A TRAGÉDIA DO VOO PS-752
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A queda de um voo da principal companhia aérea ucraniana com a perda de 176 vidas aparenta ser a principal consequência da barragem de mísseis disparados pelo Irão na madrugada de ontem.
O ataque foi anunciado vezes sem conta como represália à eliminação do líder das operações externas dos guardas revolucionários islâmicos e foi acompanhado de um sem número de falsas proclamações sobre os alvos atingidos ou mesmo as armas utilizadas.
Na verdade, como se pode constatar pela observação de dois mísseis por explodir perto da base aérea de ‘Ain Al-Asad’ não se tratará dos mais modernos Fateh-110 mas antes dos vetustos Qaim-1, mísseis balísticos de pequena precisão que só por azar podem ser efectivos se se dirigirem a alvos militares definidos.
No caso dos mísseis enviados às forças americanas em Erbil, há notícias de mísseis que explodiram a dezenas de quilómetros e é seguro que nenhum acertou perto sequer de qualquer dos alvos proclamados.
Os EUA aderiram aparentemente ao jogo diplomático, com Donald Trump a declarar que tudo ia bem, confirmando o disparo dos mísseis e não desmentindo a profusão de notícias fictícias dando conta de numerosas vítimas e aviões destruídos ou sem exigir a clarificação do que se passou com o voo PS-572.
Teerão não tem qualquer interesse numa guerra convencional com os EUA e menos ainda que essa guerra se trave nas suas fronteiras ocidentais, pelo que o bombardeamento das forças americanas no Iraque foi apenas para animar os seus apoiantes, hoje mais numerosos entre os ocidentais vítimas da síndroma de Estocolmo do que dentro de portas ou na região, e cuidadosamente levado a cabo para não provocar estragos nas forças norte-americanas.
Como explicou David Petraeus, a operação americana de dia 3 atingiu claramente os objectivos pretendidos de dissuasão e torna pouco provável qualquer ataque convencional iraniano aos EUA, tornando claro que Trump leva a sério as linhas vermelhas que anuncia.
Mas a verdade é que, embora enfraquecido pela sua profunda impopularidade interna e nos países ocupados, o aparelho estratégico de guerra iraniano continua intacto, pronto a prosseguir a sua expansão.
E se os guardas revolucionários islâmicos se mostraram incapazes de promover um ataque de mísseis sobre alvos militares convencionais, confirmaram, no entanto, o seu desprezo pelas vítimas civis e a sua enorme capacidade de desinformação.
A opinião pública ocidental que ignorou olimpicamente as centenas de milhares de vítimas da agressão teocrática dentro de portas ou na Síria, Iraque, Líbano ou Iémen, comoveu-se apenas com a execução do mais proeminente líder terrorista da actualidade. Nada mostra melhor os verdadeiros perigos enfrentados pela humanidade.
Bruxelas, 2020-01-08
Paulo Casaca