DiscoverChutando a EscadaGuerra na Ucrânia: De Bakhmut a Kharkiv
Guerra na Ucrânia: De Bakhmut a Kharkiv

Guerra na Ucrânia: De Bakhmut a Kharkiv

Update: 2024-05-221
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Description

Conversamos com o pesquisador Augusto Teixeira (UFPB) sobre os últimos desdobramentos da guerra da Ucrânia.



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Participaram deste podcast:


Filipe Mendonça –  @filipeamendonca

Augusto Teixeira – @augustotjr


Sem tempo para podcast? Leia a transcrição do episódio aqui


Citados no episódio:



Trilha sonora:



Capa do episódio:



Foto: The Devastation of Kharkiv, Ukraine | The New Yorker


 


Transcrição do episódio 344 – Guerra na Ucrânia: De Bakhmut a Kharkiv, com Augusto Teixeira


 


[Filipe Mendonça] Seja bem-vindo e seja bem-vinda ao Chutando a Escada! Eu sou Felipe Mendonça e hoje recebemos aqui o professor da Universidade Federal da Paraíba, Augusto Teixeira Júnior. Ele já esteve aqui no Chutando a Escada e agora volta para dar sequência ao debate sobre o que acontece na Ucrânia.


Ele nos fala um pouco sobre os últimos acontecimentos no teatro de operações. Também conta sobre as intenções russas na ofensiva na região de Kiev, discute as capacidades do exército ucraniano de reagir e persistir na guerra, e explica a lógica de guerra posicional e a ideia de mobilidade nas ofensivas da Rússia. Vale muito a pena ouvir o Augusto Teixeira, que já esteve aqui como mencionei.


Se você quiser aprofundar ainda mais o debate, recomendo que escute o episódio 326. Está tudo na descrição do episódio, bem mastigado para você.


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Vamos para o papo então! Com vocês, Augusto Teixeira Júnior, que fala sobre a guerra posicional, o retorno da mobilidade e as novas ofensivas da Rússia na Ucrânia.


[Vinheta de abertura]


[Filipe] Bom, eu estou aqui com Augusto Teixeira, que volta ao “Chutando a Escada”. Ele já esteve aqui no ano passado, em outubro de 2023, logo após o ataque do Hamas a Israel, bem no começo do conflito em Gaza. Naquela ocasião, conversamos um pouco sobre isso, mas o foco daquela conversa foi a Ucrânia. O episódio foi chamado “Ucrânia: Tecnologia, Estratégia e Política”. Agora, o Augusto volta para continuar falando sobre a Ucrânia. Augusto, obrigado por topar falar comigo, é sempre uma alegria enorme falar com você.


[Augusto Teixeira] Muito bom Filipe, muito obrigado pelo convite. É um prazer enorme não apenas falar contigo, mas também ter contato com a audiência grande e qualificada do “Chutando a Escada”. É um privilégio poder conversar com vocês.


[Filipe] Valeu! Se você não ouviu o episódio de outubro com o Augusto, acho que vale a pena. Vou deixar o link na descrição do episódio. Augusto, só para retomar um pouco, você enquadra o conflito na Ucrânia como um conflito clássico [guerra convencional], fazendo uma defesa dos [teóricos] clássicos. Você mencionou que parte da literatura mais contemporânea tinha decretado o fim da Geografia na guerra e de outras dimensões clássicas. E aí vem a Ucrânia e coloca novamente os clássicos na mesa, sem minimizar a importância dos novos tipos de guerra, mas destacando novamente a geografia, o terreno, o relevo, a resiliência da população civil, e a dimensão moral e psicológica da guerra como elementos centrais para entender o que está acontecendo na Ucrânia.


De lá para cá, a guerra continuou. Tivemos eleição na Rússia e Putin saiu disso legitimado. O Zelensky continua por aí; era para ter tido eleição na Ucrânia, mas Zelensky não convocou eleições, o que é até compreensível. Como realizar uma eleição numa situação como essa? Isso gera aquele curto-circuito da democracia, com o líder defendendo a luta pela democracia, mas sem convocar eleições, argumentando que não há como fazê-lo devido à situação no país. Enfim, todo esse cenário traz pressão nos Estados Unidos e na OTAN. Então, te trouxe aqui para nos ajudar a entender o que aconteceu de lá para cá, o que é importante observar, como está a situação no terreno. Se você puder fazer um sobrevoo para a gente, acho que é importante para entendermos o que está se passando na Ucrânia.


[Augusto Teixeira] Com certeza Filipe. A primeira coisa que a gente tem que ter em mente quando falamos sobre estudos estratégicos, geopolítica e a guerra na Ucrânia, é que ela é um banho de água fria em boa parte da literatura sobre novas guerras, guerras híbridas, etc., como falamos no episódio anterior. Isso porque, a guerra na Ucrânia demonstra a viabilidade de uma guerra convencional de alta intensidade, onde elementos clássicos como massa, pessoal e logística fazem uma diferença enorme na guerra. Muito do paradigma tecno-produtivo que baseou os planejamentos da OTAN e dos Estados Unidos no contexto pós-Guerra Fria, como a indústria Just-in-Time, ou seja, produção de equipamentos de precisão em quantidade básica para aplicação da força e obtenção de efeito estratégico, está sendo desafiado. Esta guerra está demonstrando o caráter da chamada guerra trinitária, como falava Clausewitz. Ela [a guerra] traz a dimensão do Governo, do Estado, da política, a dimensão militar com as forças armadas, o elemento em armas e o povo. Ela traz o elemento das paixões, mostrando a complexidade da guerra, não apenas na compreensão dos seus resultados até o momento, mas também a sua manutenção e resiliência ao longo do tempo. É uma guerra que já dura mais de dois anos no ambiente europeu, com efeitos não apenas na geopolítica, mas na geoeconomia, sistemas de alinhamento, mudanças em cadeias produtivas e sistemas de comércio, em particular na parte agrícola, na produção de grãos de uma forma muito intensa, como não se via há muito tempo.


Somado ao fato que muita gente acaba por fazer vista grossa de que voltamos a um contexto de ameaça nuclear, não apenas uma ameaça nuclear como se pensava da Coreia do Norte, ou seja, um louco ameaçando explodir a bomba. Não, mas uma ameaça nuclear calcada em uma estratégia, uma doutrina de controle de escalada, numa concepção do emprego de armas nucleares táticas. Então, todo esse panorama mostra que aquele fenômeno bélico muito característico do século XIX e XX, em que a guerra era percebida claramente como instrumento da política, não foi embora. Isso está aqui. A ilusão da Guerra não cinética, da possibilidade de produção do efeito estratégico sem uso da força ou apenas como discurso, compõe parte do arsenal de possibilidades, mas geografia, força, população, etc., são variáveis muito importantes. Para quem está nos escutando agora, da última vez que falamos, lá em outubro, estávamos ainda no contexto da contraofensiva ucraniana de 2023. A Ucrânia tinha montado cerca de oito, nove brigadas padrão OTAN, com equipamento OTAN, com treinamento e doutrina OTAN, sem o apoio do chamado componente aéreo, uma força tarefa sem meios aéreos, essencialmente contribuindo com as operações conjuntas.


O que se viu é que ela esbarrou em um muro de aço, ferro e fogo, a chamada linha Surovikin, em toda aquela região do Donbass, que absorveu as ondas de tentativa de penetração e exploração do êxito das forças ucranianas. Isso levou ao fracasso da contraofensiva, pois a Ucrânia conseguiu reaver parcelas de território muito pequenas, inexpressivas quando comparado ao dispêndio de meios e homens. Entre outubro e dezembro, o que se viu no plano tático, foi a perda do momentum por parte da Ucrânia, no nível operacional, houve uma resiliência da Rússia na capacidade defensiva e o recompletamento de

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Guerra na Ucrânia: De Bakhmut a Kharkiv

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Filipe Mendonça e Geraldo Zahran