A epidemia de sofrimento nas universidades
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Neste ano em que celebramos os 40 anos de existência da Anpof, a diretoria da nossa associação compartilha com a comunidade filosófica brasileira algumas questões que devem ser discutidas para pensarmos as próximas décadas da Anpof. O sofrimento psíquico na universidade é uma delas. Para refletir sobre esse tema, o presidente da Anpof, prof. Érico Andrade (UFPE), que também é psicanalista, convidou a profa. Tessa Lacerda (USP), da USP e que integra a atual diretoria, e Heribaldo Maia, mestrando em Filosofia (UFPE) e autor do livro "Neoliberalismo e sofrimento psíquico: o mal-estar nas universidades" publicado no ano passado pela Ruptura Editorial.
Tessa é presidente da comissão de defesa de direitos humanos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, na USP, e participa dessa comissão há seis anos. Ela compartilha nesse episódio algumas de suas experiências e reflexões a partir desse espaço. Nossos convidados comungam da ideia de que há uma epidemia de sofrimento na universidade.
Para pensar esse tema, eles discutem sobre o ambiente competitivo, as neuroses produzidas na universidade, a cobrança relatada pelos estudantes e a pressão pela exigência. Eles chamam atenção para o fato de que esse sentimento é atravessado por experiências de margem, por pessoas periféricas, negras, indígenas e trans, por exemplo e para a urgência da universidade repensar sua estrutura. Eles comentam sobre a importância de se investigar a universidade como território de produção de sofrimento e mapear escutadores, mesmo que não sejam profissionais
Tessa reconhece o esforço de se garantir inclusão, mas alerta que se não houver escuta e olhar sensível para os indivíduos, essa inclusão será insuficiente. Heribaldo e Tessa comentam como as cotas trouxeram um novo desafio para a universidade, por trazer para esse espaço pessoas com realidades atravessadas por dificuldades materiais diversas. Esta presença, por outro lado, também traz contribuições, deslocando o centro das pesquisas e refletindo no currículo de Filosofia, por exemplo. Para eles, é compatível ter rigor e qualidade e repensar este sofrimento.