DiscoverP24Mário Soares, uma celebração que só os extremos não partilham
Mário Soares, uma celebração que só os extremos não partilham

Mário Soares, uma celebração que só os extremos não partilham

Update: 2024-12-06
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Mário Soares nasceu faz neste sábado 100 anos. A efeméride está a ser celebrada um pouco por todo o país. Se no seu tempo de vida esteve longe de ser uma figura histórica consensual, hoje é considerado por amplas camadas da opinião como uma figura central do Portugal democrático. A sua competência como primeiro-ministro por três vezes é discutida e discutível. A sua visão da liberdade, da democracia pluralista e parlamentar, o seu combate contra os extremos da política, fossem da esquerda radical ou da direita que a quis proibir nos dias quentes de 1975, ou a sua visão sobre a necessidade e integração de Portugal na Europa são alicerces fundamentais do país que se fez depois de Abril de 1974. Sem o seu combate e a sua tolerância, o país seria muito provavelmente diferente do que é. Seria seguramente pior.

Mário Alberto Nobre Soares nasceu em Lisboa em 1924 e ainda antes de fazer 20 anos estava já na linha da frente dos movimentos oposicionistas contra o Estado Novo de António de Oliveira Salazar. Licenciou-se em direito, mas a luta pela liberdade ficou sempre à frente de uma carreira como jurista ou como académico. Foi preso doze vezes pela PIDE e passou os últimos quatro anos da ditadura no exílio. Pelo meio, construiu o Partido Socialista a partir de uma base de republicanos de velha cepa e socialistas moderados. No 25 de Abril, o partido estava ainda cru e incapaz de dispor de uma rede pelo país. Mas em 1975, muito por obra de Soares, ganhou as eleições para a Assembleia Constituinte, liderou o combate contra a deriva esquerdista das ruas ou dos círculos militares e esteve do lado dos vencedores do 25 de Novembro. Mas, mesmo nessa condição, opôs-se aos radicais da direita que queriam empurrar os comunistas para o mar.

Soares, como todos os grandes homens, esteve longe de ser perfeito. Os seus erros, as suas fraquezas, as suas debilidades executivas ficaram por demais provadas na sua carreira. Mas a sua imagem de lutador, de defensor das liberdades, de obstáculo intransponível a todas as tentações autocráticas, da esquerda ou da direita, prevaleceu. Se não passa no teste para herói pelo que governou, é-o sem dúvida pelo legado de tolerância, pluralismo e liberdade que deixou ao país. Numa altura em que os populismos e as demagogias de pendor nacionalista e autoritário voltam emergir, Mário Soares é um exemplo tão necessário como o foi no Processo Revolucionário em Curso. Na altura contra as pulsões da esquerda revolucionária, hoje contra a direita retrógrada e revanchista.

Teresa de Sousa, jornalista do Público deste a fundação, que com Soares partilhou o exílio em Paris e acompanhou de perto o seu percurso desde os alvores da revolução é a nossa convidada para nos falar de Mário Soares. Em 2011, quando a crise do Lehmann Brothers e a austeridade da "troika" obscureciam o horizonte, Teresa de Sousa e Mário Soares escreveram o livro Portugal tem Futuro.

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