CARROÇA À FRENTE DOS BOIS
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A saga da SATA continua. Apesar de, para já, estar ultrapassado o mais recente problema da demissão do Presidente do Conselho de Administração do grupo SATA, nem a nomeação de um novo administrador ultrapassa os problemas daquele grupo de empresas, nem as questões de fundo ficam sanadas. Em pano de fundo estão, ainda, por resolver as principais situações que afetam o Grupo SATA, concretamente quanto ao seu interesse e definição estratégica, e, igualmente importante, o enquadramento legal no que especificamente preocupa mais os açorianos, que é a questão fulcral da sua mobilidade, pois o transporte aéreo é o único ao dispor dos residentes desta Região.
A privatização da Azores Airlines é uma das questões que tem que ser enquadrada na definição estratégica. O administrador indicado pelo Governo Regional foi administrador na TAP durante cinco anos, sendo que a experiencia profissional anterior foi em empresas que nada têm a ver com a aviação, como a Portugal Telecom e a TVI e nos últimos quatro anos foi CEO daquela que é considerada a melhor universidade pública de economia e gestão em Portugal, e uma das mais conceituadas da Europa, concretamente a Nova SBE.
Tendo estado na TAP no período que antecedeu à sua privatização, é legítimo especular que o que Governo Regional espera deste gestor é a preparação da Azores Airlines para a venda de 49% do seu capital social. A venda de uma parcela minoritária desta empresa já falhou no passado, sendo pouco razoável pensar que alguém queira ser paceiro numa companhia aérea anteriormente 100% pública se não for com a perspetiva de ganhar dinheiro. E só será possível ganhar dinheiro com qualquer das empresas da SATA se essas empresas forem geridas por preceitos comerciais, mas isso é uma opção estratégica e não de definição de administradores.
Ora, é precisamente a definição estratégica que tem faltado ao Grupo SATA e às empresas que o integram. O Governo Regional não sabe se quer uma empresa para assegurar o serviço público de mobilidade dos açorianos; não sabe se quer uma empresa para lhe assegurar dividendos, como investidor institucional; não sabe se quer uma empresa para trabalhar a importação de turistas; não sabe se quer uma empresa com vertente comercial lucrativa; não sabe se quer uma empresa que seja um misto de comercial e social (como tentou até agora, e fracassou); não sabe se quer um misto de garante de mobilidade dos residentes e de importação de turistas; ou um misto de comercial, social, garante de mobilidade dos residentes e de importação de turistas. E como não sabe quais as suas prioridades, também não sabe o que é possível conciliar ou ter. A meu ver, as prioridades até são fáceis de identificar.
A principal preocupação dos açorianos é com a salvaguarda da sua mobilidade, concretamente da Air Açores e com as ligações inter-ilhas. A então SATA Internacional e agora Azores Ailines, foi uma aventura mal ponderada e mal concretizada. Quando a SATA Internacional ganhou a ligação em serviço público entre Ponta Delgada e Lisboa e remeteu a TAP apenas para as ligações entre Faial, Terceira, Pico e Santa Maria com Lisboa, reformulou as ligações inter-ilhas para que os passageiros desse tráfego fossem transportados para o exterior, via SATA Internacional, em vez de na TAP. Essa decisão tem sido desastrosa do ponto de vista do desenvolvimento das ilhas, registando-se, também por força disso, um processo de despovoamento cada vez mais evidente. As aventuras da Azores Airlines poem em risco as ligações inter-ilhas, cuja recuperação e regresso a modelos que funcionaram melhor no passado tem que ser uma prioridade, assumida como serviço público de mobilidade. Em segundo lugar, a prioridade política para o Grupo SATA tem que ser que funcione como market maker num modelo de serviço de mobilidade de e para o exterior dos Açores, que garanta o maior número de ligações diretas às ilhas com aeroporto para o suportar e a preços sociais para os residentes. Em terceiro lugar, a SATA deve ter um papel importante nos maiores mercados de ligação à diáspora: Califórnia, Costa Leste dos EUA e Canadá. Assegurando isto, as empresas do Grupo SATA podem ter também missão comercial, desde que compatível com estas prioridades e desde que nunca as ponham em causa.
Quanto ao resto, concretamente quem são os gestores, com que parceiros, se com capitais privados, etc., isso resultará da reposta que se der às prioridades referidas e da forma como se concretizarem essas respostas.
19/11/2019
Nuno Melo Alves