O que nos ensina a gentileza sobre comunicar melhor? Susana Coerver
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Vale a pena ser bom? Ou, num mundo cada vez mais polarizado, ser bom é quase um luxo ingénuo?
Vale a pena parar, ouvir, acolher a diferença, quando tudo à nossa volta parece empurrar-nos para trincheiras de preto e branco, de certezas absolutas, de opiniões gritadas sem tempo para reflexão?
É a velha questão da comunicação: comunicar é conquistar? Ou comunicar é escutar, é abrir espaço, é criar pontes?
Neste episódio do Pergunta Simples viajamos pelo território onde a comunicação se encontra com a liderança, com a vida em equipa, com as nossas escolhas pessoais e até com a forma como a sociedade se organiza. Não é apenas uma conversa sobre empresas ou carreiras — é uma reflexão sobre como nos podemos relacionar melhor uns com os outros. Porque comunicar é isso: um exercício constante de traduzir complexidades em algo que faça sentido, que crie entendimento, que nos permita avançar juntos.
Falamos de como a bondade, longe de ser fraqueza, pode ser uma das mais poderosas ferramentas de comunicação. Num mundo em que agressividade gera agressividade, insistir na gentileza é uma forma de resistência. E aqui surge a primeira lição clara desta conversa: comunicar com generosidade abre espaço para que o outro se revele. Não se trata de convencer, de impor, mas de criar condições para que as diferentes vozes se sintam seguras para participar. Quantas vezes o mais inteligente da sala é precisamente quem está calado? Quantas vezes falhamos por não saber ouvir?
A segunda lição está ligada à liderança. Durante décadas acreditámos que o líder tinha de ter todas as respostas, que era quem decidia sozinho o rumo de uma organização. Mas hoje sabemos que não é assim. Liderar é criar o espaço certo para que os talentos floresçam, para que as diferenças se transformem em riqueza coletiva. É perceber que nem todos têm o mesmo perfil — há os criativos, os analíticos, os voluntariosos, os pragmáticos. O desafio da comunicação está em conseguir juntar tudo isto sem deixar que as diferenças se transformem em guerra. Liderar é sobretudo comunicar com clareza, com humildade e com sentido de propósito.
A terceira lição desta conversa leva-nos ao campo mais pessoal: a comunicação começa em nós. O sucesso não é apenas a carreira, os títulos, os lugares conquistados. O sucesso é a forma como alinhamos a nossa vida com os nossos valores e como conseguimos comunicar esse alinhamento ao mundo. É saber parar para pensar, redefinir o caminho, mudar de opinião quando necessário. É ter a coragem de arriscar, mesmo com medo, e de partilhar histórias que toquem os outros. Porque comunicar não é despejar conteúdos — é ressoar no coração de quem ouve.
No fundo, este episódio é um convite a repensar o que significa comunicar num tempo em que as redes sociais alimentam a polarização, em que os algoritmos reforçam bolhas e em que a pressa parece ter substituído a escuta. Mas também é uma janela de esperança: se acreditarmos na inteligência coletiva, se soubermos envolver todos — dos chefes aos “índios”, dos entusiastas aos críticos — podemos criar um verdadeiro sentimento de pertença, uma cultura de colaboração que faz nascer soluções mais fortes, mais rápidas e mais humanas.
Ao longo desta conversa, fica claro que comunicar é muito mais do que falar. É criar condições para que os outros possam falar. É abrir espaço para a diversidade de perspetivas. É ter a humildade de admitir que não temos todas as respostas. E é, acima de tudo, não esquecer que por trás de cada cargo, de cada função, de cada etiqueta, há sempre uma pessoa — com medos, com sonhos, com valores, com a sua própria história para contar.
Se quisermos resumir: comunicar melhor passa por três gestos simples mas transformadores — ouvir mais do que falar, explicar sempre o porquê e alinhar a nossa vida com o que realmente tem significado. É isso que dá credibilidade, é isso que dá força à palavra, é isso que distingue um comunicador de alguém que apenas emite sons.
É sobre tudo isto que falamos neste episódio do Pergunta Simples, com Susana Coerver. Uma conversa sobre comunicação que é também uma lição de vida.
Ouça até ao fim. Partilhe connosco o que ressoou em si. Subscreva o canal para não perder nenhum episódio e visite perguntasimples.com, onde encontra mais conversas, mais ideias e mais caminhos para comunicar melhor.
No fundo, esta conversa deixou-nos três pistas essenciais: comunicar melhor começa pela gentileza, porque só ela abre espaço para a diferença; exige humildade na liderança, para ouvir e integrar talentos diversos; e pede um alinhamento com os nossos valores, para que as palavras tenham peso e verdade. Talvez não possamos mudar o mundo inteiro, mas podemos mudar a forma como olhamos para o outro — e isso já é uma revolução silenciosa.
O Pergunta Simples é isso mesmo: um espaço para pensar a comunicação como arte de viver. Se esta conversa lhe abriu perguntas ou lhe deu ideias, partilhe connosco. Pode ver ou ouvir todos os episódios no YouTube, Spotify, Apple Podcasts, RTP Play e em perguntasimples.com. E já sabe: subscreva, ative o sino e acompanhe-nos todas as semanas. Porque comunicar melhor é viver melhor.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO
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Viva Susana Curver, Mark Tier, comunicadora. Sente-se o quê hoje?
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Muitas coisas. Hoje tenho dificuldade em descrever-me. Eh, talvez assim a coisa que eu me
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identifico mais é uma tradutora de complexidade, talvez. Então, e como é
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que neste mundo, cada vez mais complexo, cada vez mais difícil, como é que nós pegamos nessa complexidade eh que parece
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cada vez acelerar mais e torná-la inteligível para para quem tem muita
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coisa para fazer e e muito para correr? Com kindness, com kindness.
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Podemos, consigo dizer em português, não peça para dizer isso em português. Então eu vou arriscar bondade e eh
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generosidade em relação aos outros. eh traduziria como gentileza gera
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gentileza, que é um lema do Rio de Janeiro. Gentileza gera gentileza.
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Há aí umas raízes familiares seguramente do do Rio de Janeiro também. Eh, quer dizer, o meu pai era americano,
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eh, e dos 30 países onde viveu, o que gostava mais era o Brasil e acabou por decidir ficar no Rio de Janeiro.
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E sente brasileiro. Então, a generosidade gera generosidade. Dá-me a ideia que o mundo hoje em dia, eh, até
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na maneira como como comunica nessa agressividade, pelo contrário, parece
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que estamos no caminho contrário, que é agressividade gera agressividade.
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Então, como é que como é que conseguimos criar esse conceito e pegar essa doença
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às pessoas que é da generosidade, da bondade, da do ser simpático com os
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outros? Eu tenho a certeza que o Jorge não leu o meu post do LinkedIn, mas era
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precisamente sobre isso e gerou-se até uma conversa bastante interessante
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que era eh sobre parece que só temos duas cores, agora é o branco e o preto.
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Parece que independentemente do tema que se tem em cima da mesa, nós temos que escolher um polo, como se não existissem
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outras outras cores pelo meio. Acabaram os cisentos, acabaram os amarelos, acabaram as cores laranjas, temos só
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branco e preto, não? E eu tento todas as todos os dias fazer
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com que existam mais cores. Aliás, no domingo é o meu aniversário e a minha festa vai ser color block, precisamente
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inspirado para que não haja só preto e branco. Hum, mas houve houve comentários
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muito interessantes e houve outras pessoas que que partilham da mesma ideia e esta ideia é de que é também de uma
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máxima que trouxe do Brasil. que eu trouxe lá da minha vida lá trouxe várias e uma delas é: “Prefiro ser uma
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metamorfose ambulante do que ter uma velha opinião formada sobre tudo que é de Raul Seixas, que é nós abrirmos-nos
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para mudar de opinião e não termos só certezas absolutas.
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A a certeza às vezes é um dá-nos coragem, é por aqui que vou seguir. Mas a humildade de perceber que há outras
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formas de pensar eh é o que nos traz a oportunidade de sermos mais kinds. Isso
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obriga-nos a ouvir, obriga-nos a parar e num ritmo a que nós estamos, como
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dizias, eh tá cada vez mais desafiante este desafio de pedir às pessoas para
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parar e pensar um bocadinho no que estamos a fazer. Como é que tu estimulas as pessoas para que elas tenham primeiro consciência
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disso e depois que sejam mais generosas? Então, numa das das perguntas, houve um
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dos comentários que dizia: “Sim, concordo com isso. Há vários, há vários
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tons, mas eh aquilo que sinto é que quando falo com as pessoas, as pessoas
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só ficam muito agarradas à sua ideia e nós não conseguimos trazê-las.
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O facto de nós apresentarmos outras cores não significa que nós temos que impor. Nós só estamos a dar a nossa
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opinião e não temos que dizer com que o outro fazer com que o outro concorde com ela. Tens ideia de onde é que pode vir a
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resistência? Porque em princípio a ideia de eh ser bom, no fundo, apetece-me perguntar-te,
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vale a pena ser-se bom? Eu acho que vale a pena ser-se bom todos os dias e nós todos os dias temos a
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oportunidade de de o fazer. Eh, e vout-e dar um exemplo que é eh às vezes eu em
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alguns encontros ou ou em alguns momentos, porque eu de repente comecei a pensar