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Estado da Arte

Author: Estado da Arte

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Três especialistas apresentam e discutem temas de importância atemporal das humanidades, das artes e das ciências, expondo o melhor e mais atual estágio de conhecimento sobre cada assunto.
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Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Seja qual for a sua espiritualidade, imagine o ritual que mais eleva o seu coração. Pense também na celebração cívica que mais excita suas paixões patrióticas. Agora, imagine uma cúpula geopolítica – com chefes de Estado, embaixadores e suas delegações. Um festival cultural – com arquitetura monumental, galerias de esculturas, récitas de poetas e filósofos, música, dança, truques de mágica. Acrescente uma feira de mercadores e inventores. Agora, coloque tudo isso sob o mesmo sol, e, bem no centro, atletas nus em competições de alta performance. Pronto, agora você tem um vislumbre do que eram os jogos olímpicos na Grécia Antiga. A disputa foi a quintessência da vida grega, o combustível de sua cultura. As cidades competiam entre si em leis e instituições; os poetas, em versos; os filósofos, em argumentos. Hesíodo desafiou Homero. Ésquilo e Sófocles concorriam nos festivais teatrais de Dionísio. Xenófanes contestava os poetas; Sócrates, os sofistas; os estoicos, epicuristas e céticos contestavam uns aos outros. A historiografia de Heródoto nasceu da guerra contra os persas e a de Tucídides da guerra entre Esparta e Atenas. A democracia era uma arena onde cidadãos disputavam o poder pela força da palavra. Os espaços de treino e disputas físicas foram sublimados e hoje consagram os nomes de nossas instituições culturais e educacionais: as palestras, a academia, os liceus, o ginásio. Mas se o espírito agônico dos helênicos foi destruição criativa, foi também criação destrutiva, que os impediu de forjarem uma nação, os mergulhou em guerras fratricidas e levou à sua capitulação sob potências estrangeiras.  A política dividia as cidades gregas, a religião fracassou em uni-las – mas o esporte conseguiu. Nos jogos, o conflito se transformava em espetáculo e a rivalidade em celebração. Guerras eram suspensas pela trégua sacrossanta; caravanas atravessavam mares e montanhas; e a Grécia, eternamente dilacerada, conhecia por instantes a comunhão. Sob o calor e a poeira de Olímpia, sacrifícios e procissões conviviam com o ruído das corridas, o brilho das armaduras, o sangue e o suor das lutas. Menandro resumiu a cena em cinco palavras: “multidão, feira, acrobatas, entretenimento, ladrões”.  Os jogos foram um microcosmo da cultura helênica e também sua apoteose; o ponto de fusão entre arte, política e fé, onde a Grécia não só reverenciava os deuses, mas celebrava o vigor humano. O atleta grego era uma encarnação do equilíbrio cósmico, um sacerdote do corpo. A coroa de oliveira, rústica e efêmera, valia mais que qualquer tesouro, porque simbolizava a consagração do indivíduo diante da eternidade – e a santificação da alegria coletiva. Os gregos humanizaram os deuses para divinizar os homens. E os jogos os treinavam nessa pedagogia da glória, ensinando-os a vencer sem soberba e a perder com dignidade, e os imergiam numa teologia do júbilo, unindo a religião e o prazer, a guerra e a dança, o esforço e a graça, a beleza e o bem – o corpo esculpido pelo exercício e a alma disciplinada pela virtude. Convidados Delfim Leão: Professor de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra. Gilberto da Silva Francisco: Professor de História Antiga na Universidade Federal da São Paulo. Nuno Simões Rodrigues: Professor de Letras Clássicas da Universidade de Lisboa. Referências O Espírito Olímpico no Novo Milênio, coordenação de Francisco Oliveira. A Brief History of the Olympic Games, de David C. Young Olympia. Robin Waterfield.  Los Juegos Olimpicos y el Deporte em GreciaI, de Fernando García Romero.  The Olympic Games. The First Thousand Years, de M.I. Finley e H.W. Pleket. Olympia. The Classical Hellenic City-State Culture, de Thomas Heine Nielsen. “A ascensão da Grécia”, em A História da Civilização. V. II. A Vida da Grécia, de Will Durant. “Ancient Olympics”. Documentário do History Channel. “Olimpíadas”, no podcast História em Meia Hora.  “The Olympic Games”, em The Games Odyssey Podcast.    “Origins of the Olympics”, no podcast The Ancients.  O post Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga apareceu primeiro em Estado da Arte.
Hamlet

Hamlet

2025-10-0901:00:17

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Responda rápido: qual peça de Shakespeare lhe vem primeiro à cabeça? Ou qual citação: “Ser ou não ser”? “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”? “O resto é silêncio”? Ou qual a primeira cena: um jovem de preto interpelando uma caveira? Será coincidência que por trás de tudo isso repouse um único nome? Hamlet é, de todas as obras do teatro moderno, a que exerce o fascínio mais persistente – e implacável. A tragédia do príncipe dilacerado entre a reflexão e a ação atravessa os séculos como um espelho oblíquo, turvo, fissurado da condição humana, onde cada época descobre suas próprias inquietações e conjura seus próprios fantasmas. A peça desafia toda classificação. É, a um tempo, drama familiar, meditação existencial, thriller político, crítica social e uma reflexão sobre o teatro e o próprio ato de representar. É intriga de corte, mas também metafísica do ser. É paralisia excruciante numa espiral de choques e rupturas. No coração do drama pulsa não só um vingador hesitante, mas um palco povoado por máscaras, danças macabras, jogos de aparência e silêncios perturbadores. Entre o espectro do pai assassinado, a mãe desposada pelo assassino, um amor despedaçado, amizades fraudulentas e uma carnificina apoteótica, o príncipe da Dinamarca – soturno, sardônico, sagaz – se move num labirinto de espelhos como um ator de si mesmo – ensaiando ações, testando palavras, pensando alto diante do abismo e transmutando a dúvida em imagens líricas de alta voltagem. Com sua tapeçaria de temas – a loucura e a razão, a justiça e o crime, a fantasia e a verdade, a corrupção do poder e a fragilidade da vida –, nenhum outro drama entrelaça com tanta densidade a inquietação filosófica e a paixão poética. Entre os solilóquios torturantes e o sarcasmo dos bobos, não só transbordam os dilemas do herói, mas a consciência moderna em ebulição. De Montaigne a Nietzsche, de Freud a Camus, Hamlet antecipa temas arquetípicos de nossa cultura: o “gênio melancólico” do romantismo, a “angústia da escolha” existencialista, os “complexos neuróticos” da psicanálise. Se Hamlet é um enigma, é também um espelho – e uma ferida. O que nele hesita, pensa. O que nele pensa, sangra. E o que sangra, pergunta. Pergunta como só a poesia sabe perguntar: sem esperar resposta – mas com a estranha esperança de que o ato de falar ainda possa nos redimir. Convidados José Francisco Hillal Botelho: escritor, poeta, crítico e tradutor de Shakespeare.  Fernanda Medeiros: professora de Literatura Inglesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e co-organizadora de O que você precisa saber sobre Shakespeare antes que o mundo acabe. Liana Leão: professora de Literatura Inglesa da Universidade Federal do Paraná e co-organizadora de O que você precisa saber sobre Shakespeare antes que o mundo acabe. Referências O que você precisa saber sobre Shakespeare antes que o mundo acabe, org. F. Medeiros e L. Leão.  Shakespearean Tragedy (Tragédia Shakespeariana), de A.C. Bradley Hamlet in Purgatory, de Stephen Greenblatt. Shakespeare: The Invention of the Human (Shakespeare: A Invenção do Humano) e Hamlet: Poem Unlimited (Hamlet: Poema Ilimitado), de Harold Bloom. Shakespeare Our Contemporary (Shakespeare, Nosso Contemporâneo), de Jan Kott Methuen. Hamlet and Oedipus (Hamlet e o Complexo de Édipo), de Ernest Jones. What Happens in Hamlet, de J. Dover Wilson. “Hamlet and His Problems”, em The Sacred Wood, de T.S. Eliot. The Cambridge Companion to Shakespeare (Guia Cambridge de Shakespeare), ed. por Emma Smith.  “Hamlet”, entrevista para o programa In Our Time da rádio BBC 4. Discovering Hamlet, documentário de Lyndy Saville.    Falando de Shakespeare e Shakespeare: o que as obras contam, de Barbara Heliodora.  “Hamlet”, The Play Podcast. “Hamlet”, podcast Shakespeare for All. Hamlet e a filosofia, de Pedro Süssekind. Ilustração: gerada por IA. O post Hamlet apareceu primeiro em Estado da Arte.
Kierkegaard

Kierkegaard

2025-09-1703:16

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Sob os vendavais da era romântica, enquanto a Europa se embriagava com apoteoses filosóficas e otimismo científico, um espectador inquieto e solitário perambulava pelas ruas de Copenhague, e, sob máscaras de pseudônimos, escrevia freneticamente, desafiando a ilusão de que a existência possa ser domesticada por ideias. Søren Kierkegaard não era filósofo de cátedra, mas um provocador de almas, um poeta da angústia, um teólogo que via na fé não conforto, mas um “escândalo” a ser abraçado. Seu pensamento se ergue a um tempo perturbador como uma tragédia elisabetana e cômico como um teatro de marionetes. Kierkegaard fez de sua vida – marcada pela melancolia herdada do pai pietista e pela chaga de um noivado abortado –, o palco de sua obra. Seus escritos não são tratados, mas performances existenciais – fragmentadas, ambíguas, polêmicas, e carregadas de uma ironia que serve não como ornamento, mas como instrumento filosófico. Para ele, não se tratava de conquistar leitores, mas almas. Na sua obra inaugural, Ou-Ou, encenou a contradição entre o esteta, joguete do do prazer e do tédio, e o ético, cativo da responsabilidade. Em Temor e Tremor, mergulhou no paradoxo de Abraão, cuja fé é um “salto” além da razão. Enquanto Hegel prometia a reconciliação de todas as contradições, Kierkegaard proclamava a sua inexorabilidade. “A verdade é a subjetividade”, dizia. “A vida só pode ser entendida olhando-se para trás, mas deve ser vivida para frente”. Nesse abismo entre a compreensão e a ação, descreveu a liberdade como “vertigem” e diagnosticou o desespero como a incapacidade de ser o próprio eu — uma antecipação genial das neuroses do século XX. Apologeta combativo, denunciou a cristandade burguesa como uma paródia do cristianismo, insistindo que a fé exige risco, não rituais vazios.  Seu legado ecoa na filosofia de Heidegger e Sartre, na literatura de Camus, na teologia dialética de Karl Barth e na psicoterapia existencial. Mas talvez sua maior atualidade esteja em seu diagnóstico da alienação da alma moderna. Na era da cultura de massas e de performances digitais, sua advertência — “a multidão é a mentira” – soa profética. Kierkegaard não oferece respostas, mas perguntas que queimam: Como escolher quando não há certezas? O que significa crer em um mundo pós-metafísico? Como ser um indivíduo em tempos de conformismo em escala industrial? Kierkegaard foi o Hamlet da filosofia – gênio atormentado, herói hesitante, mestre da ambiguidade, e talvez o crítico mais cruel dos sonhos da nossa vã filosofia.   Convidados Alvaro Valls: professor de filosofia da UNISINOS, tradutor de Kierkegaard e autor de Kierkegaard, Cá Entre Nós. Jonas Roos: professor de ciências da religião da Universidade Federal de Juiz de Fora e autor de 10 Lições sobre Kierkegaard.   Gabriel Ferreira da Silva: professor de filosofia da UNISINOS e autor de Em Busca de Uma Existentiel-Videnskab: Kierkegaard e a Ontologia do Inter-esse. Referências Kierkegaard, Cá Entre Nós e Kierkegaard não era um homem sério, de Alvaro Valls. 10 Lições sobre Kierkegaard e Tornar-se cristão: paradoxo e existência em Kierkegaard, de Jonas Roos.  Em Busca De Uma Existentiel-Videnskab: Kierkegaard e a Ontologia do Inter-esse, de Gabriel Ferreira da Silva.  Compêndio Kierkegaard, 2 vols., org. por A. Valls e Gabriel Ferreira da Silva.  Lições de Vida: Kierkegaard, de Robert Ferguson. The Cambridge Companion to Kierkegaard, eds. Alastair Hannay & Gordon D. Marino. Kierkegaard: A Very Short Introduction, de Patrick Gardiner. “Kierkegaard”, entrevista de Jonathan Rée, Clare Carlisle e John Lippitt para o programa In Our Time da BBC Radio 4. A Short Life of Kierkegaard, de Walter Lowrie. “Søren Kierkegaard”, verbete na Stanford Encyclopedia of Philosophy, por William McDonald. Søren Kierkegaard: A Biography, de Joakim Garff. “Kierkegaard, philosophe malgré lui”, série em 10 episódios da radio France Culture. Kierkegaard: A Biography, de Alastair Hannay. Philosopher of the Heart: The Restless Life of Søren Kierkegaard, de Clare Carlisle Kierkegaard e Pascal, de Luigi Pareyson. Søren Kierkegaard, de Cornelio Fabro. Kierkegaard: An Introduction e Kierkegaard’s Philosophy of Religion, de C. Stephen Evans  Études kierkegaardiennes, de Jean Wahl. The Philosophy of Kierkegaard, de George Pattison. Kierkegaard and the Religious Imagination, de David Wood. Der Buckel Kierkegaards (Kierkegaard the Cripple), de Theodor Haecker. “In Search of Søren Kierkegaard”, da Radio BBC 4. “Søren Kierkegaard”, série em 3 episódios para The Panpsycast Philosophy Podcast.  Philosophize This!, podcast, episódios 77, 78, 79 e 160.  “Sea of Faith: Kierkegaard”, documentário da BBC.  “Kierkegaard au secours de l’existence”, série em 4 episódios. Ilustração: retrato inacabado de Kierkegaard feito pelo seu primo, Niels Christian Kierkegaard c. 1840. (Wikicommons). O post Kierkegaard apareceu primeiro em Estado da Arte.
Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Para alguns pensadores, a história humana é basicamente a história da cultura. Para outros, a história da economia. Mas há quem diga que ela nada mais é que a história da guerra. É plausível. Por que procurar a mola-mestra da História no poder das ideias ou no poder do dinheiro, e não simplesmente no poder do poder? Quer dizer: a força pura de dobrar os outros à sua vontade – ou aniquilá-los –, seja lá quão brilhantes ou ricos sejam. Muito além dos quartéis e trincheiras, fala-se em guerra por toda parte – “guerras culturais”, “guerras comerciais”, “guerras santas”, a “guerra dos sexos”. Todo mundo maquina suas “táticas” e “estratégias” para tudo. O que são nossos esportes e jogos – do futebol ao xadrez – senão guerras sublimadas? A guerra está em todo lugar. Mas o paradoxo é quão raros são os livros sobre a guerra. Não entenda mal: as guerras inspiraram obras primas da literatura – das epopeias de Homero aos romances de Tolstoi; toda geração produz toneladas de manuais militares – só para serem soterrados pelos manuais da geração seguinte, a par com as novas tecnologias. Mas e os livros sobre a guerra? Não sobre a guerra do Peloponeso, da Gália, a Primeira Guerra Mundial, a Segunda ou a Guerra Fria, mas só sobre a guerra. O que é? Como começa? Como termina? A Arte da Guerra, o clássico do chinês Sun Tzu, é demasiado “clássico” – fruto de um tempo arcaico e heroico onde combates eram travados com escudos, espadas e códigos de honra, milênios antes do poder de destruição em massa da pólvora e do poder de mobilização em massa dos Estados nacionais. Daí a afirmação ousada, mas difícil de refutar, de Bernard Brodie, um dos pais da estratégia nuclear, sobre o tratado do general prussiano Carl von Clausewitz: “Não é só o maior, mas o único grande livro sobre a guerra”. Como disse um estrategista contemporâneo: “Você pode lutar guerras sem ler Clausewitz, mas dificilmente pode entendê-las”. Escrito no rescaldo das guerras napoleônicas, muito mais do que um manual bélico, o livro é uma meditação sobre a violência organizada e sua relação inextricável com o poder político. Muito além de táticas e estratégias, ele explora a guerra como um espelho da natureza humana, um fenômeno social, psicológico e moral regido pela “admirável trindade”: a “paixão”, o “acaso” e a “razão”, encarnadas no “povo”, nas “forças armadas” e no “governo”. Como obra inacabada, ela nos lega não só luz, mas lacunas e contradições. Até hoje, contudo, em tempos de drones e guerras híbridas, Clausewitz permanece crucial para entender como e por que os homens lutam. Grandes estadistas – de Bismark a Mao Tsé-Tung, de Lenin a Eisenhower – formam fila com batalhões de generais, pensadores e até artistas para dar testemunho da ponderação do cientista político Christopher Coker: “Clausewitz permanece insubstituível – não porque tenha todas as respostas, mas porque ajuda a fazer as perguntas certas”. Convidados Eugênio Diniz: Professor de Relações Internacionais da PUC de Minas Gerais e membro do International Institute for Strategic Studies. Rodrigo Duarte Fernandes dos Passos: Professor de Relações Internacionais da Unesp e autor de Clausewitz e a Política. Sandro Teixeira Moita: Professor de Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.   Referências Clausewitz e a Política, de Rodrigo Duarte Fernandes dos Passos. Pensar a Guerra: Clausewitz (Penser la guerre: Clausewitz), de Raymond Aron. Strategy: A History, de Lawrence Freedman. Clausewitz: A Biography, de Roger Parkinson. Clausewitz: A Very Short Introduction, de Michael Howard. The Clausewitz Homepage. “Clausewitz and On War“, no programa In Our Time, da Radio BBC 4. Clausewitz: His Life and Work, de Donald Stoker. Clausewitz and the State: The Man, His Theories, and His Times, de Peter Paret. Reading Clausewitz, de Beatrice Heuser. Masters of War: Classical Strategic Thought, de Michael I. Handel. Clausewitz’s Puzzle: The Political Theory of War e Clausewitz and Contemporary War, de Antulio J. Echevarria II. Clausewitz and Escalation, de Stephen Cimbala. Clausewitz in the Twenty-First Century, de Hew Strachan e Andreas Herberg-Rothe. Decoding Clausewitz: A New Approach to On War, de Jon Tetsuro Sumida. The Fog of War, documentário de Errol Morris com Robert S. McNamara (A Névoa da Guerra, disponível com legendas em português em diversas plataformas). “Great Strategists: Clausewitz”, série do podcast War Room do U.S. Army War College. Clausewitz for the 21st Century, palestra de Christopher Coker. “Clausewitz on War”, episodio do podcast Cui Bono. Ilustração: Pxhere.com Free Images. O post ‘Da Guerra’, de Clausewitz apareceu primeiro em Estado da Arte.
Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Quando um carpinteiro de Nazaré foi condenado pelos clérigos hebreus e crucificado por um governador romano, a população de seus seguidores mal encheria uma sinagoga. Vinte séculos depois, eles formam a maior religião do mundo, predominante em quase todos os continentes. Nenhuma instituição fez tanto pelo Bem, a Verdade e a Beleza. Seus orfanatos e hospitais aliviam a humanidade; seu mecenato deu ao mundo dos mosaicos bizantinos às catedrais medievais às obras primas renascentistas e barrocas. A Igreja deu à luz as universidades e continua a inundar o planeta com escolas. Das ruas poeirentas da Judeia, a pequena seita messiânica floresceu como uma árvore de raízes múltiplas, cujos galhos se espalhavam com inacreditável rapidez entre cidades portuárias, desertos, prisões e palácios, cruzando fronteiras étnicas, morais e culturais para oferecer uma nova fé a judeus e gentios, analfabetos e filósofos, legionários romanos e mulheres gregas. O cristianismo foi vilipendiado, perseguido, ridicularizado, mas cresceu, como cresce a semente sob a terra, regada pelo sangue dos mártires.  Como se cristalizou, entre torturas e concílios, o que hoje chamamos de ortodoxia? Como se forjou, em meio a uma cacofonia de doutrinas, seitas e evangelhos rivais a fé no mistério tão contra-intuitivo quanto central da Trindade? Como a crença num Deus crucificado, escândalo para judeus e loucura para gregos, sintetizou o universalismo helênico e o profetismo hebraico? Como uma religião que pregava o amor ao inimigo, a castidade, o sacrifício e o perdão conquistou os senadores de Roma, os intelectuais de Alexandria, os comerciantes de Antioquia? Como uma comunidade que pregava desapego às riquezas construiu basílicas de ouro? E o que aconteceu quando Constantino abraçou o símbolo da Cruz: terá a Igreja conquistado o mais formidável império que o mundo já conheceu ou terá sido prostituída por ele?  Não há como compreender os destinos da civilização humana sem percorrer os passos das primeiras gerações de cristãos, de catacumbas obscuras a palácios imperiais, de Gibraltar à Mesopotâmia. Neles está em germe tanto o império teológico da cristandade medieval quanto as rupturas que o abalaram: da avassaladora onda islâmica ao cisma entre o Oriente e o Ocidente até a Reforma Protestante que escancarou as portas da modernidade. E, talvez, refazendo estes passos – humildes, corajosos, incendiários – os cristãos de hoje possam reencontrar a sua missão: reconciliar-se, anunciar a fé com novo ardor, e preparar, enfim, o mundo para a consumação do Reino de Deus. Convidados Marcus Reis Pinheiro: professor de filosofia da Universidade Federal Fluminense e coordenador do grupo de estudos em mística comparada. Paulo Nogueira: professor de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e autor de Breve história das origens do cristianismo. Pedro Vasconcellos: professor de história da cultura da Universidade Federal de Alagoas e co-autor de Caminhos da Bíblia – Uma história do povo de Deus. Referências Breve história das origens do cristianismo, Religião e poder no cristianismo primitivo e Experiência religiosa e crítica social no cristianismo primitivo, de Paulo Nogueira. Caminhos da Bíblia – Uma história do povo de Deus, de Pedro Vasconcellos. História do Cristianismo (A History of Christianity), de Paul Johnson. O Crescimento do Cristianismo (The Rise of Christianity) e The Triumph of Christianity, de Rodney Stark.  A Formação da Cristandade (The Formation of Christendom) de Christopher Dawson.  História da Igreja de Cristo (Histoire de l’Église du Christ). Vol. I: A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, de Daniel-Rops.   A História da Civilização (The Story of Civilization). Vol. III: César e Cristo, de Will Durant. A Ascensão do Cristianismo no Ocidente (The Rise of Western Christendom), de Peter Brown.  Domínio. O Cristianismo e a criação da mentalidade ocidental (Dominium), de Tom Holland.  Roots of the Western Tradition: A Short History of the Ancient World, de C.W. Hollister. The Early Church, de Henry Chadwick. The Story of Christianity, de Justo L. Gonzales. Christian History: An Introduction, de Alister McGrath. The Cambridge History of Christianity. Vol. 1: Origins to Constantine, ed. por M.M. Mitchell e F.M. Young.   The First Thousand Years: A Global History of Christianity, de Robert Louis Wilken.  Ilustração: Afresco da Última Ceia na igreja de Meillonnas, França (Dreamstime.com) O post O Cristianismo primitivo apareceu primeiro em Estado da Arte.
Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Quando o jovem francês Alexis de Tocqueville viajou aos Estados Unidos, em 1831, o Antigo Regime estava em decomposição, mas a rigor não havia democracias no mundo. Mesmo os governantes americanos eram eleitos por uma elite diminuta. Filho de uma aristocracia moribunda, visionário de uma democracia embrionária, Tocqueville não amava, nem odiava, nem uma nem outra, e pôde julgá-las com um olhar desapaixonado. Nem apologista da democracia, nem seu crítico reacionário, na América ele viu a marcha irresistível do igualitarismo moldando não só as leis e instituições, mas os costumes e a alma coletiva, para o bem, mas também para o mal. Entre os riscos que a democracia trazia em seu ventre, ele diagnosticou os males do individualismo e do materialismo; do conformismo e da apatia política, de um lado, e do fanatismo sectário e da tirania da maioria, de outro; do atomismo social e do monismo estatal.  “Desejo imaginar sob quais novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo”, disse Tocqueville, “e vejo uma inumerável multidão de homens semelhantes e iguais, que sem descanso giram em torno de si mesmos, a fim de se proporcionarem pequenos e vulgares prazeres com que enchem a alma; cada um, isolando-se parte à parte, como que estranho ao destino dos demais. … Acima de todos, eleva-se um poder imenso e tutelar, único a encarregar-se de lhes assegurar seus gozos e velar sobre sua sorte. É absoluto, detalhado, regular, previdente e suave. Seria semelhante ao poder paternal se, como este, tivesse por objeto preparar os homens para sua idade viril, mas, pelo contrário, procura apenas fixá-los irrevogavelmente na infância. … Se pudesse, lhes suprimiria inteiramente até a preocupação de pensar e a dificuldade de viver!” Mas Tocqueville foi salvo do ceticismo por sua fé política na liberdade, e do pessimismo por sua fé religiosa no cristianismo. Com o mesmo vigor com que denunciou as patologias da democracia, apontou os seus remédios: a participação em associações civis, a imprensa livre, a vitalidade das instituições locais, a descentralização do poder, a educação cívica e sobretudo o freio ao egoísmo e motor do altruísmo que é a religião.    Duzentos anos depois, mais da metade dos países do planeta são democráticos e mesmo regimes autocráticos como a China ou a Rússia prestam a homenagem do vício à virtude e hipocritamente se proclamam “democracias”. A obra prima de Tocqueville, a Democracia na América, teve um valor inestimável para compreender a história passada das democracias. Mas poderá ainda nos ajudar a decifrar o presente, e, talvez, salvar o futuro? Convidados Lívia Franco: professora de Ciência Política da Universidade Católica Portuguesa. Roberta Soromenho: professora de Ciência Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rodrigo do Lemos: professor de Língua e Literatura Francesa da Universidade Federal Fluminense.  Referências As etapas do pensamento sociológico (Les Étapes de la Pensée Sociologique), de Raymond Aron. Alexis de Tocqueville: a historiografia como ciência da política, de Marcelo Gantus Jasmin. “A Democracia na América”, em As Grandes Obras Políticas (Histoire de la pensée politique), de Jean-Jacques Chevalier.   Os desafios da escrita Política, de Claude Lefort. O Liberalismo: Antigo e Moderno e O Argumento Liberal, de José Guilherme Merquior. História Intelectual do Liberalismo (Histoire intellectuelle du libéralisme) e Tocqueville et la nature de la démocratie, de Pierre Manent.  Curso de Extensão 200 anos de Sociologia (UFJF/SBS) – Módulo I – Alexis de Tocqueville com Roberta Soromenho Nicolete. Curso “200 anos de Sociologia” – Módulo I | Alexis de Tocqueville, com Marcelo Jasmim (PUC-Rio). The Cambridge Companion to Tocqueville, editado por Cheryl Welch. “Tocqueville: Democracy in America”, entrevista do programa In Our Time, da Radio BBC 4. Quando a política caminha na escuridão – interesse e virtude n’A Democracia na América de Tocqueville, de R.K.S. Nicolete. “Alexis de Tocqueville, ‘De la démocratie en Amérique’” (4 episódios); “Tocqueville à la découverte de la démocratie”; “Tocqueville, éducateur” e “Alexis de Tocqueville (1805-1859) ou Comment terminer la Révolution?”  Programas da Radio France Culture. “The Strange Liberalism of Alexis de Tocqueville”. History of Political Thought, II, de Roger Boesche.  “Tocqueville’s ‘Sacred Ark’”, de Aurelian Craiutu, em Araucaria 21 (42), 2019. French Political Thought From Montesquieu To Tocqueville – Liberty In A Levelled Society?, de Annalien de Djin. “Naissance d´un paradigme: tocqueville et le voyage en Amérique [1825-1831]”, de François Furet. Em Annales 39 (2), 1984. Tocqueville et les langages de la démocratie, de Laurence Guellec.  Alexis de Tocqueville, de André Jardin. Tocqueville and the two democracies, Jean-Claude Lamberti. L’idee républicaine em France: essai d´historie critique, de Claude Nicolet. Liberty, Equality, Democracy, de Eduardo Nolla. Tocqueville between two worlds. The making of a political and theoretical life, de Sheldon Wolin. New French Thought: Political Philosophy, de Mark Lilla.   Ilustração: Estátua da Liberdade em construção. Paris, 1883 (domínio público). O post ‘A Democracia na América’ de Tocqueville apareceu primeiro em Estado da Arte.
Os Vikings

Os Vikings

2025-06-0459:00

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts No ano de 793 depois de Cristo, os céus do litoral norte da Inglaterra se encheram de relâmpagos, tornados e dragões, então se seguiu uma grande fome, e finalmente “horrendas incursões de pagãos destruíram a igreja de Deus na ilha de Lindisfarne com roubos e massacres ferozes”. Foi assim, ao menos segundo as crônicas anglo-saxãs, que os vikings inauguraram três séculos de invasões, conquistas e colonizações. Até hoje os vemos como guerreiros super-masculinos navegando em navios em forma de dragão com capacetes com chifres, peles de animais e machados reluzentes em busca de saques, assaltos, pilhagens, estupros, sequestros, chacinas, escravizações. Assim como nossa sociedade mantém uma relação ambígua com a violência, somos a um tempo atraídos e repelidos pelos vikings. Simpatizamos com suas vítimas, mas admiramos sua força, coragem e virilidade, e, de um modo geral, prevalece a imagem positiva da jovialidade, ousadia, aventura e exploração. Com efeito, os vikings batalharam da Inglaterra e França até Portugal e Espanha; navegaram por rios do Báltico ao Mar Negro; comercializaram em Constantinopla e Bagdá, conectando-se com a China e a Índia através da Rota da Seda; colonizaram a Islândia; e exploraram a América 500 anos antes de Colombo. Eles aterrorizaram os povos medievais, mas também catalizaram grandes transformações culturais, religiosas e políticas. A destruição criativa detonada na Escandinávia teve um caráter caleidoscópico. Considere Cnut, o Grande, que foi rei da Dinamarca, Noruega, Inglaterra e parte da Suécia. Ou Harald Hardrada (literalmente, “o Durão”), filho do rei da Noruega; meio-irmão de Olaf, o Santo; genro de Yaroslav, o Sábio, da Rússia; cunhado dos reis da Hungria e da França; exilado, pirata, poeta, mercenário, general do Império Bizantino, que lutou no mediterrâneo, reconquistou seu trono e quase subjugou a Inglaterra. Aos poucos, os chefes tribais escandinavos foram se tornaram súditos de reis e fiéis da Igreja universal. Quando os conquistadores foram conquistados pela fé de monges e freiras, a era viking acabou e nasceram os reinos da Dinamarca, Suécia e Noruega. Mas seus descendentes na Normandia conquistaram a Inglaterra e a Sicília; e suas dinastias em Kiev inauguraram aquela que se tornaria a maior nação do planeta: a Rússia. E a mistura de masculinidade, aventura e coragem em suas sagas e mitos continuam a energizar nosso imaginário, das óperas de Wagner aos romances de Tolkien, de filmes a séries e videogames. Como os vikings se tornaram o primeiro povo pré-moderno a matar e morrer nos quatro continentes? O que a sua jovialidade expansiva tem a ver com a introversão torturante de um Hamlet ou um Kierkegaard? E como os descendentes desses bárbaros ferozes construíram nações que hoje são modelos exemplares de regimes social-democratas igualitários, civilizados e pacíficos?      Convidados Hélio Pires: pesquisador do Instituto de Estudos Medievais da Universidade Nova de Lisboa e autor de No Tempo dos Vikings. Lukas Grzybowski: professor de História Medieval da Universidade Estadual de Londrina e autor de The Christianization of Scandinavia in the Viking Era. Santiago Barreiro: professor de História Medieval da Universidade de Buenos Aires e tradutor das sagas nórdicas.    Referências “Vikings” em História da Civilização. Vol. IV. A Idade da Fé (The Story of Civilization), de Will Durant. Vikings: A história definitiva dos povos do norte (Children of Ash and Elm: a history of the Vikings, de Neil Price. Mitos do norte pagão: Os deuses dos nórdicos, de Christopher Abram. Os Mitos Nórdicos: Um guia para os deuses e heróis, de Carolyne Larrington. O livro da mitologia nórdica, de John Lindow.  The Cambridge History of Scandinavia. Vol. 1. From Prehistory to 1520, ed. por Knut Helle. “Vikings” em Medieval Europe. A Short History, de J.M. Bennett e W.C. Hollister. The Vikings, de Else Roesdahl.  The Viking World, org. por S. Brink e N. Price.  The Vikings. A Very Short History, de Julian D. Richards.  The Age of Vikings, de Anders Winroth. The Norsemen in the Viking Age, de Eric Christiansen. The Vikings in History de F. Donald Logan.  The Cambridge Introduction to the Old Norse-Icelandic Saga, de M. Clunies-Ross.  Eso no estaba en mi libro de Historia de los vikingos, de Losquino Garcia.  The Hammer and the Cross, de Robert Ferguson.  A History of the Vikings, de Gwyn Jones.  Ancient Scandinavia. An Archeological History from First Humans to the Vikings, de Douglas T. Price.  The Routledge Research Companion to the Medieval Icelandic Sagas, ed. por A. Jakobsson e S. Jakobsson.  A Companion to Old Norse-Icelandic Literature and Culture, ed. por Rory McTurk  The Rise of the Scandinavian Kingdoms from the Vikings to the Reformation, de Sverre Bagge. Scandinavia in the Age of Vikings, de Jón Viðar Sigurðsson e Thea Kveiland.  Scandinavia in the Middle Ages 900-1550: Between Two Oceans, de Kirsi Salonen e Kurt Villads Jensen. A History of the Vikings, de T.D. Kendrick.   Nordens historia: en europeisk region under 1200 år. de Harald Gustafsson.  Ilustração: Drakkars vikings criados por Inteligência Artificial. O post Os Vikings apareceu primeiro em Estado da Arte.
Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Você já imaginou como seria viver em uma sociedade ideal, perfeitamente justa, onde todas as pessoas são livres, sadias, educadas, virtuosas, generosas, cada uma agindo conforme as suas capacidades, cada uma recebendo conforme as suas necessidades? Seria como emergir das cavidades e penumbras de uma caverna vitalícia, deslumbrando-se com as cores, os movimentos, a densidade e a vida do mundo real. Mas é desconcertante que quem entra na Cidade Ideal de Platão parece percorrer o caminho inverso. Nossa sensibilidade moderna se choca com visões contra-intuitivas – como o regime do comunismo austero das elites, sem família, nem posses – ou mesmo perturbadoras – como o controle da poesia e das artes em nome da moral, a eugenia e a compartimentação por castas, ou, sobretudo, o repúdio à democracia eleitoral como antessala da anarquia e da tirania. Como conciliar essa estrutura estreita e rígida com lampejos visionários, como a abolição da escravidão ou o igualitarismo total entre homens e mulheres? Não surpreendem os 2.400 anos de controvérsias inflamadas entre quem adora a República como uma utopia luminosa – o prenúncio do Reino dos Céus – e quem a detesta como uma distopia tenebrosa – a mãe de todos os totalitarismos. Mas ninguém negará que Platão alicerça a construção de sua cidade “bela e boa” nas questões essenciais: o que é a justiça? o que é a felicidade? é possível ser injusto e feliz – ou justo e infeliz? E mesmo as críticas mais densas dos críticos mais ardentes não deixam de ser uma homenagem ao tour de force de Platão em busca do equilíbrio e da hierarquia entre a dimensão religiosa, a política e a econômica que compõem toda a sociedade humana, assim como entre a razão, a vontade e a emoção que movem toda alma humana. Nenhuma outra obra platônica ilustra tão completamente o dito de Alfred North Whitehead de que a história da filosofia não passa de “uma série de notas de rodapé a Platão”. Em sua busca pelo Estado ideal, o protagonista Sócrates extrapola a política, investigando a ética, a estética, a metafísica, a epistemologia, a pedagogia, a psicologia e até a física para oferecer uma síntese audaciosa entre a arquitetura do universo e a anatomia da alma. Seu anseio pela fusão do saber e do poder produziu algumas das alegorias poéticas mais fecundas da história do pensamento – o mito da caverna, o sol como imagem do Bem, o Estado como um navio, a odisseia da alma no além-mundo. E aprove-se ou não os caminhos e estratagemas de Platão para responder à pergunta crucial sobre a Justiça, a resposta – medida pelas grandes lideranças morais e religiosas da humanidade – segue impecável: o vigor de uma civilização é antes de tudo uma questão de ordem interior, e é sempre preferível ser justo, mesmo sofrendo as mais cruéis injustiças, do que gozar de prazeres, riquezas e glória praticando injustiças.   Ame ou odeie a República, o certo é que nenhum pensador jamais ficou indiferente a ela. Hoje, como sempre foi e, previsivelmente, sempre será, a República é uma poderosa fonte de inspiração para pensarmos quem somos – e o que poderíamos ser –; e para investigar como construir uma sociedade justa – e como sermos justos em um mundo injusto.    Convidados Gabriele Cornelli: professor de Filosofia Antiga da Universidade de Brasília e ex-presidente da International Plato Society.  Luca Pitteloud: Professor de Filosofia Antiga na Universidade Federal do ABC e Pesquisador pela Universidade Autónoma de Madri. Maria do Céu Fialho: professora de Línguas e Literaturas Clássicas da Universidade de Coimbra. Referências Paidéia. A formação do homem grego (Paideia), de Werner Jaeger Ordem e História. Volume III. Platão e Aristóteles (Order & History), de Eric Voegelin. Platão. História da Filosofia Grega e Romana Vol. III. (Storia della Filosofia Greca e Romana), de Giovanni Reale.  “Platão”, em História da Civilização. Vol. II. A Vida na Grécia (The Story of Civilization), de Will Durant.  “Platão”, em História da Literatura Grega (Geschichte der griechischen Literatur), de Albin Lesky. Plato’s Republic, episódio do programa In Our Time, da Radio BBC 4. The Cambridge Companion to Plato, ed. por R. Kraut e The Cambridge Companion to Plato’s Republic, ed. por G.R.F Ferrari.  “Platone”, na Enciclopedia Filosofica Bompiani. “Plato”, na Stanford Encyclopedia of Philosophy.  Plato. The Man and His Work, de Alfred Taylor. Platon: Logos und Mythos, de Kurt Hildebrandt. Plato’s Theory of Man, de John Wild.  Platon, de Paul Friedländer. Ilustração: A Apoteose de Homero, de Jean-Auguste-Dominique Ingres, 1827 (Louvre, Paris. Wikicommons). O post A ‘República’ de Platão apareceu primeiro em Estado da Arte.
As Catedrais Góticas

As Catedrais Góticas

2025-04-3057:55

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Imagine um edifício que não só abriga pessoas, mas conta histórias, canaliza a luz divina e desafia as leis da física para tocar o infinito. “A arquitetura gótica”, disse o historiador Will Durant, “foi a suprema realização da alma medieval. Os homens que ousaram suspender estas abóbadas em umas poucas palafitas de pedra estudaram e exprimiram sua ciência com mais rigor e efeito que qualquer filósofo medieval em qualquer summa, e as linhas e harmonias de Notre Dame formam um poema maior que a Divina Comédia”. As catedrais foram arte total em grande escala, abrigando em sua arquitetura todo tipo de atividade estética, da carpintaria à música. Com seus arcos ogivais, abóbadas nervuradas e vitrais que transformam luz em narrativa, os mestres góticos desafiaram a gravidade para glorificar a Deus. A matemática servia à mística e, mais do que medir, os números revelavam a criação divina. Enquanto os templos greco-romanos celebravam a harmonia terrena, os góticos fundiram arte, fé e ciência em pedra e vidro para conquistar, com a voracidade de seus antepassados bárbaros, o reino dos céus. Mas eles também amavam a terra e combinando a piedade e o humor, o êxtase e o terror, seus escultores entrelaçaram, entre anjos e demônios, santos sublimes e animais cômicos ou apavorantes. A casa de Deus era a casa do povo. A catedral foi o coração das cidades medievais, um ponto de encontro para os cidadãos, uma escola de letras para seus filhos, uma escola de artes e ofícios para suas guildas. Como disse Victor Hugo, antes da imprensa “a arquitetura foi o grande livro da humanidade”: nas paredes de Notre Dame até os analfabetos liam a Bíblia. O Partenon em Atenas servia a uma elite para venerar deuses distantes, a catedral feudal era democrática e convidava Deus a habitar conosco: seus vitrais, como uma membrana entre o humano e o divino, iluminavam ricos e pobres, inundando os olhos de todos com a luz imaterial de Cristo. Sem materiais sintéticos, guindastes ou computadores, só com pedras, cinzeis, cordas e compassos, multidões de arquitetos, artesãos, monges e camponeses anônimos ergueram estes castelos de luz entre a terra e o céu que sobreviveram a guerras, incêndios e revoluções. Quando, na era romântica, o homem moderno se cansou de mimetizar as formas greco-romanas, foi na arquitetura gótica que ele buscou reenergizar sua imaginação antes das convulsões criativas modernistas. Mais do que relíquias do passado, as catedrais são faróis de um sonho coletivo, o de unir o efêmero ao eterno; abertas a todos como uma Arca de Noé, elas avançam no tempo, como um navio de pedra que nos leva além, rumo ao matrimônio entre o novo Céu e a nova Terra. Convidados Flavia Galli Tatsch, professora do departamento de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo. Ricardo Marques de Azevedo, professor de História da Arte da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo. Tamara Quírico, professora do departamento de História da Arte da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.    Referências Gótico (Gothic), de Rolf Toman. O Tempo das Catedrais (Le Temps des cathédrales), de Georges Duby.  “O florescimento gótico”” em História da Civilização. Vol. IV. A Idade da Fé (The Story of Civilization), de Will Durant. A História da Arte (The Story of Art), de E.H. Gombrich. Iniciação à História da Arte (A Basic History of Art), de H.W. Janson.  “The Central Middle Ages. Architecture and Sculpture”, em Medieval Europe. A Short History, de J.M. Bennett e W.C. Hollister. The Gothic Enterprise. A Guide to Understanding the Medieval Cathedral, de Robert A. Scott. How to Build a Cathedral, documentário da rede BBC. Medieval Architecture e Masons and Sculptors, de Nicola Coldstream. Art – A New History, de Paul Johnson. A World History of Art, de H. Honour e J. Fleming. Arte gótico. Visiones gloriosas, de Michael Camille. Ilustração: Skyline da cidade de Colônia, Alemanha (Pixabay) O post As Catedrais Góticas apareceu primeiro em Estado da Arte.
Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Aristóteles definia o ser humano como o “animal que fala” – para o bem e para o mal. Os cristãos chegam a venerar o Verbo de Deus feito carne e acreditam que ele foi, como todos somos, tentado pelo “Pai da Mentira”. As palavras estão na origem de tudo que amamos na civilização, mas também dos crimes mais horrendos, sejam elas proferidas em cavidades da consciência individual ou em maquinações entre comparsas ou para inflamar multidões. É natural que as sociedades esperem de suas autoridades a supressão das falas perversas e a difusão das edificantes. Mas há uns 300 anos alguns pensadores começaram a ventilar uma ideia que, como sugeriu o jornalista Jonathan Rauch, foi talvez a mais eficaz que os seres humanos já tiveram e também a mais contraintuitiva: a de que os governos deveriam não só tolerar falas errôneas, repugnantes, blasfemas ou subversivas, mas protegê-las, porque quando são ouvidas, disputadas e contestadas a céu aberto, nos ajudam a encontrar mais rápido a verdade e aprofundá-la; a nos fortalecer individualmente e a cooperar coletivamente; a tolerar diferenças, desmoralizar preconceitos e galvanizar o pluralismo. A criminalização de discursos ofensivos, longe de dissuadir os intolerantes, viraliza seus rancores, incentiva o autoritarismo e sufoca conversas sadias. A aposta desse liberalismo epistêmico, analogamente à do liberalismo político e do econômico, é que as decisões devem ser distribuídas por redes sociais com um mínimo de autoridade e controle centralizados. Em defesa dessas ideias insólitas, os apologistas liberais lembram que antes só havia autocracias no mundo e 90% das pessoas viviam na extrema pobreza; hoje, metade da população mundial vive em democracias e menos de 10% é miserável. Em meados do século XX, as Nações Unidas consagraram a liberdade de expressão como um direito humano universal, e, no final, a internet surgiu augurando uma era de ouro de manifestações individuais e debates livres de controles hierárquicos. Mas nas mãos de regimes totalitários as redes digitais se transformaram num aparato de repressão e manipulação inimaginável nos sonhos mais selvagens de Hitler ou Stalin. Se nas democracias a censura à imprensa foi desmoralizada, cresce o clamor pela tutela estatal contra discursos preconceituosos; as redes digitais tornaram-se instrumentos de coerção social por vanguardas políticas – sejam populistas de direita disseminando desinformação e teorias conspiratórias, sejam elitistas de esquerda exigindo conformidade aos seus dogmas –; e a liberdade de expressão nunca foi tão ameaçada por aquilo que os primeiros pensadores da democracia mais temiam: a “tirania da maioria”.  Convidados Diogo Costa: mestre em ciência política pela Universidade de Columbia e presidente da Foundation for Economic Education. Eduardo Wolf: professor de filosofia da Universidade de Brasília e pesquisador da Cátedra Unesco-Archai sobre as Origens do Pensamento Ocidental. Fernando Schüler: professor de ciência política do Insper e pesquisador da Cátedra Palavra Aberta sobre liberdade de expressão e de imprensa.    Referências “O caminho estreito”, artigo para a revista Veja de Fernando Schüler. “Defendam a liberdade de expressão” (“Dickinson College Commencement – Address to Graduates”), discurso de Ian McEwan traduzido pelo Estado da Arte. Liberdade de Expressão (Free Speech. A Very Short Introduction), de Nigel Warburton.  Free Speech: A History from Socrates to Social Media, de Jacob Mchangama. Kindly Inquisitors. The new attacks on free thought e The Constitution of Knowledge. A Defense of Truth,de Jonathan Rauch. Free Speech. Ten Principles for a Connected World, de Timothy Garton Ash. Freedom of Speech, de Greg Lukianoff. Dangerous Ideas. A Brief History of Censorship in the West, From the Ancients to Fake News, de Eric Berkowitz. “Freedom of Speech”, verbete da Stanford Encyclopedia of Philosophy. What is Free Speech? The History of a Dangerous Idea, de Fara Dabhoiwala. From Palmer Raids to the Patriot Act. A History of the Fight for Free Speech in America, de Christopher M. Finan.  Ilustração: Wikicommons. O post Liberdade de expressão apareceu primeiro em Estado da Arte.
Alexandre, o Grande

Alexandre, o Grande

2025-04-0259:35

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts O que você conquistou aos 30 anos? O filho de Felipe da Macedônia estudou com o maior filósofo de seu tempo – talvez de todos os tempos –; unificou as cidades-estado gregas após séculos de disputas fratricidas; viajou mais de 30 mil quilômetros na aventura possivelmente mais audaciosa da história humana; fundou 70 cidades; elevou-se ao Olimpo dos maiores generais de todos os tempos, como César, Gengis Khan ou Napoleão, mas, diferentemente deles, lutava na linha de frente e jamais perdeu uma batalha; conquistou o mais poderoso império de seu tempo e criou o maior império que a humanidade já vira, estendendo-se dos Balcãs até a Índia; Alexandre até se tornou um deus. Caracterizá-lo, como fizeram alguns modernos, como um “príncipe da paz” idealizador dos direitos humanos universais e da comunidade das nações unidas é abusar do romantismo ao ponto do delírio. Alexandre, o grande herói, foi também um grande criminoso, que escravizou compatriotas, incinerou cidades, exterminou populações, assassinou amigos por despeito – e, há quem diga, até seu pai por ganância. Aos 32 anos, parecia-se cada vez mais com um déspota oriental cheio de caprichos cruéis e autodestrutivos. A morte prematura, por alguma moléstia ordinária potencializada pelo abuso do álcool, talvez tenha sido uma benção que lhe poupou fracassos e infâmia. E, talvez, por justiça poética, o preço de sua ambição desmedida tenha sido a dissolução instantânea de seu império. Dizem que Alexandre chorou ao pensar nos mundos que nunca conquistaria. Mas seu legado ignora fronteiras de tempo e espaço. Seu sonho de fundir num império multicultural e multilinguístico as duas superpotências de seu tempo, a Grécia, no Ocidente, e a Pérsia, no Oriente, foi tão improvável e espetacular quanto fundir os Estados Unidos à União Soviética nos tempos da Guerra Fria ou à China hoje. Como a carreira intelectual de seu mestre Aristóteles, sua carreira militar foi feita de conquistas e sínteses. As conquistas territoriais que ele consumou criaram o espaço para o Império Romano; e as sínteses espirituais que ele inaugurou gestaram o tempo da Cristandade.  Convidados Delfim Leão: professor de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra.  Henrique Modanez: professor de história antiga da Universidade de Brasília. Thiago Biazotto: pesquisador de pós-doutorado em história helenística da Universidade Estadual de Campinas. Referências Os Heróis. De Alexandre o Grande e Júlio Cesar a Churchill e João Paulo II (Heroes), Paul Johnson.  “Alexandre, o Grande”, em História da Civilização. Vol. II. A Vida na Grécia (The Story of Civilization), de Will Durant. Alexandre, o Grande (Alexander the Great), de T.R. Martin e C.W. Blackwell. A Extraordinária História de Alexandre o Grande (Alexander the Great), de Nigel Rogers.  Alexandre, o Grande e o período helenístico (Alexander the Great), de Peter Green. Alexandre, o Grande (Geschichte Alexanders des Grossen), de Johann Gustav Droysen. Alexandre o Grande (Alexandre le Grand), de Pierre Briant. “Alexandre, o Grande”, episódio do podcast História em Meia Hora.  “Alexander the Great”, episódio do programa In Our Time, da Radio BBC 4. “Alexander the Great”, episódio do podcast The Rest Is History. “Alexander the Great”, episódio do podcast How To Take Over the World. Ilustração: Estátua e busto de Alexandre, o Grande, no Museu Arqueológico de Istambul. O post Alexandre, o Grande apareceu primeiro em Estado da Arte.
Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Quando o Império Romano morreu? Se você pensou no século Vº, errou por mil anos. É compreensível. O Império Romano do Oriente é praticamente terra incognita nos currículos escolares, pesquisas acadêmicas, mercados editoriais e estúdios cinematográficos. Mesmo admiradores de Roma desdenham essa saga milenar como “uma história monótona de intrigas de padres, eunucos e mulheres, de constante envenenamento, conspirações, ingratidão e fratricídio” (William H. Lecky). Para iluministas como Edward Gibbon, foi o “triunfo da barbárie e da religião”; “uma coleção inútil de orações e milagres”, segundo Voltaire; “um tecido de rebeliões, insurreições e traições”, “o trágico epílogo da história de Roma”, segundo Montesquieu. Não surpreende que na consciência popular o adjetivo “bizantino” reverbere obscurantismo, futilidade, cerimonialismo, e particularmente querelas labirínticas, bizarras, extravagantes, sinistras. Em suma, a traição do que havia de melhor na Grécia e na Roma clássicas. Mas, francamente, isso exala na melhor das hipóteses paroquialismo, na pior, ingratidão. Por séculos, Bizâncio foi um escudo da Cristandade contra hordas asiáticas, vândalos africanos, os xás da Pérsia e os califas de Bagdá – sem ele a “Europa” não existiria e provavelmente nós ocidentais estaríamos de joelhos para Alá cinco vezes ao dia. Enquanto o império romano ocidental era despedaçado por tribos bárbaras, Bizâncio consagrou-se como o maior poder do Mediterrâneo, e Constantinopla, a metrópole mais cosmopolita e exuberante da Idade Média. Foi sobre o corpo de Bizâncio que os turcos otomanos ergueram seu império, reconfigurando o universo islâmico até os nossos dias. Foi o espírito de Bizâncio que civilizou os Balcãs, animou o embrião da Rússia e inspira até hoje a visão messiânica de Moscou como a “Terceira Roma”. Duas vezes mais longevo que o império romano clássico, foi Bizâncio que realizou o sonho arcano de Alexandre o Grande. Fundindo a cultura helênica, a administração romana, a mística asiática e a fé cristã, Bizâncio preservou as letras gregas, arquitetou a teologia ortodoxa, criou a arte sacra mais carregada de espiritualidade de todos os tempos e cimentou os códigos que alicerçam nossos sistemas jurídicos. A maioria das civilizações vive um ciclo de aurora, apogeu e crepúsculo, mas, provando seu vigor e flexibilidade, Bizâncio viveu pelo menos dois. E quando finalmente morreu, seu espírito insuflou o Renascimento na Itália, inaugurando a aventura moderna. Tão fascinante, tão incompreendida, tão distante de nós e tão inusitadamente como nós, qual será a verdadeira história desta ponte de ouro entre a antiguidade e a modernidade, entre o Oriente e o Ocidente? Convidados  Bruno Tadeu Salles: professor de história medieval da Universidade Federal de Ouro Preto. Renato Viana Boy: professor de história medieval da Universidade Federal da Fronteira do Sul. Referências “O zênite bizantino” em História da Civilização. Vol. IV. A Idade da Fé (The Story of Civilization), de Will Durant. O Império Bizantino, de Hilário Franco Jr. e Rui de Oliveira Andrade Filho. “Império Bizantino” – Episódio do podcast História FM. “Império Bizantino” – Episódio do podcast História em Meia Hora. Byzantium. The Surprising Life of a Medieval Empire, de Judith Herrin.  The Oxford Handbook of Byzantine Studies, ed. por E. Jeffreys, J. Haldon e R. Cormack.  The Byzantine Achievement. An Historical Perspective, de Robert Byron. The Byzantine Empire, de Robert Browning. Medieval Europe. A Short History, de J.M. Bennett e W.C. Hollister.  The History of Byzantium, podcast com dezenas de episódios.  “Byzantium – Last of Romans” – episódio do podcast Fall of Civilizations. “Byzantium”, entrevista com Charlotte Roueché, John Julius Norwich e Liz James para o programa In Our Time da Radio BBC 4. A History of Byzantium, de Timothy E. Gregory. The Lost World of Byzantium, de Jonathan Harris. A Short History of Byzantium, de John J. Norwich. Byzantine Christianity. A Very Brief History, de Averil Cameron. A History of the Byzantine empire, de A.A. Vasilev. The Byzantine Empire, de Sir Charles W.C. Oman. A History of the Byzantine State and Society, de Warren Treadgold. “Byzantium and the Ghosts of Rome”; “Theodora: Empress of Byzantium”; “Justinian: Making Rome Great Again”; “Justinian & Theodora”, do podcast The Rest Is History.     Hispania y Bizancio: una relación desconocida, de Margarita Vallejo Girvés. Guerra Santa: formação da ideia de cruzada no Ocidente, de Jean Flori. As Cruzadas Vistas pelos Árabes, de Amin Maalouf.  Ilustração: Capela Palatina (1132-1143), no Palácio Real de Palermo, na Sicília, encomendada pelo rei normando Rogério II. (Fonte: SmartHistory. Foto de A. Fein). O post Bizâncio – O Império Romano do Oriente apareceu primeiro em Estado da Arte.
Moisés

Moisés

2025-03-0656:20

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts A vida pode ser dura. Imagine que você é um órfão adotado pelos opressores de seu povo, perseguido pelos poderosos, refugiado entre seminômades. Você tem um temperamento instável, ora colérico ao ponto da selvageria, ora hesitante ao ponto da covardia, e, ah, sim, tem a língua presa. Já velho, você é forçado a contragosto a retornar e conduzir por um caminho árido um povo que vê você e sua família como estrangeiros e está sempre se rebelando, rumo a uma terra na qual será proibido de pôr os pés. O que é você senão uma pecinha insignificante na engrenagem do mundo, uma gota no imenso rio da história? E, no entanto, como disse um historiador, Moisés “ilustra o fato, que grandes historiadores sempre reconheceram, de que a humanidade não progride invariavelmente por passos imperceptíveis, mas às vezes dá um salto gigante, frequentemente sob a propulsão dinâmica de uma personalidade solitária e extraordinária”. Seu monoteísmo ético desencadeou o processo pelo qual toda a visão de mundo da antiguidade foi destruída. Moisés não foi um dos muitos heróis e reis do mundo antigo, muito menos um semideus ou deus. Ele foi menos do que tudo isso, mas em certo sentido foi mais, assim como foi menos e mais que um profeta, um legislador, um libertador, um fundador espiritual. Há algo de profeta em Moisés, mas aquele que consumou a aliança entre Deus e seu povo não foi só mais um dos infindáveis mensageiros dessa aliança. Há algo de legislador, mas não como um mero codificador de regras e regulamentos e sim como enunciador de leis eternas. Há algo de historiador naquele que não escreveu a Torah, mas contou estórias consagradas nela e mudou a história da humanidade. Ele foi um libertador, não como um Garibaldi israelita, mas como alguém que libertou seu povo da submissão ao Faraó para submetê-lo a Yaweh. Foi um fundador espiritual, mas não fundou uma religião, só liderou um povo que é minúsculo até hoje, e ao fazê-lo lançou os fundamentos das duas religiões mais populares de todos os tempos. Abraão foi o pai do povo judeu, mas Moisés foi seu criador. A história do Genesis é a do nascimento de uma família; a história do Êxodo, a do nascimento de uma nação. Na primeira, Deus reserva para si o sangue de um povo, na segunda, sopra através desse povo seu espírito no mundo. Hoje, não só os judeus, mas cristãos e muçulmanos adoram o Deus revelado por Moisés. Para quase 60% da população mundial sua lei é sagrada, e, com exceção do extremo Oriente, sua fé é predominante em todas as regiões do planeta.  Convidados Carlos Augusto Vailatti: professor da Faculdade Evangélica de São Paulo e autor de As Dez Pragas e a Abertura do Mar. Ruben Sternschein: reitor da Academia Judaica da Congregação Israelita de São Paulo. Suzana Chwarts: diretora do Centro de Estudos Judaicos da Universidade de São Paulo. Referências “Israelitas” em História dos Judeus, de Paul Johnson.  “Moisés e a Partida do Egito”, em História das Crenças e das Ideias Religiosas. V. I. (A History of Religious Ideas), de Mircea Eliade. Israel, Das Origens até Meados do Século VII a.C., de Adolph Lods. “Judeia”, em História da Civilização. Vol. I. Nossa Herança Oriental (The Story of Civilization), de Will Durant. Ordem e História. Vol. I. Israel e a Revelação (Order & History), de Eric Voegelin.  Moses, de Gerhard von Rad. Moses. The Revelation and the Covenant, de Martin Buber.   Moses. A life, de Jonathan Kirsch.   “The Pentateuch and Israelite Law”, em The Cambridge Companion to The Hebrew Bible, ed. por S.B. Chapman e M.A. Sweeney. “Moses & The Exodus”, episódio do podcast The Ancients.  The Encyclopedia of World Religions, org. R.S. Ellwood e G.D. Alles. Britannica Encyclopedia of World Religions, org. W. Doniger. Ilustração: Moisés. San Pietro in Vincoli, Roma. De Michelangelo Buonarroti (c. 1513-15). O post Moisés apareceu primeiro em Estado da Arte.
As invasões bárbaras

As invasões bárbaras

2025-02-2254:59

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Quando o visigodo Alarico saqueou Roma 66 anos antes da queda de seu último imperador, Romulus Augustus – nome composto ironicamente pelos do primeiro imperador e do fundador de Roma –, São Jerônimo lamentou “a extinção da luz mais resplandecente de toda a Terra”, quando “o Império perdeu sua cabeça” e “o mundo pereceu em uma cidade”. Um século antes, Lactâncio afirmava que o mundo pode acabar rápido, mas não há nada a temer enquanto a cidade de Roma permanecer intacta. Desde então, as invasões bárbaras viraram o arquétipo da brutalização da vida civilizada, o “Declínio e Queda do Império”, na fórmula proverbial de Gibbon. Porém, como ele descreveu, o Império só caiu 1.000 anos depois em Constantinopla. Das letras e dos letrados resgatados de lá, a Itália concebeu o Renascimento, dando à luz a modernidade, em que o espírito de Roma inspiraria desde as artes clássicas às políticas republicanas, e hoje, como sempre, multidões de católicos são lideradas Urbi et Orbi pelo bispo da Cidade Eterna. Para os iluministas inebriados de classicismo, a sua queda foi o mergulho na “Idade das Trevas”. Mas não seria a Idade Média uma idade de luz? A engenhosidade arquitetônica de suas catedrais góticas é mais fulgurante que qualquer maquinação romana para copiar os gregos; seus cavaleiros se bateriam aos maiores centuriões; seus escolásticos inventaram a universidade; seus poetas, o romance, e, do menor deles, surgiu talvez o mais são dos santos, Francisco. O Sacro Império Romano-Germânico, gestado numa noite de Natal pelo papa na basílica de São Pedro com a coroação do rei franco Carlos Magno, imperou mil anos até ser esmagado sob a bota do imperador francês Napoleão. As Letras latinas são belas, bárbaras, mas sua língua morta só frutifica barbarizada em pedaços nas nossas línguas românicas. Não é à República romana que a Inglaterra tributa seu parlamentarismo democrático e sua monarquia constitucional, mas às ligas tribais de celtas, anglos, saxões, bretões, normandos. A consciência e a arte germânicas são povoadas dessas bestas loiras que Nietzsche amava: Thor, Siegfried, Artur, Parsifal, Tristão, Isolda. Para Hegel, esse povo consumava a apoteose do Espírito Divino, inaugurando o império da verdade e da liberdade para o Universo. As igrejas protestantes, as nações e Estados europeus, nosso Novo Mundo americano – além dos eslavos, a Rússia, sua revolução, sua literatura, sua religião ortodoxa herdada do Império romano dos gregos em Bizâncio junto com o mito messiânico da Terceira Roma –, nada existiria como conhecemos não fossem os bárbaros. Nem só legiões de Conans, vândalos e valquírias, nem cosmopolitas nórdicos, eram muitas vezes tribos civilizadas fugindo de tribos bestiais, ora abatendo Roma, ora se abrigando nela, ora combatendo seus invasores. O que conquistaram afinal? A morte de uma esplêndida civilização carcomida? Sua ressurreição pela barbárie? E o que revelam em nosso tempo de “invasões verticais dos bárbaros” e “tribos globais” e rebeliões das massas de imigrantes e refugiados – como o foram, aliás, os pais de Roma, bastardos selvagens como Rômulo e Remo e hordas asiáticas como os troianos de Eneias, o piedoso? Convidados Adrien Bayard: doutor em História Medieval pela Universidade de Sorbonne em Paris. Marcelo Cândido: professor de História Medieval na Universidade de São Paulo Renato Viana Boy: professor de História Antiga e Medieval na Universidade Federal da Fronteira do Sul. Referências The Early Slavs: Culture and Society in Early Medieval Eastern Europe de Paul Barford. Myth of Nations. The Medieval Origins of Europe de Patrick Geary. La Formation de l’Europe et les invasions barbares, vol. I : Des origines germaniques à l’avènement de Dioclétien de Émilienne Demougeot. Die Goten de Wolfgang Giese. The New Cambridge Medieval History, Vol. 1: c. 500 – c. 700 ed. por Paul Fouracre. Barbarian Migrations and the Roman West, 376–568 de Guy Halsall. Rome’s Gothic Wars: from the third century to Alaric de Michael Kulikowski.  Barbarian Tides: The Migration Age and the Later Roman Empire de Walter A. Goffart. Die Ursprünge Europas. Migration und Integration im frühen Mittelalter de Verena Postel. Romans and Barbarians de Edward A. Thompson. Les Invasions barbares de Pierre Riché et Philippe Le Maître. Medieval Europe – A Short History de Judith M. Bennett e C. Warren Hollister Ilustração: A Batalha de Ludovisi. Sarcófago romano (c. 250-260 d.C.) Produção técnica: Afrânio Cruz. Gravação original 22 de outubro de 2018 O post As invasões bárbaras apareceu primeiro em Estado da Arte.
Estoicismo

Estoicismo

2025-02-0558:541

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Algumas escolas filosóficas gregas exprimiram recortes tão profundos da existência humana que em nossos dias se generalizaram em adjetivos. Quando dizemos que um sujeito é “cínico” ou “cético” esquecemos que estas são reduções simplistas de doutrinas complexas fermentadas em longas tradições. “Estoico” é popularmente um sujeito rígido no cumprimento do dever e imperturbável na desgraça. Há alguma verdade nisso, mas é só a superfície de um universo de ideias.  Como todos os descendentes de Sócrates, os estoicos buscaram obstinadamente responder uma única questão necessária: como viver uma vida digna de ser vivida? A resposta cética levava a um quietismo paralisante; a cínica, ao desprezo pela sociedade; a epicurista, ao individualismo hedonista, e nenhuma era compatível com o autocontrole e os sacrifícios necessários à vida coletiva. As religiões ancestrais já não cumpriam essa função; as velhas cidades-estado já não elevavam o ser humano à abnegação. Os gregos educados buscaram os consolos para as crises da vida na filosofia e pediram a ela uma visão de mundo que desse sentido à existência e uma esperança além da morte. O estoicismo foi a última tentativa da antiguidade de encontrar uma ética natural, e antecipando não só a ética, mas a teologia do cristianismo, os estoicos conceberam o mundo, a lei, a vida, a alma e o destino em termos de Deus, e definiram a moralidade como um desejo de se render à vontade divina. “Viver de acordo com a razão”, “viver de acordo com a virtude”, “viver de acordo com a Natureza” e “viver de acordo com Deus” são uma só e mesma coisa. Deus é, como o ser humano, uma matéria viva; o mundo é seu corpo, a ordem e a lei do mundo são sua mente e sua vontade; o universo é um organismo colossal do qual Deus é a alma, o sopro que anima, a razão que ilumina. O ser humano é para o universo como um microcosmo para um macrocosmo. A felicidade é só o ajuste racional de nossas vontades às leis do universo. O estoico se satisfaz com pouco, aceita sem reclamar as agruras da vida, é indiferente a tudo – a doença e ao prazer; ao opróbrio e à fama; à liberdade e à servidão; à vida e à morte – exceto à busca pela virtude e à aversão ao vício.  Em tese, era uma doutrina monstruosa de uma perfeição isolada, severa, prepotente e implacável. Na prática, forjou homens de coragem, santidade e boa vontade. Foi a filosofia mais popular do mundo antigo, e a mais versátil, encarnando-se em figuras tão díspares como, na Grécia, o fundador Zenão, um semi-semita rico que trocou a fortuna pela simplicidade, ou o pugilista asiático Cleantes; e, em Roma, o estadista Catão; o escritor Sêneca; o escravo Epicteto; ou o imperador Marco Aurélio. Os estoicos fizeram um esforço honesto para erguer uma ponte entre a religião e a filosofia; sua doutrina manteve a sociedade antiga íntegra até que uma nova fé viesse animá-la. Após a Idade Média, influenciaria o cristianismo protestante, especialmente calvinistas e o puritanos, mas também os iluministas, e de todas as escolas antigas, é em nossos dias, mesmo quando no anonimato, a mais influente, seja qualificando manuais de autoajuda, seja instruindo técnicas psicoterapêuticas, e não há por que duvidar que seres humanos de todos os tipos, em todo o mundo, continuarão a buscar no estoicismo a disciplina e a inspiração para viver a vida digna de ser vivida, até o final dos tempos.  Convidados Aldo Dinucci: professor de filosofia antiga da Universidade Federal do Espírito Santo. Eduardo Wolf: professor de filosofia antiga da Universidade de Brasília. Renata Cazarini: professora de letras clássicas da Universidade Federal Fluminense.   Referências Manual de Estoicismo, de Aldo Dinucci. Estoicismo, Ceticismo e Ecletismo. História da Filosofia Grega e Romana Vol. VI (Storia dela Filosofia Greca e Romana), de Giovanni Reale.  A Vida Estoica (The Stoic Life), de Tad Brennan. Estoicismo (Stoicism), de John Sellars. O Estoicismo (Stoicism), de George Stock.  “O compromisso estoico”, em História da Civilização. Vol. II. A Vida na Grécia (The Story of Civilization), de Will Durant. “Stoicismo” e outros verbetes na Enciclopedia Filosofica Bompiani. “Stoicism” e outros verbetes na Stanford Encyclopedia of Philosophy. “Stoicism”, entrevista com Angie Hobbs, Jonathan Rée e David Sedley para o programa In Our Time da Radio BBC 4. “Stoic Ethics”, de Brad Inwood, em The Cambridge History of Hellenistic Philosophy, ed. por K. Algra, J. Barnes et. al. The Cambridge Companion to The Stoics, ed. Brad Inwood Handbook of Greek Philosophy: From Thales to the Stoics. Analysis and Fragments, de Nikolaos Bakalis. A New Stoicism, de Lawrence C. Becker The mutual influence of Christianity and the Stoic school, de James Henry Bryant.  Stoic Studies, de A.A. Long. Stoicism: Traditions and Transformations de Steven Strange. The Stoics, Epicureans and Sceptics, de Oswald J. Reichel. Ilustração: Self made man. Escultura de Bobbie Carlyle. Douglas County Library (Parker, Colorado, EUA). Foto (em preto e branco) de Joel A. Rogers (www.coastergallery.com). O post Estoicismo apareceu primeiro em Estado da Arte.
A Conquista da América

A Conquista da América

2025-01-2259:221

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Há 100 milhões de anos, uma massa de terra hoje batizada América se desprendeu do supercontinente conhecido como Pangea. Há 40 mil anos, humanos pioneiros na Sibéria cruzaram uma ponte de terra até o Alasca. Depois disso, o continente desapareceu para o resto do mundo. Então, em 1492, um almirante genovês – valendo-se da bússola inventada na China, de conceitos matemáticos do Egito, um sistema numérico da Índia e cálculos astronômicos árabes redigidos com letras romanas – lançou-se no Atlântico à frente de três caravelas espanholas em busca de especiarias da Ásia, e fez a descoberta que seria o evento mais importante da história mundial no último milênio. Inadvertidamente, Colombo reuniu a humanidade e inaugurou a “aldeia global”. Das colisões, convergências e misturas de três povos – indígenas, europeus e africanos – nasceu um Novo Mundo, que deu ao Velho Mundo frutos preciosos, a começar pelo sentido literal: você consegue imaginar a culinária universal sem o tomate, a batata, o milho ou o chocolate? Acrescente a esta cesta o tabaco e a borracha. Mas as dores do parto foram terríveis. Em 300 anos, 15 milhões de africanos foram arrancados de seu continente, na maior imigração forçada da história mundial. Os conquistadores trouxeram não só os dons culturais e materiais da Europa, África e Ásia, mas também seus germes e armas. Entre 80% a 90% dos nativos foram dizimados, a esmagadora maioria por pestes como sarampo, catapora, tifo e difteria, mas muitos pelo aço europeu. A conquista militar dos impérios e terras dos indígenas foi consumada por uns poucos milhares de europeus em algumas dezenas de anos, mas a conquista dos corações e mentes jamais seria completada. Os colonizadores criaram novas nações com os sistemas políticos, legais e linguísticos europeus, mas nas regiões onde grandes populações indígenas persistiram e grandes números de escravos foram importados emergiram sociedades ocidentais na superfície e não-ocidentais no fundo.  Onde estará a verdade entre a narrativa triunfalista dos europeus trazendo a civilização aos selvagens e a narrativa vitimista dos opressores perversos brutalizando oprimidos inocentes? Quais as grandes virtudes e vicissitudes das heranças coloniais para a América Latina e a América Anglo-saxã? E como as primeiras podem ser potencializadas e as segundas superadas para consumar a fusão dos três povos e integrar suas nações em um mundo genuinamente novo, justo e próspero? Convidados Janice Theodoro: Professora de história da América da Universidade de São Paulo. Leandro Karnal: Professor de história cultural da Universidade Estadual de Campinas. Luiz Estevam de Oliveira Fernandes: Professor de história da América da Universidade Estadual de Campinas. Referências América Barroca: tema e variações, de Janice Theodoro.  Teatro da Fé, de Leandro Karnal.  As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750), ed. por J. Cañizares-Esguerra, L.E.O. Fernandes e M.C.B. Martins. A Conquista da América: a questão do outro (La Conquête de l’Amérique), de Tzvetan Todorov. Sete Mitos da Conquista Espanhola (Seven myths of the Spanish Conquest), de Matthew Restall. A Era das Conquistas: América Espanhola, sécs. XVI e XVII, de R. Raminelli. The Cambridge History of Latin America. Colonial Latin America. Volumes I e II., ed. por L. Bethell. Conquest of Americas, de Marshall C. Eakin. Audiolivro para a série Great Courses.  The Age of Reconnaissance. Discovery, Exploitation and Settlement. 1450-1650, de J.H. Parry. Atlantic History. Concept and Contours, de Bernard Bailyn.  The Atlantic World: a History, de D.R. Egerton, A. Games, J.G. Landers et al. Discovery of the Americas. 1492-1800, de Tom Smith.  Colonial America. A Very Short Introduction, de Alan Taylor.  The Great Explorers. The European Discovery of America, de S.E. Morison. “Conquistas – História da Historiografia”, debate com S. Rinke, E.N. dos Santos e R. Raminelli. “A Conquista Espiritual: a Igreja Católica e os indígenas nas colônias americanas” e “A Conquista do México e suas interpretações“, episódios do Podcast Hora Americana sobre a história das Américas.   “The Maya Civilization”, “The Aztecs”, “The Inca”, entrevistas para o programa In Our Time da Radio BBC 4. Hernán, série documental na Amazon Prime.  Ilustração: Chegada de Hernán Cortés em Vera Cruz. Detalhe do mural “A Epopeia do Povo Mexicano”, no Palácio Nacional, Cidade do México. De Diego Rivera, 1929-35. (Wikimedia Commons). O post A Conquista da América apareceu primeiro em Estado da Arte.
Transtorno bipolar

Transtorno bipolar

2024-12-1159:131

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Imagine que você está tendo um dia bom. Um dia ótimo, na verdade! Cada ideia que vem à cabeça – e elas jorram! – é excitante. Cada fala é inspiradora. Pessoas medíocres te irritam. Mas você cativa todo mundo com sua vivacidade. Você se sente energético, desinibido, confiante, otimista. Nenhum erro é incorrigível, nenhum obstáculo é invencível. O futuro é luminoso. Você pode mover corações e mudar o mundo. Talvez seja um visionário, um reformador, um gênio, um profeta enviado por Deus. Quem sabe o próprio Deus! Ou, talvez, seja só um lunático… Não foi um dia, foram vários, muitos sem dormir. Você está numa cama de hospital, perdeu o emprego, está afundado em dívidas, os amigos estão afastados, a família, assustada.  Mas talvez esse tipo de euforia seja alheia e distante. Você está mais familiarizado com achaques de melancolia. Eles vêm sem nenhum motivo aparente, mas você sabe que têm razão de ser. Entre a apatia e a agitação, você tem poucas ambições e as poucas que tem sabe que são irrealizáveis. Você tem algum defeito inexplicável para as pessoas; é um estorvo para as mais próximas; se constrange em encontros sociais – melhor evitá-los. Nada acontece como deveria, e tudo por culpa sua. O passado é uma sucessão de erros irreversíveis e oportunidades desperdiçadas; o presente é doloroso; o futuro, opressivo. Sua vida é um fracasso, e sempre será. A angústia jamais passará, a menos que você corte o mal pela raiz. O único alívio é a morte. Imagine agora oscilar perpetuamente entre os dois extremos, às vezes lançado de um ao outro no mesmo dia, às vezes até vivenciando ambos ao mesmo tempo. Como disse um maníaco-depressivo: “É ter a motivação de mudar o mundo num momento, e depois não ter a motivação para tomar banho”. Estima-se que o transtorno bipolar afete de 1% até 4% das pessoas. A mania pode pôr a sua vida e a de outros em perigo. A depressão é a principal causa de incapacitação e suicídio. Por volta de 30% a 40% das pessoas com esse distúrbio se ferem a si mesmas, e a mesma proporção tem comportamentos autodestrutivos e problemas financeiros, sociais ou profissionais, agravados por estigmas e preconceitos. Quais as causas do transtorno bipolar? Como tratá-lo? Quais as esperanças de uma cura?  Convidados Beny Lafer: professor de psiquiatria da Universidade de São Paulo. Flávio Kapczinski: professor de psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Valentim Gentil Filho: professor de psiquiatria da Universidade de São Paulo.            Referências Transtorno Bipolar: Teoria e Clínica, ed. por F. Kapczinski e J. Quevedo.  Uma Mente Inquieta (An Unquiet Mind. A memoir of moods and madness) de Kay Redfield Jamison.   Aprendendo a Viver com o Transtorno Bipolar, ed. por R.A. Moreno, D.H. Moreno et al., e Depressão e Transtorno Bipolar, de R.A. Moreno e D. Freitas. The Science & Treatment of Bipolar Disorder, podcast da Plataforma Huberman Lab. Concise Texbook of Clinical Psychiatry, ed. Por J.A. Grebb e C.S. Pataki. Shorter Oxford Texbook of Psychiatry, ed. por P. Harrison e P. Cowen.  Clinician’s Guide to Bipolar Disorder. Integrating Pharmacology and Psychoterapy, de D.J. Miklowitz e M.J. Gitlin. Manic-Depressive Illness. Bipolar Disorders and Recurrent Depression, de F.K. Goodwin e K.R. Jamison. The Bipolar Disorder Survival Guide, de D.J. Miklowitz.  100 Questions and Answers about Bipolar (Manic-Depressive) Disorder, de A.T. Albrecht e C. Herrick. Cognitive-Behavioral Therapy for Bipolar Disorder, de M.R. Basco e A.J. Rush.  Being Bipolar. Living with manic-depressive disorder, de C.M.C Carballo.  Ilustração: Máscaras de comédia e tragédia (Fonte: OnBlogStage) O post Transtorno bipolar apareceu primeiro em Estado da Arte.
Goethe

Goethe

2024-11-2059:271

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Você já imaginou como seria viver a vida de um grande artista? E de um grande estadista ou um grande pensador? E que tal tudo isso numa única vida? O ideal do “homem universal” foi consagrado no Renascimento, mas é plausivelmente tão antigo quanto a humanidade. É curioso, contudo, que dentre todos os bilhões e bilhões de seres humanos que já existiram haja tão raros candidatos a este título. Platão foi o patriarca dos filósofos e um escritor de talento, mas um político frustrado que expulsou os poetas de sua República ideal. Pascal, um grande cientista, filósofo e teólogo, mas demasiado atormentado e recluso. Mesmo o ícone Leonardo da Vinci foi um pintor extraordinário, mas produziu pouco nas outras artes. Suas invenções são sonhos irrealizáveis e não deixou nada digno de nota na filosofia.  Johann Wolfgang von Goethe também tinha suas limitações. Ele desconfiava das abstrações da filosofia. Foi administrador público – mas de um ducado menor. Um cientista dedicado – mas mais inspiracional que efetivo. Um pintor amador, um historiador diletante, um diplomata de ocasião. Mas de todos os “homens universais” foi o maior dos poetas. Primeiro escritor alemão de estatura inquestionável e o mais celebrado desde então, talvez nenhum outro em todos os tempos e lugares tenha o seu alcance e variedade. Ele produziu obras primas em praticamente todos os gêneros: poesia lírica, épica, dramática, erótica, romances, autobiografia, aforismos, ensaios, crônica, crítica literária e artística. Ele é para o Iluminismo o que Shakespeare foi para o Renascimento e Dante para a Idade Média. Seu Fausto, foi o maior poema longo desde a Divina Comédia e o Paraíso Perdido de Milton, e o drama mais emblemático da era moderna. Sua vida coincidiu com o período mais excitante e criativo desde o Renascimento. Ele atravessou da Revolução Francesa às guerras napoleônicas até a eclosão da burguesia industrial e das democracias liberais. Usando sua experiência e criatividade, radiografou estas metamorfoses e fascinou os maiores artistas, estadistas e filósofos. “Eis um homem!” exclamou Napoleão aos seus oficiais. Para Marcel Proust, é “a maior inteligência que já existiu”. Para Stefan Zweig, “o mais sábio dos sábios”. “Minha ambição, meu tormento e minha alegria”, disse Nietzsche, era “viajar por toda a circunferência da alma moderna e ter sentado em todos os cantos … Verdadeiramente superar o pessimismo, e, como resultado, adquirir os olhos de Goethe – cheios de amor e boa vontade”. Em Goethe, o ideal do homem universal atingiu seu auge e seu fim. Mas ele deixa a cada um de nós uma provocação que reverberará pelos séculos: você pode viver a vida como uma obra de arte?    Convidados Daniel Martineschen: professor de língua e literatura alemã da Universidade Federal de Santa Catarina e tradutor do Divã ocidento-oriental de Goethe. Marcus Mazzari: professor de literatura comparada da Universidade de São Paulo e presidente da Associação Goethe do Brasil. Sylk Schneider: curador, tradutor, intérprete e autor de Viagem de Goethe ao Brasil. Referências A dupla noite das tílias: história e natureza no Fausto de Goethe, de Marcus Mazzari.   Viagem de Goethe ao Brasil, de Sylk Schneider.  Divã Ocidento-Oriental (West–östlicher Divan), introdução, tradução e notas por Daniel Martineschen. Ensaios Reunidos: Escritos sobre Goethe, de Walter Benjamin. Goethe e seu Tempo (Goethe und seine Zeit), de György Lukács.  Deus e o Diabo no Fausto de Goethe, de Haroldo de Campos. Dinheiro e Magia. Uma crítica da economia moderna à luz do Fausto de Goethe (Geld und Magie), de Hans Christoph Binswanger.  The Cambridge Companion to Goethe, ed. Por Lesley Sharpe.  Goethe. Life as a work of art, de Rüdiger Safranski.  Goethe: A Very Short Introduction, de Ritchie Robertson.  De Leibnitz a Goethe, de Wilhelm Dilthey.  Goethe, Kant and Hegel, de Walter Kaufmann.  Reading Goethe. A critical introduction to the literary work, de M. Swales e E. Swales.  Rousseau, Kant, Goethe, de Ernst Cassirer.  Tres poetas filosofos. Lucrécio, Dante, Goethe, de George Santayana.  Goethe. The Poet and the Age, de Nicholas Boyle.  Goethe. His Life and Times, de Richard Friedenthal. Der Briefschreiber Goethe, de Albrecht Schöne. Michael Jaeger: Wanderers Verstummen, Goethes Schweigen, Fausts Tragödie. Oder: Die grosse Transformation der Welt, de Michael Jaeger. Mit einer Art von Wut – Goethe in der Revolution, de Gustav Seibt. Goethe-Lexikon, ed. por Gero von Wilpert. Goethes Faust. Erster und Zweiter Teil. Grundlagen. Werk. Wirkung, de Jochen Schmidt.   Ilustração: Goethe em Weimar, aos 30 anos. Por Georg Melchior Kraus (1778, Wikimedia Commons). O post Goethe apareceu primeiro em Estado da Arte.
Super-heróis

Super-heróis

2024-11-0657:00

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts Imagine guerreiros descendo do céu, combatendo monstros e vilões com poderes sobrenaturais e armas mágicas, salvando comunidades inteiras da destruição. Por inacreditável que pareça, essa foi a realidade para a esmagadora maioria da humanidade, desde a época dos deuses e titãs das aventuras de Hércules, Gilgamesh, Sansão ou Homero, até a dos arcanjos, demônios e cavaleiros da Cristandade. Hoje, tudo isso foi relegado ao universo dos super-heróis, um mundo que pessoas sofisticadas menosprezam como um passatempo vulgar e infantil. Mas pense bem. Se nossa sociedade industrializada e desencantada já não é movida pela fé ou pela honra, mas pelo dinheiro, esses paladinos atléticos com uniformes colantes, codinomes emblemáticos, máscaras e capas coloridas não estão para brincadeira. Surgidos na Grande Depressão econômica, hoje os super-heróis energizam uma indústria mamute, uma usina de bilhões e bilhões de dólares em filmes, videogames, merchandise, desenhos animados, brinquedos, parques, feiras e, sim, revistas em quadrinhos. Por sinal, um único quadrinho amplificado por artistas como Roy Lichtenstein ou Andy Warhol pode ser objeto de culto e peregrinação em museus. Na sétima arte, os super-heróis já mesmerizaram diretores reputados como Christopher Nolan, e um vilão como o Coringa já consagrou ao menos um filme cult. Considere o valor inestimável (ainda que subestimado) desse universo para os estudiosos do fenômeno humano: sociólogos, psicólogos, filósofos, teólogos até. Suas explosões de cores, testosterona e acrobacias são o primeiro choque das crianças com a criação artística, e o canal que as introduz nos dramas do mundo adulto: os conflitos morais, a perversão do poder, a paixão do mal que vibra em nós através dos vilões que amamos odiar. É um espelho ampliado das esperanças mais espetaculares das massas contemporâneas, e de suas ansiedades mais aterrorizantes: da criminalidade urbana às hecatombes nucleares; da manipulação genética à Super Inteligência Artificial. Com suas aventuras intergalácticas, viagens no tempo, multiversos, ressurreições, civilizações alienígenas, as epopeias dos super-heróis extravasam os sonhos mais fabulosos das ciências. Fundindo palavras e imagens, literatura e pintura, seus criadores, armados só com tinta, papel e caneta, conseguiram satisfazer as ambições de artistas eruditos, como Richard Wagner, de criar uma “obra de arte total” e uma “mitologia moderna”, a um tempo mais popular e mais arrojada. Talvez os super-heróis sejam não só os maiores depositários da nossa nostalgia pelo combate puro e brutal do bem contra o mal, que muitos apaziguam idealizando heróis do passado – de guerreiros aristocratas, como samurais e cavaleiros medievais, a vingadores solitários, como ninjas e cowboys –, mas também a chave para a humanidade do terceiro milênio, a antecipação visionária de supercorpos servidos por supertecnologias. Quando se olha as promessas comprimidas no universo dos super-heróis, quase se é tentado a parafrasear o Evangelho: se não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino do futuro.   Convidados André Cáceres: jornalista, crítico, editor e autor dos romances de ficção científica Nebulosa e Esperando o Dono. Bruno Andreotti: doutor em história pela PUC de São Paulo, editor do site Quadrinheiros e organizador do livro Super-Heróis e Política. Nathália Thomaz: doutora em literatura juvenil pela USP e editora da Revista Literartes.  Referências Super-heróis e Política, ed. por Bruno Andreotti. Quadrinhos Através da História – As Eras dos Super-Heróis e Os Dois Lados da Guerra Civil, ed. por Bruno Andreotti, A. Marangoni e M. Zanolini.  Superdeuses: Mutantes, Alienígenas, Vigilantes, Justiceiros Mascarados, e o Significado de Ser Humano na Era dos Super-Heróis, de Grant Morrison. A Guerra dos Gibis, de Gonçalo Jr.  Superheroes!, de L. Maslon e M. Kantor.  “Superheroes. A Never Ending Battle”. Documentário da rede PBS. “Superheroes”. Episódio do podcast The Rest is History.    Superhero: the secret origin of a genre, de Peter Coogan. On the origin of superheroes e Superhero comics, de Chris Gavaler. A Brief History of Superheroes, de Brian J. Robb.  Do the Gods Wear Capes?, de Ben Saunders.  Superman on the Couch. What superheroes really tell us about ourselves and our society, de Danny Fingeroth.  Super-History, de Jeffrey K. Johnson. The Superhero Symbol. Media, Culture & Politics, ed. por L. Burke, I. Gordon e A. Ndalianis.  The American Superhero. Encyclopedia of caped crusaders in history, ed. por R.A. Hall. Our Superheroes, Ourselves, ed. por R.S. Rosenberg. Superheroes. Capes and crusaders in comics and films, de Roz Kaveney.  Marvelous Myths. Marvel superheroes and everyday faith, de Russell W. Dalton. Superheroes v. Supervillains. A-Z., de Sarah Oliver.   Ilustração: Heróis da Marvel v. DC Comics. (Fonte: Akiracomics.com) O post Super-heróis apareceu primeiro em Estado da Arte.
Os Medici

Os Medici

2024-10-2355:591

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts O que você pensa quando pensa no Renascimento? Talvez na apoteose das artes plásticas? Ou na ressurreição dos poetas, filósofos e deuses greco-romanos, de suas aventuras e orgias? Na fundação dos Estados nacionais? Na expansão da burguesia mercantil? Enquanto cavaleiros da Cristandade expulsavam califados da Europa e corsários do Mediterrâneo, seus navegadores redescobriam os tesouros da Ásia e rompiam a clausura da América. A fé medieval em Deus, ainda profunda e ardente, fundiu-se a uma nova fé na Humanidade: a confiança em seu poder de conquistar a Natureza com as ciências, de consumar o matrimônio entre o Céu e a Terra, de gerar um Novo Mundo. “Coloquei-te no centro do mundo”, disse Deus a Adão no diálogo vislumbrado pelo filósofo Pico della Mirandola, “para que possas observar mais facilmente tudo o que existe no universo. Nem celeste nem terreno, nem mortal nem imortal te criamos, a fim de que possas, como um livre e extraordinário escultor de ti mesmo, plasmar a tua própria forma tal como a preferires. Poderás degenerar-te nas formas inferiores, que são animalescas; poderás, segundo a tua decisão, regenerar-te nas formas superiores, que são divinas”. Entre as luzes crepusculares da Idade Média e as matinais da Modernidade, destacava-se uma nação, a Itália, e no centro dela uma cidade, Florença, e acima dela uma família, os Medici. Essa dinastia de banqueiros conduziu a pátria de Dante à sua era de ouro, gerou quatro papas para Roma e uma rainha para a França, que gerou três reis. Michelangelo, Leonardo, Donatello, Botticelli, Brunelleschi, Alberti, Rafael, Galileu, Monteverdi, quase todos os titãs da Renascença foram em algum grau beneficiados pela patronagem Medici. Veja o jovem Lorenzo, o “Magnífico”: “Nada pode ilustrar melhor os costumes, a complexidade e a diversidade do Renascimento italiano que a imagem de seu personagem mais central governando um Estado, administrando uma fortuna, disputando torneios, escrevendo excelente poesia, apoiando judiciosamente artistas e escritores, misturando-se facilmente com acadêmicos e filósofos, camponeses e bufões, marchando em procissões, cantando canções obscenas, compondo hinos suaves, brincando com cortesãs, gerando um papa, e sendo honrado pela Europa como o maior e mais nobre italiano de seu tempo” (Will Durant). Essa cornucópia de riquezas e poder veio com um preço. “Não se governa um Estado com ‘Pais Nossos’”, dizia o patriarca Cosimo. As intrigas shakespeareanas, a brutalidade quase mafiosa, as vaidades que arderam nas fogueiras de Savonarola, o cinismo dissecado por Maquiavel, deixariam a Itália fracionada e subserviente por séculos. Mas se entre os potentados renascentistas os Medici estiveram longe de cometer os piores desses pecados, como mecenas das artes e do conhecimento jamais foram igualados na história da Humanidade, e mesmo após o seu declínio e queda no século XVIII, seus frutos nas ruas de Florença, em palácios, museus, bibliotecas, igrejas e telas de todo o mundo, continuam a inspirar os seres humanos a se regenerarem como criaturas divinas; a criar, com suas mãos, movidos pela sua fé, um novo Céu e uma nova Terra. Convidados Luciano Migliaccio: professor de história da arte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Luiz Felipe D’Avila: cientista político e autor de Cosimo de Medici. Memórias de um Líder Renascentista. Newton Bignotto: professor de filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais.   Referências A cultura do Renascimento na Itália (Die Cultur der Renaissance in Italien) de Jacob Burckhardt.  Cosimo de Medici. Memórias de um Líder Renascentista de Luiz Felipe d’Ávila. Maquiavel Republicano e Origens do Republicanismo Moderno de Newton Bignotto.  A História da Civilização. V. 5. O Renascimento (The Story of Civilization. V. 5. The Renaissance) de Will Durant. Florença na época dos Medici (Florence à l’époque des Médicis) de Alberto Tenetti. Breve historia de los Medici de Eladio Romero García.   The Renaissance: A Short History de Paul Johnson.  Italy in the Age of Renaissance 1300-1550, ed. Por John. M. Najemy. Medici. Storia di uma dinastia europea de Franco Cesati. “The Medici”. Entrevista para o programa In Our Time da Radio BBC 4 com Evelyn Welch, Robert Black e Catherine Fletcher.  The Medici Podcast. Dezenas de episódios apresentados por Chad Danton.   Princely Citizen. Lorenzo de Medici and Renaissance Florence e Lorenzo de Medici & the Art of Magnificence de Francis W. Kent. Lorenzo de Medici. Uma vita di Magnifico de Giulio Busi. La vie quotidienne à Florence au temps des Médicis de Jean Lucas Dubreton. The House of Medici. Its rise and fall de Christopher Hibbert. The Medici de Mary Hollingsworth. The Medici. Power, Money and Ambition de Paul Strathern.  Ilustração: “A Adoração dos Magos”, óleo sobre tela de Sandro Botticelli (c. 1485/86), com diversos membros da família Medici retratados. Galleria degli Uffizi, Florença. (Fonte: Wikimedia Commons). O Grande Teatro do Mundo — Os promotores do humanismo, por Jacob Burckhardt. O post Os Medici apareceu primeiro em Estado da Arte.
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