DiscoverOxigênio Podcast#198 – Escolas bilíngues no contexto brasileiro
#198 – Escolas bilíngues no contexto brasileiro

#198 – Escolas bilíngues no contexto brasileiro

Update: 2025-06-26
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A demanda por escolas bilíngues cresceu e se diversificou no Brasil nos últimos anos. Há diferentes modelos, com diferentes faixas de preço. A propaganda dessas escolas reforça a aprendizagem contextualizada de um novo idioma como um diferencial.

Neste episódio, Mayra Trinca e Marco Centurion exploram o tema, tentando desvendar se o investimento vale a pela ou não. Para isso, participam do programa Ingrid Finger, pesquisadora de bilinguismo e cognição, Miqueli Michetti, socióloga, e Yasmin Faiad, que foi aluna de uma escola bilíngue. 


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ROTEIRO


MAYRA: Se você procurar por “escolas bilíngues no Brasil” no google, vai ver diversas manchetes como:


LÍVIA: “Procura por modelo de ensino bilíngue ultrapassa 60% no Brasil”; Escolas bilíngues e internacionais no Brasil cobram mensalidades de até R$ 12 mil; saiba como funcionam”; ou “Escolas bilíngues disparam no Brasil”. 


MARCO: Dá pra perceber que o modelo vem crescendo e ganhando espaço nas famílias com maior poder aquisitivo. Se você é responsável por alguma criança e tem uma folguinha financeira, é bem possível que já tenha se perguntado se vale a pena investir nesses espaços e nesse tipo de ensino. 


MAYRA: Se você tá numa situação dessa, ou se interessa pelo assunto, esse episódio é sobre isso: escolas bilíngues. Vamos contar o que é necessário pra uma escola ser chamada de bilíngue, quais as vantagens (e desvantagens) e filosofamos um pouco sobre as influências sociais e culturais no meio disso tudo. Eu sou a Mayra Trinca. 


MARCO: E eu, o Marco Centurion.  E, apesar de tratarmos do tema como escolas bilíngues, o foco principal é nas escolas que utilizam o idioma inglês como a língua estrangeira. Há poucas escolas que adotam outras línguas no Brasil; inclusive línguas originárias. 


YASMIN: Meu nome é Yasmin, eu tenho 19 anos e no meu ensino fundamental eu passei por uma escola bilíngue. Foram 5 anos nessa escola e depois disso, no meu ensino médio eu entrei para uma escola regular, sem ser bilíngue. E agora eu comecei a fazer faculdade. 


MAYRA: Essa que você ouviu foi a Yasmin. Ela foi aluna do Marco alguns anos atrás. Eu e o Marco nos conhecemos no curso de especialização em jornalismo científico aqui do Labjor. Eu sou bióloga e o Marco, físico. 


MARCO: Coincidentemente, nós dois já trabalhamos como professores de ciência em escolas bilíngues, onde eu dei aula pra Yasmin.


MAYRA: Hoje, nem eu nem o Marco estamos mais nesse meio. Mas desde que eu saí da escola, eu fiquei com vontade de investigar sobre o ensino bilíngue porque algumas coisas no modelo da escola que eu trabalhei me incomodavam. Aí chamei o Marco pra colaborar comigo nessa pauta. 


MARCO: Desde as nossas primeiras conversas sobre o tema deste episódio, notamos mais uma coincidência: os nossos incômodos eram bastantes similares. Tocavam desde aspectos cognitivos, culturais, sociais e, claro, pedagógicos.


MAYRA: E a partir disso, o Marco pensou que a gente podia falar com a Yasmin pra saber um pouco mais da perspectiva dela como aluna. 


YASMIN: O meu processo no ensino fundamental, numa escola bilíngue, foi muito interessante para mim e eu sinto os efeitos dele até hoje. Então, no meu trabalho, nos meus estudos, eu percebo como foi uma coisa muito importante e que eu fui muito sortuda de ter tido essa oportunidade de ter esse contato com o inglês desde pequena. 


MARCO: Mas antes da gente continuar com a experiência da Yasmin, acho importante a gente definir aqui o que é uma escola bilíngue. Faremos isso com a ajuda da Ingrid Finger.


INGRID:  No Brasil a gente tem escolas bilingües, com currículo bilingüe. 


MARCO: Que são as escolas onde as crianças têm aulas de matérias específicas, como ciências, matemática ou geografia em inglês. Com isso, a língua é explorada em mais contextos e fica mais integrada no currículo. 


INGRID: Então, a escola bilíngue é a escola que possui um currículo integrado no qual os conteúdos e as habilidades são desenvolvidas nas duas línguas do currículo. Mas a gente também tem um número grande de escolas que têm o que a gente tem chamado de programa bilingüe.


MAYRA: Que é uma escola regular que oferece carga horária estendida na língua adicional. Essas horas variam muito, tem escola que oferece 5 horas a mais na semana, tem escola que oferece 10, e por aí vai. 


INGRID: O que é o formato mais comum no Brasil? Um número maior do que o previsto na legislação de carga horária na língua adicional. Então, a escola às vezes tem 5 horas na língua adicional, mas o que o professor de inglês faz, ele faz separado do que é feito no resto da escola, não existe essa integração. 


MARCO: Faltou a gente dizer quem é a Ingrid Finger.


INGRID: Sou professora titular do Departamento de Línguas Modernas com vínculo permanente ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Eu faço pesquisa na área de bilinguismo e cognição, educação bilíngue, biliteracia, processamento bilíngue. Já há um bocado de tempo, desde 2006, eu coordeno um laboratório de pesquisa que se chama Labico, Laboratório de Bilinguismo e Cognição na UFRGS.


MAYRA: A gente convidou a Ingrid pra participar desse episódio pra ajudar a gente a entender a ciência envolvida na aprendizagem bilíngue. E também pra contar como saber falar duas ou mais línguas afeta diversas áreas na nossa vida. 


MARCO: Beleza, todas apresentadas, vamos continuar! 


YASMIN: Antes de entrar para essa escola bilíngue, eu estudava numa escola normal, assim. Então, eu percebi como as matérias também eram focadas no idioma, focadas no inglês. A gente tinha ELA, que eram os estudos em inglês, tudo em inglês. A gente tinha matemática em inglês. 


MAYRA: De início, a gente pode achar que estudar outras matérias em inglês é só uma forma de aplicar a língua em mais contextos como uma forma de ganhar vocabulário, de conseguir se expressar sobre diversos temas em outra língua, que não a materna. Mas a Ingrid explicou que é mais do que isso:


INGRID: Aqui a gente está pensando não só na proficiência de habilidades comunicativas de dizer que foi ao cinema no final de semana e qual é o sabor favorito de sorvete, a gente tá falando no desenvolvimento de habilidades de raciocínio na língua, né? Então a gente tá falando de a criança ser capaz de relatar eventos históricos, porque ela aprendeu história e ela é capaz de fazer um raciocínio histórico ou, né, conteúdo de biologia ou raciocínio matemático, que é um bom exemplo nas duas línguas. Uma coisa é a criança saber contar até 100, né? E dizer quantos anos tem. Outra coisa, ela é ser capaz de resolver um problema matemático e elaborar uma equação matemática na língua adicional. Essas habilidades são habilidades acadêmicas, que só podem ser desenvolvidas através de uma integração curricular.


MARCO: É justamente essa capacidade de raciocinar academicamente e realizar conexões com o mundo cotidiano numa língua adicional que diferencia um currículo bilíngue do simples ganho de vocabulário em outro idioma. Como a Ingrid reforça:


INGRID: Existem muitos modos de formar sujeitos bilíngues. Mas se a gente tá pensando num indivíduo bilíngue que é capaz de articular conteúdos acadêmicos na língua adicional. Isso só se dá através de um currículo bilíngue.


MAYRA: E se o currículo bilíngue é essencial para desenvolver essas habilidades acadêmicas em uma língua diferente, isso também levanta uma questão fundamental e que é o grande gargalo do ensino bilíngue segundo a Ingrid. 


MARCO: A gente não tem formação de professores para essa tarefa. Pois não basta dominar o idioma, é preciso entender como a língua e o conteúdo se integram no processo de aprendizagem. E isso tem a ver com a forma como nosso cérebro armazena o  conteúdo disciplinar junto com a nova língua.


INGRID: Porque tu não aprendeu assim. Quando a gente aprende alguma coisa a gente aprende o conteúdo, mas armazena também a língua na qual a gente aprendeu. A gente armazena toda a experiência de aprendizagem, né? A gente a

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