DiscoverOxigênio Podcast#195 – Série Poluição Luminosa. Ep. 3 – Luzes que confundem: os impactos e danos da poluição luminosa na natureza
#195 – Série Poluição Luminosa. Ep. 3 – Luzes que confundem: os impactos e danos da poluição luminosa na natureza

#195 – Série Poluição Luminosa. Ep. 3 – Luzes que confundem: os impactos e danos da poluição luminosa na natureza

Update: 2025-04-18
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Description

Este é o terceiro episódio da série Poluição Luminosa, que foi produzida por Marco Centurion. Neste episódio, Marco, que é físico e especialista em jornalismo científico, conta como as luzes artificiais cada vez mais intensas rompem o equilíbrio natural das noites, afetando diretamente a saúde humana, alterando o crescimento das plantas e desorientando espécies animais.


Os entrevistados do episódio são a Juliana Ribeirão de Freitas, bióloga e docente do Instituto Federal do Mato Grosso, e Raone dos Reis Mariano, biólogo e mestrando no Programa de Pós-graduação em Biotecnologia e Monitoramento Ambiental (PPGBMA) pela UFSCar – Sorocaba.


Esta série tem três episódios e foi produzida por Marco Centurion, como trabalho de conclusão do curso de Especialização em Jornalismo Científico, curso oferecido pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade, da Universidade Estadual de Campinas. O orientador do projeto foi Alfredo Luiz Suppia, colaborador do curso e professor do Instituto de Artes, da Unicamp.


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Roteiro


[Abertura com a trilha “'Six Coffin Nails' by Kerosyn | Electronic Metal Music (No Copyright)]


Marco Centurion: As luzes artificiais cada vez mais intensas vêm rompendo o equilíbrio natural das noites, afetando diretamente a saúde humana, alterando o crescimento das plantas e desorientando espécies animais. Muito além de apagar as estrelas do céu, a poluição luminosa impacta profundamente os ciclos biológicos e nossa conexão com a natureza.


Raone dos Reis Mariano: Existem espécies de aves que fazem migração ainda à noite. Então a luz pode interferir no trajeto migratório dessas aves. Existem espécies de tartarugas que também sofrem com isso, principalmente quando eclodem dos ovinhos, estão saindo pela praia. Se houver ali uma iluminação e próximo da praia, isso pode direcionar a tartaruguinha ao invés de ir para o mar para sentir o continente, então acaba sendo predado ou até mesmo morrem aí por n questões, né?


Marco: Entender como o excesso de luz atrapalha diversos pontos da vida na Terra e as implicações de vivermos em um mundo onde as noites já não são verdadeiramente escuras, é só um ponto de partida. Outras instâncias da sociedade precisam começar a atuar ativamente na retenção da poluição luminosa.


Juliana Ribeirão de Freitas: Publiquei aí com o meu aluno um artigo em que a gente fez um levantamento, aí da questão legislativa com relação a com foco na biodiversidade no Brasil. E a gente encontrou ali um punhado de leis municipais e a maior parte delas focada na questão da observação astronômica, né, e que acaba tendo algum impacto na biodiversidade. Um impacto benéfico, claro. Mas não é esse o foco, né?


Marco: Meu nome é Marco Centurion e neste episódio trataremos de como a poluição luminosa é taciturna em suas consequências nos seres vivos.


Alterações comportamentais na vida selvagem, influenciadas pela iluminação artificial inadequada, já são assunto dentro da comunidade científica, especificamente os biólogos, já há uns bons anos. Taxas de reprodução, migração, crescimento e até mesmo extinção entre de espécies, vêm sendo observadas de perto em ambientes em que antes havia uma demarcação precisa em padrões de dia e noite. Juliana Ribeirão é bióloga e docente do Instituto Federal do Mato Grosso. Juliana, que possui publicações justamente acerca dos impactos da poluição luminosa e preservação da biodiversidade, ressalta que poucos anos sob os efeitos dessa luz não natural, não são suficientes para que haja alguma adaptação no modo de vida dos animais.


Juliana Ribeirão de Freitas: Na verdade, a poluição luminosa como um todo, é qualquer alteração dos níveis de iluminação artificial, seja em quantidade, ou seja em intensidade ou em tipo, um tipo de onda de luz que está sendo emitida. E como a gente tem a vida na Terra, todas as formas de vida na Terra, desde que surgiu, ela vem evoluindo ao longo do tempo, com ciclos.


São ciclos de claro e escuro, ciclo de 24 horas de claro e escuro, ciclos mensais da Lua que tem uma parcela de iluminação também, né? E então a gente vem evoluindo nesse padrão, e aí de repente digo de repente porque a gente está falando aí numa escala de milhões de anos, e aí, de repente, no último século, a gente tem uma alteração brusca desses padrões, né? E isso vai ter impactos em vários níveis biológicos. Tem registro de impacto genético, fisiológico, comportamental, no sucesso reprodutivo das espécies porque não conseguem acasalar. No caso dos vagalumes, esse é um problema. Eles não conseguem se encontrar para acasalar. E aí tem um problema do sucesso reprodutivo, né, que leva à extinção da espécie, pode levar à extinção da espécie. E pode haver alterações, por exemplo, de densidade populacional, alteração dos padrões migratórios, né? Tudo isso tá, são impactos, né? Que as alterações da iluminação podem causar na biodiversidade.


Marco: O biólogo Raone dos Reis, em concordância com Juliana, destaca também os aspectos evolutivos de uma ampla diversidade de espécies animais, que são afetados pelas mudanças ambientais provocadas pelas atividades humanas.


Raone dos Reis: Os trabalhos, assim mais conhecidos, os trabalhos mais robustos que se tem na literatura, eles estão muito voltados a tanto as tartarugas. Muitos trabalhos também estão direcionados às aves. É muito em função dos aspectos migratórios que algumas dessas aves fazem. Continuam a sua migração mesmo à noite. Com relação a outros animais que possam ter algum tipo de problema com a iluminação artificial, eu arriscaria dizer que todos! Eu arriscaria dizer que todos! Por exemplo, nós aqui na região de Sorocaba, a gente está bem próximo a região de Mata Atlântica. A gente está bem próximo a regiões de Cerrado também. E são ambientes de caça para onça. Tanto a onça parda, né? A suçuarana, quanto a onça pintada. E a gente sabe que o felino, ele tem hábitos totalmente noturnos, principalmente para caça, né? Ou crepuscular ou noturno. A gente sabe que os outros animais que dependem da caça fazem o uso dessa do ambiente escuro para poder se alimentar, né, Para poder realizar ali a caça. Então, a iluminação artificial, quando ela chega a esses ambientes mais próximos, com certeza vai causar um desequilíbrio, seja para animais pequenos como os vagalumes, como foi o meu objeto de estudo, como para esses animais maiores, que são os grandes animais bandeiras que nós temos aí, né? Quando falamos em questão de processo de preservação ambiental. Todos, ao meu ver, eu acredito que todos os animais que dependam de, fazem, né, Caça. E animais também que não são caçados. A iluminação vai prejudicar ele, e assim, diretamente? Sem sombra de dúvidas. Até mesmo porque a gente também tem. E todo. Todo ser vivo. E ele tem os seus momentos do seu dia, né? Que são o que a gente chama de ciclo circadiano. Então, qualquer tipo de alteração, qualquer tipo de coisa que não esteja no seu devido lugar vai trazer algum tipo de alteração.


Marco: Apesar da ampla gama de trabalhos já publicados sobre como a poluição luminosa afeta a vida selvagem, algumas consequências são difíceis de mapear, uma vez que a biodiversidade é bastante dinâmica em suas relações.


Juliana Ribeirão de Freitas: É são muitos trabalhos, são muitos contraditórios. Porque por um lado, a gente já tem. Eu digo que é contraditório porque já tem uma quantidade de trabalhos mostrando que há impactos. Isso é, são muitos assim. Mas ao mesmo tempo é um. Existe uma grande lacuna do conhecimento, porque a gente tem um volume de informações sobre esses impactos, mas a gente não consegue dizer ainda quais são as consequências desses impactos, e como uma coisa está atrelada a outra. Porque os ecossistemas, eles são e são baseados em uma rede de vários elos. Todas as coisas estão interconectadas. E aí, quando você altera um elo ali nessa cadeia que funciona, você altera todo o resto e prevê a consequência nos outros níveis é muito, é muito complicado. Então a gente tem, por exemplo, registros de alterações, acho que as tartarugas são os mais clássicos, né?


Porque as tartarugas, elas se guiam pela pelo reflexo da luz da lua no mar. Quando elas saem do ninho, nelas as as tartarugas, elas desovam sempre na mesma praia onde elas nasceram e aí enterram os ovos. Quando elas saem dos ovos, a mãe já não, já não está mais ali, ela nada em direção ao reflexo da lua que está no mar. E aí, o que acontece? O que há registros, né, do que tem acontecido? Ela não sabe muito bem onde é que tá a lua, né, porque quando você tem um ambiente natural que é totalmente escuro, você tem a lua ali. Muito, muito obviamente, né? E aí, se você tem uma orla que é toda iluminada, como é a maioria das orlas, né? Mas no Brasil eu publiquei um trabalho que mostra com dados como que o nosso litoral é muito mais iluminado do que o resto. E aí a tartaruga então vai ficar perdida, Não vai conseguir ir para o lugar onde ela tem que ir e que é o mar e eventualmente pode morrer de fome ou então vira presa fácil de predadores que inclusive esperam essas tartarugas, etc e tal.


[Vinheta: fade-in da faixa “Final Confrontation”]


Marco: Mencionado anteriormente por Raone, o ciclo, ou ritmo circadiano é a organização das funções biológicas de forma a se repetir a cada 24 horas. Como diz o nome CircaDiano, ou seja, “cerca de um dia”. O ser humano é um animal diurno e parte do nosso sistema endócrino, responsável pela geração e distribuição hormonal no corpo, depende da determinação adequada de ciclos de luz e escuridão. A melatonina, um hormônio que nós produzimos naturalmente, é um dos marcadores do ciclo circadiano.


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