Série Termos Ambíguos – #5 Marxismo Cultural
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O episódio 5 da Série Termos Ambíguos trata da expressão Marxismo Cultural. A partir do verbete publicado no Termos Ambíguos do Debate Político Atual, um pequeno dicionário que você não sabia que existia.e de entrevistas realizadas com Sonia Corrêa, autora do verbete e dos professores André Kaysel e Sávio Cavalcante, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Estadual de Campinas, o jornalista Valério Paiva explora o termo, desde sua origem, e como tem servido à ultradireita no Brasil e em outros países. A apresentação é dividida com Tatiane Amaral e a edição é de Daniel Farias.
Esta série é uma parceria entre o Observatório de Política e Sexualidade, vinculado à Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, e do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, da Unicamp e este episódio fez parte do Trabalho de Conclusão de Curso de Valério Paiva, na Especialização em Jornalismo Científico do Labjor, da Unicamp.
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Roteiro
Áudio de Pablo Marçal: E aí, eles falaram que eles precisavam de 100 anos para fazer o marxismo cultural entrar em todas as esferas da sociedade. 1920, 2020, 100 anos. Você acredita? Os caras conseguiram.
Eles decidiram entrar na cultura, eles decidiram entrar na parte acadêmica. Eles criaram um mecanismo tão absurdo para entrar na vida das pessoas que a cultura foi mudada por esses caras.
Tatiane Amaral: O trecho que vocês acabaram de ouvir é de Pablo Marçal, ex-candidato à Prefeitura de São Paulo e autodenominado coach, que tenta definir o que é marxismo cultural.
Áudio de Pablo Marçal: Tudo aquilo que representava a glória de Deus, eles pegaram e desconfiguraram. Então, por exemplo, o Belo, na arte, você vai lá nas catedrais na Europa, você vai ver sempre o Belo representado. Eles descobriram que para desconfigurar o Belo no cérebro humano é só fazer o abstrato. Então, hoje, as obras de arte mais poderosas da Terra são só abstratas. E aí desde 1920 estão mudando isso.
Valério Paiva: Em suas entrevistas, declarações, palestras ou cursos, Pablo Marçal geralmente não cita fontes específicas ao abordar o conceito de marxismo cultural.
Ele apresenta suas interpretações com convicção, baseando-se na sua compreensão pessoal do tema. Por exemplo, em seu livro A Destruição do Marxismo Cultural, Pablo Marçal discute como acredita que o marxismo cultural moldou culturas, afetou sistemas econômicos, crenças, religiões e a individualidade humana.
Áudio de Pablo Marçal: Um, eu falo sobre a destruição do marxismo cultural e é uma bandeira minha, pessoal, enquanto eu estiver vivo, fazer todo mundo na Terra descobrir sobre isso.
Tatiane: Pablo Marçal frequentemente utiliza o conceito de marxismo cultural para promover seus cursos, livros e sua suposta missão pessoal, que está ligada a fazer as pessoas prosperarem e ele também, claro. Essa abordagem é muito comum entre alguns membros da extrema direita, que empregam termos enraizados no imaginário político coletivo, como marxismo cultural, para criticar mudanças sociais e culturais que consideram prejudiciais aos valores tradicionais. No entanto, nem todos os integrantes desse espectro político adotam explicações simplistas.
Alguns apresentam análises mais elaboradas e sofisticadas sobre o tema. Por exemplo, o conceito de marxismo cultural tem sido discutido em ciclos acadêmicos e políticos, com interpretações que variam desde teorias da conspiração até críticas fundamentadas sobre a influência de ideologias marxistas na cultura ocidental.
Áudio Ricardo Gomes: Marx dizia que existe uma infraestrutura na sociedade que sustenta o resto do que nós chamamos da cultura de uma sociedade.
Ele dizia que as relações econômicas é que determinavam a moral, determinavam as relações políticas, o direito de uma sociedade, o seu modelo de família, a religião, a estética com a arte, etc.
Valério: Quem fala agora de uma forma mais didática é nada mais nada menos do que o vice-prefeito de Porto Alegre, Ricardo Gomes, apresentador e colaborador da Brasil Paralelo, uma produtora que produz vídeos sobre política e história sob um viés conservador e de extrema direita.
Ricardo Gomes: Marx dizia o seguinte, existe a classe dos capitalistas e a classe dos proletários. Nós vamos promover o conflito entre eles e derrubando o modelo capitalista de produção, cairá toda a cultura ocidental, isso é, a moral burguesa, a arte burguesa e assim sucessivamente.
Tatiane: E para justificar as suas teorias, o vice-prefeito de Porto Alegre cita uma figura que aparecerá aqui em outros momentos.
Áudio Ricardo Gomes: No século XX, um pensador chamado Antônio Gramsci entendeu que, na verdade, este triângulo é ao contrário. O que Marx entendia que era a superestrutura, na verdade, é o que dá sustentação à economia capitalista. Gramsci disse: “é a moral, é a estética, é o direito, é a família, é a religião, é a ciência burguesas que sustentam o modelo de economia capitalista”. Isso fez com que toda a esquerda moderna mudasse a sua estraté