Bizâncio – O Império Romano do Oriente
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Quando o Império Romano morreu? Se você pensou no século Vº, errou por mil anos. É compreensível. O Império Romano do Oriente é praticamente terra incognita nos currículos escolares, pesquisas acadêmicas, mercados editoriais e estúdios cinematográficos. Mesmo admiradores de Roma desdenham essa saga milenar como “uma história monótona de intrigas de padres, eunucos e mulheres, de constante envenenamento, conspirações, ingratidão e fratricídio” (William H. Lecky). Para iluministas como Edward Gibbon, foi o “triunfo da barbárie e da religião”; “uma coleção inútil de orações e milagres”, segundo Voltaire; “um tecido de rebeliões, insurreições e traições”, “o trágico epílogo da história de Roma”, segundo Montesquieu. Não surpreende que na consciência popular o adjetivo “bizantino” reverbere obscurantismo, futilidade, cerimonialismo, e particularmente querelas labirínticas, bizarras, extravagantes, sinistras. Em suma, a traição do que havia de melhor na Grécia e na Roma clássicas.
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Mas, francamente, isso exala na melhor das hipóteses paroquialismo, na pior, ingratidão. Por séculos, Bizâncio foi um escudo da Cristandade contra hordas asiáticas, vândalos africanos, os xás da Pérsia e os califas de Bagdá – sem ele a “Europa” não existiria e provavelmente nós ocidentais estaríamos de joelhos para Alá cinco vezes ao dia. Enquanto o império romano ocidental era despedaçado por tribos bárbaras, Bizâncio consagrou-se como o maior poder do Mediterrâneo, e Constantinopla, a metrópole mais cosmopolita e exuberante da Idade Média. Foi sobre o corpo de Bizâncio que os turcos otomanos ergueram seu império, reconfigurando o universo islâmico até os nossos dias. Foi o espírito de Bizâncio que civilizou os Balcãs, animou o embrião da Rússia e inspira até hoje a visão messiânica de Moscou como a “Terceira Roma”. Duas vezes mais longevo que o império romano clássico, foi Bizâncio que realizou o sonho arcano de Alexandre o Grande. Fundindo a cultura helênica, a administração romana, a mística asiática e a fé cristã, Bizâncio preservou as letras gregas, arquitetou a teologia ortodoxa, criou a arte sacra mais carregada de espiritualidade de todos os tempos e cimentou os códigos que alicerçam nossos sistemas jurídicos. A maioria das civilizações vive um ciclo de aurora, apogeu e crepúsculo, mas, provando seu vigor e flexibilidade, Bizâncio viveu pelo menos dois. E quando finalmente morreu, seu espírito insuflou o Renascimento na Itália, inaugurando a aventura moderna.
Tão fascinante, tão incompreendida, tão distante de nós e tão inusitadamente como nós, qual será a verdadeira história desta ponte de ouro entre a antiguidade e a modernidade, entre o Oriente e o Ocidente?
Convidados
Bruno Tadeu Salles: professor de história medieval da Universidade Federal de Ouro Preto.
Renato Viana Boy: professor de história medieval da Universidade Federal da Fronteira do Sul.
Referências
- “O zênite bizantino” em História da Civilização. Vol. IV. A Idade da Fé (The Story of Civilization), de Will Durant.
- O Império Bizantino, de Hilário Franco Jr. e Rui de Oliveira Andrade Filho.
- “Império Bizantino” – Episódio do podcast História FM.
- “Império Bizantino” – Episódio do podcast História em Meia Hora.
- Byzantium. The Surprising Life of a Medieval Empire, de Judith Herrin.
- The Oxford Handbook of Byzantine Studies, ed. por E. Jeffreys, J. Haldon e R. Cormack.
- The Byzantine Achievement. An Historical Perspective, de Robert Byron.
- The Byzantine Empire, de Robert Browning.
- Medieval Europe. A Short History, de J.M. Bennett e W.C. Hollister.
- The History of Byzantium, podcast com dezenas de episódios.
- “Byzantium – Last of Romans” – episódio do podcast Fall of Civilizations.
- “Byzantium”, entrevista com Charlotte Roueché, John Julius Norwich e Liz James para o programa In Our Time da Radio BBC 4.
- A History of Byzantium, de Timothy E. Gregory.
- The Lost World of Byzantium, de Jonathan Harris.
- A Short History of Byzantium, de John J. Norwich.
- Byzantine Christianity. A Very Brief History, de Averil Cameron.
- A History of the Byzantine empire, de A.A. Vasilev.
- The Byzantine Empire, de Sir Charles W.C. Oman.
- A History of the Byzantine State and Society, de Warren Treadgold.
- “Byzantium and the Ghosts of Rome”; “Theodora: Empress of Byzantium”; “Justinian: Making Rome Great Again”; “Justinian & Theodora”, do podcast The Rest Is History.
- Hispania y Bizancio: una relación desconocida, de Margarita Vallejo Girvés.
- Guerra Santa: formação da ideia de cruzada no Ocidente, de Jean Flori.
- As Cruzadas Vistas pelos Árabes, de Amin Maalouf.
Ilustração: Capela Palatina (1132-1143), no Palácio Real de Palermo, na Sicília, encomendada pelo rei normando Rogério II. (Fonte: SmartHistory. Foto de A. Fein).
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