espécies de vagalumes, eu sempre observei muitos vagalumes em flor. Até não sei se há, aí, algum tipo de aspecto de polinização, por exemplo, como as abelhas fazem, como alguns morcegos fazem. Mas eu sei que os vagalumes são visitantes florais, então assim, eles possuem a sua, a sua função, né? E então o desequilíbrio é muito forte e o impacto não é exatamente só no local onde tem a iluminação, como eu trouxe anteriormente. Falando dessa luz que irradia para a nuvem, essa nuvem, ela vai refletir a luz até dezenas de quilômetros de distância. E isso pode também provocar ali um efeito de extinção local. Eu me recordo que quando eu fazia coletas, mesmo fazendo coletas lá no campus da UFSCar, e o campus fica a uma distância mais ou menos aí de 7 a 10 km de Sorocaba. Mesmo nessa distância, quando as nuvens estavam mais baixas e tinham esse processo de refletância e ficava muito claro o campus, eu estava no meio do mato, com um monte de ambien