O capítulo final: prazeres da desistência e do ressentimento
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#099 – Cá entre nós: por que você não desiste de escrever? De publicar? De ser reconhecido? Reconhecido pelo quê, afinal?
Por que você quer tanto assim esse reconhecimento? Quem foi que disse – além de você para si mesmo – que você merece isso ou aquilo?
Não seria muito mais fácil não fazer mais nada? Permanecer onde está?
Por que tanto esforço? Não seria a desistência um sinal de coragem, de lucidez?
Por que o mero fato de falar de desistência representa uma ameaça, um tabu social? Como o alcoólatra que precisa que todos bebam, por que estamos sempre rodeados de mensagens de otimismo e persistência?
E por que apesar de não falarmos disso diretamente, estamos sempre indiretamente nos referindo à tentação de desistir?
Quando reclamamos do trabalho. Quando reclamamos dos colegas. Quando reclamamos da família.
Por que não assumir a tentação da desistência? E por que não assumir esse desejo do não-desejo como um dos nossos prazeres? Será que a insistência, afinal, não é uma forma de masoquismo? E os nossos desejos, por que não seriam eles os nossos tiranos?