O MUNDO ÁRABE EM 2020
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A convite do Dr Abdullah Fahad Al-Enzi, presidente da Comissão Política do Parlamento do Kuwait e contando com a hospitalidade do advogado Kuwaitiano Doukhi Al Hasban, encontrei-me no dia 21 com cerca de três dezenas de políticos, activistas dos direitos humanos ou simples cidadãos de um largo espectro de países árabes no Kuwait.
A reunião, ostensivamente dedicada à situação do Ahwaz – ou Arabistão como era conhecido antes da ocupação iraniana – acabou por ser um fórum importante sobre as alternativas abertas a esta parte do mundo.
Depois do desencanto com o nacionalismo, o mundo árabe começa a dar-se conta que a era do islamismo se revelou pior ainda, com a explosão do terrorismo e agora do imperialismo teocrático iraniano propagado em nome da religião.
O tema dos direitos humanos com a eclosão da cidadania em que cada um deve ser tratado com equanimidade, sem qualquer discriminação de base étnica ou religiosa, começa a ser encarado com seriedade como a base na qual se pode reerguer o mundo árabe.
Como me dizia um dos interlocutores, antigo Ministro da Agricultura na Síria, exilado no Kuwait há já dezassete anos, temos de voltar a fazer do Mediterrâneo um mar que nos une, por princípios humanos e civilizacionais comuns.
Começa-se a ganhar consciência que a época do petróleo terá um fim e que será necessário encontrar uma nova base económica, enquanto a sociedade e o modelo político prevalecentes no mundo árabe terão necessariamente que se orientar para o constitucionalismo democrático.
A Europa, pelo seu lado, também terá que entender que não pode ver o mundo árabe como algo de onde vêm refugiados e terroristas, mas sim como um parceiro fundamental que luta por se libertar da ingerência dos poderes imperiais que o querem dominar a coberto das suas ideologias fanáticas.
É fundamental saber desenvolver um diálogo entre a União Europeia e o mundo árabe, entender o que ambos têm a ganhar se se entenderem numa base programática e normativa clara onde o humanismo e o respeito de ambas as culturas sejam alicerces de uma nova relação de cooperação.
Bruxelas, 2019-12-23
Paulo Casaca