004 Razão
Description
Escutai, homens e mulheres do século vinte e um, vós, que carregais nas mãos máquinas poderosas e no peito, corações agitados.
Vós construístes pontes entre continentes, descobriste mundos invisíveis, multiplicaste imagens e vozes em tempo real, mas esqueceste o mais fundamental dos instrumentos: a razão.
A razão não é fria. Não é distante. É calor quieto, discernimento firme, a lâmpada que guia no meio do nevoeiro.
Vejo-vos divididos, inquietos, confusos. Querem tudo, ao mesmo tempo, mas não sabem porque suspiram. Vivem entre desejos inflamados e medos difusos.
Porque vos afastastes da razão, essa faculdade divina que distingue o humano do irracional.
Não falo de inteligência técnica. Essa está em abundância. Falo do juízo reto, da capacidade de perguntar: Isto é bom? Justo? Serve à virtude ou apenas ao ego?
A razão existe para libertar-vos. Mas é preciso aprender a usá-la, não como instrumento de vaidade, mas como mestre silencioso.
Hoje, muitos confundem sentir com saber. Dizem: “sinto que é verdade”, mas o que sentes, pode ser um reflexo de tuas paixões. A razão, por sua vez, pergunta com calma, pondera, observa, escolhe com firmeza.
A razão distingue os humanos. É firme e guiada pela lógica, pela natureza e virtude. A razão recusa vingança, depois de uma ofensa. Aceita a morte, age com coragem, permanece calma diante da crítica, escolhe perder dinheiro em vez de trair princípios.
Já a paixão guia-se por impulsos desgovernados: medo, desejo, raiva, tristeza e causa sofrimento porque nasce da ilusão do controlo sobre o que não depende de nós.
Ficais furioso por perderes um objeto. Tendes ciúmes do sucesso alheio. Temeis a opinião pública e viveis em função do aplauso dos outros.
Vais pelas redes sociais e vês uma opinião que te incomoda. O impulso quer criticar, reagir, reivindicar. A razão pergunta: Isto me engrandece? Contribui para o meu bem-estar ou apenas me distrai?