Visita Domiciliar

Visita Domiciliar

Update: 2016-11-10
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Olá pessoal do SUAS Conversas!


Continuamos na linha do “miudinho” do cotidiano. Vamos falar hoje sobre a visita domiciliar, algo que, especialmente para nós, psicólogos, é uma prática pouco estudada enquanto técnica de intervenção, exigindo geralmente que a gente “aprenda fazendo” ou  “pegue no tranco”.



Logo que iniciei minha trajetória no SUAS, questionei uma colega assistente social sobre algum material referente ao tema da visita domiciliar. Foi ela quem me recomendou esse livro que estarei comentando no post e no podcast de hoje: “Visita domiciliar: um guia para uma abordagem complexa”, de Sarita Amaro, da editora AGE, publicado em 2003.


É um livro de linguagem bastante simples, que pode ser apreendida por profissionais de qualquer área, e poderá ajudar muito o novato no SUAS em suas incursões no terreno desconhecido da visita domiciliar (especialmente se ele for psicólogo, já que acredito que, na graduação em serviço social, essa prática seja mais enfatizada do que na graduação em psicologia). Falo sobre esse livro aqui porque a mim ele ajudou muito.


O livro traz os diferentes objetivos que uma visita domiciliar pode ter (e que ela sempre precisa ter um objetivo!), traz as questões éticas envolvidas e também as técnicas ou habilidades que devemos desenvolver para tentar apreender, ao menos em parte, a complexidade do real.


A observação acurada, a presença de um roteiro (equivalente a uma entrevista semi-estruturada) e o relato são os três elementos constituintes da visita domiciliar, segundo a autora.


A observação precisa estar calcada em admitir que aquilo que se observa é apenas um recorte de uma realidade mais complexa e precisa estar desprovida de preconceitos ou idéias preconcebidas.


O roteiro, embora não deva ser engessado, permite que haja uma condução organizada da visita, de acordo com os objetivos previamente traçados.


O terceiro e último elemento, o relato, ganha uma importância fundamental porque traz as subjetividades (como as pessoas dão sentido a suas vidas, aos problemas e dificuldades, às histórias e trajetórias que vivenciaram).


Como já mencionei, a visita exige planejamento por parte do visitador, clareza em relação aos seus objetivos (o porquê de estar fazendo aquela visita) e abertura para o componente inesperado que poderá emergir.


Ter objetivos claros com a visita não significa ir com uma viseira, “enxergando somente aquilo que queremos enxergar”. Significa estar aberto ao cotidiano do outro e ao seu modo de vida, que pode ser muito diferente do modo de vida do visitador. Mas enfim, isso vale para tudo: olhar os outros pelas nossas lentes pode ser reducionista e preconceituoso.


Quando eu estava no Ensino Médio, aprendi sobre o etnocentrismo, um conceito da antropologia que se refere à visão de um grupo ou nação que considera sua história, cultura, valores e costumes mais importantes que aqueles dos demais povos. Algo como um povo ou nação que olha os outros como se lhes fosse superior (isso fundamentou muitos colonialismos, como sabemos). Assim, o povo ou nação etnocêntrica acredita que, por seus valores serem “melhores” que aqueles dos demais, eles devem ser universalizados e até impostos. Alguns sociólogos estendem essa ideia a um “etnocentrismo de classe”, caracterizando casos em que, na mesma sociedade, um grupo ou classe social se considera “superior” a outro e considera que seus valores, ideias e costumes são os “corretos” ou “adequados”.


Sempre penso nesse conceito quando leio sobre a importância de não tentar compreender os outros, suas estratégias de enfrentamento e suas trajetórias de vida a partir dos meus referenciais. Essa recomendação é muito freqüente tanto em materiais sobre ética quanto em materiais sobre políticas públicas. Tudo que não cabe a um profissional de uma política pública é julgar os sujeitos, famílias e comunidades com olhos preconceituosos, impondo-lhes o que seria “o certo” e desqualificando suas histórias e costumes. Aqui, no tema da visita domiciliar, não poderia deixar de aparecer essa questão: a autora, Sarita Amaro, aborda bastante esse tema, inclusive com exemplos.


Embora sem nomear dessa forma, ela também aborda a questão da “onipotência” que às vezes nós, técnicos, temos: a vida acontece independentemente das nossas visitas. Às vezes a pessoa esquece da visita, marca outro compromisso que julga mais importante (e isso é autonomia! É a vida dela, ora bolas). Enfim, uma abordagem bem prática, bem bacana, e que vai dar muitas dicas para quem está começando a fazer visitas domiciliares ou quer refletir sobre essa prática, mesmo que já a desenvolva há muito tempo. Sempre podemos aprender. Espero que gostem do podcast, cliquem no player abaixo e coloquem nos comentários se esse podcast foi útil para vocês.


Também fiquem à vontade para contar suas experiências com visitas domiciliares. Abraços, e até o nosso próximo encontro aqui no SUAS Conversas.

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ana pincolini