A poética das cidades
Description
Para além do caos e da violência intrínsecas ao asfalto, às paredes, aos muros, há espaços e manifestações nas ruas que escapam do concreto e convidam os olhos a criarem pontes entre o mundo externo e a psiquê, capturando a imaginação e retirando os moradores da dureza e saturação cotidianas.
A Psicanálise, desde seus primórdios, interessa-se pelos limites entre o “dentro e o fora”. Conceitos como “mundo interno” e “realidade psíquica” mostram que o sujeito, em constante interação com o entorno, olha e interpreta a realidade externa a partir de sua subjetividade. Freud se ocupou, por exemplo, de pensar nos mecanismos da cegueira psicogênica: quais motivos inconscientes levavam uma pessoa com a visão intacta (do ponto de vista orgânico) a deixar de enxergar? As interdições neuróticas ligadas à própria sexualidade podem ser fortes o suficiente para extinguir a visão.
Nesse sentido, o que se vê na pólis pode abrir caminhos para o desejo: arranjos, sons, imagens, cenas espontâneas ou intervenções pessoais e intencionais como pichações, grafites, performances e obras de arte das mais variadas naturezas que, o serem expostas nas ruas, têm função estética e política: provocam mudanças.
A esperança, assim, mora no fato de que os muros, símbolo das resistências, subversivamente, sempre receberão inscrições artísticas e trarão novas aberturas. Se a palavra, representante da alteridade, puder tocar aquele que passa, abre-se um campo poético que permite novas construções de sentidos, novas narrativas e reparações.
Dentro da série “O sexual na pólis”, para falar conosco nesse episódio que se propõe a investigar “A poética das cidades” convidamos o artista Cauê Maia e o psicanalista Ricardo Trinca que, cada um à sua maneira, têm contribuído para a construção da poética em suas cidades.