DiscoverPergunta SimplesComo comunicar eficazmente em crises de saúde? Graça de Freitas
Como comunicar eficazmente em crises de saúde? Graça de Freitas

Como comunicar eficazmente em crises de saúde? Graça de Freitas

Update: 2024-10-09
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Há dois tipos de comunicação especialmente difíceis e arriscados.


Porque são complexos, porque acontecem em conta-relógio e porque a audiência está particularmente sensível nesse espaço de tempo.


Esses dois tipos de comunicação, são a comunicação de crise e a comunicação de risco.


Trocando por miúdos, a comunicação de crise é aquela que temos de usar quando algo correu mal: um acidente, um incêndio, um qualquer evento onde existe um dano real ou potencial a pessoas, ou bens. Principalmente pessoas.


A comunicação de risco em saúde pública é aquela que todos beneficiamos aquando da pandemia de COVID-19.


Essa comunicação teve como face principal Graça de Freitas, médica de saúde pública e ao tempo diretora-geral da saúde.


Esta conversa é sobre a dificuldade de planear, reagir e responder de forma credível a uma das maiores ameaças que vivemos na nossa vida coletiva.


Um manual do uso da comunicação tem tempos sem livro de instruções.


Todos sentimos:


A incerteza era o dia-a-dia.


Quando chega a pandemia?


Quando chega o vírus?


Vai matar-me?


Como me salvo desta?


Lembram-se?


Era este o ambiente que todos vivemos quando percebemos que a anunciada pandemia chegou.


Vivemos o receio, o medo, a dúvida.


Vivemos a angústia de ficar presos em casa por decreto geral.


Das escolas que fecharam. Dos lares com dezenas de idosos doentes.


Com hospitais cheios. Com ambulâncias em marcha.


Isto foi o que todos vimos em casa.


Mas no olho do furacão pandémico, no centro de crise e resposta está Graça de Freitas. Não está sozinha, mas tem uma equipa muito curta.


A ela cabe-lhe conseguir consensos entre cientistas e boas explicações e prognósticos para os decisores políticos.


No meio de tudo isto há que explicar aos cidadãos o que está a acontecer, como nos protegemos, como vivemos com isto.


No tempo das redes sociais.


Onde a opinião do mais sabedor dos cientistas parece valer tanto ou menos que o cidadão dedicado à arte nacional da opinião gratuita sobre tudo.


Mas mesmo no centro de comando, onde toda a informação chegava, onde todos os pensadores filtravam e tentavam entender o mundo, mesmo aí, havia demasiada informação, demasiadas contradições e um avassalador relógio que corria mais do que qualquer evidência.


Mais do que nunca o teste à credibilidade das fontes é critico. Mas a rapidez da comunicação digital e localizada não podia ser ignorada.


A pandemia deveria ser por si só um objeto de estudo detalhado da comunicação de risco. Eu já comecei a ler esse livro.


A Comunicação em Tempos de Informação Imperfeita


Um dos temas mais fascinantes abordados neste episódio é o desafio de comunicar quando a informação está longe de ser completa ou perfeita. “A informação era imperfeita, os dados mudavam a toda a hora”, lembra Graça Freitas, explicando que, muitas vezes, as diretrizes que comunicava ao público eram baseadas em informação que podia ser revista ou até desmentida pouco depois. “O grau de imperfeição era grande”, confessa, num tom honesto que caracteriza toda a sua participação no podcast.


Este cenário reflete um dos maiores dilemas da comunicação em saúde pública: como ser honesto e transparente quando as certezas são escassas? Graça optou sempre pela clareza e pela sinceridade. Reconhece que, em muitos momentos, teve de comunicar incertezas e explicar o que ainda não se sabia. Este equilíbrio entre a informação e a cautela foi uma linha ténue que teve de trilhar durante todo o período pandémico.


Medo, Resiliência e o Lado Pessoal da Pandemia


Outro ponto alto da conversa é quando Graça Freitas reflete sobre o medo. No início, confessa, não teve tempo para sentir medo pessoal, pois estava absorvida em compreender o que estava a acontecer. No entanto, à medida que o número de casos aumentava, especialmente em Itália, e o mundo começava a fechar as suas portas, o medo tornou-se uma realidade inevitável.


Mas talvez o relato mais surpreendente seja o momento em que a Dra. Graça começa a receber proteção policial devido a ameaças. “Nunca pensei que precisaria de proteção”, revela, descrevendo o choque de saber que um segurança estaria à porta da casa todos os dias. Este episódio mostra o lado mais humano da crise: a carga emocional e pessoal que quem esteve na linha da frente teve de carregar.


Memes e Piadas: Rir para Não Chorar


Num tom mais leve, Graça Freitas fala sobre os memes e piadas que circularam nas redes sociais a seu respeito durante os momentos mais difíceis da pandemia. Ela admite que achou graça a muitos deles. O humor, para ela, foi uma forma de a população lidar com a tensão constante, e, em alguns momentos, também serviu para ela própria aliviar o peso da responsabilidade. No entanto, Graça confessa que o que mais a magoou não foram as piadas, mas a ausência de defesa de algumas pessoas que a conheciam bem e que, durante os momentos de maior crítica, escolheram o silêncio. “Doeu mais não ouvir um ‘ela não é assim tão má’ do que as críticas em si”, diz com honestidade.


Lições sobre Comunicação em Saúde Pública


Este episódio deixa lições claras sobre o que significa comunicar em tempos de crise. Graça Freitas sublinha a importância de ser transparente, mesmo quando as respostas não são certas. A honestidade foi a sua bússola durante toda a pandemia, sabendo que esconder a realidade ou suavizar as mensagens poderia ser ainda mais prejudicial a longo prazo. Esta abordagem honesta, contudo, não foi fácil de manter. Graça admite que, se pudesse voltar atrás, teria dedicado mais tempo a refletir sobre as decisões, reservando momentos para pensar com mais calma e ouvir mais opiniões externas.


Outro ponto interessante que ela aborda é o equilíbrio entre as recomendações dos cientistas e as decisões dos políticos. Como Diretora-Geral da Saúde, Graça tinha a responsabilidade de fornecer as melhores recomendações científicas, mas reconhece que os políticos, ao tomarem as decisões finais, lidavam com uma pressão diferente. Eles não só estavam preocupados com a saúde pública, mas também com as implicações sociais, económicas e políticas. Esta tensão entre ciência e política é um elemento central nas crises de saúde pública e, segundo Graça, foi um dos grandes desafios da pandemia.


Fechar as Escolas: Uma Decisão Crucial


Um dos momentos mais dramáticos da pandemia foi a decisão de fechar as escolas. Graça Freitas descreve este episódio como um dos mais rápidos e intensos que viveu durante aqueles meses. Ela lembra que, num domingo, estava em casa de uma amiga quando recebeu o telefonema da Ministra da Saúde, Marta Temido. Poucas horas depois, já estava numa conferência de imprensa, anunciando uma das medidas mais duras e impactantes para o país.


Para ela, este é um exemplo claro de como as decisões políticas, mesmo quando baseadas em recomendações científicas, são tomadas de forma muito rápida e, por vezes, sem o tempo necessário para refletir sobre todas as implicações. No entanto, Graça reconhece que, em muitos casos, essa rapidez era essencial para salvar vidas e minimizar o impacto da crise.


Reflexões Finais


O episódio termina com Graça Freitas a refletir sobre o seu papel durante a pandemia e o impacto que teve no país. Ao olhar para trás, ela admite que faria algumas coisas de forma diferente, mas mantém a convicção de que fez o melhor que podia com a informação disponível. O legado que deixa não é só o de uma profissional de saúde pública dedicada, mas também de uma comunicadora que, mesmo em tempos de incerteza, soube manter a calma, a integridade e a transparência.


Este episódio do “Pergunta Simples” é uma verdadeira aula sobre comunicação em tempos de crise, repleta de momentos humanos e reveladores. As histórias e as lições de Graça Freitas oferecem uma perspetiva única sobre os desafios enfrentados por quem esteve na linha da frente da pandemia e, ao mesmo tempo, mostram o lado mais vulnerável e pessoal da comunicação em saúde pública.


LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO


00:00:12 :23 – 00:00:38 :24
JORGE CORREIA
Olá! Viva um Bem vindos ao Pergunta simples do vosso full cast sobre comunicação. Há dois tipos de comunicação especialmente difíceis e arriscados, mas necessários e importantes. São complexos porque acontecem em contrarrelógio e porque a audiência está particularmente sensível nesse espaço de tempo ou local. Estes dois tipos de comunicação são a comunicação de crise e a comunicação de risco.


00:00:39 :05 – 00:01:11 :01
JORGE CORREIA
Parecem a mesma coisa, mas não são exactamente a mesma coisa. Trocando por miúdos, a comunicação de crise é aquela que temos de usar quando algo corre mal um acidente, um incêndio, um qualquer evento onde exista um dano real ou potencial para pessoas ou bens, principalmente pessoas. Um outro tipo de comunicação difícil é a comunicação de risco, em particular a comunicação de risco em saúde pública é aquela que todos beneficiamos quando aconteceu a pandemia de Calvi 19.


00:01:11 :03 – 00:01:34 :12
JORGE CORREIA
Esta comunicação teve como face principal Graça de Freitas, médica de Saúde Pública e, ao tempo Directora Geral de Saúde. Esta conversa é sobre a dificuldade de planear, reagir e responder de forma credível a uma das maiores ameaças que vivemos na nossa vida colectiva. Não só responder à ameaça propriament

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Jorge Correia